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Março
BoletimSEXTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 1860
(SESSÃO GERAL)
Lida e aprovada a ata da sessão de 20 de janeiro.
Recebimento de um pedido de admissão. Sua leitura, exame e aprovação foram adiados para a próxima sessão particular.
Comunicações diversas:
1.º ─ Carta do Sr. Hinderson Mackenzie, de Londres, membro da Sociedade Real dos Antiquários, com detalhes muito interessantes sobre o emprego da bola de cristal ou metálica, como meio de obter comunicações espíritas. É o que usa, com auxílio de um vidente especial, conforme conselho de um de seus amigos que, há trinta e cinco anos, faz as mais completas e concludentes experiências. O médium vê, nessa espécie de espelho, as respostas escritas às perguntas feitas, assim se obtendo comunicações muito desenvolvidas e tão rápidas que por vezes é difícil de acompanhá-lo.
2.º ─ Leitura de um artigo do Siècle de 22 de janeiro, no qual se nota esta passagem: “As mesas falavam, giravam e dançavam, muito antes da existência da seita americana que pretende ter-lhes dado origem. Esse baile das mesas já era célebre em Roma, nos primeiros séculos de nossa era, e eis como, no capítulo XXIII da Apologética, se exprimia Tertuliano, ao falar dos médiuns de seu tempo: ‘Se aos mágicos é dado provocar o aparecimento de fantasmas, evocar a alma dos mortos e forçar a boca das crianças a dar oráculos; se esses charlatães imitam um grande número de milagres que, parece, são devidos aos círculos e às correntes que as pessoas formam entre si; se provocam sonhos, se fazem conjurações, se têm às suas ordens espíritos mentirosos e demônios, por cuja virtude as cadeiras e as mesas que profetizam são um fato vulgar’, etc.”
A respeito disso, chama-se a atenção para o fato de que os espíritas modernos jamais pretenderam ter descoberto ou inventado as manifestações. Ao contrário, proclamaram constantemente a antiguidade e a universalidade dos fenômenos espíritas, e esta mesma antiguidade é um argumento em favor da Doutrina, demonstrando que ela tem o seu princípio na Natureza e que não é produto de uma combinação sistemática. Os que pretendem opor-lhe tal circunstância, provam que falam sem lhe conhecer os primeiros elementos, do contrário, saberiam que o Espiritismo moderno apoia-se no fato incontestável de que se encontra em todos os tempos e em todos os povos.
Estudos:
1.º ─ Perguntas sobre o fenômeno dos globos metálicos ou de cristal, como meio de obter comunicações. A resposta é: “A teoria desse fenômeno ainda não pode ser explicada; para sua compreensão faltam certos conhecimentos prévios, que nascerão de si mesmos e decorrerão de observações ulteriores. Isto será dado em tempo oportuno.”
2.º ─ Nova evocação de Urbain Grandier, que confirma e completa certos fatos históricos e que, além disso, dá explicações que veem em apoio ao que já foi dito a respeito do planeta Saturno.
3.º ─ Dois ditados espontâneos obtidos simultaneamente: o primeiro, de Abelardo, pelo Sr. Roze; o segundo de João, o Batista, pelo Sr. Colin.
Em seguida, tendo-se pedido que um Espírito sofredor que havia solicitado auxílio pelas preces viesse comunicar-se espontaneamente, um dos médiuns escreveu: “Que sejais abençoados por terdes consentido em orar pelo ser imundo e inútil que chamastes, e que se mostrou ainda tão vergonhosamente preso a essas miseráveis riquezas. Recebei os sinceros agradecimentos do Père Crépin.”
SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 1860
Recebimento de um pedido de admissão. Sua leitura, exame e aprovação foram adiados para a próxima sessão particular.
Comunicações diversas:
1.º ─ Carta do Sr. Hinderson Mackenzie, de Londres, membro da Sociedade Real dos Antiquários, com detalhes muito interessantes sobre o emprego da bola de cristal ou metálica, como meio de obter comunicações espíritas. É o que usa, com auxílio de um vidente especial, conforme conselho de um de seus amigos que, há trinta e cinco anos, faz as mais completas e concludentes experiências. O médium vê, nessa espécie de espelho, as respostas escritas às perguntas feitas, assim se obtendo comunicações muito desenvolvidas e tão rápidas que por vezes é difícil de acompanhá-lo.
2.º ─ Leitura de um artigo do Siècle de 22 de janeiro, no qual se nota esta passagem: “As mesas falavam, giravam e dançavam, muito antes da existência da seita americana que pretende ter-lhes dado origem. Esse baile das mesas já era célebre em Roma, nos primeiros séculos de nossa era, e eis como, no capítulo XXIII da Apologética, se exprimia Tertuliano, ao falar dos médiuns de seu tempo: ‘Se aos mágicos é dado provocar o aparecimento de fantasmas, evocar a alma dos mortos e forçar a boca das crianças a dar oráculos; se esses charlatães imitam um grande número de milagres que, parece, são devidos aos círculos e às correntes que as pessoas formam entre si; se provocam sonhos, se fazem conjurações, se têm às suas ordens espíritos mentirosos e demônios, por cuja virtude as cadeiras e as mesas que profetizam são um fato vulgar’, etc.”
A respeito disso, chama-se a atenção para o fato de que os espíritas modernos jamais pretenderam ter descoberto ou inventado as manifestações. Ao contrário, proclamaram constantemente a antiguidade e a universalidade dos fenômenos espíritas, e esta mesma antiguidade é um argumento em favor da Doutrina, demonstrando que ela tem o seu princípio na Natureza e que não é produto de uma combinação sistemática. Os que pretendem opor-lhe tal circunstância, provam que falam sem lhe conhecer os primeiros elementos, do contrário, saberiam que o Espiritismo moderno apoia-se no fato incontestável de que se encontra em todos os tempos e em todos os povos.
Estudos:
1.º ─ Perguntas sobre o fenômeno dos globos metálicos ou de cristal, como meio de obter comunicações. A resposta é: “A teoria desse fenômeno ainda não pode ser explicada; para sua compreensão faltam certos conhecimentos prévios, que nascerão de si mesmos e decorrerão de observações ulteriores. Isto será dado em tempo oportuno.”
2.º ─ Nova evocação de Urbain Grandier, que confirma e completa certos fatos históricos e que, além disso, dá explicações que veem em apoio ao que já foi dito a respeito do planeta Saturno.
3.º ─ Dois ditados espontâneos obtidos simultaneamente: o primeiro, de Abelardo, pelo Sr. Roze; o segundo de João, o Batista, pelo Sr. Colin.
Em seguida, tendo-se pedido que um Espírito sofredor que havia solicitado auxílio pelas preces viesse comunicar-se espontaneamente, um dos médiuns escreveu: “Que sejais abençoados por terdes consentido em orar pelo ser imundo e inútil que chamastes, e que se mostrou ainda tão vergonhosamente preso a essas miseráveis riquezas. Recebei os sinceros agradecimentos do Père Crépin.”
SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 1860
(SESSÃO PARTICULAR)
Aprovada a ata da sessão de 27 de janeiro. Leitura da lista dos ouvintes que assistiram à última assembleia geral. Nenhum inconveniente assinalado por sua presença.
O Dr. Gotti, diretor do Instituto Homeopático de Gênova (Piemonte), é admitido como membro correspondente.
Leitura de dois novos pedidos de admissão, adiados para a próxima sessão.
Comunicações diversas:
1.º ─ O Sr. Allan Kardec anuncia que uma senhora do interior, assinante da Revista, lhe enviou a soma de dez mil francos, para ser utilizada em favor do
Espiritismo.
Tendo recebido uma herança com que não contava, essa senhora quer que dela participe a Doutrina Espírita, à qual deve supremas consolações e o fato de ter sido esclarecida sobre as verdadeiras condições de felicidade nesta vida e na outra. Diz ela em sua carta: “Vós me fizestes compreender o Espiritismo, mostrando-me o seu verdadeiro objetivo. Só ele pôde triunfar das dúvidas e da incerteza que para mim eram a fonte de inexprimíveis ansiedades. Eu levava a vida ao acaso, maldizendo as pedras que encontrava pelo caminho. Agora vejo claro ao meu redor e diante de mim. O horizonte se alargou e avanço com firmeza e confiança no futuro, sem me inquietar com os espinhos da estrada. Desejo que este pequeno óbolo vos ajude a espalhar sobre outros a benfazeja luz que me tornou tão feliz. Empregai-o como entenderdes. Não quero recibo nem prestação de contas. A única coisa que peço é o mais estrito anonimato.”
Acrescenta o Sr. Allan Kardec: “Respeitarei o véu de modéstia com que esta senhora se quer cobrir e esforçar-me-ei para corresponder às suas generosas intenções. Não creio poder melhor atendê-las senão aplicando essa quantia no que for necessário para a instalação da Sociedade em condições mais favoráveis aos seus trabalhos.”
Um membro exprime o pesar de que o anonimato guardado por essa senhora não permita que a Sociedade lhe testemunhe diretamente a sua gratidão.
Responde o Sr. Allan Kardec que não tendo o donativo nenhuma aplicação determinada senão o Espiritismo em geral, ele se encarregou da tarefa, em nome de todos os partidários sérios do Espiritismo. Ele insiste na qualificação de partidários sérios, de vez que se não pode aplicar esse nome aos que, vendo no Espiritismo apenas uma questão de fenômenos e de experiências, não podem compreender-lhe as altas consequências morais, e menos ainda dele tirar proveito ou fazer com que os outros tirem.
2.º ─ O presidente depositou na secretária uma carta lacrada, enviada pelo Dr. Vignal, membro titular, a qual não deverá ser aberta senão no fim de março próximo.
3.º ─ O Sr. Netz envia um número da Illustration, com o relato de uma aparição. O fato será objeto de exame especial.
Estudos:
1.º ─ Observação a propósito de visões em certos corpos, tais como vidros, globos de cristal, bolas metálicas, etc., de que se tratou na última sessão. Pensa o Sr. Allan Kardec ser necessário afastar cuidadosamente o nome de espelhos mágicos, dado vulgarmente a tais objetos. Propõe chamá-los espelhos psíquicos. Na opinião de vários membros, pensa a assembleia que a designação de espelhos psicográficos corresponderia melhor à natureza do fenômeno.
2.º ─ Evocação do Dr. Vignal, que se ofereceu para um estudo sobre o estado do Espírito das pessoas vivas. Ele responde com perfeita lucidez às perguntas que lhe são feitas. Dois outros Espíritos, o de Castelnaudary e o do Dr. Cauvière, comunicam-se ao mesmo tempo por um outro médium, do que resulta uma troca de observações muito instrutivas. Os doutores terminam cada um por um ditado que tem o cunho das altas capacidades que lhes são reconhecidas. (Publicada adiante).
3.º ─ Dois outros ditados espontâneos: o primeiro de S. Francisco de Sales, pela Sra. Mallet; o segundo, pelo Sr. Colin, assinado Moisés, Platão, depois Juliano.
O Dr. Gotti, diretor do Instituto Homeopático de Gênova (Piemonte), é admitido como membro correspondente.
Leitura de dois novos pedidos de admissão, adiados para a próxima sessão.
Comunicações diversas:
1.º ─ O Sr. Allan Kardec anuncia que uma senhora do interior, assinante da Revista, lhe enviou a soma de dez mil francos, para ser utilizada em favor do
Espiritismo.
Tendo recebido uma herança com que não contava, essa senhora quer que dela participe a Doutrina Espírita, à qual deve supremas consolações e o fato de ter sido esclarecida sobre as verdadeiras condições de felicidade nesta vida e na outra. Diz ela em sua carta: “Vós me fizestes compreender o Espiritismo, mostrando-me o seu verdadeiro objetivo. Só ele pôde triunfar das dúvidas e da incerteza que para mim eram a fonte de inexprimíveis ansiedades. Eu levava a vida ao acaso, maldizendo as pedras que encontrava pelo caminho. Agora vejo claro ao meu redor e diante de mim. O horizonte se alargou e avanço com firmeza e confiança no futuro, sem me inquietar com os espinhos da estrada. Desejo que este pequeno óbolo vos ajude a espalhar sobre outros a benfazeja luz que me tornou tão feliz. Empregai-o como entenderdes. Não quero recibo nem prestação de contas. A única coisa que peço é o mais estrito anonimato.”
Acrescenta o Sr. Allan Kardec: “Respeitarei o véu de modéstia com que esta senhora se quer cobrir e esforçar-me-ei para corresponder às suas generosas intenções. Não creio poder melhor atendê-las senão aplicando essa quantia no que for necessário para a instalação da Sociedade em condições mais favoráveis aos seus trabalhos.”
Um membro exprime o pesar de que o anonimato guardado por essa senhora não permita que a Sociedade lhe testemunhe diretamente a sua gratidão.
Responde o Sr. Allan Kardec que não tendo o donativo nenhuma aplicação determinada senão o Espiritismo em geral, ele se encarregou da tarefa, em nome de todos os partidários sérios do Espiritismo. Ele insiste na qualificação de partidários sérios, de vez que se não pode aplicar esse nome aos que, vendo no Espiritismo apenas uma questão de fenômenos e de experiências, não podem compreender-lhe as altas consequências morais, e menos ainda dele tirar proveito ou fazer com que os outros tirem.
2.º ─ O presidente depositou na secretária uma carta lacrada, enviada pelo Dr. Vignal, membro titular, a qual não deverá ser aberta senão no fim de março próximo.
3.º ─ O Sr. Netz envia um número da Illustration, com o relato de uma aparição. O fato será objeto de exame especial.
Estudos:
1.º ─ Observação a propósito de visões em certos corpos, tais como vidros, globos de cristal, bolas metálicas, etc., de que se tratou na última sessão. Pensa o Sr. Allan Kardec ser necessário afastar cuidadosamente o nome de espelhos mágicos, dado vulgarmente a tais objetos. Propõe chamá-los espelhos psíquicos. Na opinião de vários membros, pensa a assembleia que a designação de espelhos psicográficos corresponderia melhor à natureza do fenômeno.
2.º ─ Evocação do Dr. Vignal, que se ofereceu para um estudo sobre o estado do Espírito das pessoas vivas. Ele responde com perfeita lucidez às perguntas que lhe são feitas. Dois outros Espíritos, o de Castelnaudary e o do Dr. Cauvière, comunicam-se ao mesmo tempo por um outro médium, do que resulta uma troca de observações muito instrutivas. Os doutores terminam cada um por um ditado que tem o cunho das altas capacidades que lhes são reconhecidas. (Publicada adiante).
3.º ─ Dois outros ditados espontâneos: o primeiro de S. Francisco de Sales, pela Sra. Mallet; o segundo, pelo Sr. Colin, assinado Moisés, Platão, depois Juliano.
SEXTA-FEIRA, 10 DE FEVEREIRO DE 1860
(SESSÃO GERAL)
Aprovada a ata de 3 de fevereiro.
Carta com pedido de admissão que será resolvida na próxima sessão particular. Leitura das comunicações recebidas na última sessão.
Comunicações diversas:
A nota seguinte é transmitida pelo Sr. Soive, pedindo, se se considerar útil, que se faça uma evocação a respeito: “Um tal Sr. T..., de trinta e cinco anos, residente no Boulevard do Hospital, era perseguido por uma ideia fixa, a de involuntariamente ter morto um amigo numa rixa. Malgrado tudo quanto foi feito para dissuadi-lo, mostrando-lhe o amigo vivo, ele julgava tratar-se de sua sombra. Atormentado pelo
remorso de um crime imaginário, asfixiou-se.”
A evocação do Sr. T... será feita, se houver tempo.
Estudos:
1.º ─ Cinco ditados espontâneos e simultâneos: o primeiro, pelo Sr. Roze, assinado Lamennais; o segundo, pela senhorinha Eugénie, assinado Staël; o terceiro, pelo Sr. Colin, assinado Fourier; o quarto pela senhorinha Huet, de um Espírito que, diz ele, dar-se-á a conhecer mais tarde e anuncia uma série de comunicações; o quinto, pelo Sr. Didier filho, assinado Charlet.
2.º ─ Após a leitura do ditado de Fourier, o presidente observa, para a compreensão das pessoas estranhas à Sociedade, e que podem não estar a par de sua maneira de proceder, que essa comunicação, à primeira vista, lhe parece suscetível de comentários; que, entre os Espíritos que se manifestam, há-os de todos os graus; que suas comunicações refletem suas ideias pessoais, nem sempre inteiramente justas. Conforme o conselho que lhe foi dado, a Sociedade as recebe como expressão de uma opinião individual e se reserva o direito de julgá-las, submetendoas ao controle da lógica e da razão. É essencial se saiba que ela não adota como verdadeiro tudo quanto vem dos Espíritos. Por suas comunicações, o Espírito dá a conhecer o que ele é no bem ou no mal, na ciência ou na ignorância. São para ela assuntos de estudo. Ela aceita o que é bom e rejeita o que é mau.
