8. Um dos pontos que mais criticados têm sido na Gênese é
o da criação do Sol depois da luz. Tentaram explicá-lo, com
o auxílio mesmo dos dados fornecidos pela geologia, dizendo
que, nos primeiros tempos de sua formação, por se achar
carregada de vapores densos e opacos, a atmosfera terrestre
não permitia se visse o Sol que, assim, efetivamente não
existia para a Terra. Semelhante explicação seria, porventura,
admissível se, naquela época, já houvesse na Terra
habitantes que verificassem a presença ou a ausência do
Sol. Ora, segundo o próprio Moisés, então, somente
plantas havia, as quais, contudo, não teriam podido
crescer e multiplicar-se sem o calor solar.
Há, pois, evidentemente, um anacronismo na ordem
que Moisés estabeleceu para a criação do Sol; mas, involuntariamente
ou não, ele não errou, dizendo que a luz
precedeu o Sol.
O Sol não é o princípio da luz universal; é uma concentração
do elemento luminoso em um ponto, ou, por outra,
do fluido que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades
luminosas. Esse fluido, que é a causa, havia
necessariamente de preceder ao Sol, que é apenas um efeito.
O Sol é causa, relativamente à luz que dele se irradia; é
efeito, com relação à que recebeu.
Numa câmara escura, uma vela acesa é um pequeno
sol. Que é que se fez para acender a vela? Desenvolveu-se a
propriedade iluminante do fluido luminoso e concentrou-se
num ponto esse fluido. A vela é a causa da luz que se difunde
pela câmara; mas, se não existira o princípio luminoso
antes da vela, esta não pudera ter sido acesa.
O mesmo se dá com o Sol. O erro provém da ideia falsa,
alimentada por longo tempo, de que o universo inteiro
começou com a Terra. Daí o não compreenderem que o Sol
pudesse ser criado depois da luz. Em princípio, pois, a
asserção de Moisés é perfeitamente exata: é falsa no fazer
crer que a Terra tenha sido criada antes do Sol. Estando,
pelo seu movimento de translação, sujeita a esse último, a
Terra houve de ser formada depois dele. É o que Moisés
não podia saber, pois que ignorava a lei de gravitação.
Com a mesma ideia se depara na Gênese dos antigos
persas. No primeiro capítulo do Vendedad, Ormuz, narrando
a origem do mundo, diz: “Eu criei a luz que foi iluminar o Sol, a Lua e as estrelas.” (Dicionário de Mitologia Universal.)
A forma, aqui, é sem dúvida mais clara e mais científica
do que em Moisés e não reclama comentários.