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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860 > Junho
Junho
BoletimSEXTA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 1860
(SESSÃO PARTICULAR)
(SESSÃO PARTICULAR)
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 17 de abril.
Por sugestão e proposta da Comissão, e após a leitura da ata, a Sociedade recebe no número dos sócios livres:
1.º ─ o Sr. Achille R..., empregado em Paris;
2.º ─ o Sr. Serge de W..., de Moscou.
Comunicações diversas:
1.º ─ Carta da Sra. P..., médium, de Rouen, dizendo que vários Espíritos sofredores evocados na Sociedade foram procurá-la espontaneamente, para lhe agradecer as preces por eles. Desde quando ela recuperou sua faculdade mediúnica, tem tido trabalho somente com Espíritos sofredores. Foi-lhe dito que sua missão era principalmente a de ajudá-los a ser aliviados.
2.º ─ Leitura de um ditado espontâneo sobre a vaidade, recebido pela Sra. Lesc..., médium, membro da Sociedade, da parte de seu Espírito familiar. Publicado adiante.
3.º ─ Carta do Sr. Bénardacky, datada de Bruxelas, com uma comunicação recebida sobre a formação da Terra por incrustação de vários corpos planetários, e o estado de catalepsia em que se encontravam seus primeiros habitantes e os demais seres vivos. Tal comunicação ocorreu a propósito de um fenômeno de catalepsia voluntária verificado, ao que se diz, com habitantes da Índia e da África central. O fenômeno consiste em que certos indivíduos se faziam enterrar vivos, mediante certa soma em dinheiro, e ao cabo de vários meses eram retirados do sepulcro, voltando à vida.
O Sr. Arnauld d’A..., membro da Sociedade, velho amigo e conselheiro do finado rei da Abissínia, e que residiu muito tempo naquele país, cita dois fatos de seu conhecimento, um dos quais ocorreu na Inglaterra e o outro na Índia, e que parecem confirmar a possibilidade da catalepsia voluntária de curta duração, mas declara jamais ter tomado conhecimento de fatos da natureza citada pelo Sr. Bénardacky. Familiarizado com a língua e os costumes daqueles países, que observou como cientista, o Sr. d’A... estaria admirado de que fatos tão extraordinários não tivessem chegado ao seu conhecimento, de onde pode-se supor que tenha havido exagero.
Estudos:
1.º ─ Pergunta se é possível uma nova evocação do Sr. Jules-Louis C..., que morreu no hospital de Val-de-Grâce em condições excepcionais, e já evocado a 24 de fevereiro. (Ver no número de abril de 1860, o Boletim da Sociedade, de 24 de fevereiro; Estudos, 2º). A pergunta é motivada pela presença de uma pessoa de sua família, que nela tem muito interesse e, além disso, pelo desejo de julgar dos progressos que ele tenha feito. São Luís responde que o Espírito prefere ser chamado numa sessão íntima.
2.º ─ Perguntas sobre a teoria da formação da Terra por incrustação e sobre o estado cataléptico dos seres vivos em sua origem, a propósito da comunicação do Sr. Bénardacky. Numerosas observações são feitas a propósito por vários membros.
3.º ─ Estudo sobre o fenômeno relatado na última sessão, de um cão que reconhece seu dono evocado. O Espírito de Charlet intervém espontaneamente no assunto e desenvolve uma teoria da qual ressalta a possibilidade do fato. Publicada adiante.
SEXTA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 1860
(SESSÃO GERAL)
(SESSÃO GERAL)
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 4 de maio. Comunicações diversas:
1º. ─ Carta do Sr. Rabache, escrita de Liverpool, na qual relata uma comunicação espontânea que lhe foi dada por Adam Smith, sem que a tivesse provocado; depois a conversa que se segue, na qual as respostas eram dadas em inglês, enquanto as perguntas eram feitas em francês. Na conversa, Adam Smith critica o ponto de vista que serviu de base ao seu sistema econômico. Diz ele que se escrevesse hoje o seu livro Sentimentos morais, daria a eles, por princípio: a consciência inata, tendo por móvel especial o amor.
2º. ─ Segunda carta do Sr. Bénardacky, completando as comunicações obtidas sobre a catalepsia.
NOTA: Numa sessão particular, interrogado quanto ao valor de tais comunicações, São Luís lhes confirma várias partes, mas acrescenta, por intermédio do Sr. T..., médium:
“Podeis estudar essas coisas. mas aconselho-vos a não publicá-las ainda. São necessários muitos outros documentos, que vos serão dados mais tarde, e que as circunstâncias trarão. Publicando-as agora, sujeitai-vos a cometer graves erros, que tereis de reconsiderar, o que seria desagradável e prejudicaria muito o Espiritismo. Sede, pois, muito prudentes no que diz respeito a teorias científicas, pois é aí sobretudo que deveis temer os Espíritos impostores e pseudo-sábios. Lembrai-vos do que vos tem sido dito tantas vezes: os Espíritos não têm a missão de vos trazer a ciência acabada, que deve ser fruto do trabalho e do gênio do homem, nem de levantar todos os véus antes do tempo. Tratai, sobretudo, de vossa melhora. É o essencial. Deus levará mais em conta o vosso bom coração e a vossa humildade do que um saber no qual a curiosidade, muitas vazes, ocupa a maior parte. É praticando as suas leis, praticando-as, entendei bem, que merecereis ser favorecidos pelas comunicações dos Espíritos verdadeiramente superiores, que jamais enganam”
Não é possível ignorar a profundeza e alta sabedoria desses conselhos. Essa linguagem, ao mesmo tempo simples e sublime, marcada por extrema benevolência, contrasta singularmente com o tom altivo e cortante ou a bazófia dos Espíritos que se impõem.
3º. ─ Leitura de uma notícia enviada pelo Sr. T..., com a descrição de um mundo muito superior, ao qual seu Espírito foi transportado durante o sono. Parece que tal mundo tem muita analogia com o estado indicado para Júpiter, mas em grau ainda mais elevado.
Estudos:
1.º ─ Dois ditados espontâneos, um recebido pela Sra. Parisse e assinado Luís, e outro pelo Sr. Didier, filho, assinado Gérard de Nerval.
2.º ─ Perguntas relativas à visão do Sr. T..., dirigidas a São Luís. Vagas e incoerentes, as respostas indicam a evidente interferência de um Espírito enganador.
3.º ─ Evocação de Adam Smith, a propósito da carta do Sr. Rabache. Perguntas sobre suas opiniões atuais, comparadas às emitidas em suas obras. Ele confirma o que disse ao Sr. Rabache, referente ao erro do princípio que lhe serviu de base nas apreciações morais.
SEXTA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 1860
(SESSÃO PARTICULAR)
(SESSÃO PARTICULAR)
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
A conselho e por proposta da Comissão, e após relatório verbal, a Sociedade recebeu como sócios livres:
1.º ─ o Sr. B..., negociante em Paris;
2.º ─ o Sr. C..., negociante em Paris.
Comunicações diversas:
1º. ─ Leitura da comunicação seguinte, recebida numa sessão particular, a propósito dos trabalhos da última sessão, através da Sra. S..., médium.
─ Por que São Luís não se comunicou sexta-feira última através do Sr. Didier, e deixou falar um Espírito enganador?
─ São Luís estava presente, mas não quis falar. Aliás, não reconhecestes que não era ele? É o essencial. Não fostes enganados, desde que reconhecestes a impostura.
─ Com que objetivo não quis falar?
─ Podeis perguntar a ele mesmo. Ele está aqui.
─ São Luís poderia dar-nos o motivo de sua abstenção?
─ Estás contrariado com o que aconteceu, mas deves saber que nada ocorre sem motivo. Por vezes, há coisas cujo objetivo não compreendeis; que à primeira vista vos parecem más, porque sois muito impacientes, mas cuja sabedoria mais tarde reconheceis. Fica pois tranquilo, e não te inquietes por nada. Nós sabemos distinguir os que são sinceros e velamos por eles.
─ Se foi uma lição que nos quisestes dar, eu a compreenderia quando estamos entre nós; mas em presença de estranhos, que lhe reconheceram a má impressão, parece-me que o mal leva o bem de vencida.
─ Tu te enganas vendo as coisas assim. O mal não é o que pensas e eu te asseguro que houve pessoas aos olhos das quais essa espécie de revés foi uma prova da boa-fé de vossa parte. Aliás, por vezes, do mal resulta o bem. Quando vês um pomicultor cortar belos ramos de uma árvore, deploras a perda da verdura, e isto te parece um mal. Mas, uma vez cortados esses ramos parasitas, os frutos vêm mais belos e saborosos. Eis o bem. Então percebes que o pomicultor foi sábio e mais previdente do que supunhas. Do mesmo modo, se se corta um membro de um doente, a perda do membro é um mal; mas, após a amputação, se fica bom, eis o bem, porque talvez lhe tenham salvo a vida. Reflete bem nisto e compreenderás.