3.º ─ Evocação da senhorinha Indermuhle, de Berna, surda-muda de nascimento, viva, de trinta e dois anos. A evocação oferece um grande interesse do ponto de vista moral e científico, pela sagacidade e precisão das respostas, que nela denotam um Espírito já adiantado.
4.º ─ Evocação do Sr. T..., do qual se falou antes. Dá sinais de grande agitação e quebra vários lápis antes de traçar algumas linhas apenas legíveis. É evidente a perturbação das ideias; inicialmente persiste na crença de que matou o amigo; acaba convindo que era apenas uma ideia fixa, mas acrescenta que se não matou, tinha tido vontade de fazê-lo, não o fazendo apenas porque lhe faltou coragem. São Luís dá algumas explicações quanto ao estado desse Espírito e às consequências de seu suicídio.
Esta evocação será repetida mais tarde, quando o Espírito estiver mais desprendido.
Carta com pedido de admissão que será resolvida na próxima sessão particular. Leitura das comunicações recebidas na última sessão.
Comunicações diversas:
A nota seguinte é transmitida pelo Sr. Soive, pedindo, se se considerar útil, que se faça uma evocação a respeito: “Um tal Sr. T..., de trinta e cinco anos, residente no Boulevard do Hospital, era perseguido por uma ideia fixa, a de involuntariamente ter morto um amigo numa rixa. Malgrado tudo quanto foi feito para dissuadi-lo, mostrando-lhe o amigo vivo, ele julgava tratar-se de sua sombra. Atormentado pelo
remorso de um crime imaginário, asfixiou-se.”
A evocação do Sr. T... será feita, se houver tempo.
Estudos:
1.º ─ Cinco ditados espontâneos e simultâneos: o primeiro, pelo Sr. Roze, assinado Lamennais; o segundo, pela senhorinha Eugénie, assinado Staël; o terceiro, pelo Sr. Colin, assinado Fourier; o quarto pela senhorinha Huet, de um Espírito que, diz ele, dar-se-á a conhecer mais tarde e anuncia uma série de comunicações; o quinto, pelo Sr. Didier filho, assinado Charlet.
2.º ─ Após a leitura do ditado de Fourier, o presidente observa, para a compreensão das pessoas estranhas à Sociedade, e que podem não estar a par de sua maneira de proceder, que essa comunicação, à primeira vista, lhe parece suscetível de comentários; que, entre os Espíritos que se manifestam, há-os de todos os graus; que suas comunicações refletem suas ideias pessoais, nem sempre inteiramente justas. Conforme o conselho que lhe foi dado, a Sociedade as recebe como expressão de uma opinião individual e se reserva o direito de julgá-las, submetendoas ao controle da lógica e da razão. É essencial se saiba que ela não adota como verdadeiro tudo quanto vem dos Espíritos. Por suas comunicações, o Espírito dá a conhecer o que ele é no bem ou no mal, na ciência ou na ignorância. São para ela assuntos de estudo. Ela aceita o que é bom e rejeita o que é mau.
3.º ─ Evocação da senhorinha Indermuhle, de Berna, surda-muda de nascimento, viva, de trinta e dois anos. A evocação oferece um grande interesse do ponto de vista moral e científico, pela sagacidade e precisão das respostas, que nela denotam um Espírito já adiantado.
4.º ─ Evocação do Sr. T..., do qual se falou antes. Dá sinais de grande agitação e quebra vários lápis antes de traçar algumas linhas apenas legíveis. É evidente a perturbação das ideias; inicialmente persiste na crença de que matou o amigo; acaba convindo que era apenas uma ideia fixa, mas acrescenta que se não matou, tinha tido vontade de fazê-lo, não o fazendo apenas porque lhe faltou coragem. São Luís dá algumas explicações quanto ao estado desse Espírito e às consequências de seu suicídio.
Esta evocação será repetida mais tarde, quando o Espírito estiver mais desprendido.
SEXTA-FEIRA, 17 DE FEVEREIRO DE 1860
(SESSÃO PARTICULAR)
Leitura e aprovação da ata da sessão de 10 de fevereiro.
Admitidos como membros titulares, a pedido escrito e parecer favorável: a Sra. de Regnez, de Paris; o Sr. Indermuhle de Wytenbach, de Berna; a Sra. Lubrat, de Paris.
Leitura de dois novos pedidos de admissão, adiados para a próxima sessão particular.
O Sr. Allan Kardec transmite à Sociedade o seguinte, a respeito do donativo feito:
“Se a doadora, no que lhe concerne, não reclama contas do emprego dos fundos, não devo, para minha própria satisfação, permitir que seu emprego não seja submetido a um controle. Essa soma formará o primeiro fundo de uma Caixa Especial, que nada de comum terá com meus negócios pessoais, e que será objeto de uma contabilidade distinta, sob o nome de Caixa do Espiritismo.
“Esta caixa será aumentada posteriormente pelos fundos que chegarem de outras fontes, e será destinada exclusivamente às necessidades da Doutrina e ao desenvolvimento dos estudos espíritas.
“Um de meus primeiros cuidados será a criação de uma biblioteca especial, e de assim prover, como disse, ao que falta materialmente à Sociedade, para a regularidade de seus trabalhos.
“Pedi a vários colegas que aceitassem o controle da caixa e constatassem, em datas que serão ulteriormente fixadas, o útil emprego dos fundos.
“Essa comissão está composta pelos Srs. Solichon, Thiry, Levent, Mialhe, Krafzoff e Sra. Parisse.”
Leitura das comunicações recebidas na última sessão.
A seguir a Sociedade ocupou-se de várias questões administrativas.
Admitidos como membros titulares, a pedido escrito e parecer favorável: a Sra. de Regnez, de Paris; o Sr. Indermuhle de Wytenbach, de Berna; a Sra. Lubrat, de Paris.
Leitura de dois novos pedidos de admissão, adiados para a próxima sessão particular.
O Sr. Allan Kardec transmite à Sociedade o seguinte, a respeito do donativo feito:
“Se a doadora, no que lhe concerne, não reclama contas do emprego dos fundos, não devo, para minha própria satisfação, permitir que seu emprego não seja submetido a um controle. Essa soma formará o primeiro fundo de uma Caixa Especial, que nada de comum terá com meus negócios pessoais, e que será objeto de uma contabilidade distinta, sob o nome de Caixa do Espiritismo.
“Esta caixa será aumentada posteriormente pelos fundos que chegarem de outras fontes, e será destinada exclusivamente às necessidades da Doutrina e ao desenvolvimento dos estudos espíritas.
“Um de meus primeiros cuidados será a criação de uma biblioteca especial, e de assim prover, como disse, ao que falta materialmente à Sociedade, para a regularidade de seus trabalhos.
“Pedi a vários colegas que aceitassem o controle da caixa e constatassem, em datas que serão ulteriormente fixadas, o útil emprego dos fundos.
“Essa comissão está composta pelos Srs. Solichon, Thiry, Levent, Mialhe, Krafzoff e Sra. Parisse.”
Leitura das comunicações recebidas na última sessão.
A seguir a Sociedade ocupou-se de várias questões administrativas.
Os pré-adamitas
Uma carta que recebemos contém a seguinte passagem:
“O ensino que vos foi dado pelos Espíritos, força é convir, repousa sobre uma moral absolutamente conforme à do Cristo, e mesmo muito mais desenvolvida do que a que se acha no Evangelho, porque mostrais a aplicação daquilo que muitas vezes ali só se acha em preceitos gerais. Quanto ao problema da existência dos Espíritos e às suas relações com o homem, para mim não é objeto de qualquer dúvida. Eu estaria convencido apenas pelo testemunho dos Pais da Igreja, se não tivesse a prova da minha própria experiência. Assim, não levanto nenhuma objeção a respeito. Já o mesmo não se dá com certos pontos de sua doutrina, evidentemente contrários ao testemunho das Escrituras. Por hoje, limitar-me-ei a uma só questão, a relativa ao primeiro homem. Dizeis que Adão nem é o primeiro nem o único que tenha povoado a Terra. Se assim fosse, seria preciso admitir que a Bíblia é um erro, desde que o ponto de partida seria controvertido. Vede, pois, a que consequências isto nos conduz! Confesso que tal pensamento perturbou-me as ideias. Mas como, antes de tudo, sou pela verdade e a fé nada pode ganhar se construída sobre um erro, peço-vos a bondade de dar alguns esclarecimentos a respeito, se vossas folgas o permitirem. E se puderdes tranquilizar a minha consciência, vos serei muito reconhecido.”
“O ensino que vos foi dado pelos Espíritos, força é convir, repousa sobre uma moral absolutamente conforme à do Cristo, e mesmo muito mais desenvolvida do que a que se acha no Evangelho, porque mostrais a aplicação daquilo que muitas vezes ali só se acha em preceitos gerais. Quanto ao problema da existência dos Espíritos e às suas relações com o homem, para mim não é objeto de qualquer dúvida. Eu estaria convencido apenas pelo testemunho dos Pais da Igreja, se não tivesse a prova da minha própria experiência. Assim, não levanto nenhuma objeção a respeito. Já o mesmo não se dá com certos pontos de sua doutrina, evidentemente contrários ao testemunho das Escrituras. Por hoje, limitar-me-ei a uma só questão, a relativa ao primeiro homem. Dizeis que Adão nem é o primeiro nem o único que tenha povoado a Terra. Se assim fosse, seria preciso admitir que a Bíblia é um erro, desde que o ponto de partida seria controvertido. Vede, pois, a que consequências isto nos conduz! Confesso que tal pensamento perturbou-me as ideias. Mas como, antes de tudo, sou pela verdade e a fé nada pode ganhar se construída sobre um erro, peço-vos a bondade de dar alguns esclarecimentos a respeito, se vossas folgas o permitirem. E se puderdes tranquilizar a minha consciência, vos serei muito reconhecido.”
RESPOSTA
A questão do primeiro homem, na pessoa de Adão, como origem única da Humanidade, não é a única sobre a qual tiveram que se modificar as crenças religiosas.
Em certa época, o movimento da Terra pareceu de tal modo oposto ao texto das Escrituras, que não houve formas de perseguição a que esta teoria não tenha servido de pretexto e, contudo, vê-se que, parando o Sol, Josué não impediu que a Terra girasse. Ela gira, malgrado os anátemas, e hoje ninguém o contraria, sem ferir a própria razão.
Igualmente diz a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e fixa a data de cerca de 4000 anos antes da Era Cristã. Antes disso, a Terra não existia. Ela foi tirada do nada. O texto é formal, e eis que a Ciência positiva, inexorável, vem provar o contrário. A formação do globo está escrita em caracteres imprescritíveis no mundo fóssil, e está provado que os seis dias da Criação são outros tantos períodos, talvez de várias centenas de milhares de anos cada um. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião isolada. É um fato tão constante quanto o movimento da Terra, que a Teologia não pode deixar de admitir. Assim, só nas classes infantis é que se ensina que o mundo foi feito em seis vezes vinte e quatro horas, prova evidente do erro em que se pode cair, tomando ao pé da letra as expressões de uma linguagem frequentemente figurada. Teria sido a autoridade da Bíblia atingida, aos olhos dos teólogos? Absolutamente. Eles se renderam à evidência e concluíram que o texto podia receber uma interpretação.
Escavando os arquivos da Terra, a Ciência reconheceu a ordem na qual os diferentes seres vivos apareceram em sua superfície. A observação não deixa dúvidas quanto às espécies orgânicas que pertencem a cada período, e essa ordem está de acordo com o que é indicado no Gênesis, com a diferença de que essa obra, em vez de ter saído miraculosamente das mãos de Deus em algumas horas, realizouse, sempre por sua vontade, mas conforme as leis das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Por isso será Deus menor e menos poderoso? Sua obra será menos sublime por não ter o prestígio da instantaneidade? Evidentemente não. Seria preciso fazer da Divindade uma ideia muito mesquinha para não reconhecer sua onipotência nas leis eternas por ela estabelecidas para reger os mundos.
Assim como Moisés, a Ciência coloca o homem na última ordem da criação dos seres vivos, mas Moisés coloca o dilúvio universal no ano 1654 do mundo, ao passo que a Geologia nos mostra esse grande cataclismo anteriormente ao aparecimento do homem, visto que até aquele dia, nas camadas primitivas, não se encontra nenhum traço de sua presença, nem de animais da mesma categoria, do ponto de vista físico. Mas nada prova que isto seja impossível. Várias descobertas já lançaram dúvidas a respeito. É possível, então, que de um momento para outro se adquira a certeza dessa anterioridade da raça humana. Resta saber se o cataclismo geológico cujos traços estão por toda a Terra é o mesmo dilúvio de Noé. Ora, a lei da duração da formação das camadas fósseis não permite confundi-los, pois o primeiro remonta talvez a cem mil anos. A partir do momento em que forem encontrados traços da existência do homem antes da grande catástrofe, estará provado que Adão não é o primeiro homem, ou que sua criação se perde na noite dos tempos. Contra a evidência não há raciocínio possível. Os teólogos deverão, assim, aceitar este fato, como aceitaram o movimento da Terra e os seis períodos da Criação.
Na verdade, a existência do homem antes do dilúvio geológico é ainda hipotética, mas isto é o de menos. Admitindo que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4000 anos antes do Cristo, se 1650 anos mais tarde toda a raça humana foi destruída, com exceção de um só, resulta que o povoamento da Terra só pode datar de Noé, ou seja, de 2350 anos antes de nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no século XVIII a. C., encontram esse país muito povoado e com uma civilização já muito adiantada.
Prova a História que já nessa época a Índia e outras regiões eram igualmente florescentes. Então seria preciso que do décimo quarto ao décimo oitavo século a. C., isto é, no espaço de 600 anos, não só a posteridade de um só homem tivesse podido povoar todas as imensas regiões então conhecidas, supondo que as outras não o fossem, mas que, nesse curto intervalo, a espécie humana tivesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau do desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas. Ao revés, tudo se explica admitindo-se a anterioridade do homem; o dilúvio de Noé como uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico, e Adão, que viveu há 6000 anos, como tendo povoado uma região ainda desabitada. Uma vez mais, nada poderia prevalecer contra a evidência dos fatos. Por isso julgamos prudente não tomar posição em falso, muito levianamente, contra doutrinas que cedo ou tarde, como tantas outras, podem mostrar a falta de razão dos que as combatem. Longe de perder, as ideias religiosas se engrandecem com a Ciência. É o meio de não dar margem ao ceticismo mostrando-lhe o lado vulnerável.
Que seria da religião se ela se obstinasse contra a evidência; se persistisse em anatematizar os que não aceitassem a letra das Escrituras? O resultado seria que não se poderia ser católico sem crer no movimento do Sol, nos seis dias da criação e nos 6000 anos de existência da Terra. Calcule-se o que hoje restaria de católicos. Proscreveis também os que não tomam ao pé da letra a alegoria da árvore e seu fruto, da costela de Adão, da serpente, etc.? A religião será sempre forte quando marchar de acordo com a Ciência, porque estará ligada à parte esclarecida da população. É o único meio de desmentir o preconceito que a faz ser considerada, por gente superficial, como antagonista do progresso. Se alguma vez ─ que Deus não o permita ─ ela repelisse a evidência dos fatos, afastaria os homens sérios e provocaria um cisma, porque nada prevaleceria contra a evidência.
Assim a alta Teologia, que conta com homens eminentes pelo saber, sobre muitos pontos controvertidos admite uma interpretação conforme à boa razão. Apenas é lamentável que reserve suas interpretações aos privilegiados e continue a ensinar ao pé da letra nas escolas. Daí resulta que a letra, inicialmente aceita pelas crianças, é mais tarde repelida, quando chegam à idade da razão. Nada tendo como compensação, tudo rejeitam e aumentam o número dos incrédulos absolutos. Ao contrário, dai à criança somente aquilo que mais tarde a razão pode admitir e a razão, desenvolvendo-se, a fortalecerá nos princípios que lhe tiverem sido inculcados. Assim falando, cremos servir aos mais verdadeiros interesses da religião. Ela será sempre respeitada, se mostrada de acordo com a realidade e quando não a fizerem consistir em alegorias cuja realidade o bom-senso não pode admitir.
A questão do primeiro homem, na pessoa de Adão, como origem única da Humanidade, não é a única sobre a qual tiveram que se modificar as crenças religiosas.
Em certa época, o movimento da Terra pareceu de tal modo oposto ao texto das Escrituras, que não houve formas de perseguição a que esta teoria não tenha servido de pretexto e, contudo, vê-se que, parando o Sol, Josué não impediu que a Terra girasse. Ela gira, malgrado os anátemas, e hoje ninguém o contraria, sem ferir a própria razão.