─ Isso é muito justo. Mas como é que, apelando aos bons Espíritos e lhes pedindo o afastamento dos impostores, o apelo não é atendido?
─ É atendido, não o duvides. Mas tens certeza de que o apelo venha do fundo do coração de todos os assistentes, ou que não haja alguém que, por um pensamento pouco caridoso e malévolo, senão pelo desejo, atraia maus Espíritos para o vosso meio? Eis por que vos dizemos incessantemente: Sede unidos, bons e benevolentes uns para com os outros. Disse Jesus: Quando estiverdes reunidos em meu nome, estarei entre vós. Para isso, credes que baste pronunciar o seu nome? Não penseis assim e convencei-vos de que Jesus não vai senão onde é chamado por corações puros, junto daqueles que praticam os seus preceitos, porque esses estão verdadeiramente reunidos em seu nome. Não vai aos orgulhosos, nem aos ambiciosos, nem aos hipócritas, nem aos que falam mal do próximo. É destes que diz: Não entrarão no Reino dos Céus.
─ Compreendo que os bons Espíritos se retirem dos que não lhes ouvem os conselhos. Mas se, entre os assistentes, há mal-intencionados, é isto uma razão para punir os outros?
─ Admiro-me de tua insistência. Parece que me expliquei muito claramente para quem queira compreender. É preciso repetir que não deves preocupar-te com essas coisas, que são puerilidades junto ao grande edifício da doutrina que se ergue? Crês que tua casa vá cair porque se desprende uma telha? Duvidas de nosso poder, de nossa benevolência? Não! Então, deixa-nos agir e fica certo de que todo pensamento, bom ou mau, tem seu eco no seio do Eterno.
─ Nada dissestes a propósito da invocação geral que fazemos no começo de cada sessão. Podeis dizer o que pensais?
─ Deveis sempre apelar aos bons Espíritos; a forma, sabeis, é insignificante. O pensamento é tudo. Tu te admiras do que se passou. Mas examinaste bem o rosto dos que te escutam, quando fazes essa invocação? Mais de uma vez não viste o sorriso de sarcasmo em certos lábios? Que Espíritos pensas que trazem essas pessoas? Espíritos que, como elas, se riem das coisas mais sagradas. É por isso que vos digo que não recebais o primeiro que vier; evitai os curiosos e os que não vêm para se instruírem. Cada coisa virá a seu tempo e ninguém pode prejulgar os desígnios de Deus. Em verdade vos digo que os que hoje riem destas coisas, não rirão por muito tempo.
─ Por que São Luís não se comunicou sexta-feira última através do Sr. Didier, e deixou falar um Espírito enganador?
─ São Luís estava presente, mas não quis falar. Aliás, não reconhecestes que não era ele? É o essencial. Não fostes enganados, desde que reconhecestes a impostura.
─ Com que objetivo não quis falar?
─ Podeis perguntar a ele mesmo. Ele está aqui.
─ São Luís poderia dar-nos o motivo de sua abstenção?
─ Estás contrariado com o que aconteceu, mas deves saber que nada ocorre sem motivo. Por vezes, há coisas cujo objetivo não compreendeis; que à primeira vista vos parecem más, porque sois muito impacientes, mas cuja sabedoria mais tarde reconheceis. Fica pois tranquilo, e não te inquietes por nada. Nós sabemos distinguir os que são sinceros e velamos por eles.
─ Se foi uma lição que nos quisestes dar, eu a compreenderia quando estamos entre nós; mas em presença de estranhos, que lhe reconheceram a má impressão, parece-me que o mal leva o bem de vencida.
─ Tu te enganas vendo as coisas assim. O mal não é o que pensas e eu te asseguro que houve pessoas aos olhos das quais essa espécie de revés foi uma prova da boa-fé de vossa parte. Aliás, por vezes, do mal resulta o bem. Quando vês um pomicultor cortar belos ramos de uma árvore, deploras a perda da verdura, e isto te parece um mal. Mas, uma vez cortados esses ramos parasitas, os frutos vêm mais belos e saborosos. Eis o bem. Então percebes que o pomicultor foi sábio e mais previdente do que supunhas. Do mesmo modo, se se corta um membro de um doente, a perda do membro é um mal; mas, após a amputação, se fica bom, eis o bem, porque talvez lhe tenham salvo a vida. Reflete bem nisto e compreenderás.
─ Isso é muito justo. Mas como é que, apelando aos bons Espíritos e lhes pedindo o afastamento dos impostores, o apelo não é atendido?
─ É atendido, não o duvides. Mas tens certeza de que o apelo venha do fundo do coração de todos os assistentes, ou que não haja alguém que, por um pensamento pouco caridoso e malévolo, senão pelo desejo, atraia maus Espíritos para o vosso meio? Eis por que vos dizemos incessantemente: Sede unidos, bons e benevolentes uns para com os outros. Disse Jesus: Quando estiverdes reunidos em meu nome, estarei entre vós. Para isso, credes que baste pronunciar o seu nome? Não penseis assim e convencei-vos de que Jesus não vai senão onde é chamado por corações puros, junto daqueles que praticam os seus preceitos, porque esses estão verdadeiramente reunidos em seu nome. Não vai aos orgulhosos, nem aos ambiciosos, nem aos hipócritas, nem aos que falam mal do próximo. É destes que diz: Não entrarão no Reino dos Céus.
─ Compreendo que os bons Espíritos se retirem dos que não lhes ouvem os conselhos. Mas se, entre os assistentes, há mal-intencionados, é isto uma razão para punir os outros?
─ Admiro-me de tua insistência. Parece que me expliquei muito claramente para quem queira compreender. É preciso repetir que não deves preocupar-te com essas coisas, que são puerilidades junto ao grande edifício da doutrina que se ergue? Crês que tua casa vá cair porque se desprende uma telha? Duvidas de nosso poder, de nossa benevolência? Não! Então, deixa-nos agir e fica certo de que todo pensamento, bom ou mau, tem seu eco no seio do Eterno.
─ Nada dissestes a propósito da invocação geral que fazemos no começo de cada sessão. Podeis dizer o que pensais?
─ Deveis sempre apelar aos bons Espíritos; a forma, sabeis, é insignificante. O pensamento é tudo. Tu te admiras do que se passou. Mas examinaste bem o rosto dos que te escutam, quando fazes essa invocação? Mais de uma vez não viste o sorriso de sarcasmo em certos lábios? Que Espíritos pensas que trazem essas pessoas? Espíritos que, como elas, se riem das coisas mais sagradas. É por isso que vos digo que não recebais o primeiro que vier; evitai os curiosos e os que não vêm para se instruírem. Cada coisa virá a seu tempo e ninguém pode prejulgar os desígnios de Deus. Em verdade vos digo que os que hoje riem destas coisas, não rirão por muito tempo.
SÃO LUÍS
2.º ─ Nota dirigida pelo Sr. Jobard, de Bruxelas, sobre a evocação por ele feita do Sr. Ch. de Br..., há pouco falecido.
3.º ─ Leitura de uma comunicação recebida pela Sra. Lesc..., médium, membro da Sociedade, com interessantes explicações sobre a história do Espírito e do cãozinho. Publicada adiante.
4.º ─ Outro ditado espontâneo pelo mesmo médium, sobre a tristeza e a mágoa.
5.º ─ Carta do Sr. B..., professor de Ciências, sobre a teoria, que lhe foi dada, das horas fixas, nas quais cada Espírito pode manifestar-se. Sem exceção, tal teoria é por todos considerada como resultado de uma obsessão de Espíritos sistemáticos e ignorantes. A experiência e o raciocínio demonstram à saciedade que ela não merece um exame sério.
6.º ─ Relato de um fato curioso, relacionado com um retrato pintado sob a influência de uma mediunidade natural intuitiva. O Sr. T..., pintor, tinha perdido o pai numa idade em que não podia conservar qualquer lembrança de seus traços.
Como os outros membros da família, lamentava muito não ter nenhum retrato dele. Um dia, no atelier, teve uma espécie de visão, ou antes, uma imagem se lhe desenhou no cérebro; reproduziu-a na tela. A execução tomou várias sessões e, de cada vez, a mesma imagem lhe reaparecia. Veio-lhe a ideia de que fosse seu pai, mas não falou a ninguém. Quando o retrato foi acabado, o mostrou aos parentes, que o reconheceram sem hesitação.
Estudos:
1.º ─ Quatro ditados espontâneos, recebidos simultaneamente: o primeiro, pela Srta. Huet, do Espírito que começou a escrever suas memórias; o segundo, pela Sra. S..., sobre a Fantasia, de Alfred de Musset; o terceiro, pela Srta. Stéphanie S..., de um Espírito familiar falecido há alguns anos e que em vida se chamava Gustave Lenormand. É um Espírito ainda pouco adiantado, de caráter alegre e espirituoso, mas muito bom, muito prestativo e que, em várias famílias, onde aparece muito, é considerado como um amigo da casa. Um dia havia dito que viria caçar os maus Espíritos. O quarto, da Srta. Parisse, assinado Luís.
2.º ─ Evocação do Sr. B..., professor de Ciências, do qual se falou acima, vivo, e que tinha sido designado por outro Espírito como podendo fornecer informações sobre François Bayle, médico do século dezessete, cuja biografia querem fazer. O resultado da evocação tende a provar que Bayle, morto e o Sr. B..., vivo, são a mesma pessoa. Com efeito, este último fornece as informações desejadas e dá várias explicações do mais alto interesse. Será publicada.
SEXTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 1860
(SESSÃO GERAL)
(SESSÃO GERAL)
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão. Comunicações diversas:
1.º ─ Carta do Dr. Morhéry, com uma apreciação, do ponto de vista científico, sobre a medicação empregada, sob sua direção, pela Srta. Désirée Godu. Publicada a seguir.
2.º ─ Leitura de um ditado espontâneo recebido pela Sra. Lesc..., médium, sobre a miséria humana.
3.º ─ Leitura de uma série de comunicações muito notáveis, feitas em sessões
particulares, por diversos membros da família russa W... Serão publicadas.
particulares, por diversos membros da família russa W... Serão publicadas.
4.º ─ Leitura da evocação feita em sessão particular da Sra. Duret, médium, falecida em Sétif, Argélia, a 1.º de maio. Encerra importantes apreciações sobre os médiuns.
Estudos:
1.º ─ Evocação da Sra. Duret; série de suas comunicações.
2.º ─ Evocação de Charles de Saint-G..., idiota de 13 anos. Faz curiosas revelações sobre o estado desse Espírito, antes e durante sua encarnação. Publicada adiante.
3.º ─ Estudo sobre o Sr. V..., oficial da Marinha, vivo, que conservou a lembrança precisa de sua existência e morte na época do São Bartolomeu. Será publicada.
O Espiritismo na Inglaterra
No princípio encontrou o Espiritismo, na Inglaterra, uma oposição de que, com razão, nos admiramos. Não que não tenha encontrado partidários isolados, como em toda parte, mas ali os seus progressos foram infinitamente menos rápidos do que na França. Será que os ingleses, mais frios e positivos e menos entusiastas que nós, como pretendem alguns, se deixam arrastar menos pela imaginação? Seriam menos atraídos pelo maravilhoso? Se assim fosse, seria de admirar que, com mais forte razão, tenha ele seu principal foco nos Estados-Unidos, onde o positivismo dos interesses materiais reina como soberano absoluto. Não teria sido mais racional que houvesse surgido na Alemanha, mas, ao mesmo tempo, não parece que a Rússia toma a dianteira, como a terra clássica das lendas? A oposição que o Espiritismo encontrou na Inglaterra, nada tem com o caráter nacional, mas deve-se à influência das ideias religiosas de certas seitas preponderantes, rigorosamente aferradas mais à letra que ao espírito de seus dogmas. Elas se abalaram com uma doutrina que, à primeira vista, lhes pareceu contrária às suas crenças. Mas assim não poderia ser por muito tempo, num povo reflexivo, esclarecido, no qual o livre exame não sofre qualquer entrave e onde o direito de reunião para discutir é absoluto. Ante a evidência dos fatos, tinham que se render. Ora, foi precisamente porque os ingleses os julgaram friamente e sem entusiasmo que os apreciaram e compreenderam todo o seu alcance. Quando, depois de uma observação séria, surgiu para eles a verdade capital de que as ideias espíritas têm sua fonte nas ideias cristãs que longe de se contradizerem se corroboram, se confirmam, se explicam umas pelas outras, toda satisfação foi dada ao escrúpulo religioso. Tranquilizada a consciência, nada mais se opôs ao progresso das ideias novas, que se propagam naquele país com rapidez admirável. Ora, lá como alhures, ainda é na parte esclarecida da população que se encontram os mais zelosos e os mais numerosos partidários. É um argumento peremptório, ao qual nada se tem oposto. Os médiuns se multiplicam e numerosos centros são abertos, aos quais se associam membros do alto clero, cujas convicções proclamam abertamente. Dirão os adversários que a febre do maravilhoso triunfou sobre a fleugma inglesa? Seja como for, um fato é notório: as suas fileiras se esclarecem diariamente, a despeito de seus sarcasmos.
O desenvolvimento das ideias espíritas na Inglaterra não poderia deixar de dar origem a publicações especializadas. Elas têm agora um órgão mensal muito interessante, que desde l.º de maio se publica em Londres, sob o título de The Spiritual Magazine, de onde extraímos o relato seguinte:
Um Espírito falador
Estando em Worcester, há algumas semanas, encontrei casualmente, em casa de um banqueiro daquela cidade, uma senhora que lá conheci, e de sua própria boca ouvi uma história tão surpreendente que necessitei de mais de uma testemunha para lhe dar crédito. Quando interroguei o banqueiro sobre aquela senhora, disse-me ele que a conhecia há mais de trinta anos. “Ela é tão verídica, acrescentou, e sua correção é tão conhecida por todos, que não tenho a menor dúvida quanto à realidade do que contou. É uma senhora de reputação sem mancha, de costumes irrepreensíveis, detentora de um espírito forte e inteligente, e de uma instrução variada.” Ele acha impossível, portanto, que ela procurasse enganar os outros ou que ela própria se enganasse. Tinha-lhe ouvido várias vezes contar aquela história, e sempre de maneira clara e precisa, de modo que se achava muito embaraçado. Repugnava-lhe admitir semelhantes fatos, mas, por outro lado, não ousava duvidar de sua boa-fé.
Minhas próprias observações tendiam a confirmar tudo o que me haviam dito acerca daquela dama. Havia no seu ar, nas suas maneiras, mesmo no som de sua voz, um não-sei-quê incapaz de enganar e que leva em si a convicção da verdade.
Assim, era-me impossível julgá-la insincera, tanto mais quanto parecia falar dessas coisas com evidente repugnância. O banqueiro me havia dito ser muito difícil levá-la a falar do assunto, porque, em geral, achava os ouvintes mais dispostos a rir do que a acreditar. Adicione-se que nem ela nem o banqueiro conheciam o Espiritismo ou dele tinham ouvido falar.
Eis o relato da senhora:
“Por volta de 1820, tendo deixado nossa casa de Suffolk, fomos morar na cidade de..., porto de mar, na França. Nossa família era composta de meu pai, minha mãe, uma irmã, um irmão de uns doze anos, eu e um criado inglês. Nossa casa era muito retirada, um pouco fora da cidade, bem no meio da praia. Não havia outras casas ou construções na vizinhança.
“Uma noite, meu pai viu, a poucas jardas da porta, um homem envolto num grande manto, sentado num fragmento de rochedo. Meu pai aproximou-se para lhe dar boa noite, mas não tendo resposta, voltou. Antes de entrar, contudo, teve a ideia de se voltar e, para seu grande espanto, não viu mais ninguém. Ficou ainda mais surpreendido quando, ao aproximar-se novamente e bem examinar em redor do rochedo, não encontrou o menor traço do indivíduo que estava sentado um instante antes, e nenhum abrigo havia onde ele pudesse ter-se escondido. Quando meu pai entrou na sala, ele nos disse: ‘Meus filhos, acabo de ver uma aparição’.
“Como é fácil compreender, rimos às gargalhadas.
“Contudo, naquela noite e em várias noites seguintes, ouvimos ruídos estranhos em diversos pontos da casa: ora eram gemidos vindos de baixo de nossas janelas, ora parecia que arranhavam as próprias janelas e, em outros momentos, dir-se-ia que várias pessoas trepavam no telhado. Diversas vezes abrimos as janelas, perguntando em voz alta: ‘Quem está ai?’ Mas não obtivemos resposta.
“Alguns dias depois, ao anoitecer, os ruídos se fizeram ouvir no quarto onde dormíamos eu e minha irmã. Ela estava com 20 anos e eu com 18. Acordamos toda a casa, mas ninguém queria escutar-nos. Censuraram-nos e chamaram-nos de loucas. Ordinariamente os ruídos consistiam em pancadas: às vezes eram 20 ou 30 por minuto; outras vezes, uma por minuto.