Igualmente diz a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e fixa a data de cerca de 4000 anos antes da Era Cristã. Antes disso, a Terra não existia. Ela foi tirada do nada. O texto é formal, e eis que a Ciência positiva, inexorável, vem provar o contrário. A formação do globo está escrita em caracteres imprescritíveis no mundo fóssil, e está provado que os seis dias da Criação são outros tantos períodos, talvez de várias centenas de milhares de anos cada um. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião isolada. É um fato tão constante quanto o movimento da Terra, que a Teologia não pode deixar de admitir. Assim, só nas classes infantis é que se ensina que o mundo foi feito em seis vezes vinte e quatro horas, prova evidente do erro em que se pode cair, tomando ao pé da letra as expressões de uma linguagem frequentemente figurada. Teria sido a autoridade da Bíblia atingida, aos olhos dos teólogos? Absolutamente. Eles se renderam à evidência e concluíram que o texto podia receber uma interpretação.
Escavando os arquivos da Terra, a Ciência reconheceu a ordem na qual os diferentes seres vivos apareceram em sua superfície. A observação não deixa dúvidas quanto às espécies orgânicas que pertencem a cada período, e essa ordem está de acordo com o que é indicado no Gênesis, com a diferença de que essa obra, em vez de ter saído miraculosamente das mãos de Deus em algumas horas, realizouse, sempre por sua vontade, mas conforme as leis das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Por isso será Deus menor e menos poderoso? Sua obra será menos sublime por não ter o prestígio da instantaneidade? Evidentemente não. Seria preciso fazer da Divindade uma ideia muito mesquinha para não reconhecer sua onipotência nas leis eternas por ela estabelecidas para reger os mundos.
Assim como Moisés, a Ciência coloca o homem na última ordem da criação dos seres vivos, mas Moisés coloca o dilúvio universal no ano 1654 do mundo, ao passo que a Geologia nos mostra esse grande cataclismo anteriormente ao aparecimento do homem, visto que até aquele dia, nas camadas primitivas, não se encontra nenhum traço de sua presença, nem de animais da mesma categoria, do ponto de vista físico. Mas nada prova que isto seja impossível. Várias descobertas já lançaram dúvidas a respeito. É possível, então, que de um momento para outro se adquira a certeza dessa anterioridade da raça humana. Resta saber se o cataclismo geológico cujos traços estão por toda a Terra é o mesmo dilúvio de Noé. Ora, a lei da duração da formação das camadas fósseis não permite confundi-los, pois o primeiro remonta talvez a cem mil anos. A partir do momento em que forem encontrados traços da existência do homem antes da grande catástrofe, estará provado que Adão não é o primeiro homem, ou que sua criação se perde na noite dos tempos. Contra a evidência não há raciocínio possível. Os teólogos deverão, assim, aceitar este fato, como aceitaram o movimento da Terra e os seis períodos da Criação.
Na verdade, a existência do homem antes do dilúvio geológico é ainda hipotética, mas isto é o de menos. Admitindo que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4000 anos antes do Cristo, se 1650 anos mais tarde toda a raça humana foi destruída, com exceção de um só, resulta que o povoamento da Terra só pode datar de Noé, ou seja, de 2350 anos antes de nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no século XVIII a. C., encontram esse país muito povoado e com uma civilização já muito adiantada.
Prova a História que já nessa época a Índia e outras regiões eram igualmente florescentes. Então seria preciso que do décimo quarto ao décimo oitavo século a. C., isto é, no espaço de 600 anos, não só a posteridade de um só homem tivesse podido povoar todas as imensas regiões então conhecidas, supondo que as outras não o fossem, mas que, nesse curto intervalo, a espécie humana tivesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau do desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas. Ao revés, tudo se explica admitindo-se a anterioridade do homem; o dilúvio de Noé como uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico, e Adão, que viveu há 6000 anos, como tendo povoado uma região ainda desabitada. Uma vez mais, nada poderia prevalecer contra a evidência dos fatos. Por isso julgamos prudente não tomar posição em falso, muito levianamente, contra doutrinas que cedo ou tarde, como tantas outras, podem mostrar a falta de razão dos que as combatem. Longe de perder, as ideias religiosas se engrandecem com a Ciência. É o meio de não dar margem ao ceticismo mostrando-lhe o lado vulnerável.
Que seria da religião se ela se obstinasse contra a evidência; se persistisse em anatematizar os que não aceitassem a letra das Escrituras? O resultado seria que não se poderia ser católico sem crer no movimento do Sol, nos seis dias da criação e nos 6000 anos de existência da Terra. Calcule-se o que hoje restaria de católicos. Proscreveis também os que não tomam ao pé da letra a alegoria da árvore e seu fruto, da costela de Adão, da serpente, etc.? A religião será sempre forte quando marchar de acordo com a Ciência, porque estará ligada à parte esclarecida da população. É o único meio de desmentir o preconceito que a faz ser considerada, por gente superficial, como antagonista do progresso. Se alguma vez ─ que Deus não o permita ─ ela repelisse a evidência dos fatos, afastaria os homens sérios e provocaria um cisma, porque nada prevaleceria contra a evidência.
Assim a alta Teologia, que conta com homens eminentes pelo saber, sobre muitos pontos controvertidos admite uma interpretação conforme à boa razão. Apenas é lamentável que reserve suas interpretações aos privilegiados e continue a ensinar ao pé da letra nas escolas. Daí resulta que a letra, inicialmente aceita pelas crianças, é mais tarde repelida, quando chegam à idade da razão. Nada tendo como compensação, tudo rejeitam e aumentam o número dos incrédulos absolutos. Ao contrário, dai à criança somente aquilo que mais tarde a razão pode admitir e a razão, desenvolvendo-se, a fortalecerá nos princípios que lhe tiverem sido inculcados. Assim falando, cremos servir aos mais verdadeiros interesses da religião. Ela será sempre respeitada, se mostrada de acordo com a realidade e quando não a fizerem consistir em alegorias cuja realidade o bom-senso não pode admitir.
Um médium curador
Senhorita Désirée Godu, de Hennebon (Morbihan)
Pedimos aos leitores que se reportem ao nosso artigo do mês passado, sobre os médiuns especiais. Melhor serão compreendidos os ensinamentos que vamos dar, a respeito da senhorinha Désirée Godu, cuja faculdade oferece um caráter da mais notável especialidade.
Há cerca de oito anos, passou ela sucessivamente por todas as fases da mediunidade. A princípio, poderosa médium de efeitos físicos, tornou-se, alternativamente, médium vidente, auditiva, falante, escrevente, e finalmente todas as suas faculdades se concentraram na cura de doentes, que parecia ser a sua missão, missão que desempenha com um devotamento sem limites. Deixemos falar uma testemunha ocular, o Sr. Pierre, professor em Lorient, que nos transmite esses detalhes, em resposta às perguntas que lhe fizemos.
“A senhorita Désirée Godu, de vinte e cinco anos, pertence a uma distinta família, respeitável e respeitada de Lorient. Seu pai é um antigo militar, cavaleiro da Legião de Honra, e sua mãe, senhora paciente e laboriosa, ajuda à filha o melhor que pode em sua penosa mas sublime missão. Há cerca de seis anos, essa família patriarcal dá esmolas de remédios receitados e, muitas vezes, tudo quanto necessário para curativos, tanto aos ricos quanto aos pobres que a procuram. Suas relações com os Espíritos começaram ao tempo das mesas girantes. Então ela morava em Lorient, e durante meses só se falava das maravilhas operadas pela senhorita Godu com as mesas, sempre complacentes e dóceis, sob suas mãos. Era um favor ser admitido às sessões de mesa em sua casa e lá não entrava quem quisesse. Simples e modesta, não buscava pôr-se em evidência. Contudo, como é fácil compreender, a maledicência não a poupou.
“O próprio Cristo foi escarnecido, embora só fizesse e ensinasse o bem. É de admirar que ainda se encontrem fariseus, quando ainda há homens que em nada creem? É a sorte de todos quantos mostram uma superioridade qualquer, a de serem expostos aos ataques da mediocridade invejosa e ciumenta. Nada lhe custa para derrubar aquele que ergue a cabeça acima do vulgo, nem mesmo o veneno da calúnia. O hipócrita desmascarado jamais perdoa, mas Deus é justo e quanto mais maltratado for o homem de bem, mais brilhante será sua reabilitação e mais humilhante a vergonha de seus inimigos. A posteridade o vingará.
“Esperando sua verdadeira missão, que deve começar, segundo se diz, dentro de dois anos, o Espírito que a guia lhe propôs a de curar toda sorte de moléstias, o que ela aceitou. Para se comunicar, ele agora se serve de seus órgãos, e muitas vezes contra a vontade dela, em vez das batidas nas mesas. Quando é o Espírito que fala, o timbre da voz já não é o mesmo, e os seus lábios não se movem.
“A senhorinha Godu recebeu apenas uma instrução comum, mas a parte principal de sua educação não devia ser obra dos homens. Quando ela concordou em ser médium curadora, o Espírito procedeu metodicamente à sua instrução, sem que ela nada visse além de mãos. Um misterioso personagem lhe punha sob os olhos livros, gravuras ou desenhos, e lhe explicava todo o organismo humano, as propriedades das plantas, os efeitos da eletricidade, etc. Ela não é sonâmbula. Ninguém a adormece. É desperta, e bem desperta, que ela penetra os doentes com seu olhar. O Espírito lhe indica os remédios, que geralmente ela mesma prepara e aplica, cuidando e pensando os feridos mais repugnantes com a dedicação de uma irmã de caridade. Começaram por lhe dar a composição de certos unguentos que curavam em poucos dias os panarícios e as feridas de pouca gravidade, com o objetivo de lentamente habituá-la a ver, sem muita repulsa, todas as horríveis e repugnantes misérias que deveriam aparecer aos seus olhos, pondo a finura e a delicadeza de seus sentidos às mais rudes provas. Não a imaginemos um ser sofredor, fraco e fanado. Ela goza do mens sana in corpore sano em toda a sua plenitude. Longe de tratar os doentes por um auxiliar, é ela que põe a mão em tudo, graças à sua robusta constituição. Aos doentes, sabe inspirar uma confiança sem limites. Acha no coração consolações para todas as dores, e em sua mão, remédios para todos os males. É de um caráter naturalmente alegre e brincalhão. Sua alegria é contagiosa como a fé que a anima e atua instantaneamente sobre os doentes. Vi muitos se retirarem com os olhos rasos de lágrimas, lágrimas de suave admiração, de reconhecimento e de alegria. Todas as quintas-feiras, dia de feira, e domingos das seis da manhã até as cinco ou seis da tarde, a casa não se esvazia. Para ela, trabalhar é orar, e o faz com consciência. Antes de ter que tratar de doentes, passava o dia inteiro costurando roupas para os pobres e enxovais para os recém nascidos, empregando os mais engenhosos meios para que os presentes chegassem ao destino anonimamente, de sorte que a mão esquerda sempre ignorasse o que dava a direita. Ela possui grande número de certificados autênticos, dados por eclesiásticos, por autoridades e por pessoas notáveis, atestando curas que em outros tempos teriam sido consideradas milagrosas.”
Por pessoas fidedignas, sabemos não haver exagero no relato acima e temos a satisfação de assinalar o digno emprego que a senhorita Godu faz da excepcional faculdade de que foi dotada. Esperemos que estes elogios que temos o prazer de reproduzir, no interesse da Humanidade, não alterarão sua modéstia, que dobra o valor do bem, e que ela não escutará as sugestões do espírito de orgulho. O orgulho é o escolho de grande número de médiuns e vimos muitos cujas faculdades transcendentes se aniquilaram ou perverteram, desde que deram ouvidos a esse demônio tentador. As melhores intenções não impedem seus embustes, e é precisamente contra os bons que ele dirige suas baterias, pois se satisfaz em fazê-los sucumbir e mostrar que ele é o mais forte. Insinua-se no coração com tanta habilidade que muitas vezes o enche sem que se suspeite. Assim, o orgulho é o último defeito que confessamos a nós mesmos, à semelhança dessas doenças mortais que se tem em estado latente e sobre cuja gravidade o doente se ilude até o último instante. Eis por que é tão difícil erradicá-lo. Desde que um médium possui uma faculdade, por menos notável que seja, é procurado, elogiado, adulado. Isto lhe é terrível pedra de toque, pois acaba julgando-se indispensável, se não for profundamente simples e modesto. Infeliz dele, principalmente se estiver persuadido de que só se comunica com bons Espíritos. Custa-lhe reconhecer que foi iludido, e muitas vezes escreve ou ouve sua própria condenação, sua própria censura, sem acreditar que aquilo tudo é endereçado a ele. Ora, é precisamente dessa cegueira que é presa. Os Espíritos enganadores disso se aproveitam para fasciná-lo, dominá-lo, subjugá-lo cada vez mais, a ponto de lhe fazerem tomar por verdades as coisas mais falsas. É assim que nele se perde o dom precioso que só havia recebido de Deus para tornar-se útil aos seus semelhantes, porque os bons Espíritos se retiram, sempre que alguém prefere escutar os maus. Aquele que a Providência destina a ser posto em evidência o será pela força das coisas, e os Espíritos bem saberão tirá-lo da obscuridade, caso isto seja útil, ao passo que frequentemente só haverá decepções para aquele que é atormentado pela necessidade de fazer com que falem de si. O que sabemos do caráter da senhorita Godu nos dá a firme confiança de que esteja acima dessas pequenas fraquezas, e que assim jamais comprometerá, como tantos outros, a missão que recebeu.
Manifestações físicas espontâneas - O padeiro de Dieppe
Os fenômenos pelos quais podem os Espíritos manifestar sua presença são de duas naturezas, que se designam como manifestações físicas e manifestações inteligentes. Pelas primeiras, os Espíritos atestam sua ação sobre a matéria. Pelas segundas, revelam um pensamento mais ou menos elevado, conforme seu grau de depuração. Umas e outras podem ser espontâneas ou provocadas. São provocadas quando impelidas pelo desejo e obtidas com o auxílio de pessoas de aptidão especial, isto é, dos médiuns. São espontâneas quando ocorrem naturalmente, sem nenhuma participação da vontade e muitas vezes na ausência de qualquer conhecimento e mesmo de qualquer crença espírita. A esta ordem pertencem certos fenômenos que se não podem explicar pelas causas físicas ordinárias, mas não nos devemos apressar, como já temos dito, em atribuir aos Espíritos tudo quanto é insólito e não se compreende. Nunca seria demais insistir sobre este ponto, a fim de nos pormos em guarda contra os efeitos da imaginação e, muitas vezes, do medo. Quando se produz um fenômeno extraordinário ─ repetimo-lo ─ o primeiro pensamento deve ser que tenha uma causa natural, por ser a mais frequente e mais provável. Isto se aplica sobretudo aos ruídos e mesmo a certos movimentos de objetos. Neste caso, o que é preciso fazer é buscar a causa, e é mais do que provável que encontremos uma causa muito simples e muito vulgar.
Dizemos ainda que o verdadeiro e por assim dizer o único sinal real da intervenção dos Espíritos é o caráter intencional e inteligente do efeito produzido, quando estiver perfeitamente demonstrada a impossibilidade de uma intervenção humana. Nessas condições, raciocinando conforme o axioma de que todo efeito tem uma causa, e que todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, torna-se claro que se a causa não estiver nos agentes ordinários dos efeitos materiais, estará fora desses mesmos agentes; que se a inteligência que age não for humana, deve estar fora da Humanidade.
─ Então há inteligências extra-humanas?
─ Parece provável. Se certas coisas não são e não podem ser obra dos homens, devem ser obra de alguém. Ora, se esse alguém não for um homem, parece que, necessariamente, deva estar fora da Humanidade; se não o vemos, deve ser invisível. É um raciocínio tão peremptório e tão fácil de compreender quanto o do Sr. de la Palisse.
─ Então, o que são essas inteligências? Anjos ou demônios? E como inteligências invisíveis podem agir sobre a matéria visível?
─ É o que sabem perfeitamente aqueles que se aprofundaram na ciência espírita que, assim como as outras ciências, não se aprende num piscar de olhos e que não se pode resumir em poucas linhas.
Aos que fazem tal pergunta apresentaremos apenas esta: Como o vosso pensamento, que é imaterial, move à vontade o vosso corpo que é material? Acreditamos que eles não deverão embaraçar-se na solução deste problema, e que se rejeitarem a explicação de fenômeno tão vulgar dada pelo Espiritismo, é que têm outra muito mais lógica a contrapor. Mas até agora não a conhecemos.
Vamos aos fatos que motivaram estas observações.
Vários jornais, entre outros o Opinion Nationale de 14 de fevereiro último, e o Journal de Rouen de 12 do mesmo mês, relatam o seguinte fato, conforme o Vigie de Dieppe. Eis o artigo do Journal de Rouen:
“O La Vigie de Dieppe estampa a seguinte carta, de seu correspondente em Grandes-Ventes. Em nosso número de sexta-feira já assinalamos uma parte dos fatos hoje relatados neste jornal, mas a emoção excitada na comuna por esses acontecimentos extraordinários nos leva a revelar novos detalhes contidos nessa correspondência.