“Por fim, tanto os ruídos internos quanto os externos foram ouvidos por nossos pais, que se viram forçados a admitir que não se tratava de imaginação. Então, recordaram-se da aparição. Mas, em suma, não estávamos tão apavoradas, e acabamos por habituar-nos a todo esse barulho.
“Uma noite, quando batiam, como de hábito, veio-me a ideia de perguntar: ‘Se és um Espírito, bate seis pancadas.’ Imediatamente ouvi os seis golpes, um por um. Com o tempo, os ruídos se tornaram tão familiares que não só não tínhamos medo como deixaram de ser desagradáveis.
“Agora vou contar a parte mais curiosa da história, e hesitaria em vo-lo fazer, se todos os membros de nossa família não a tivessem testemunhado. Meu irmão, então menino, mas agora um homem muito distinto na sua profissão, poderá, se necessário, vo-la confirmar em todos os detalhes.
“Além das batidas em nosso dormitório, começamos a ouvir, principalmente na sala de visitas, como que uma voz humana. A primeira vez que a ouvimos, minha irmã estava ao piano; cantávamos uma romanza e eis que o Espírito se pôs a cantar conosco. Podem imaginar a nossa admiração. Não havia como duvidar da realidade, porque, pouco depois, a voz começou a falar-nos de maneira clara e inteligível, metendo-se, de vez em quando, em nossa conversa. A voz era baixa, os tons lentos, solenes e muito distintos. O Espírito sempre nos falava em francês. Disse chamar-se Gaspard, mas quando queríamos interrogá-lo sobre sua história pessoal, não respondia; também jamais quis explicar por que motivo tinha sido levado a pôr-se em contato conosco. Geralmente pensávamos que fosse espanhol. Contudo, não me lembro de onde nos veio tal ideia. Chamava cada membro da família pelo nome de batismo; às vezes, recitava versos e constantemente procurava inculcar-nos sentimentos de moral cristã, sem, contudo, jamais tocar em questões de dogmas.
Parecia desejoso de nos fazer compreender o que há de grandeza na virtude, o que há de belo na harmonia reinante entre os membros de uma família. Uma vez em que minha irmã e eu tivemos uma ligeira discussão, ouvimos a voz dizer: ‘M... está errada; S... tem razão.’ Desde que se tornou conhecido, ocupou-se constantemente em nos dar bons conselhos. Uma vez, meu pai estava muito inquieto a propósito de certos documentos que julgava ter perdido e queria encontrar. Gaspard lhe disse onde estavam, em nossa velha casa de Suffolk. Procuraram e os encontraram no exato lugar indicado.
“As coisas continuaram a passar-se assim por mais de três anos. Todas as pessoas da família, inclusive os empregados, tinham ouvido sua voz. A presença do Espírito, pois dela não duvidávamos, era sempre uma grande felicidade para todos nós; era considerado, ao mesmo tempo, como companheiro e protetor. Um dia nos disse: ‘Durante alguns meses não estarei convosco’. Com efeito, suas visitas cessaram durante vários meses. Uma noite, ouvimos aquela voz, tão nossa conhecida dizer: ‘Eis-me ainda entre vós.’ Seria difícil descrever a nossa alegria.
“Até aqui tínhamos sempre ouvido, mas nunca visto. Uma noite meu irmão disse: ‘Gaspard, eu gostaria muito de ver-te.’ E a voz respondeu: ‘Eu vos satisfarei.
Ver-me-eis, se quiserdes ir até o outro lado da praça.’ Meu irmão nos deixou, mas logo voltou, dizendo: ‘Eu vi Gaspard; tinha um grande manto e um chapéu de abas largas; olhei por baixo do chapéu e ele sorriu.’ ─ ‘Sim, disse a voz, entrando na conversa, era eu.’
“A maneira por que nos deixou, de repente, foi-nos muito terna. Voltamos a Suffolk e ali, como na França, durante várias semanas após a nossa chegada, Gaspard continuou a conversar conosco.
“Uma noite nos disse: ‘Vou deixar-vos para sempre; acontecer-vos-ia uma desgraça se eu ficasse junto de vós nesta terra, onde nossas comunicações seriam mal compreendidas e mal interpretadas.’
“Desde então, ─ acrescentou a senhora, com um tom de tristeza, como quando se fala de um ser amado que a morte levou, ─ não mais ouvimos a voz de Gaspard”.
Eis os fatos, como nos foram contados. Tudo isto me faz refletir e, talvez, aos vossos leitores. Não pretendo dar qualquer explicação, qualquer opinião. Direi apenas que tenho inteira confiança na boa-fé da pessoa de quem os ouvi, e subscrevo o meu nome, como garantia da exatidão de meu relato.
S. C. HALL
O Espírito e o cãozinho
O Sr. G. G..., de Marselha, nos transmite este fato:
“Um rapaz faleceu há oito meses e sua família, na qual há três irmãs médiuns, o evoca quase que diariamente, servindo-se de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual ele gostava muito, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, soltando ganidos. A primeira vez que isto aconteceu, a cesta escreveu: “Meu valente cachorrinho, que me reconhece.”
“Eu não vi o fato, mas as pessoas de quem o ouvi várias vezes o testemunharam, e são bons espíritas e muito sérias, de modo que não posso pôr em dúvida a sua veracidade. Eu me perguntei se o perispírito conservava suficientes partículas materiais para afetar o olfato do cão, ou se esse seria dotado da faculdade de ver os Espíritos. É um problema que me pareceria útil aprofundar, caso ainda não esteja resolvido.”
1.º Evocação do Sr..., falecido há oito meses, do qual acabamos de falar.
─ Eis-me aqui.
─ Eis-me aqui.
2.º ─ Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve às vossas evocações e que parece reconhecer-vos?
─ Sim.
─ Sim.
3.º ─ Poderíeis dizer a causa que atrai o cão para a cesta?
─ A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até a vê-lo.
─ A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até a vê-lo.
4º ─ O cão vos vê ou vos sente?
─ O olfato, sobretudo, e o fluido magnético.
─ O olfato, sobretudo, e o fluido magnético.
CHARLET
OBSERVAÇÃO: Charlet, o pintor, deu à Sociedade uma série de comunicações muito notáveis sobre os animais, e que publicaremos proximamente.
Foi certamente por esse motivo que interferiu espontaneamente na presente evocação.
Foi certamente por esse motivo que interferiu espontaneamente na presente evocação.
5.º ─ Considerando-se que Charlet quer mesmo intervir na questão que nos ocupa, nós lhe pedimos que dê algumas explicações a respeito.
─ De boa vontade. O fato é perfeitamente verossímil e, consequentemente, natural. Falo em geral, pois não conheço o caso de que tratais. O cão é dotado de uma organização muito particular. Ele compreende o homem: basta isso. Sente-o, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ama-o, e chega mesmo ao ponto de ─ e disto tem-se exemplos para confirmar o que adianto ─ ao ponto, dizia eu, de a ele se dedicar. O cão deve ser ─ não tenho certeza, entendei bem ─ mas o cão deve ser um desses animais vindos de um mundo já adiantado para sustentar o homem em seu sofrimento, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que, positivamente, possui o cão. Quanto às suas faculdades sensitivas, são extremamente delicadas. Todos os caçadores conhecem a sutileza do faro do cão. Além dessa qualidade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte. Por que não adivinharia a sua alma e por que, mesmo, não a veria?
─ De boa vontade. O fato é perfeitamente verossímil e, consequentemente, natural. Falo em geral, pois não conheço o caso de que tratais. O cão é dotado de uma organização muito particular. Ele compreende o homem: basta isso. Sente-o, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ama-o, e chega mesmo ao ponto de ─ e disto tem-se exemplos para confirmar o que adianto ─ ao ponto, dizia eu, de a ele se dedicar. O cão deve ser ─ não tenho certeza, entendei bem ─ mas o cão deve ser um desses animais vindos de um mundo já adiantado para sustentar o homem em seu sofrimento, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que, positivamente, possui o cão. Quanto às suas faculdades sensitivas, são extremamente delicadas. Todos os caçadores conhecem a sutileza do faro do cão. Além dessa qualidade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte. Por que não adivinharia a sua alma e por que, mesmo, não a veria?
CHARLET
No dia seguinte a Sra. Lec..., médium, membro da Sociedade, recebeu em particular a seguinte explicação sobre o mesmo assunto:
“O fato citado na Sociedade é verídico, embora o perispírito destacado do corpo não tenha nenhuma de suas emanações. O cão farejava a presença de seu dono.
Quando digo farejava, entendo que seus órgãos percebiam sem que os olhos vissem, sem que o nariz sentisse; mas todo o seu ser estava advertido da presença do dono, e essa advertência lhe era dada principalmente pela vontade que se desprendia do Espírito dos que evocaram o morto. A vontade humana atinge e adverte o instinto dos animais, sobretudo o dos cães, antes que algum sinal exterior o tenha revelado.