“Hoje nos rimos das histórias mais ou menos fantásticas dos bons velhos tempos e, em nossos dias, os pretensos feiticeiros não desfrutam de grande veneração. Não são mais acreditados em Grandes-Ventes que alhures. Contudo, nossos velhos preconceitos populares ainda têm alguns adeptos entre os bons moradores da vila. A cena verdadeiramente extraordinária que acabamos de testemunhar vem a propósito para lhes fortalecer a sua crença supersticiosa.
“Ontem pela manhã, o Sr. Goubert, um dos padeiros da nossa vila; seu pai, que lhe serve de operário; e um jovem aprendiz, de dezesseis a dezessete anos, iam começar o trabalho rotineiro, quando perceberam que vários objetos deixavam espontaneamente seus devidos lugares para se lançarem na masseira. Assim, tiveram que retirar da farinha que trabalhavam, vários pedaços de carvão, dois pesos de tamanhos diversos, um cachimbo e uma vela. Malgrado sua extrema surpresa, continuaram a tarefa e tinham chegado a amassar o pão, quando, de repente, uma porção de massa de dois quilos, escapando das mãos do jovem ajudante, foi lançada a alguns metros de distância. Isto foi o prelúdio e como que o sinal da mais estranha desordem. Eram cerca de nove horas e, até meio-dia, foi positivamente impossível ficar ao forno e no compartimento vizinho. Tudo foi virado, derrubado, quebrado. Os pães, atirados à sala com as pranchas em que estavam, em meio a restos de toda sorte, ficaram completamente perdidos. Mais de trinta garrafas de vinho foram quebradas e, enquanto a manivela do poço rodava sozinha com extrema velocidade, as brasas, as pás, os cavaletes e os pesos saltavam no ar e executavam as mais diabólicas evoluções.
“Ao meio-dia o tumulto cessou pouco a pouco e algumas horas depois, quando tudo entrou em ordem e os utensílios foram repostos em seus lugares, o chefe da casa pôde retomar os trabalhos habituais.
“Este acontecimento estranho causou ao Sr. Goubert uma perda de pelo menos cem francos.”
A este relato, o Opinion Nationale adiciona as seguintes reflexões:
“Reproduzindo esta história singular, seria uma injúria aos nossos leitores convidá-los a pôr-se em guarda contra os fatos sobrenaturais que ela relata. Eis aí, nós sabemos perfeitamente, uma história que não é do nosso tempo e que poderá escandalizar alguns dos doutos leitores do Vigie, mas, por mais inverossímil que pareça, não é menos verdadeira e, se necessário, centenas de pessoas poderão atestar sua exatidão.”
Confessamos não compreender bem as reflexões do jornalista, que parece contradizer-se. Por um lado, diz aos leitores que se ponham em guarda contra os fatos sobrenaturais que a carta relata e termina por dizer que, “por mais inverossímil que pareça essa história, ela não é menos verdadeira, e que centenas de pessoas poderão certificar sua exatidão.” De duas, uma: ou é verdadeira, ou é falsa. Se falsa, tudo está dito, mas se verdadeira, como atesta o Opinion Nationale, o fato revela uma coisa muito séria para ser tratada levianamente. Ponhamos de lado a questão dos Espíritos e vejamos apenas um fenômeno físico. Não é bastante extraordinário para merecer a atenção de observadores sérios? Então, que os sábios metam suas mãos à obra e, escavando os arquivos da Ciência, dele nos deem uma explicação racional, irrefutável, com a razão de todas as circunstâncias. Se não o podem, temos de convir que não conhecem todos os segredos da Natureza. E se só a ciência espírita dá a solução, será preciso optar entre a teoria que explica e a que nada explica.
Quando fatos desta natureza são relatados, nosso primeiro cuidado, antes mesmo de inquirir da realidade, é o de examinar se são ou não possíveis, conforme o que conhecemos sobre a teoria das manifestações espíritas. Citamos alguns, demonstrando-lhes a absoluta impossibilidade, notadamente a história contada no número de fevereiro de 1859, extraída do Journal des Débats, sob o título de Meu Amigo Hermann, à qual certos pontos da Doutrina Espírita poderiam ter dado uma aparência de probabilidade. Sob este ponto de vista, os fenômenos ocorridos com o padeiro das cercanias de Dieppe nada têm de mais extraordinário que muitos outros perfeitamente verificados e cuja solução completa é dada pela ciência espírita. Assim, aos nossos olhos, se o fato não fosse verdadeiro, seria possível. Pedimos a um dos nossos correspondentes de Dieppe, no qual temos plena confiança, que se informasse da realidade. Eis o que nos responde:
“Hoje vos posso dar todas as informações que desejais, pois me informei em boa fonte. O relato do Vigie é a exata verdade. Inútil relatar todos os fatos. Parece que alguns homens de Ciência vieram de longe para tomar conhecimento dos fatos extraordinários, que não poderão explicar se não tiverem noção da ciência espírita. Quanto aos nossos camponeses, estão confusos. Uns dizem que são feiticeiros. Outros, que é porque o cemitério mudou de lugar e sobre ele fizeram construções. Os mais espertos, que são considerados pelos seus como aqueles que tudo sabem, principalmente se foram militares, acabam dizendo: Por Deus! Não sei como isto pode acontecer. Inútil dizer-vos que não deixam de atribuir larga participação ao diabo em tudo isso. Para dar a compreender todos esses fenômenos à gente do povo, seria necessário tentar iniciá-los na verdadeira ciência espírita. Seria o único meio de erradicar de seu meio a crença nos feiticeiros e em todas as ideias supersticiosas que ainda por muito tempo constituirão o maior obstáculo à sua moralização.”
Terminaremos com uma última observação.
Ouvimos de algumas pessoas que não queriam ocupar-se de Espiritismo, com receio de atrair os Espíritos e provocar manifestações do gênero das que acabamos de relatar.
Não conhecemos o padeiro Goubert, mas cremos poder afirmar que nem ele, nem seu filho e seu ajudante jamais se ocuparam com os Espíritos. É mesmo de notar-se que as manifestações espontâneas se produzem de preferência entre pessoas que nenhuma ideia fazem do Espiritismo, prova evidente de que os Espíritos vêm sem serem chamados. Dizemos mais: o conhecimento esclarecido desta ciência é o melhor meio de nos preservarmos dos Espíritos importunos, porque indica a única maneira racional de afastá-los.
Nosso correspondente está perfeitamente certo ao dizer que o Espiritismo é um remédio contra a superstição. Com efeito, não é superstição crer que esses estranhos fenômenos sejam devidos à mudança do cemitério? A superstição não consiste na crença num fato, quando verificado, mas na causa irracional atribuída ao fato. Ela está sobretudo na crença em pretensos meios de adivinhação, no efeito de certas práticas, na virtude dos talismãs, nos dias e horas cabalísticos, etc., coisas cujo absurdo e ridículo o Espiritismo demonstra.
Dizemos ainda que o verdadeiro e por assim dizer o único sinal real da intervenção dos Espíritos é o caráter intencional e inteligente do efeito produzido, quando estiver perfeitamente demonstrada a impossibilidade de uma intervenção humana. Nessas condições, raciocinando conforme o axioma de que todo efeito tem uma causa, e que todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, torna-se claro que se a causa não estiver nos agentes ordinários dos efeitos materiais, estará fora desses mesmos agentes; que se a inteligência que age não for humana, deve estar fora da Humanidade.
─ Então há inteligências extra-humanas?
─ Parece provável. Se certas coisas não são e não podem ser obra dos homens, devem ser obra de alguém. Ora, se esse alguém não for um homem, parece que, necessariamente, deva estar fora da Humanidade; se não o vemos, deve ser invisível. É um raciocínio tão peremptório e tão fácil de compreender quanto o do Sr. de la Palisse.
─ Então, o que são essas inteligências? Anjos ou demônios? E como inteligências invisíveis podem agir sobre a matéria visível?
─ É o que sabem perfeitamente aqueles que se aprofundaram na ciência espírita que, assim como as outras ciências, não se aprende num piscar de olhos e que não se pode resumir em poucas linhas.
Aos que fazem tal pergunta apresentaremos apenas esta: Como o vosso pensamento, que é imaterial, move à vontade o vosso corpo que é material? Acreditamos que eles não deverão embaraçar-se na solução deste problema, e que se rejeitarem a explicação de fenômeno tão vulgar dada pelo Espiritismo, é que têm outra muito mais lógica a contrapor. Mas até agora não a conhecemos.
Vamos aos fatos que motivaram estas observações.
Vários jornais, entre outros o Opinion Nationale de 14 de fevereiro último, e o Journal de Rouen de 12 do mesmo mês, relatam o seguinte fato, conforme o Vigie de Dieppe. Eis o artigo do Journal de Rouen:
“O La Vigie de Dieppe estampa a seguinte carta, de seu correspondente em Grandes-Ventes. Em nosso número de sexta-feira já assinalamos uma parte dos fatos hoje relatados neste jornal, mas a emoção excitada na comuna por esses acontecimentos extraordinários nos leva a revelar novos detalhes contidos nessa correspondência.
“Hoje nos rimos das histórias mais ou menos fantásticas dos bons velhos tempos e, em nossos dias, os pretensos feiticeiros não desfrutam de grande veneração. Não são mais acreditados em Grandes-Ventes que alhures. Contudo, nossos velhos preconceitos populares ainda têm alguns adeptos entre os bons moradores da vila. A cena verdadeiramente extraordinária que acabamos de testemunhar vem a propósito para lhes fortalecer a sua crença supersticiosa.
“Ontem pela manhã, o Sr. Goubert, um dos padeiros da nossa vila; seu pai, que lhe serve de operário; e um jovem aprendiz, de dezesseis a dezessete anos, iam começar o trabalho rotineiro, quando perceberam que vários objetos deixavam espontaneamente seus devidos lugares para se lançarem na masseira. Assim, tiveram que retirar da farinha que trabalhavam, vários pedaços de carvão, dois pesos de tamanhos diversos, um cachimbo e uma vela. Malgrado sua extrema surpresa, continuaram a tarefa e tinham chegado a amassar o pão, quando, de repente, uma porção de massa de dois quilos, escapando das mãos do jovem ajudante, foi lançada a alguns metros de distância. Isto foi o prelúdio e como que o sinal da mais estranha desordem. Eram cerca de nove horas e, até meio-dia, foi positivamente impossível ficar ao forno e no compartimento vizinho. Tudo foi virado, derrubado, quebrado. Os pães, atirados à sala com as pranchas em que estavam, em meio a restos de toda sorte, ficaram completamente perdidos. Mais de trinta garrafas de vinho foram quebradas e, enquanto a manivela do poço rodava sozinha com extrema velocidade, as brasas, as pás, os cavaletes e os pesos saltavam no ar e executavam as mais diabólicas evoluções.
“Ao meio-dia o tumulto cessou pouco a pouco e algumas horas depois, quando tudo entrou em ordem e os utensílios foram repostos em seus lugares, o chefe da casa pôde retomar os trabalhos habituais.
“Este acontecimento estranho causou ao Sr. Goubert uma perda de pelo menos cem francos.”
A este relato, o Opinion Nationale adiciona as seguintes reflexões:
“Reproduzindo esta história singular, seria uma injúria aos nossos leitores convidá-los a pôr-se em guarda contra os fatos sobrenaturais que ela relata. Eis aí, nós sabemos perfeitamente, uma história que não é do nosso tempo e que poderá escandalizar alguns dos doutos leitores do Vigie, mas, por mais inverossímil que pareça, não é menos verdadeira e, se necessário, centenas de pessoas poderão atestar sua exatidão.”
Confessamos não compreender bem as reflexões do jornalista, que parece contradizer-se. Por um lado, diz aos leitores que se ponham em guarda contra os fatos sobrenaturais que a carta relata e termina por dizer que, “por mais inverossímil que pareça essa história, ela não é menos verdadeira, e que centenas de pessoas poderão certificar sua exatidão.” De duas, uma: ou é verdadeira, ou é falsa. Se falsa, tudo está dito, mas se verdadeira, como atesta o Opinion Nationale, o fato revela uma coisa muito séria para ser tratada levianamente. Ponhamos de lado a questão dos Espíritos e vejamos apenas um fenômeno físico. Não é bastante extraordinário para merecer a atenção de observadores sérios? Então, que os sábios metam suas mãos à obra e, escavando os arquivos da Ciência, dele nos deem uma explicação racional, irrefutável, com a razão de todas as circunstâncias. Se não o podem, temos de convir que não conhecem todos os segredos da Natureza. E se só a ciência espírita dá a solução, será preciso optar entre a teoria que explica e a que nada explica.
Quando fatos desta natureza são relatados, nosso primeiro cuidado, antes mesmo de inquirir da realidade, é o de examinar se são ou não possíveis, conforme o que conhecemos sobre a teoria das manifestações espíritas. Citamos alguns, demonstrando-lhes a absoluta impossibilidade, notadamente a história contada no número de fevereiro de 1859, extraída do Journal des Débats, sob o título de Meu Amigo Hermann, à qual certos pontos da Doutrina Espírita poderiam ter dado uma aparência de probabilidade. Sob este ponto de vista, os fenômenos ocorridos com o padeiro das cercanias de Dieppe nada têm de mais extraordinário que muitos outros perfeitamente verificados e cuja solução completa é dada pela ciência espírita. Assim, aos nossos olhos, se o fato não fosse verdadeiro, seria possível. Pedimos a um dos nossos correspondentes de Dieppe, no qual temos plena confiança, que se informasse da realidade. Eis o que nos responde:
“Hoje vos posso dar todas as informações que desejais, pois me informei em boa fonte. O relato do Vigie é a exata verdade. Inútil relatar todos os fatos. Parece que alguns homens de Ciência vieram de longe para tomar conhecimento dos fatos extraordinários, que não poderão explicar se não tiverem noção da ciência espírita. Quanto aos nossos camponeses, estão confusos. Uns dizem que são feiticeiros. Outros, que é porque o cemitério mudou de lugar e sobre ele fizeram construções. Os mais espertos, que são considerados pelos seus como aqueles que tudo sabem, principalmente se foram militares, acabam dizendo: Por Deus! Não sei como isto pode acontecer. Inútil dizer-vos que não deixam de atribuir larga participação ao diabo em tudo isso. Para dar a compreender todos esses fenômenos à gente do povo, seria necessário tentar iniciá-los na verdadeira ciência espírita. Seria o único meio de erradicar de seu meio a crença nos feiticeiros e em todas as ideias supersticiosas que ainda por muito tempo constituirão o maior obstáculo à sua moralização.”
Terminaremos com uma última observação.
Ouvimos de algumas pessoas que não queriam ocupar-se de Espiritismo, com receio de atrair os Espíritos e provocar manifestações do gênero das que acabamos de relatar.
Não conhecemos o padeiro Goubert, mas cremos poder afirmar que nem ele, nem seu filho e seu ajudante jamais se ocuparam com os Espíritos. É mesmo de notar-se que as manifestações espontâneas se produzem de preferência entre pessoas que nenhuma ideia fazem do Espiritismo, prova evidente de que os Espíritos vêm sem serem chamados. Dizemos mais: o conhecimento esclarecido desta ciência é o melhor meio de nos preservarmos dos Espíritos importunos, porque indica a única maneira racional de afastá-los.
Nosso correspondente está perfeitamente certo ao dizer que o Espiritismo é um remédio contra a superstição. Com efeito, não é superstição crer que esses estranhos fenômenos sejam devidos à mudança do cemitério? A superstição não consiste na crença num fato, quando verificado, mas na causa irracional atribuída ao fato. Ela está sobretudo na crença em pretensos meios de adivinhação, no efeito de certas práticas, na virtude dos talismãs, nos dias e horas cabalísticos, etc., coisas cujo absurdo e ridículo o Espiritismo demonstra.
Estudo sobre o Espírito das pessoas vivas
O Dr. Vignal
O Dr. Vignal, membro titular da Sociedade, ofereceu-se para servir ao estudo sobre uma pessoa viva, como se fez com o Conde de R... Foi evocado na sessão de 3 de fevereiro de 1860.
1. (A São Luís) ─ Podemos evocar o Dr. Vignal? ─ Sem qualquer perigo, pois que ele está preparado.
2. Evocação. ─ Aqui estou. Afirmo-o em nome de Deus, o que não faria se respondesse por outro.
3. ─ Embora estejais vivo, julgais necessário que a evocação seja feita em nome de Deus? ─ Deus não existe tanto para os vivos quanto para os mortos?
4. ─ Estais a ver-nos tão claramente como quando em pessoa assistíeis às nossas sessões? ─ Um pouco mais claramente.
5. ─ Em que lugar estais aqui? ─ Naturalmente no lugar onde minha ação é necessária: à direita e um pouco atrás do médium.
6. ─ Para vir de Sully até aqui, tivestes consciência do espaço transposto? Vistes o caminho percorrido? ─ Não mais que o carro que me trouxe.
7. ─ Poderemos oferecer-vos uma cadeira? ─ Sois muito bons. Não estou tão fatigado quanto vós.
8. ─ Como constatais vossa individualidade, aqui presente? ─ Como os outros.
OBSERVAÇÃO: Ele alude ao que já foi dito em casos semelhantes, isto é, que o Espírito constata sua individualidade por meio do perispírito, que representa o seu corpo.
9. ─ Contudo, agradeceríamos se vós mesmo nos désseis a explicação. ─ O que me pedis é uma repetição.
10. ─ Já que não quereis repetir o que foi dito, é porque pensais do mesmo modo? ─ Mas está bem claro.
11. ─ Assim, vosso perispírito é para vós uma espécie de corpo circunscrito e limitado? ─ É evidente. Nem é preciso dizer.
12. ─ Podeis ver o vosso corpo adormecido? ─ Não daqui. Vi-o ao deixá-lo. Tive vontade de rir.
13. ─ Como é estabelecida a relação entre o vosso corpo em Sully e o vosso Espírito aqui? ─ Como vos disse, pelo cordão fluídico.
14. ─ Quereis descrever o melhor possível, para que o compreendamos, a maneira por que vedes a vós mesmo, abstração feita do vosso corpo? ─ É muito fácil. Vejo-me como em vigília, ou antes, pois a comparação é mais justa, como a gente se vê em sonho. Tenho meu corpo, mas tenho consciência de que é organizado de modo diferente e mais leve que o outro. Não sinto o peso, a força de atração que me prende à Terra quando desperto. Numa palavra, como vos disse, não estou fatigado.
15. ─ A luz se vos apresenta com o mesmo tom que no estado normal? ─ Não. Esse tom é acrescido de uma luz não perceptível por vossos sentidos grosseiros. Contudo, não infirais que a sensação produzida pelas cores sobre o nervo óptico seja diferente para mim. O vermelho é vermelho, e assim por diante. Entretanto, alguns objetos que eu não via, na obscuridade, quando em estado de vigília, são luminosos por si mesmos, e são perceptíveis para mim. Assim é que a obscuridade não existe absolutamente para o Espírito, embora ele possa estabelecer uma diferença entre o que para vós é claro e o que não é.
16. ─ Vossa visão é indefinida ou limitada ao objeto ao qual prestais atenção? ─ Nem uma coisa, nem outra. Não sei absolutamente que tipo de modificações ela pode ensejar para o Espírito inteiramente desprendido. De minha parte, sei que os objetos materiais são perceptíveis no seu interior; que minha vista os atravessa. Contudo, não poderia ver por toda parte e a distância.
17. ─ Gostaríeis de vos submeter a uma pequena experiência, a título de prova, não motivada pela curiosidade, mas pelo desejo de nos instruirmos? ─ De modo algum. Isto me é expressamente proibido.
18. ─ Era para lerdes a pergunta que me chega às mãos e respondê-la sem que eu a verbalizasse. ─ Eu poderia, mas, repito, isto me é proibido.
19. ─ Como tendes consciência de que vos é proibido fazê-lo? ─ Pela transmissão de pensamento do Espírito que me proíbe.
20. ─ Então, eis a pergunta. Podeis ver-vos num espelho? ─ Não. Que vedes num espelho? O reflexo de um objeto material. Não sou material. Só posso produzir o reflexo pela operação que torna tangível o perispírito.
21. ─ Assim, um Espírito que se encontrasse nas condições de um agênere, por exemplo, poderia ver-se num espelho? ─ Certamente.
22. ─ Neste momento poderíeis julgar da saúde ou doença de uma pessoa, tão seguramente quanto em vosso estado normal? ─ Com mais segurança.
23. ─ Poderíeis dar uma consulta, se alguém vo-la pedisse? ─ Poderia, mas não quero fazer concorrência aos sonâmbulos e aos Espíritos benfeitores que os guiam. Quando estiver morto, não direi que não.
24. ─ O estado em que agora vos encontrais é idêntico àquele em que estareis depois de morto? ─ Não. Terei certas percepções muito mais precisas. Não esqueçais que ainda estou ligado à matéria.
25. ─ Vosso corpo poderia morrer, enquanto estais aqui, sem que o suspeitásseis? ─ Não. A gente morre assim todos os dias.
26. ─ Isto se compreende quanto à morte natural, sempre precedida de alguns sintomas. Suponhamos, porém, que alguém vos fira e mate instantaneamente. Como o saberíeis? ─ Eu estaria pronto para receber o golpe, antes que o braço fosse baixado.
27. ─ Qual a necessidade de vosso Espírito voltar ao corpo, se nada mais haveria a fazer? ─ É uma lei muito sábia, sem a qual, quando fora do corpo, muitas vezes hesitaríamos tanto em voltar para ele que faríamos disso um pretexto para nos suicidarmos... hipocritamente.
28. ─ Suponhamos que vosso Espírito não estivesse aqui, mas em casa, passeando, enquanto o corpo dormisse. Deveríeis ver tudo o que lá se passasse?
─ Sim.
29. ─ Nesse caso, suponhamos que lá se praticasse uma ação má, por parte de um parente ou de um estranho. Seríeis testemunha do fato? ─ Sem dúvida; mas nem sempre livre para me opor. Entretanto, isto ocorre com mais frequência do que pensais.
30. ─ Que impressão vos daria essa ação má? Ela vos afetaria tanto quanto se fosseis testemunha ocular? ─ Às vezes mais, às vezes menos, conforme as circunstâncias.
31. ─ Experimentaríeis o desejo de vingar-se? ─ De vingar-me, não. De impedi-la, sim.
OBSERVAÇÃO: Resulta do que acaba de ser dito e, aliás, é consequência do que já sabemos, que o Espírito de uma pessoa que dorme sabe perfeitamente o que se passa ao seu redor. Aquele que pretendesse aproveitar-se do sono para cometer uma ação má em seu prejuízo, engana-se quando crê não ser visto. Nem mesmo deveria contar sempre com o esquecimento que se segue ao despertar, porque a pessoa pode guardar uma intuição muito forte, por vezes lhe inspirando suspeitas. Os sonhos de pressentimento não passam de lembranças mais ou menos precisas do que se viu. Temos nisto mais uma das consequências morais do Espiritismo. Dando a convicção do fenômeno, pode ser um freio para muita gente. Eis um fato que vem em apoio a esta verdade. Uma pessoa recebeu um dia uma carta sem assinatura e muito descortês. Inutilmente dava tratos à bola para descobrir o seu autor. Há que admitir-se que durante a noite soube o que desejava saber, porque, no dia seguinte, ao despertar, e sem que tivesse sonhado, seu pensamento se dirigiu a alguém de quem não havia suspeitado e, depois de uma verificação, teve certeza de que não se enganara.
32. ─ Voltemos às vossas sensações e percepções. Por onde vedes? ─ Por todo o meu ser.
33. ─ Percebeis o som? Por onde? ─ É a mesma coisa, pois a percepção é transmitida ao Espírito encarnado pelos seus órgãos imperfeitos, e para vós deve ser claro que ele sinta, quando livre, numerosas percepções que não podeis compreender.
34. (Alguém toca uma sineta). ─ Ouvis o som perfeitamente? ─ Mais do que vós.
35. ─ Se vos fizessem ouvir música desafinada, experimentaríeis uma sensação semelhante à que sentis em estado de vigília? ─ Eu não disse que as sensações são análogas. Há uma diferença, mas há percepção muito mais completa.
36. ─ Percebeis os odores? ─ Sem dúvida, da mesma maneira que ocorre com os outros sentidos.
OBSERVAÇÃO: Assim, poder-se-ia dizer que a matéria que envolve o Espírito é uma espécie de abafador, que amortece a acuidade da percepção. O Espírito desprendido, recebendo essa percepção sem intermediário, pode captar as nuanças que escapam àquele a quem chegam através de um meio mais denso que o perispírito. Compreende-se, então, que os Espíritos sofredores possam ter dores que, por não serem físicas, do nosso ponto de vista, são mais pungentes que as dores corporais, e que os Espíritos felizes tenham prazeres dos quais as nossas sensações não podem dar uma ideia.
37. ─ Se tivésseis pratos apetitosos diante de vós, sentiríeis vontade de comer? ─ O desejo seria uma distração.
38. ─ Suponhamos que neste momento, enquanto o Espírito está aqui, vosso corpo tenha fome. Qual o efeito que a visão desses pratos produziria sobre vós? ─ Isto me faria partir para satisfazer uma necessidade irresistível.
39. ─ Poderíeis dar-nos a compreender o que se passa em vós, quando deixais o corpo para vir aqui, ou quando nos deixais para retomar o corpo? Como o percebeis? ─ Isto seria muito difícil. Entro como saio, sem o perceber, ou, melhor dito, sem me dar conta da maneira como se opera o fenômeno. Contudo, não penseis que quando o Espírito entra no corpo esteja encerrado como num quarto. Ele irradia incessantemente para fora, de sorte que, pode-se dizer, está mais frequentemente fora do que dentro. Apenas a união é mais íntima e os laços mais apertados.
40. ─ Vedes outros Espíritos? ─ Aqueles que querem que eu os veja.
41. ─ Como os vedes? ─ Como a mim mesmo.
42. ─ Vede-os aqui, ao nosso redor? ─ Em multidão.
43. Evocação de Charles Dupont (O Espírito de Castelnaudary) ─ Atendo ao vosso chamado.
44. (Ao mesmo) ─ Estais hoje mais tranquilo do que da última vez que fostes chamado? ─ Sim. Progrido no bem.
45. ─ Compreendeis agora que vossas penas não durarão para sempre? ─ Sim.
46. ─ Entrevedes o fim dos sofrimentos? ─ Não. Para minha punição, Deus não me permite ver o seu fim.
47. (Ao Sr. Vignal): ─ Vedes o Espírito que nos acaba de responder? ─ Sim. Não é bonito.
48. ─ Podeis descrevê-lo? ─ Vejo-o como foi visto, com a diferença de que não tem mais sangue nem punhal, e sua fisionomia está mais para a tristeza do que para o embrutecimento feroz que apresentava na primeira aparição.
49. ─ Desperto, tendes conhecimento do retrato que foi feito desse Espírito? ─ Sim, e além disso, estou informado.
50. ─ Vendo um Espírito, como sabeis se seu corpo está vivo ou morto? ─ Por seu cordão fluídico.
51. ─ Como julgais o moral dele? ─ Seu moral deve ser bem triste. Mas ele melhora.
52. (A Charles Dupont): ─ Ouvis o que se diz de vós. Isto vos deve encorajar a perseverar na via do progresso em que entrastes. ─ Obrigado. É o que procuro fazer.
53. ─ Vedes o Espírito do doutor, com o qual conversamos? ─ Sim.
54. ─ Como o vedes? ─ Vejo-o com um envoltório menos transparente que o dos outros Espíritos.
55. ─ Como percebeis que ele ainda está vivo? ─ Os Espíritos comuns não têm forma aparente. Este tem uma forma humana; está envolto numa matéria semelhante a uma névoa, que repete sua forma humana terrena. O Espírito dos mortos não tem mais esse envoltório, pois está desprendido dele.
56. (Ao Sr. Vignal): ─ Se evocarmos um louco, como o reconheceríeis? ─ Não o reconheceria, se sua loucura fosse recente, pois não teria tido ação sobre o Espírito, mas se fosse alienado há muito tempo, a matéria poderia ter tido uma certa influência sobre ele, do que daria sinais que me serviriam para reconhecêlo, como em vigília.
57. ─ Podeis descrever-nos as causas da loucura? ─ São apenas uma alteração, uma perversão dos órgãos, que não mais recebem as impressões de maneira regular, transmitindo sensações falsas e, por isso mesmo, gerando atos diametralmente opostos à vontade do Espírito.
OBSERVAÇÃO: Acontece muitas vezes que certas criaturas, cujo Espírito é perfeitamente são, têm nos membros e em outras partes do corpo movimentos involuntários e independentes da vontade, como os designados pelo nome de tiques nervosos. Compreende-se que se as alterações, em vez de serem no braço ou nos músculos da face, fossem no cérebro, a emissão das ideias sofreria influência. A impossibilidade de dirigir ou dominar essa emissão constitui a loucura.
58 . ─ Depois da última resposta do Sr. Vignal, o médium que servia de intérprete a Charles Dupont escreveu espontaneamente: ─ Reconhece-se esses Espíritos de loucos, quando chegam entre nós, porque eles giram em todos os sentidos, sem uma ideia firme, nem de Deus, nem das preces. Necessitam de tempo para se firmarem. Assinado: CAUVIÈRE
Como ninguém tivesse pensado em chamar esse Espírito, o Sr. Belliol perguntou se seria do Dr. Cauvière, de Marselha, do qual fora aluno. ─ Sim, sou eu, falecido há um ano e meio.
OBSERVAÇÃO: O Sr. Belliol reconheceu a assinatura do Dr. Cauvière. Mais tarde, foi possível comparar com uma assinatura original e constatar a perfeita semelhança da escrita e da rubrica.
59. (Ao Sr. Cauvière): ─ A que devemos a honra de vossa visita inesperada? ─ Não é a primeira vez que venho aqui. Hoje achei uma ocasião favorável para me comunicar e aproveitei-a.
60. ─ Vedes vosso colega Dr. Vignal, que aqui se acha em Espírito? ─ Sim, vejo-o.
61. ─ Como sabeis que ainda está vivo? ─ Por seu envoltório menos transparente que o nosso.
62. ─ Esta resposta concorda com a que acaba de dar Charles Dupont e que pareceu ultrapassar o alcance de sua inteligência. Fostes vós quem a ditou? ─ Eu podia influenciá-lo, pois aqui estava.
63. ─ Em que estado vos achais, como Espírito? ─ Ainda não reencarnei, mas sou um Espírito adiantado, embora estivesse longe, na Terra, de crer no que chamais Espiritualismo. É preciso que faça minha educação aqui, onde me acho. Mas a minha inteligência, aperfeiçoada pelo estudo, esclareceu-se de repente.
64. ─ Se concordardes, iremos fazer uma pergunta preparada para o Sr. Vignal, e pediremos a resposta de cada um de vós, com o auxílio de vossos intérpretes particulares. Como encarais agora a diferença entre o Espírito dos animais e o do homem? Resposta do Sr. Vignal: ─ Não me é muito mais fácil fazê-lo do que em vigília. Meu pensamento atual é de que no animal o Espírito dorme, está entorpecido moralmente, e de que no homem, no seu início, desperta penosamente. Resposta do Sr. Cauvière: ─ O Espírito do homem é chamado a um maior aperfeiçoamento que o dos animais. A diferença é sensível, tendo em vista que, nestes últimos, só existe no estado de instinto. Mais tarde esse instinto pode aperfeiçoa-se.
65. ─ Pode aperfeiçoar-se a ponto de se transformar em Espírito humano? ─ Pode, mas depois de ter passado por muitas existências como animais, quer na Terra, quer em outros planetas.
66. ─ Teríeis a bondade, um e outro, cada um por sua vez, de nos ditar uma pequena alocução espontânea, sobre assunto de vossa escolha?
O Dr. Vignal, membro titular da Sociedade, ofereceu-se para servir ao estudo sobre uma pessoa viva, como se fez com o Conde de R... Foi evocado na sessão de 3 de fevereiro de 1860.
1. (A São Luís) ─ Podemos evocar o Dr. Vignal? ─ Sem qualquer perigo, pois que ele está preparado.
2. Evocação. ─ Aqui estou. Afirmo-o em nome de Deus, o que não faria se respondesse por outro.
3. ─ Embora estejais vivo, julgais necessário que a evocação seja feita em nome de Deus? ─ Deus não existe tanto para os vivos quanto para os mortos?
4. ─ Estais a ver-nos tão claramente como quando em pessoa assistíeis às nossas sessões? ─ Um pouco mais claramente.
5. ─ Em que lugar estais aqui? ─ Naturalmente no lugar onde minha ação é necessária: à direita e um pouco atrás do médium.
6. ─ Para vir de Sully até aqui, tivestes consciência do espaço transposto? Vistes o caminho percorrido? ─ Não mais que o carro que me trouxe.
7. ─ Poderemos oferecer-vos uma cadeira? ─ Sois muito bons. Não estou tão fatigado quanto vós.
8. ─ Como constatais vossa individualidade, aqui presente? ─ Como os outros.
OBSERVAÇÃO: Ele alude ao que já foi dito em casos semelhantes, isto é, que o Espírito constata sua individualidade por meio do perispírito, que representa o seu corpo.
9. ─ Contudo, agradeceríamos se vós mesmo nos désseis a explicação. ─ O que me pedis é uma repetição.
10. ─ Já que não quereis repetir o que foi dito, é porque pensais do mesmo modo? ─ Mas está bem claro.
11. ─ Assim, vosso perispírito é para vós uma espécie de corpo circunscrito e limitado? ─ É evidente. Nem é preciso dizer.
12. ─ Podeis ver o vosso corpo adormecido? ─ Não daqui. Vi-o ao deixá-lo. Tive vontade de rir.