Por suas fibras nervosas, o cão é posto em relação direta conosco, Espíritos, quase tanto quanto com os homens. Ele percebe as aparições; dá-se conta da diferença existente entre elas e as coisas reais ou terrenas, e lhes tem muito medo. O cão uiva à Lua, conforme a expressão vulgar; uiva também quando sente vir a morte. Nestes dois casos, e em muitos outros mais, o cão é intuitivo. Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido que as suas sensações. Ele vê menos do que sente. O fluido elétrico o penetra quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto departida nada tem de admirável, porque, no momento do desprendimento da vontade que chamava o seu dono, o cão sentia sua presença quase tão depressa quanto o próprio Espírito escutava e respondia ao chamado que lhe era feito.”
Georges (Espírito familiar)
O Espírito de um idiota
Charles de Saint-G..., é um jovem idiota de treze anos, vivo, e cujas faculdades intelectuais são de uma tal nulidade que nem conhece os pais e apenas pode alimentar-se. Há nele uma parada completa do desenvolvimento em todo o sistema orgânico.
Pensou-se que poderia ser assunto interessante de estudo psicológico.
1. (A São Luís) ─ Poderíeis dizer-nos se podemos evocar o Espírito dessa criança?
─ Podeis evocá-lo como se fosse um morto.
─ Podeis evocá-lo como se fosse um morto.
2. ─ Vossa resposta faz-nos supor que a evocação poderia ser feita em qualquer momento.
─ Sim. Sua alma se liga ao corpo por laços materiais, mas não por laços espirituais. Ela pode sempre desprender-se.
─ Sim. Sua alma se liga ao corpo por laços materiais, mas não por laços espirituais. Ela pode sempre desprender-se.
3. Evocação de Ch. de Saint-G...
─ Sou um pobre Espírito ligado à terra, como uma ave por um pé.
─ Sou um pobre Espírito ligado à terra, como uma ave por um pé.
4. ─ Em vosso estado atual, como Espírito, tendes consciência de vossa nulidade neste mundo?
─ Certamente. Sinto bem o meu cativeiro.
─ Certamente. Sinto bem o meu cativeiro.
5. ─ Quando vosso corpo dorme e vosso Espírito se desprende, tendes as ideias tão lúcidas quanto se estivésseis em estado normal?
─ Quando meu corpo infeliz repousa, estou um pouco mais livre para me elevar ao Céu, a que aspiro.
─ Quando meu corpo infeliz repousa, estou um pouco mais livre para me elevar ao Céu, a que aspiro.
6. ─ Como Espírito experimentais um sentimento penoso do estado corporal?
─ Sim, pois é uma punição.
─ Sim, pois é uma punição.
7. ─ Lembrai-vos da vossa existência anterior?
─ Oh, sim! Ela é a causa de meu exílio atual.
─ Oh, sim! Ela é a causa de meu exílio atual.
8. ─ Qual foi essa existência?
─ Um jovem libertino ao tempo de Henrique III.
─ Um jovem libertino ao tempo de Henrique III.
9. ─ Dissestes que vossa condição atual é uma punição. Então não a escolhestes?
─ Não.
─ Não.
10. ─ Como pode vossa existência atual servir ao vosso progresso, no estado de nulidade em que estais?
─ Ela não me é nula perante Deus, que a impôs.
─ Ela não me é nula perante Deus, que a impôs.
11. ─ Prevedes a duração da existência atual?
─ Não: mais alguns anos e voltarei à minha pátria.
─ Não: mais alguns anos e voltarei à minha pátria.
12. ─ Desde a existência precedente até a encarnação atual, que fizestes como Espírito?
─ Porque eu era um Espírito leviano, Deus me aprisionou.
─ Porque eu era um Espírito leviano, Deus me aprisionou.
13. ─ No estado de vigília tendes consciência do que se passa em vosso redor, a despeito da imperfeição dos órgãos?
─ Vejo, entendo, mas meu corpo não compreende nem vê.
─ Vejo, entendo, mas meu corpo não compreende nem vê.
14. ─ Podemos fazer-vos algo de útil?
─ Nada.
─ Nada.
15. (A São Luís): ─ As preces por um Espírito reencarnado podem ter a mesma eficácia que por um errante?
─ As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde, pois Deus as deixa de reserva.
─ As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde, pois Deus as deixa de reserva.
OBSERVAÇÃO: Ninguém desconhecerá o alto ensinamento moral que decorre desta evocação. Além disso, ela confirma o que sempre foi dito sobre os idiotas. Sua nulidade moral não significa nulidade do Espírito, que, abstração feita dos órgãos, goza de todas as faculdades. A imperfeição dos órgãos é apenas um obstáculo à livre manifestação das faculdades; não as aniquila. É o caso de um homem vigoroso, cujos membros fossem comprimidos por laços. Sabe-se que, em certas regiões, longe de serem objeto de desprezo, os cretinos são cercados de cuidados benevolentes. Este sentimento não brotaria de uma intuição do verdadeiro estado desses infelizes, tanto mais dignos de atenções quanto mais seu Espírito, que compreende sua posição, deve sofrer por se ver como um refugo da Sociedade?
Palestras familiares de além-túmulo - Sra. Duret
Médium escrevente, falecida a 1.º de maio de 1860, em Sétif, Argélia, evocada primeiro em casa do Sr. Allan Kardec, a 21 de maio, depois na Sociedade, a 25 de maio.
1. Evocação.
─ Eis-me aqui.
─ Eis-me aqui.
2. ─ Conhecemo-nos de nome, senão de fato. Posto jamais me tenhais visto, me reconheceis?
─ Oh! Muito bem.
─ Oh! Muito bem.
3. ─ Depois de morta, já viestes visitar-me?
─ Não, ainda não, mas sabia que iríeis chamar-me.
─ Não, ainda não, mas sabia que iríeis chamar-me.
4. ─ Como médium e perfeitamente iniciada no Espiritismo, pensei que, melhor que outro, poderíeis dar-nos explicações instrutivas sobre diferentes pontos da ciência.
─ Responderei o melhor que puder.
─ Responderei o melhor que puder.
5. ─ Esta primeira evocação só visa avivar, de certo modo, nosso relacionamento e nos pôr em contato. Quanto às perguntas, como são de interesse geral, prefiro dirigi-las na Sociedade. Assim, pergunto se teríeis a bondade de vir.
─ Sim, de muito boa vontade. Responderei e pedirei a Deus que me esclareça.
─ Sim, de muito boa vontade. Responderei e pedirei a Deus que me esclareça.
6. ─ Há cinco médiuns aqui. Há algum que preferiríeis para vos servir de intérprete?
─ Isto me é indiferente, desde que seja um bom médium.
─ Isto me é indiferente, desde que seja um bom médium.
7. ─ Como médium, fostes alguma vez enganada pelos Espíritos em vossas comunicações?
─ Oh! Muitas vezes. Há poucos médiuns que não o sejam mais ou menos.
─ Oh! Muitas vezes. Há poucos médiuns que não o sejam mais ou menos.
NOTA: No dia seguinte a Sra. Duret manifestou-se espontaneamente e revelou pesar por lhe não terem feito maior número de perguntas na véspera.
8. ─ Se não o fiz, como disse, é que eu as reservava para a Sociedade. Queria apenas assegurar-me se podia contar convosco.
─ Aquilo que se faz em vossa casa é dado igualmente para a instrução da Sociedade. Muitas vezes convém aproveitar os instantes em que o Espírito quer comunicar-se, pois nem sempre as circunstâncias lhe são igualmente favoráveis.
─ Aquilo que se faz em vossa casa é dado igualmente para a instrução da Sociedade. Muitas vezes convém aproveitar os instantes em que o Espírito quer comunicar-se, pois nem sempre as circunstâncias lhe são igualmente favoráveis.
9. ─ Quais são as circunstâncias que lhe podem ser favoráveis?
─ Há muitas que conheceis, mas é preciso saberdes que isto nem sempre dele depende. Por vezes ele necessita ser assistido por outros Espíritos, que nem sempre ali se acham no momento.
─ Há muitas que conheceis, mas é preciso saberdes que isto nem sempre dele depende. Por vezes ele necessita ser assistido por outros Espíritos, que nem sempre ali se acham no momento.
10. ─ Desde que viestes espontaneamente, devo supor que estais num desses momentos propícios e o aproveitarei, se quiserdes. Dissestes ontem que muitas vezes fostes enganada como médium. Vedes agora os Espíritos que vos enganaram?
─ Sim. Vejo-os muito bem. Agora também queriam interferir, mas aqui, neste momento, eu os vejo com muita clareza. Não sou mais seu joguete. Assim, eu os repilo.
11. ─ Também dissestes que há poucos médiuns que não tenham sido mais ou menos enganados. De que depende isto?
─ Muito do médium e daquele que interroga.
12. ─ Peço que vos expliqueis mais claramente.
─ Quero dizer que sempre é possível, quando se queira, preservar-se dos maus Espíritos, e que a primeira condição para isto é não atraí-los pela fraqueza ou pelos defeitos. Quanto vos teria a dizer sobre isto! Ah! Se os médiuns soubessem quanto mal fazem a si próprios quando dão oportunidade aos Espíritos malévolos!
─ Quero dizer que sempre é possível, quando se queira, preservar-se dos maus Espíritos, e que a primeira condição para isto é não atraí-los pela fraqueza ou pelos defeitos. Quanto vos teria a dizer sobre isto! Ah! Se os médiuns soubessem quanto mal fazem a si próprios quando dão oportunidade aos Espíritos malévolos!
13. ─ É no mundo dos Espíritos que se expõem ao mal?
─ Sim; e também no mundo dos vivos.
─ Sim; e também no mundo dos vivos.
14. ─ Que mal isto lhes pode acarretar no mundo dos vivos?
─ Há muitos. Para começar, tornam-se presa dos maus Espíritos, que deles abusam e os impelem ao mal, excitando todos os defeitos que neles encontram em germe, principalmente o orgulho e a inveja. Depois, Deus os pune, às vezes, por penas na vida.
─ Há muitos. Para começar, tornam-se presa dos maus Espíritos, que deles abusam e os impelem ao mal, excitando todos os defeitos que neles encontram em germe, principalmente o orgulho e a inveja. Depois, Deus os pune, às vezes, por penas na vida.
OBSERVAÇÃO: Temos mais de um exemplo de médiuns dotados das mais felizes disposições, e que a desgraça perseguiu e abateu, depois que se deixaram dominar por maus Espíritos.
15. ─ Mas, então, não seria melhor não ser médium, desde que essa faculdade pode arrastar a tão graves inconvenientes?
─ Credes, então, que os maus Espíritos só vêm atacar os médiuns? A mediunidade, ao contrário, é um meio precioso de reconhecê-los e de se premunir contra eles. É o remédio que, em sua bondade, Deus põe ao lado do mal. É o aviso do bom pai que ama os seus filhos e quer preservá-los do perigo. Infelizmente, os que desfrutam desse dom não sabem ou não querem aproveitá-lo. São como o imprudente que se fere com a arma que deve servir para sua defesa.
─ Credes, então, que os maus Espíritos só vêm atacar os médiuns? A mediunidade, ao contrário, é um meio precioso de reconhecê-los e de se premunir contra eles. É o remédio que, em sua bondade, Deus põe ao lado do mal. É o aviso do bom pai que ama os seus filhos e quer preservá-los do perigo. Infelizmente, os que desfrutam desse dom não sabem ou não querem aproveitá-lo. São como o imprudente que se fere com a arma que deve servir para sua defesa.
16. ─ Sois vós mesma, Sra. Duret, que dais as respostas?
─ Sou eu mesma que as dou, e vo-lo certifico em nome de Deus. Mas creio que se tivesse sido abandonada a mim mesma, seria incapaz disso. Os pensamentos me vêm de mais alto.
─ Sou eu mesma que as dou, e vo-lo certifico em nome de Deus. Mas creio que se tivesse sido abandonada a mim mesma, seria incapaz disso. Os pensamentos me vêm de mais alto.
17. ─ Vedes o Espírito que vo-las inspira?
─ Não. Há aqui uma multidão de Espíritos, ante os quais me inclino, e cujos pensamentos parecem irradiar sobre mim.
─ Não. Há aqui uma multidão de Espíritos, ante os quais me inclino, e cujos pensamentos parecem irradiar sobre mim.
18. ─ Assim, um Espírito pode receber inspiração de outros, do mesmo modo que se fosse encarnado, e lhes servir de intermediário?
─ Disso não duvideis. Muitas vezes ele pensa responder por si mesmo, quando é apenas um eco.
─ Disso não duvideis. Muitas vezes ele pensa responder por si mesmo, quando é apenas um eco.
19. ─ Quer os pensamentos sejam pessoalmente vossos, quer sejam sugeridos, pouco nos importa, pois eles são bons, e nós agradecemos aos bons Espíritos que volos sugerem. Mas, então, perguntarei por que esses mesmos Espíritos não respondem diretamente?
─ Eles o fariam se os interrogásseis. Foi a mim que evocastes. Eles querem responder e, então, servem-se de mim para minha própria instrução.
─ Eles o fariam se os interrogásseis. Foi a mim que evocastes. Eles querem responder e, então, servem-se de mim para minha própria instrução.
20. ─ O Espírito que obsedou um médium em vida, obsedá-lo-á após a morte?
─ A morte não liberta o homem da obsessão dos maus Espíritos. É a figura dos demônios, atormentando as almas sofredoras. Sim, esses Espíritos os perseguem após a morte e lhes causam sofrimentos horríveis, porque o Espírito atormentado se sente num abraço de que não se pode libertar. Ao contrário, o que se libertou da obsessão em vida é forte, e os maus Espíritos o encaram com medo e respeito. Encontraram o seu superior.
─ A morte não liberta o homem da obsessão dos maus Espíritos. É a figura dos demônios, atormentando as almas sofredoras. Sim, esses Espíritos os perseguem após a morte e lhes causam sofrimentos horríveis, porque o Espírito atormentado se sente num abraço de que não se pode libertar. Ao contrário, o que se libertou da obsessão em vida é forte, e os maus Espíritos o encaram com medo e respeito. Encontraram o seu superior.
21. ─ Há muitos médiuns realmente bons, em toda a acepção da palavra?
─ Não são médicos que faltam, mas os bons médicos são raros. Dá-se o mesmo com os médiuns.
─ Não são médicos que faltam, mas os bons médicos são raros. Dá-se o mesmo com os médiuns.
22. ─ Por que sinal é possível reconhecer que as comunicações de um médium merecem confiança?
─ As comunicações dos bons Espíritos têm um caráter com o qual não nos podemos enganar, quando nos damos ao trabalho de estudá-las. Quanto ao médium, o melhor seria aquele que jamais tivesse sido enganado, pois isso seria a prova de que só atrai bons Espíritos.
─ As comunicações dos bons Espíritos têm um caráter com o qual não nos podemos enganar, quando nos damos ao trabalho de estudá-las. Quanto ao médium, o melhor seria aquele que jamais tivesse sido enganado, pois isso seria a prova de que só atrai bons Espíritos.
23. ─ Mas não há médiuns dotados de excelentes qualidades morais e que são enganados?
─ Sim, os maus Espíritos podem fazer tentativas, e não triunfam senão pela fraqueza ou pela excessiva confiança do médium que se deixa enganar. Mas isto não dura, e os bons Espíritos fàcilmente vencem, quando há vontade.
─ Sim, os maus Espíritos podem fazer tentativas, e não triunfam senão pela fraqueza ou pela excessiva confiança do médium que se deixa enganar. Mas isto não dura, e os bons Espíritos fàcilmente vencem, quando há vontade.
24. ─ A faculdade mediúnica é independente das qualidades morais do médium?
─ Sim. Por vezes, ela é dada em alto grau a pessoas viciosas, a fim de ajudar na sua correção. Será que os doentes não precisam mais de remédios que as pessoas sadias? Os maus Espíritos por vezes lhes dão bons conselhos sem o saberem; a isto são levados pelos bons Espíritos. Mas elas não os aproveitam porque, por orgulho, não os tomam para si.
─ Sim. Por vezes, ela é dada em alto grau a pessoas viciosas, a fim de ajudar na sua correção. Será que os doentes não precisam mais de remédios que as pessoas sadias? Os maus Espíritos por vezes lhes dão bons conselhos sem o saberem; a isto são levados pelos bons Espíritos. Mas elas não os aproveitam porque, por orgulho, não os tomam para si.
OBSERVAÇÃO: Isto é perfeitamente exato, e às vezes veem-se Espíritos inferiores darem duras lições, em termos pouco medidos; assinalar defeitos e pôr os caprichos em ridículo, com mais ou menos habilidade, conforme as circunstâncias, e por vezes de modo muito espirituoso.
25. ─ Bons Espíritos podem comunicar-se através de maus médiuns?
─ Às vezes, médiuns imperfeitos podem ter belas comunicações, que só podem vir de bons Espíritos. Mas, quanto mais sábias e sublimes essas comunicações, mais culpados os médiuns por não aproveitá-las. Oh! Sim. São muito culpados e sofrerão penas cruéis por sua cegueira.