13. ─ Como é estabelecida a relação entre o vosso corpo em Sully e o vosso Espírito aqui? ─ Como vos disse, pelo cordão fluídico.
14. ─ Quereis descrever o melhor possível, para que o compreendamos, a maneira por que vedes a vós mesmo, abstração feita do vosso corpo? ─ É muito fácil. Vejo-me como em vigília, ou antes, pois a comparação é mais justa, como a gente se vê em sonho. Tenho meu corpo, mas tenho consciência de que é organizado de modo diferente e mais leve que o outro. Não sinto o peso, a força de atração que me prende à Terra quando desperto. Numa palavra, como vos disse, não estou fatigado.
15. ─ A luz se vos apresenta com o mesmo tom que no estado normal? ─ Não. Esse tom é acrescido de uma luz não perceptível por vossos sentidos grosseiros. Contudo, não infirais que a sensação produzida pelas cores sobre o nervo óptico seja diferente para mim. O vermelho é vermelho, e assim por diante. Entretanto, alguns objetos que eu não via, na obscuridade, quando em estado de vigília, são luminosos por si mesmos, e são perceptíveis para mim. Assim é que a obscuridade não existe absolutamente para o Espírito, embora ele possa estabelecer uma diferença entre o que para vós é claro e o que não é.
16. ─ Vossa visão é indefinida ou limitada ao objeto ao qual prestais atenção? ─ Nem uma coisa, nem outra. Não sei absolutamente que tipo de modificações ela pode ensejar para o Espírito inteiramente desprendido. De minha parte, sei que os objetos materiais são perceptíveis no seu interior; que minha vista os atravessa. Contudo, não poderia ver por toda parte e a distância.
17. ─ Gostaríeis de vos submeter a uma pequena experiência, a título de prova, não motivada pela curiosidade, mas pelo desejo de nos instruirmos? ─ De modo algum. Isto me é expressamente proibido.
18. ─ Era para lerdes a pergunta que me chega às mãos e respondê-la sem que eu a verbalizasse. ─ Eu poderia, mas, repito, isto me é proibido.
19. ─ Como tendes consciência de que vos é proibido fazê-lo? ─ Pela transmissão de pensamento do Espírito que me proíbe.
20. ─ Então, eis a pergunta. Podeis ver-vos num espelho? ─ Não. Que vedes num espelho? O reflexo de um objeto material. Não sou material. Só posso produzir o reflexo pela operação que torna tangível o perispírito.
21. ─ Assim, um Espírito que se encontrasse nas condições de um agênere, por exemplo, poderia ver-se num espelho? ─ Certamente.
22. ─ Neste momento poderíeis julgar da saúde ou doença de uma pessoa, tão seguramente quanto em vosso estado normal? ─ Com mais segurança.
23. ─ Poderíeis dar uma consulta, se alguém vo-la pedisse? ─ Poderia, mas não quero fazer concorrência aos sonâmbulos e aos Espíritos benfeitores que os guiam. Quando estiver morto, não direi que não.
24. ─ O estado em que agora vos encontrais é idêntico àquele em que estareis depois de morto? ─ Não. Terei certas percepções muito mais precisas. Não esqueçais que ainda estou ligado à matéria.
25. ─ Vosso corpo poderia morrer, enquanto estais aqui, sem que o suspeitásseis? ─ Não. A gente morre assim todos os dias.
26. ─ Isto se compreende quanto à morte natural, sempre precedida de alguns sintomas. Suponhamos, porém, que alguém vos fira e mate instantaneamente. Como o saberíeis? ─ Eu estaria pronto para receber o golpe, antes que o braço fosse baixado.
27. ─ Qual a necessidade de vosso Espírito voltar ao corpo, se nada mais haveria a fazer? ─ É uma lei muito sábia, sem a qual, quando fora do corpo, muitas vezes hesitaríamos tanto em voltar para ele que faríamos disso um pretexto para nos suicidarmos... hipocritamente.
28. ─ Suponhamos que vosso Espírito não estivesse aqui, mas em casa, passeando, enquanto o corpo dormisse. Deveríeis ver tudo o que lá se passasse?
─ Sim.
29. ─ Nesse caso, suponhamos que lá se praticasse uma ação má, por parte de um parente ou de um estranho. Seríeis testemunha do fato? ─ Sem dúvida; mas nem sempre livre para me opor. Entretanto, isto ocorre com mais frequência do que pensais.
30. ─ Que impressão vos daria essa ação má? Ela vos afetaria tanto quanto se fosseis testemunha ocular? ─ Às vezes mais, às vezes menos, conforme as circunstâncias.
31. ─ Experimentaríeis o desejo de vingar-se? ─ De vingar-me, não. De impedi-la, sim.
OBSERVAÇÃO: Resulta do que acaba de ser dito e, aliás, é consequência do que já sabemos, que o Espírito de uma pessoa que dorme sabe perfeitamente o que se passa ao seu redor. Aquele que pretendesse aproveitar-se do sono para cometer uma ação má em seu prejuízo, engana-se quando crê não ser visto. Nem mesmo deveria contar sempre com o esquecimento que se segue ao despertar, porque a pessoa pode guardar uma intuição muito forte, por vezes lhe inspirando suspeitas. Os sonhos de pressentimento não passam de lembranças mais ou menos precisas do que se viu. Temos nisto mais uma das consequências morais do Espiritismo. Dando a convicção do fenômeno, pode ser um freio para muita gente. Eis um fato que vem em apoio a esta verdade. Uma pessoa recebeu um dia uma carta sem assinatura e muito descortês. Inutilmente dava tratos à bola para descobrir o seu autor. Há que admitir-se que durante a noite soube o que desejava saber, porque, no dia seguinte, ao despertar, e sem que tivesse sonhado, seu pensamento se dirigiu a alguém de quem não havia suspeitado e, depois de uma verificação, teve certeza de que não se enganara.
32. ─ Voltemos às vossas sensações e percepções. Por onde vedes? ─ Por todo o meu ser.
33. ─ Percebeis o som? Por onde? ─ É a mesma coisa, pois a percepção é transmitida ao Espírito encarnado pelos seus órgãos imperfeitos, e para vós deve ser claro que ele sinta, quando livre, numerosas percepções que não podeis compreender.
34. (Alguém toca uma sineta). ─ Ouvis o som perfeitamente? ─ Mais do que vós.
35. ─ Se vos fizessem ouvir música desafinada, experimentaríeis uma sensação semelhante à que sentis em estado de vigília? ─ Eu não disse que as sensações são análogas. Há uma diferença, mas há percepção muito mais completa.
36. ─ Percebeis os odores? ─ Sem dúvida, da mesma maneira que ocorre com os outros sentidos.
OBSERVAÇÃO: Assim, poder-se-ia dizer que a matéria que envolve o Espírito é uma espécie de abafador, que amortece a acuidade da percepção. O Espírito desprendido, recebendo essa percepção sem intermediário, pode captar as nuanças que escapam àquele a quem chegam através de um meio mais denso que o perispírito. Compreende-se, então, que os Espíritos sofredores possam ter dores que, por não serem físicas, do nosso ponto de vista, são mais pungentes que as dores corporais, e que os Espíritos felizes tenham prazeres dos quais as nossas sensações não podem dar uma ideia.
37. ─ Se tivésseis pratos apetitosos diante de vós, sentiríeis vontade de comer? ─ O desejo seria uma distração.
38. ─ Suponhamos que neste momento, enquanto o Espírito está aqui, vosso corpo tenha fome. Qual o efeito que a visão desses pratos produziria sobre vós? ─ Isto me faria partir para satisfazer uma necessidade irresistível.
39. ─ Poderíeis dar-nos a compreender o que se passa em vós, quando deixais o corpo para vir aqui, ou quando nos deixais para retomar o corpo? Como o percebeis? ─ Isto seria muito difícil. Entro como saio, sem o perceber, ou, melhor dito, sem me dar conta da maneira como se opera o fenômeno. Contudo, não penseis que quando o Espírito entra no corpo esteja encerrado como num quarto. Ele irradia incessantemente para fora, de sorte que, pode-se dizer, está mais frequentemente fora do que dentro. Apenas a união é mais íntima e os laços mais apertados.
40. ─ Vedes outros Espíritos? ─ Aqueles que querem que eu os veja.
41. ─ Como os vedes? ─ Como a mim mesmo.
42. ─ Vede-os aqui, ao nosso redor? ─ Em multidão.
43. Evocação de Charles Dupont (O Espírito de Castelnaudary) ─ Atendo ao vosso chamado.
44. (Ao mesmo) ─ Estais hoje mais tranquilo do que da última vez que fostes chamado? ─ Sim. Progrido no bem.
45. ─ Compreendeis agora que vossas penas não durarão para sempre? ─ Sim.
46. ─ Entrevedes o fim dos sofrimentos? ─ Não. Para minha punição, Deus não me permite ver o seu fim.
47. (Ao Sr. Vignal): ─ Vedes o Espírito que nos acaba de responder? ─ Sim. Não é bonito.
48. ─ Podeis descrevê-lo? ─ Vejo-o como foi visto, com a diferença de que não tem mais sangue nem punhal, e sua fisionomia está mais para a tristeza do que para o embrutecimento feroz que apresentava na primeira aparição.
49. ─ Desperto, tendes conhecimento do retrato que foi feito desse Espírito? ─ Sim, e além disso, estou informado.
50. ─ Vendo um Espírito, como sabeis se seu corpo está vivo ou morto? ─ Por seu cordão fluídico.
51. ─ Como julgais o moral dele? ─ Seu moral deve ser bem triste. Mas ele melhora.
52. (A Charles Dupont): ─ Ouvis o que se diz de vós. Isto vos deve encorajar a perseverar na via do progresso em que entrastes. ─ Obrigado. É o que procuro fazer.
53. ─ Vedes o Espírito do doutor, com o qual conversamos? ─ Sim.
54. ─ Como o vedes? ─ Vejo-o com um envoltório menos transparente que o dos outros Espíritos.
55. ─ Como percebeis que ele ainda está vivo? ─ Os Espíritos comuns não têm forma aparente. Este tem uma forma humana; está envolto numa matéria semelhante a uma névoa, que repete sua forma humana terrena. O Espírito dos mortos não tem mais esse envoltório, pois está desprendido dele.
56. (Ao Sr. Vignal): ─ Se evocarmos um louco, como o reconheceríeis? ─ Não o reconheceria, se sua loucura fosse recente, pois não teria tido ação sobre o Espírito, mas se fosse alienado há muito tempo, a matéria poderia ter tido uma certa influência sobre ele, do que daria sinais que me serviriam para reconhecêlo, como em vigília.
57. ─ Podeis descrever-nos as causas da loucura? ─ São apenas uma alteração, uma perversão dos órgãos, que não mais recebem as impressões de maneira regular, transmitindo sensações falsas e, por isso mesmo, gerando atos diametralmente opostos à vontade do Espírito.
OBSERVAÇÃO: Acontece muitas vezes que certas criaturas, cujo Espírito é perfeitamente são, têm nos membros e em outras partes do corpo movimentos involuntários e independentes da vontade, como os designados pelo nome de tiques nervosos. Compreende-se que se as alterações, em vez de serem no braço ou nos músculos da face, fossem no cérebro, a emissão das ideias sofreria influência. A impossibilidade de dirigir ou dominar essa emissão constitui a loucura.
58 . ─ Depois da última resposta do Sr. Vignal, o médium que servia de intérprete a Charles Dupont escreveu espontaneamente: ─ Reconhece-se esses Espíritos de loucos, quando chegam entre nós, porque eles giram em todos os sentidos, sem uma ideia firme, nem de Deus, nem das preces. Necessitam de tempo para se firmarem. Assinado: CAUVIÈRE
Como ninguém tivesse pensado em chamar esse Espírito, o Sr. Belliol perguntou se seria do Dr. Cauvière, de Marselha, do qual fora aluno. ─ Sim, sou eu, falecido há um ano e meio.
OBSERVAÇÃO: O Sr. Belliol reconheceu a assinatura do Dr. Cauvière. Mais tarde, foi possível comparar com uma assinatura original e constatar a perfeita semelhança da escrita e da rubrica.
59. (Ao Sr. Cauvière): ─ A que devemos a honra de vossa visita inesperada? ─ Não é a primeira vez que venho aqui. Hoje achei uma ocasião favorável para me comunicar e aproveitei-a.
60. ─ Vedes vosso colega Dr. Vignal, que aqui se acha em Espírito? ─ Sim, vejo-o.
61. ─ Como sabeis que ainda está vivo? ─ Por seu envoltório menos transparente que o nosso.
62. ─ Esta resposta concorda com a que acaba de dar Charles Dupont e que pareceu ultrapassar o alcance de sua inteligência. Fostes vós quem a ditou? ─ Eu podia influenciá-lo, pois aqui estava.
63. ─ Em que estado vos achais, como Espírito? ─ Ainda não reencarnei, mas sou um Espírito adiantado, embora estivesse longe, na Terra, de crer no que chamais Espiritualismo. É preciso que faça minha educação aqui, onde me acho. Mas a minha inteligência, aperfeiçoada pelo estudo, esclareceu-se de repente.
64. ─ Se concordardes, iremos fazer uma pergunta preparada para o Sr. Vignal, e pediremos a resposta de cada um de vós, com o auxílio de vossos intérpretes particulares. Como encarais agora a diferença entre o Espírito dos animais e o do homem? Resposta do Sr. Vignal: ─ Não me é muito mais fácil fazê-lo do que em vigília. Meu pensamento atual é de que no animal o Espírito dorme, está entorpecido moralmente, e de que no homem, no seu início, desperta penosamente. Resposta do Sr. Cauvière: ─ O Espírito do homem é chamado a um maior aperfeiçoamento que o dos animais. A diferença é sensível, tendo em vista que, nestes últimos, só existe no estado de instinto. Mais tarde esse instinto pode aperfeiçoa-se.
65. ─ Pode aperfeiçoar-se a ponto de se transformar em Espírito humano? ─ Pode, mas depois de ter passado por muitas existências como animais, quer na Terra, quer em outros planetas.
66. ─ Teríeis a bondade, um e outro, cada um por sua vez, de nos ditar uma pequena alocução espontânea, sobre assunto de vossa escolha?
Ditado do Sr. Cauvière
Meus bons amigos, sinto-me tão feliz por poder conversar um pouco convosco, que desejo dar-vos um conselho, não a vós que, particularmente, sois crentes, mas àqueles cuja fé ainda é vacilante, ou que não a têm e a repelem. É verdade que não posso aqui ver todos os meus confrades vivos, que não me acreditariam. Contudo eu lhes diria que, em vida, repeli teimosamente a verdade, posto a sentisse bem no íntimo. A maioria deles fazem como eu: por um falso amor próprio não querem concordar com o que por vezes experimentam. Estão errados, porque a indecisão faz sofrer na Terra, sobretudo no momento de deixá-la. Instruí-vos, pois! Sede de boafé! Em vida sereis mais felizes, assim como no mundo onde ora me encontro. Se realmente o quiserdes, virei algumas vezes conversar convosco.
CAUVIÈRE
CAUVIÈRE
Ditado do Sr. Vignal
Para que serve a Astronomia, e que nos importa o tempo que leva uma bala de canhão para percorrer a distância entre a Terra e o Sol? Assim raciocinam pessoas muito dignas, que não veem nas ciências outros resultados além da aplicação que pode ser feita na indústria ou para o seu bem-estar. Mas sem a Astronomia, que razão teríeis para adotar o admirável sistema que estamos desenvolvendo, em vez de um outro, trazido por Espíritos ignorantes e invejosos?
Se, como se pensava outrora, a Terra fosse o ponto central do Universo; se os numerosos sóis que povoam o espaço não passassem de simples pontos brilhantes fixados numa abóbada de cristal, que razões teríeis para admitir o passado e o futuro do Espírito? A Astronomia, ao contrário, vem demonstrar-nos que a vida planetária que circula em torno do nosso Sol, se reflete em redor de todos os que compõem a nebulosa, da qual faz parte o nosso mundo; que todos esses planetas são organizados de maneira diferente uns dos outros e que, em consequência, neles as condições de vida não são as mesmas. Sois, então, levados a vos perguntar se Deus cria instantaneamente e para cada corpo, especialmente, o Espírito que deve animá-lo; por que razão teria achado justo criá-lo aqui, e não ali, na Terra e não em outro mundo, nesta condição e não em outra?
Assim, uma lógica inflexível vos leva a admitir como expressão da maior verdade a habitabilidade dos mundos, a preexistência da alma e a reencarnação.
Então a Astronomia é útil, porque vos põe em condições de receber um esboço das sublimes verdades que para vós serão desenvolvidas, por força do progresso do Espiritismo e da própria Ciência. Porque, auxiliada pela indústria, é chamada a levar-vos à descoberta de muitas outras maravilhas, além daquelas que até agora apenas pudestes entrever. De agora em diante, a Astronomia e a Teologia são irmãs, e vão marchar de mãos dadas.