─ Às vezes, médiuns imperfeitos podem ter belas comunicações, que só podem vir de bons Espíritos. Mas, quanto mais sábias e sublimes essas comunicações, mais culpados os médiuns por não aproveitá-las. Oh! Sim. São muito culpados e sofrerão penas cruéis por sua cegueira.
26. ─ As boas intenções e as qualidades pessoais de quem interroga podem conjurar os maus Espíritos, atraídos por um médium imperfeito, e lhe assegurar boas comunicações?
─ Os bons Espíritos apreciam a intenção e, quando julgam útil, podem servir-se de qualquer espécie de médium, segundo o fim em vista. Mas, em geral, as comunicações são tanto mais seguras quanto mais sérias as qualidades do médium.
─ Os bons Espíritos apreciam a intenção e, quando julgam útil, podem servir-se de qualquer espécie de médium, segundo o fim em vista. Mas, em geral, as comunicações são tanto mais seguras quanto mais sérias as qualidades do médium.
27. ─ Como nenhum homem é perfeito, segue-se que não há médiuns perfeitos?
─ Uns são tão perfeitos quanto o comporta a humanidade terrena. São raros, mas existem: são os preferidos por Deus e se preparam grandes alegrias no mundo dos Espíritos.
─ Uns são tão perfeitos quanto o comporta a humanidade terrena. São raros, mas existem: são os preferidos por Deus e se preparam grandes alegrias no mundo dos Espíritos.
28. ─ Quais os defeitos que dão mais acesso aos maus Espíritos?
─ Eu vo-lo disse: o orgulho, e também a inveja, que é uma decorrência do orgulho e do egoísmo. Deus ama os humildes e castiga os soberbos.
─ Eu vo-lo disse: o orgulho, e também a inveja, que é uma decorrência do orgulho e do egoísmo. Deus ama os humildes e castiga os soberbos.
29. ─ Disso concluís que o médium que não é humilde não merece nenhuma confiança?
─ Não de maneira absoluta. Mas se num médium reconheceis orgulho, inveja e pouca caridade, tendes muito mais chances de ser enganados.
─ Não de maneira absoluta. Mas se num médium reconheceis orgulho, inveja e pouca caridade, tendes muito mais chances de ser enganados.
OBSERVAÇÃO: O que perde muitos médiuns é o julgarem-se os únicos capazes de receber boas comunicações e desprezarem as dos outros. Julgam-se profetas e não passam de intérpretes de Espíritos astutos, que os enlaçam em suas redes, persuadindo-os de que tudo quanto escrevem é sublime e de que não mais precisam de conselhos. A crença de certos médiuns na infalibilidade e na superioridade de suas comunicações é tal, que nelas tocar é quase uma profanação; delas duvidar é quase uma injúria; ainda mais, é até expor-se a deles fazer inimigos, pois melhor seria dizer a um poeta que seus versos são ruins. Este sentimento, cujo princípio evidente é o orgulho, é alimentado pelos Espíritos que os assistem e que têm muito cuidado em lhes inspirar o afastamento de quem quer que pudesse esclarecê-los. Só isto deveria bastar, se não estivessem fascinados, para lhes abrir os olhos. Há um princípio que ninguém poderia contestar, o de que os bons Espíritos só podem aconselhar o bem. Portanto, tudo quanto não for o bem, no sentido absoluto, não pode vir de um bom Espírito. Consequentemente, todo conselho ditado, ou todo sentimento inspirado que reflita o menor pensamento mau, é, por isso mesmo, de origem suspeita, sejam quais forem, aliás, as qualidades ou a redundância do estilo.
Um sinal não menos característico dessa origem é a adulação, de que os maus Espíritos não são avaros, em relação a certos médiuns. A propósito, eles sabem elogiar seus dotes físicos ou suas qualidades morais; acariciar suas secretas inclinações; excitar sua cobiça e sua cupidez e, mesmo censurando o orgulho e aconselhando a humildade, estimular sua vaidade e seu amor-próprio. Um dos meios que empregam consiste sobretudo em persuadi-los de sua superioridade como médiuns, colocando-os como apóstolos de missões, pelo menos duvidosas, e para as quais a primeira de todas as qualidades seria a humildade, unida à simplicidade e à caridade.
Ofuscados por nomes de seres veneráveis, dos quais se julgam intérpretes, não veem as más intenções que os falsos Espíritos deixam transparecer, malgrado seu, porque seria impossível a Espíritos inferiores simular completamente todas as qualidades que não possuem. Os médiuns não se libertarão realmente da obsessão de que são vítimas, senão quando compreenderem esta verdade. Só então os maus Espíritos, por seu lado, compreenderão que perdem seu tempo com pessoas que não poderiam pegar em falta.
(SOCIEDADE, 25 DE MAIO DE 1860)
30. ─ Ao que parece, vosso marido possui a faculdade da vidência. Ele a tem realmente?
─ Sim, positivamente.
─ Sim, positivamente.
31. ─ Diz ele vos ter visto duas vezes após a vossa morte. Isto é verdade?
─ É verdade, sim.
─ É verdade, sim.
32. ─ Os médiuns videntes estão sujeitos a ser enganados pelos Espíritos impostores, como os médiuns escreventes?
─ Eles são enganados menos vezes que os escreventes, mas igualmente podem sê-lo, pelas falsas aparências, quando não inspirados por Deus. Sob os Faraós, ao tempo de Moisés, os falsos profetas não faziam milagres que enganavam o povo? Só Moisés não se enganava, porque era inspirado por Deus.
─ Eles são enganados menos vezes que os escreventes, mas igualmente podem sê-lo, pelas falsas aparências, quando não inspirados por Deus. Sob os Faraós, ao tempo de Moisés, os falsos profetas não faziam milagres que enganavam o povo? Só Moisés não se enganava, porque era inspirado por Deus.
33. ─ Quereis explicar-nos agora vossas sensações à entrada no mundo dos Espíritos? Além da perturbação mais ou menos longa, que sempre segue à morte, houve um instante em que vosso Espírito perdeu toda a consciência de si mesmo?
─ Sim, como sempre; é impossível ser de outro modo.
─ Sim, como sempre; é impossível ser de outro modo.
34. ─ Essa perda absoluta da consciência começou antes do instante da morte?
─ Começou na agonia.
─ Começou na agonia.
35. ─ Persistiu após a morte?
─ Muito pouco tempo.
─ Muito pouco tempo.
36. ─ Ao todo, quanto tempo pode ter durado?
─ Cerca de 15 a 18 de vossas horas.
─ Cerca de 15 a 18 de vossas horas.
37. ─ Tal duração é variável, conforme os indivíduos?
─ Certamente. Não é a mesma para todos os homens. Depende muito do gênero de morte.
─ Certamente. Não é a mesma para todos os homens. Depende muito do gênero de morte.
38. ─ Enquanto se realizava o fenômeno da morte, tínheis consciência do que se passava com o corpo?
─ Absolutamente nenhuma. Deus, que é bom para todas as suas criaturas, quer poupar ao Espírito as angústias desse momento, por isso lhe tira toda lembrança e toda sensação.
─ Absolutamente nenhuma. Deus, que é bom para todas as suas criaturas, quer poupar ao Espírito as angústias desse momento, por isso lhe tira toda lembrança e toda sensação.
OBSERVAÇÃO: Este fato, que nos tem sido sempre confirmado, é análogo ao que se passa na volta do Espírito ao mundo corporal. Sabe-se que no momento da concepção o Espírito designado para habitar o corpo que deve nascer é tomado por uma perturbação que vai crescendo à medida que os laços fluídicos que o unem à matéria se apertam, até as proximidades do nascimento. Nesse momento, perde igualmente toda a consciência de si mesmo e não começa a recobrar as ideias senão no momento em que a criança respira. Só então é que se torna completa e definitiva a união entre o Espírito e o corpo.
39. ─ Como se operou o instante do despertamento? Vós vos reconhecestes subitamente ou houve um momento de semiconsciência, isto é, um vazio nas ideias?
─ Fiquei uns instantes nesse estado, depois, pouco a pouco, eu me reconheci.
─ Fiquei uns instantes nesse estado, depois, pouco a pouco, eu me reconheci.
40. ─ Quanto durou esses estado?
─ Não sei ao certo, mas durou pouco tempo. Creio que umas duas horas.
─ Não sei ao certo, mas durou pouco tempo. Creio que umas duas horas.
41. ─ Durante essa espécie de meio-sono, experimentastes uma sensação agradável ou penosa?
─ Não sei. Quase não tinha consciência de mim mesma.
─ Não sei. Quase não tinha consciência de mim mesma.
42. ─ À medida que as ideias clareavam, tínheis a certeza da morte do corpo, ou, por um instante, crestes estar ainda neste mundo?