VIGNAL, por Arago.
Se, como se pensava outrora, a Terra fosse o ponto central do Universo; se os numerosos sóis que povoam o espaço não passassem de simples pontos brilhantes fixados numa abóbada de cristal, que razões teríeis para admitir o passado e o futuro do Espírito? A Astronomia, ao contrário, vem demonstrar-nos que a vida planetária que circula em torno do nosso Sol, se reflete em redor de todos os que compõem a nebulosa, da qual faz parte o nosso mundo; que todos esses planetas são organizados de maneira diferente uns dos outros e que, em consequência, neles as condições de vida não são as mesmas. Sois, então, levados a vos perguntar se Deus cria instantaneamente e para cada corpo, especialmente, o Espírito que deve animá-lo; por que razão teria achado justo criá-lo aqui, e não ali, na Terra e não em outro mundo, nesta condição e não em outra?
Assim, uma lógica inflexível vos leva a admitir como expressão da maior verdade a habitabilidade dos mundos, a preexistência da alma e a reencarnação.
Então a Astronomia é útil, porque vos põe em condições de receber um esboço das sublimes verdades que para vós serão desenvolvidas, por força do progresso do Espiritismo e da própria Ciência. Porque, auxiliada pela indústria, é chamada a levar-vos à descoberta de muitas outras maravilhas, além daquelas que até agora apenas pudestes entrever. De agora em diante, a Astronomia e a Teologia são irmãs, e vão marchar de mãos dadas.
VIGNAL, por Arago.
Senhorita Indermuhle, surda-muda de nascença, 32 anos, vida.
1. (A São Luís): ─ Podemos entrar em comunicação com o Espírito da Senhorita Indermuhle? ─ Podeis.
2. Evocação. ─ Aqui estou, e o afirmo em nome de Deus.
3. (A São Luís): ─ Podeis dizer se o Espírito que nos responde é mesmo o da Senhorita Indermuhle? ─ Posso afirmar e vo-lo afirmo. Estais mais adiantados e credes que se fosse útil que outro respondesse em seu lugar, isto seria mais embaraçoso? A afirmação vos prova que ela está aqui. Cabe-vos garantir uma boa comunicação pela natureza e pelo móvel de vossas perguntas.
3-A[1]. ─ Sabeis bem onde vos encontrais agora? ─ Perfeitamente. Pensais que eu não tenha sido instruída a respeito?
4. Como podeis responder-nos aqui, se vosso corpo está na Suíça? ─ Porque não é o corpo que responde. Aliás, como bem sabeis, ele é perfeitamente incapaz de fazê-lo.
5. ─ Que faz vosso corpo neste momento? ─ Cochila.
6. ─ Está com saúde? ─ Excelente.
OBSERVAÇÃO: O irmão da Senhorita Indermuhle, que se achava presente, confirmou que realmente ela estava com saúde.
7. ─ Quanto tempo levastes para vir da Suíça até aqui? ─ Um tempo inapreciável para vós.
8. ─ Vistes o caminho percorrido? ─ Não.
9. ─ Estais surpresa por vos achardes nesta reunião? ─ Minha primeira resposta vos prova que não.
10. ─ Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto estais aqui? ─ Eu lá estaria.
11. ─ Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, que está aqui, e o corpo que lá está? ─ Sim. Sem isto, quem lhe advertiria que devo voltar a ele?
12. ─ Vede-nos bem distintamente? ─ Sim, perfeitamente.
13. ─ Compreendeis que nos possais ver, mas que não vos vejamos? — Mas, sem dúvida.
14. ─ Ouvis o ruído que, batendo, produzo no momento? ─ Aqui não sou surda.
15. ─ Como vos dais conta, desde que, por comparação, não tendes lembrança do ruído em estado de vigília? ─ Eu não nasci ontem.
OBSERVAÇÃO: A lembrança da sensação do ruído lhe vem das existências em que não era surda. Esta resposta é perfeitamente lógica.
16. ─ Escutaríeis música com prazer? ─ Com tanto mais prazer quão longo o tempo que isso não me acontece. Cantai algo para mim.
17. ─ Lamentamos não poder fazê-lo agora, e que não haja aqui um instrumento para vos proporcionar este prazer. Parece-nos porém que desprendendose todos os dias durante o sono, vosso Espírito deve transportar-se a lugares onde podeis ouvir música. ─ Isto me acontece muito raramente.
18. ─ Como podeis responder em francês, desde que sois alemã e ignorais a nossa língua? ─ O pensamento não tem língua. Eu o transmito ao guia do médium, que o traduz para a língua que lhe é familiar.
19. ─ Qual é esse guia de que falais? ─ Seu Espírito familiar. É sempre assim que recebeis comunicações de Espíritos estrangeiros, e é assim que os Espíritos falam todas as línguas.
OBSERVAÇÃO: Desta maneira, muitas vazes as respostas só nos chegariam de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao Espírito familiar, esse ao médium e o médium o traduz, falando ou escrevendo. Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto explica como, em muitas circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado pode ser alterado. Assim, no começo, São Luís disse que a presença do Espírito evocado nem sempre basta para assegurar a integridade das respostas. Cabe-nos avaliar e julgar se são lógicas e estão em consonância com a natureza do Espírito. Aliás, segundo a Senhorita Indermuhle, esta tríplice fieira só ocorreria com Espíritos estrangeiros.
20. ─ Qual a causa da enfermidade que vos afetou? ─ Uma causa voluntária.
21. ─ Por que singularidade sois seis irmãos e irmãs igualmente afetados? ─ Pelas mesmas causas que eu.
22. ─ Assim, foi voluntariamente que todos escolhestes a mesma prova? Pensamos que esta reunião na mesma família deve ter ocorrido como uma prova para os pais. É uma boa razão? ─ Ela se aproxima da verdade.
23. ─ Vedes aqui o vosso irmão? ─ Que pergunta!
24. ─ Estais contente de vê-lo? ─ Mesma resposta. OBSERVAÇÃO: Sabe-se que os Espíritos não gostam de repetir. Nossa linguagem para eles é tão lenta que evitam tudo quanto lhes parece inútil. Eis um ponto que caracteriza os Espíritos sérios. Os levianos, zombadores, obsessores e pseudo-sábios geralmente são faladores e prolixos. Como os homens a quem falta base, falam para nada dizer; as palavras substituem os pensamentos, que julgam impor pelas frases redundantes e por um estilo pedante.
25. ─ Gostaríeis de dizer-lhe alguma coisa? ─ Peço-lhe que receba a expressão dos meus sinceros agradecimentos pelo bom pensamento que teve de me fazer chamar até aqui, onde muito felizmente me acho em contato com bons Espíritos, embora veja alguns que não valem muito. Ganhei em instrução e não esquecerei o que lhe devo.
1. (A São Luís): ─ Podemos entrar em comunicação com o Espírito da Senhorita Indermuhle? ─ Podeis.
2. Evocação. ─ Aqui estou, e o afirmo em nome de Deus.
3. (A São Luís): ─ Podeis dizer se o Espírito que nos responde é mesmo o da Senhorita Indermuhle? ─ Posso afirmar e vo-lo afirmo. Estais mais adiantados e credes que se fosse útil que outro respondesse em seu lugar, isto seria mais embaraçoso? A afirmação vos prova que ela está aqui. Cabe-vos garantir uma boa comunicação pela natureza e pelo móvel de vossas perguntas.
3-A[1]. ─ Sabeis bem onde vos encontrais agora? ─ Perfeitamente. Pensais que eu não tenha sido instruída a respeito?
4. Como podeis responder-nos aqui, se vosso corpo está na Suíça? ─ Porque não é o corpo que responde. Aliás, como bem sabeis, ele é perfeitamente incapaz de fazê-lo.
5. ─ Que faz vosso corpo neste momento? ─ Cochila.
6. ─ Está com saúde? ─ Excelente.
OBSERVAÇÃO: O irmão da Senhorita Indermuhle, que se achava presente, confirmou que realmente ela estava com saúde.
7. ─ Quanto tempo levastes para vir da Suíça até aqui? ─ Um tempo inapreciável para vós.
8. ─ Vistes o caminho percorrido? ─ Não.
9. ─ Estais surpresa por vos achardes nesta reunião? ─ Minha primeira resposta vos prova que não.
10. ─ Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto estais aqui? ─ Eu lá estaria.
11. ─ Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, que está aqui, e o corpo que lá está? ─ Sim. Sem isto, quem lhe advertiria que devo voltar a ele?
12. ─ Vede-nos bem distintamente? ─ Sim, perfeitamente.
13. ─ Compreendeis que nos possais ver, mas que não vos vejamos? — Mas, sem dúvida.
14. ─ Ouvis o ruído que, batendo, produzo no momento? ─ Aqui não sou surda.
15. ─ Como vos dais conta, desde que, por comparação, não tendes lembrança do ruído em estado de vigília? ─ Eu não nasci ontem.
OBSERVAÇÃO: A lembrança da sensação do ruído lhe vem das existências em que não era surda. Esta resposta é perfeitamente lógica.
16. ─ Escutaríeis música com prazer? ─ Com tanto mais prazer quão longo o tempo que isso não me acontece. Cantai algo para mim.
17. ─ Lamentamos não poder fazê-lo agora, e que não haja aqui um instrumento para vos proporcionar este prazer. Parece-nos porém que desprendendose todos os dias durante o sono, vosso Espírito deve transportar-se a lugares onde podeis ouvir música. ─ Isto me acontece muito raramente.
18. ─ Como podeis responder em francês, desde que sois alemã e ignorais a nossa língua? ─ O pensamento não tem língua. Eu o transmito ao guia do médium, que o traduz para a língua que lhe é familiar.
19. ─ Qual é esse guia de que falais? ─ Seu Espírito familiar. É sempre assim que recebeis comunicações de Espíritos estrangeiros, e é assim que os Espíritos falam todas as línguas.
OBSERVAÇÃO: Desta maneira, muitas vazes as respostas só nos chegariam de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao Espírito familiar, esse ao médium e o médium o traduz, falando ou escrevendo. Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto explica como, em muitas circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado pode ser alterado. Assim, no começo, São Luís disse que a presença do Espírito evocado nem sempre basta para assegurar a integridade das respostas. Cabe-nos avaliar e julgar se são lógicas e estão em consonância com a natureza do Espírito. Aliás, segundo a Senhorita Indermuhle, esta tríplice fieira só ocorreria com Espíritos estrangeiros.
20. ─ Qual a causa da enfermidade que vos afetou? ─ Uma causa voluntária.
21. ─ Por que singularidade sois seis irmãos e irmãs igualmente afetados? ─ Pelas mesmas causas que eu.
22. ─ Assim, foi voluntariamente que todos escolhestes a mesma prova? Pensamos que esta reunião na mesma família deve ter ocorrido como uma prova para os pais. É uma boa razão? ─ Ela se aproxima da verdade.
23. ─ Vedes aqui o vosso irmão? ─ Que pergunta!
24. ─ Estais contente de vê-lo? ─ Mesma resposta. OBSERVAÇÃO: Sabe-se que os Espíritos não gostam de repetir. Nossa linguagem para eles é tão lenta que evitam tudo quanto lhes parece inútil. Eis um ponto que caracteriza os Espíritos sérios. Os levianos, zombadores, obsessores e pseudo-sábios geralmente são faladores e prolixos. Como os homens a quem falta base, falam para nada dizer; as palavras substituem os pensamentos, que julgam impor pelas frases redundantes e por um estilo pedante.
25. ─ Gostaríeis de dizer-lhe alguma coisa? ─ Peço-lhe que receba a expressão dos meus sinceros agradecimentos pelo bom pensamento que teve de me fazer chamar até aqui, onde muito felizmente me acho em contato com bons Espíritos, embora veja alguns que não valem muito. Ganhei em instrução e não esquecerei o que lhe devo.
[1] O número 3 está repetido no original. (N. do T.)
Bibliografia
Slamora, a druidesa ou o espiritualismo no século XV *
As ideias espíritas formigam em grande número de escritores antigos e modernos, e muitos contemporâneos ficariam admirados se lhes provássemos, por seus próprios escritos, que são espíritas sem o saberem. Pode, pois, o Espiritismo encontrar argumentos em seus próprios adversários, que parecem ter sido levados, malgrado seu, a lhe fornecer armas. Assim, autores sacros e profanos apresentam um campo onde não só há o que respigar, mas a colher a mancheias. É o que nos propomos fazer um dia. Então veremos se os críticos julgam correto mandar para os asilos aqueles que incensaram e cujo nome, de pleno direito, tem autoridade nas letras, nas artes, nas ciências, na Filosofia ou na Teologia. O autor do livrinho que anunciamos não é um daqueles que pode ser chamado de espírita sem o saber. Ao contrário, é um adepto sério e esclarecido, que se dispôs a resumir as verdades fundamentais da doutrina numa ordem menos árida que a forma didática, e com o atrativo de um romance semi-histórico. Com efeito, aí encontramos o delfim, que mais tarde foi Luís XI, e alguns personagens de seu tempo, com a pintura dos costumes da época. Siamora, último rebento das antigas Druidesas, conservou as tradições do culto dos antepassados, mas esclarecida pelas verdades do Cristianismo. Num artigo da Revista de abril de 1858, vimos a que grau haviam chegado os sacerdotes da Gália, no tocante à filosofia espírita. Assim, nenhuma contradição existe ao pôr essas mesmas ideias na boca de sua descendente. Ao contrário, é pôr em evidência uma verdade muito pouco conhecida, e que o autor bem mereceu dos espíritas modernos. Podemos julgá-lo pelas seguintes citações. Num momento de êxtase, dirigindo-se a Siamora, a jovem noviça Edda assim se exprime:
“Sob a forma de meu bom anjo, meu anjo familiar, aparece-me um Espírito. Oferece-se para me guiar nas penosas visões daqui debaixo. Os homens, diz-me ele, são maus apenas porque ignoraram sua natureza espiritual; porque rejeitaram esse agente sutil, esse fluxo divino que Deus havia espalhado para a felicidade dos homens na criação, e que os fazia iguais e irmãos. Então os homens curavam, porque apelavam a esse agente sutil da criação, dele retirando poderoso auxílio”.
........................................................................................................
“É na hora da morte que cada homem me aparece! Que tristeza! Que desgosto! Que desespero amargo! Cessaram de amar, esses seres perversos. Siamora! Ao morrer, cada homem leva as virtudes e os vícios. Leve, ou carregada de faltas, sua alma se eleva mais ou menos, pois guardou pouco ou muito do agente sutil, o amor, essa substância de Deus que, conforme as afinidades, atrai para si as substâncias semelhantes e repele as que procedem de um princípio contrário.
“A alma do homem mau fica errante aqui embaixo, a todos insuflando sua essência pestilenta. Ela tem a alegria do mal e o orgulho do vício. Nós a chamamos demônio; no Céu, seu nome é irmão transviado. ─ Mas de todos os corações piedosos, Siamora, eleva-se um suave vapor e, malgrado seu, a alma-demônio chega a ser saturada pelo mesmo; assim se retempera, despojando-se em parte de sua corrupção... Então começa a perceber a ideia de Deus, o que naquele estado de alma não conseguia. Assim como a alma leva consigo a imagem exata, embora espiritual de seu corpo, assim a ela se junta esta outra, impregnada de seus vícios e imperfeições, e a alma se adensa e não pode ver.
“Nesse mundo invisível, acima do nosso, Siamora, onde com esforço me elevo pouco a pouco, nuvens brilhantes limitam-me a visão. Milhares de almas, Espíritos celestes, nele entram e saem. Assim como flocos de neve, abaixados, elevados, espalhados, correm arrastados pela força caprichosa dos ventos. Em sua essência espiritual, descem até nós os anjos, dizendo a uns palavras de paz; insinuando ao coração de outro a crença divina; inspirando a este a busca da Ciência; insuflando naquele o instinto do bem e do belo, porque foi tocado pelo dedo de Deus aquele que, em sua arte, a esta levou o gosto das nobres e grandes coisas. Todo homem tem a sua Egéria, o seu conselho, o seu imã. A todos foi lançada a corda da salvação. A nós, cabe segurá-la.
.......................................................................................................
“Esse homem mau, ou antes, essa alma-demônio, cujos olhos, ao contato de um ar puro, começaram a se abrir, vai chorando o seu crime e pedindo o sofrimento para expiá-lo. Só e sem auxílio, o que fará?
“Aproxima-se um anjo de caridade e lhe diz: irmão transviado, entra comigo na vida. Aqui é o Inferno, o lugar de sofrimento, onde cada um de nós se regenera. Vem. Eu te sustentarei. Tratemos de fazer um pouco de bem, a fim de que, para ti, a balança do bem e do mal acabe pendendo para o lado bom.
“É assim, Siamora, que para todos os homens chega o momento de morrer. Eu os vejo elevando-se mais ou menos nos céus, reentrar na vida, sofrer de novo, depurar-se, morrer ainda e subir incessantemente, nos espaços celestes. Ainda não atingem o Céu do Deus único, mas, através de longas peregrinações em outros mundos muito mais maravilhosos e aperfeiçoados que este, à força de se depurarem, chegarão a possuí-lo.
“Sob a forma de meu bom anjo, meu anjo familiar, aparece-me um Espírito. Oferece-se para me guiar nas penosas visões daqui debaixo. Os homens, diz-me ele, são maus apenas porque ignoraram sua natureza espiritual; porque rejeitaram esse agente sutil, esse fluxo divino que Deus havia espalhado para a felicidade dos homens na criação, e que os fazia iguais e irmãos. Então os homens curavam, porque apelavam a esse agente sutil da criação, dele retirando poderoso auxílio”.
........................................................................................................
“É na hora da morte que cada homem me aparece! Que tristeza! Que desgosto! Que desespero amargo! Cessaram de amar, esses seres perversos. Siamora! Ao morrer, cada homem leva as virtudes e os vícios. Leve, ou carregada de faltas, sua alma se eleva mais ou menos, pois guardou pouco ou muito do agente sutil, o amor, essa substância de Deus que, conforme as afinidades, atrai para si as substâncias semelhantes e repele as que procedem de um princípio contrário.
“A alma do homem mau fica errante aqui embaixo, a todos insuflando sua essência pestilenta. Ela tem a alegria do mal e o orgulho do vício. Nós a chamamos demônio; no Céu, seu nome é irmão transviado. ─ Mas de todos os corações piedosos, Siamora, eleva-se um suave vapor e, malgrado seu, a alma-demônio chega a ser saturada pelo mesmo; assim se retempera, despojando-se em parte de sua corrupção... Então começa a perceber a ideia de Deus, o que naquele estado de alma não conseguia. Assim como a alma leva consigo a imagem exata, embora espiritual de seu corpo, assim a ela se junta esta outra, impregnada de seus vícios e imperfeições, e a alma se adensa e não pode ver.
“Nesse mundo invisível, acima do nosso, Siamora, onde com esforço me elevo pouco a pouco, nuvens brilhantes limitam-me a visão. Milhares de almas, Espíritos celestes, nele entram e saem. Assim como flocos de neve, abaixados, elevados, espalhados, correm arrastados pela força caprichosa dos ventos. Em sua essência espiritual, descem até nós os anjos, dizendo a uns palavras de paz; insinuando ao coração de outro a crença divina; inspirando a este a busca da Ciência; insuflando naquele o instinto do bem e do belo, porque foi tocado pelo dedo de Deus aquele que, em sua arte, a esta levou o gosto das nobres e grandes coisas. Todo homem tem a sua Egéria, o seu conselho, o seu imã. A todos foi lançada a corda da salvação. A nós, cabe segurá-la.
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“Esse homem mau, ou antes, essa alma-demônio, cujos olhos, ao contato de um ar puro, começaram a se abrir, vai chorando o seu crime e pedindo o sofrimento para expiá-lo. Só e sem auxílio, o que fará?
“Aproxima-se um anjo de caridade e lhe diz: irmão transviado, entra comigo na vida. Aqui é o Inferno, o lugar de sofrimento, onde cada um de nós se regenera. Vem. Eu te sustentarei. Tratemos de fazer um pouco de bem, a fim de que, para ti, a balança do bem e do mal acabe pendendo para o lado bom.
“É assim, Siamora, que para todos os homens chega o momento de morrer. Eu os vejo elevando-se mais ou menos nos céus, reentrar na vida, sofrer de novo, depurar-se, morrer ainda e subir incessantemente, nos espaços celestes. Ainda não atingem o Céu do Deus único, mas, através de longas peregrinações em outros mundos muito mais maravilhosos e aperfeiçoados que este, à força de se depurarem, chegarão a possuí-lo.
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* Um vol. In-18, preço 2 fr. ; Vannier, livraria e editora, Rua Notre Dame-des-Victoires, 52. – 1860.
Ditados espontâneos
O GÊNIO DAS FLORES(SESSÃO DE 23 DE DEZEMBRO DE 1859 ─ MÉDIUM, SRA. BOYER)
Sou Hettani, um dos Espíritos que presidem à formação das flores, à diversidade de seus perfumes. Sou eu, ou antes, somos nós, pois somos muitos milhares de Espíritos, que ornamos os campos e os jardins; que damos ao horticultor o gosto pelas flores. Não lhe poderíamos ensinar a mutilação que por vezes pratica, mas lhe ensinamos a variar seus perfumes, a lhes embelezar as formas, tão graciosas já. Contudo, é principalmente para as flores abertas naturalmente que se volta toda a nossa atenção. A estas prodigalizamos mais cuidados ainda. São as nossas preferidas. Tudo quanto é, só necessita de auxílio. Eis porque delas cuidamos melhor.
Também somos encarregados de espalhar os perfumes. Levamos ao exilado a lembrança da pátria, fazendo entrar em sua prisão um perfume das flores que ornavam o jardim paterno. Para aquele que ama, e ama realmente, levamos o perfume das flores ofertadas pela noiva; ao que chora, uma lembrança dos que se foram, fazendo desabrochar em seus túmulos as rosas e violetas que lembram as suas virtudes.
Qual de vós não nos deve essas emoções suaves? Quem não estremeceu ao contato de um perfume amado? Penso que estejais admirados, ouvindo-nos dizer que há Espíritos para tudo isto. Contudo, é a pura verdade. Jamais encarnamos e talvez jamais encarnemos em vosso meio. Entretanto, alguns já foram homens, mas poucos entre os Espíritos dos elementos. Em vossa Terra nossa missão nada é. Progredimos como vós, mas é principalmente nesses planetas superiores que somos felizes. Em Júpiter, nossas flores emitem sons melodiosos e formamos as moradas aéreas, das quais só os ninhos de colibris vos podem dar uma pálida ideia. Pela primeira vez vos farei a descrição de algumas dessas flores não apenas magníficas, mas sublimes e dignas dos altos Espíritos, aos quais servem de morada.
Adeus. Que um perfume de caridade vos anime. As próprias virtudes têm seu perfume.
Também somos encarregados de espalhar os perfumes. Levamos ao exilado a lembrança da pátria, fazendo entrar em sua prisão um perfume das flores que ornavam o jardim paterno. Para aquele que ama, e ama realmente, levamos o perfume das flores ofertadas pela noiva; ao que chora, uma lembrança dos que se foram, fazendo desabrochar em seus túmulos as rosas e violetas que lembram as suas virtudes.
Qual de vós não nos deve essas emoções suaves? Quem não estremeceu ao contato de um perfume amado? Penso que estejais admirados, ouvindo-nos dizer que há Espíritos para tudo isto. Contudo, é a pura verdade. Jamais encarnamos e talvez jamais encarnemos em vosso meio. Entretanto, alguns já foram homens, mas poucos entre os Espíritos dos elementos. Em vossa Terra nossa missão nada é. Progredimos como vós, mas é principalmente nesses planetas superiores que somos felizes. Em Júpiter, nossas flores emitem sons melodiosos e formamos as moradas aéreas, das quais só os ninhos de colibris vos podem dar uma pálida ideia. Pela primeira vez vos farei a descrição de algumas dessas flores não apenas magníficas, mas sublimes e dignas dos altos Espíritos, aos quais servem de morada.
Adeus. Que um perfume de caridade vos anime. As próprias virtudes têm seu perfume.
PERGUNTAS SOBRE O GÊNIO DAS FLORES
(SOCIEDADE, 30 DE DEZEMBRO DE 1859. MÉDIUM, SR. ROZE)
1. (A São Luís): ─ Outro dia tivemos uma comunicação espontânea de um Espírito que disse presidir às flores e seus perfumes. Há realmente Espíritos que podem ser olhados como gênios das flores? ─ Essa expressão é poética e bem aplicada ao caso, mas, a bem da verdade, seria defeituosa. Não deveis duvidar que o espírito, por toda a Criação, preside apenas ao trabalho que Deus lhe confia. Assim deve ser entendida essa comunicação.
2. ─ Esse Espírito chama-se Hettani. Como tem um nome, se jamais encarnou? ─ É uma ficção. O espírito não preside, de maneira particular, à formação das flores. O espírito elementar, antes de passar à série animal, dirige sua ação fluídica para a criação vegetal. Esse ainda não encarnou; não age senão sob a direção de inteligências mais elevadas, que já viveram o bastante para adquirir o conhecimento necessário à sua missão. Foi um desses que se comunicou. Ele vos fez uma mistura poética da ação de duas classes de Espíritos que atuam na criação vegetal.
3. ─ Não tendo ainda vivido esse Espírito, mesmo na vida animal, como é tão poético? ─ Relede.
OBSERVAÇÃO: Vede a observação feita após a pergunta 24, no artigo sobre a Srta. Indermuhle.
4. ─ Assim, o Espírito que se comunicou não é o que habita e anima a flor? ─ Não, não. Eu vo-lo disse claramente: ele guia.
5. ─ Esse Espírito que nos falou esteve encarnado? ─ Esteve.
6. ─ O espírito que dá vida às plantas e às flores, tem um pensamento e a compreensão de seu Eu? ─ Nenhum pensamento e nenhum instinto.
2. ─ Esse Espírito chama-se Hettani. Como tem um nome, se jamais encarnou? ─ É uma ficção. O espírito não preside, de maneira particular, à formação das flores. O espírito elementar, antes de passar à série animal, dirige sua ação fluídica para a criação vegetal. Esse ainda não encarnou; não age senão sob a direção de inteligências mais elevadas, que já viveram o bastante para adquirir o conhecimento necessário à sua missão. Foi um desses que se comunicou. Ele vos fez uma mistura poética da ação de duas classes de Espíritos que atuam na criação vegetal.
3. ─ Não tendo ainda vivido esse Espírito, mesmo na vida animal, como é tão poético? ─ Relede.
OBSERVAÇÃO: Vede a observação feita após a pergunta 24, no artigo sobre a Srta. Indermuhle.
4. ─ Assim, o Espírito que se comunicou não é o que habita e anima a flor? ─ Não, não. Eu vo-lo disse claramente: ele guia.
5. ─ Esse Espírito que nos falou esteve encarnado? ─ Esteve.
6. ─ O espírito que dá vida às plantas e às flores, tem um pensamento e a compreensão de seu Eu? ─ Nenhum pensamento e nenhum instinto.
FELICIDADE
(SOCIEDADE, 10 DE FEVEREIRO DE 1860. MÉDIUM, SRTA. EUGÉNIE)
Qual é o objetivo de cada indivíduo na Terra? Quer a felicidade a qualquer preço. O que determina que cada um siga uma rota diferente? É que cada um de nós espera encontrá-la num lugar ou numa coisa que lhe agrada particularmente: uns procuram a glória, outros a riqueza, outros, ainda, as honrarias. O maior número corre em busca da fortuna que, em nossos dias, é o mais poderoso meio de obter tudo. Ela a tudo serve de pedestal. Mas quantos veem realizado esse anseio de felicidade? Muito poucos. Perguntai a cada um dos que chegam, se atingiram o objetivo a que se propunham. São felizes? Todos responderão que ainda não, porque todos os desejos aumentam na proporção daqueles que são satisfeitos. Se hoje há tanta gente que se interessa pelo Espiritismo, é porque depois de perceberem que tudo é quimera, e não obstante querendo alcançá-la, experimentam o Espiritismo, como experimentaram a riqueza e a glória.
Se Deus pôs em nossos corações essa necessidade tão grande de felicidade, é que ela deve existir em algum lugar. Sim, confiai nele, mas sabei que tudo quanto Deus promete deve ser divino como ele, e que a felicidade que buscais não pode ser material.
Vinde a nós, todos os que sofreis. Vinde a nós, todos os que necessitais de esperança, porque, quando tudo vos faltar na Terra, nós aqui teremos mais do que reclamam as vossas necessidades. Mães desesperadas, que vos lamentais sobre um túmulo, vinde aqui! O anjo que chorais vos falará, vos protegerá, vos inspirará a resignação às penas que suportastes na Terra. Vós todos, que tendes insaciável necessidade da ciência, dirigi-vos a nós, pois somente nós podemos dar ao vosso espírito o alimento necessário. Vinde, e nós saberemos achar um alívio para cada ferida. Por mais abandonados que pareçais, há Espíritos que vos amam e estão prontos a vo-lo provar. Falo em nome de todos. Desejo que venhais pedir-nos conselhos, pois estou certa de que voltareis com a esperança no coração.
STAËL.
NOTA: Um instante depois, o Espírito de novo escreveu espontaneamente: Mais de uma vez vem o sorriso aos lábios de certos ouvintes, e se o médium não o percebe, percebem-no os Espíritos. Mas não temais. São os que mais riram que mais crerão depois. Nós vos perdoamos, porque um dia podereis arrepender-vos de vossa ironia. Estou certa de que, se perto de cada uma de vós, senhoras, se apresentasse um ser perdido, e que tivésseis amado, para avivar uma lembrança, mudaríeis o sorriso de incredulidade em suspiros, e ficaríeis felizes ou ansiosas. Ficai tranquilas. Vosso dia chegará, e sereis tocadas pelo coração, que é a vossa corda mais sensível. Eu a conheço.
STAËL.
Se Deus pôs em nossos corações essa necessidade tão grande de felicidade, é que ela deve existir em algum lugar. Sim, confiai nele, mas sabei que tudo quanto Deus promete deve ser divino como ele, e que a felicidade que buscais não pode ser material.
Vinde a nós, todos os que sofreis. Vinde a nós, todos os que necessitais de esperança, porque, quando tudo vos faltar na Terra, nós aqui teremos mais do que reclamam as vossas necessidades. Mães desesperadas, que vos lamentais sobre um túmulo, vinde aqui! O anjo que chorais vos falará, vos protegerá, vos inspirará a resignação às penas que suportastes na Terra. Vós todos, que tendes insaciável necessidade da ciência, dirigi-vos a nós, pois somente nós podemos dar ao vosso espírito o alimento necessário. Vinde, e nós saberemos achar um alívio para cada ferida. Por mais abandonados que pareçais, há Espíritos que vos amam e estão prontos a vo-lo provar. Falo em nome de todos. Desejo que venhais pedir-nos conselhos, pois estou certa de que voltareis com a esperança no coração.
STAËL.
NOTA: Um instante depois, o Espírito de novo escreveu espontaneamente: Mais de uma vez vem o sorriso aos lábios de certos ouvintes, e se o médium não o percebe, percebem-no os Espíritos. Mas não temais. São os que mais riram que mais crerão depois. Nós vos perdoamos, porque um dia podereis arrepender-vos de vossa ironia. Estou certa de que, se perto de cada uma de vós, senhoras, se apresentasse um ser perdido, e que tivésseis amado, para avivar uma lembrança, mudaríeis o sorriso de incredulidade em suspiros, e ficaríeis felizes ou ansiosas. Ficai tranquilas. Vosso dia chegará, e sereis tocadas pelo coração, que é a vossa corda mais sensível. Eu a conheço.
STAËL.
O Livro dos Espíritos - Aviso sobre a 2ª edição
Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Ela devia compor-se de todas as questões que ali não haviam entrado, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas, como são todas relativas a alguma das partes já tratadas, e das quais constituem o desenvolvimento, sua publicação isolada não representaria uma continuidade. Preferimos esperar a reimpressão do livro, para reunir tudo, e aproveitamos para dar à distribuição da matéria uma ordem mais metódica, ao mesmo tempo que eliminamos tudo quanto tivesse duplo sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como uma obra nova, posto não tenham os princípios sofrido qualquer alteração, salvo muito poucas exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações. Essa conformidade com os princípios emitidos, malgrado a diversidade das fontes em que foram hauridas, é um fato importante para o estabelecimento da ciência espírita. Nossa própria correspondência prova que comunicações em tudo idênticas, senão na forma, pelo menos no fundo, têm sido obtidas em várias localidades, muito antes da publicação do livro que veio confirmálas e dar-lhes um corpo regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios foram professados pelos homens mais eminentes dos tempos antigos e modernos, e vem assim trazer a sua sanção.
Aos leitores da Revista - Cartas não assinadas
Por vezes recebemos cartas subscritas por Um dos vossos assinantes; Um dos vossos leitores; Um dos vossos adeptos, etc., sem outra designação. Na maioria são relatos de fatos, comunicações espíritas ou perguntas pedindo resposta ou ainda o pedido para que sejam evocadas certas pessoas. Consideramos nosso dever prevenir os leitores, assinantes ou não, que toda carta não autenticada é para nós como não recebida e não lhe damos atenção. Em nossos relatórios temos grandes reservas quanto à publicação de nomes próprios, porque compreendemos a dificuldade de certas posições, razão por que só citamos os que nos autorizam. Mas assim não deve ser em relação às comunicações que nos fazem. Tudo quanto não é assinado vai para a cesta, até sem ser lido, porque nossos trabalhos são multiplicados e não nos permitem ocupar-nos com aquilo que não tenha caráter sério.
ALLAN KARDEC