─ Na verdade o acreditei por alguns instantes.
─ Na verdade o acreditei por alguns instantes.
43. ─ Quando tivestes a certeza da morte, sentistes pesar?
─ Não, absolutamente. A perda da vida não é para ser deplorada.
─ Não, absolutamente. A perda da vida não é para ser deplorada.
44. ─ Quando vos reconhecestes, em que lugar vos acháveis, e o que foi que em primeiro lugar vos feriu a vista?
─ Encontrei-me com Espíritos que me rodeavam e que me ajudavam a sair da perturbação. Foi essa mudança que me chocou.
─ Encontrei-me com Espíritos que me rodeavam e que me ajudavam a sair da perturbação. Foi essa mudança que me chocou.
45. ─ Encontraste-vos junto ao vosso marido?
─ Eu pouco o deixo. Ele me vê, evoca-me, e isto substitui meu pobre corpo.
─ Eu pouco o deixo. Ele me vê, evoca-me, e isto substitui meu pobre corpo.
46. ─ Fostes imediatamente rever as pessoas conhecidas: o Sr. Dumas e os outros espíritas de Sétif?
─ Não imediatamente. Pensei que me evocariam. Não havia muito que os havia deixado e me parecia que os tinha conhecido e que não os via há séculos. Eu era médium e espírita. Todos os Espíritos que eu havia evocado vieram rever-me. Isto me tocou. Se soubésseis como é agradável reencontrar os amigos neste mundo!
─ Não imediatamente. Pensei que me evocariam. Não havia muito que os havia deixado e me parecia que os tinha conhecido e que não os via há séculos. Eu era médium e espírita. Todos os Espíritos que eu havia evocado vieram rever-me. Isto me tocou. Se soubésseis como é agradável reencontrar os amigos neste mundo!
47. ─ O mundo dos Espíritos vos pareceu uma coisa estranha e nova?
─ Oh! Sim.
─ Oh! Sim.
48. ─ Esta resposta nos admira, porque não é a primeira vez que vos achais no mundo dos Espíritos.
─ Isto nada tem de que se deva admirar. Eu não era tão adiantada quanto hoje. E depois, a diferença é tão grande entre o mundo corporal e o dos Espíritos, que surpreende sempre.
─ Isto nada tem de que se deva admirar. Eu não era tão adiantada quanto hoje. E depois, a diferença é tão grande entre o mundo corporal e o dos Espíritos, que surpreende sempre.
49. ─ Vossa explicação poderia ser mais clara. Isto não seria porque cada vez que se retorna ao mundo dos Espíritos, os progressos realizados dão novas percepções e permitem encará-lo sob outro aspecto?
─ É bem isto. Eu vos disse que não era tão adiantada quanto hoje.
─ É bem isto. Eu vos disse que não era tão adiantada quanto hoje.
OBSERVAÇÃO: A comparação seguinte permite compreender o que se passa em tal circunstância. Suponhamos um pobre camponês, que venha a Paris pela primeira vez: frequentará uma sociedade e morará num bairro compatível com a sua situação. Depois de uma ausência de alguns anos, durante os quais tivesse ficado rico e adquirido certa educação, volta a Paris e encontra-se num meio completamente diverso do da primeira vez, e que lhe parecerá novo. Compreenderá e apreciará uma porção de coisas que bem pouco lhe haviam despertado a atenção da primeira vez. Numa palavra, ele terá dificuldade para reconhecer sua antiga Paris e, contudo, será sempre Paris, mas que se lhe apresenta sob um novo aspecto.
50. ─ Como julgais agora as comunicações dadas em Sétif: são, em geral, antes boas que más?
─ São como em toda parte: há boas e más, verdadeiras e falsas. Muitas vezes as pessoas se ocupam de coisas que não são bastante sérias e nem sempre andam bem. Mas não julgam fazer mal. Tentarei corrigi-los.
─ São como em toda parte: há boas e más, verdadeiras e falsas. Muitas vezes as pessoas se ocupam de coisas que não são bastante sérias e nem sempre andam bem. Mas não julgam fazer mal. Tentarei corrigi-los.
51. ─ Agradecemos a bondade de ter vindo e pelas explicações dadas.
─ Também vos agradeço por terdes pensado em mim.
─ Também vos agradeço por terdes pensado em mim.
Medicina intuitiva
Plessis - Boudet, 23 de maio de 1860
Senhor,
Em minha última carta dei-vos um boletim das curas obtidas por meio da medicação da Srta. Godu. Tenho ainda a intenção de vos manter ao corrente dos fatos, mas hoje julgo mais útil falar do seu modo de tratar. É bom pôr as pessoas a par disso, porque de longe nos vêm doentes que têm uma falsa ideia desse gênero de medicação, e que se expõem a fazer uma viagem inútil ou de pura curiosidade.
A Srta. Godu não é sonâmbula. Jamais consulta à distância, nem mesmo em meu domicílio, senão sob minha direção e meu controle. Quando estamos de acordo, o que acontece quase sempre, pois estou agora em condições de apreciar sua medicação, começamos o tratamento convencionado e a Srta. Godu faz os curativos, prepara as tisanas e, numa palavra, age como enfermeira, mas enfermeira de elite, e com um zelo incomparável, em nossa modesta casa de saúde improvisada.
Será por um fluido depurador de que seria dotada que obtém tão preciosos resultados?
Será por sua assiduidade na aplicação dos pensos, ou pela confiança que inspira?
Será, enfim, por um sistema de medicação bem concebido e bem dirigido, que ela obtém sucesso?
Tais são as três perguntas que muitas vezes me faço.
Por enquanto, não quero entrar na primeira questão, porque exige um estudo aprofundado e uma discussão científica de primeira ordem. Ela virá mais tarde.
Quanto à segunda questão, hoje posso responder afirmativamente, desde que a Srta. Godu se acha nas mesmas condições de todos os médicos, enfermeiras ou operadores que sabem levantar o moral dos doentes e lhes inspirar uma salutar confiança.
Quanto à terceira questão, não hesito mais em respondê-la afirmativamente.
Quanto à terceira questão, não hesito mais em respondê-la afirmativamente.
Adquiri a convicção de que a medicação da Srta. Godu constitui todo um sistema muito metódico. Este sistema é simples em sua teoria, mas, na prática, varia ao infinito, e é na aplicação que reclama toda a atenção e toda a habilidade possíveis. O profissional mais apto acha difícil compreender, num primeiro momento, esse mecanismo e essa série de modificações incessantes, em razão do progresso ou do declínio da doença. Fica ofuscado e pouco compreende; mas, com o tempo, dá-se conta facilmente dessa medicação e dos seus efeitos.
Seria muito longo vos enumerar em detalhes, e currente calamo17, todo um sistema médico novo para nós, posto que, sem dúvida, muito antigo em relação à idade do homem no planeta. Eis as bases sobre as quais repousa esse sistema, que raramente sai da medicina revulsiva.
Na maioria dos casos, a Srta. Godu aplica um tópico extrativo, composto de uma ou duas matérias, encontradas por toda parte, na cabana como no castelo. Esse tópico tem um efeito tão enérgico, que se obtêm efeitos incomparavelmente superiores a todos os nossos revulsivos conhecidos, sem excetuar o cautério atual e as moxas. Às vezes, ela se limita à aplicação de vesicatórios, quando um efeito enérgico não é indispensável. A habilidade consiste em adequar as doses do remédio à gravidade do mal; em manter uma supuração constante e variada, e eis o que ela obtém com um unguento tão simples que não se pode considerar como um medicamento. Pode-se dizer que são semelhantes aos ceratos simples e mesmo às cataplasmas, contudo, esse unguento produz efeitos seguros e extremamente variados: aqui são sais calcários que surgem sobre o emplasto; nos hidrópicos, é água; na gente com humores, é uma supuração abundante, ora clara, ora espessa; enfim, os efeitos de seu unguento variam ao infinito, por uma causa que ainda não apreendi e que, aliás, deve entrar no estudo da primeira questão. Isto quanto ao exterior. Mais tarde, dir-vos-ei uma palavra sobre a medicação interna, que compreendo facilmente. Não se deve pensar que o mal seja tirado com a mão. Como sempre, são precisos tempo e perseverança para curar radicalmente as doenças rebeldes.
Aceitai, etc.
MORHÉRY.
Uma semente de loucura
O Journal de la Haute-Saône citou, ultimamente, o seguinte fato:
“Viram-se reis destronados sepultar-se nas ruínas de seus palácios; veem-se jogadores infelizes renunciar à vida após a perda da fortuna; mas um proprietário que se suicida para não sobreviver à expropriação de um bosque, é o que talvez nunca se viu, antes do caso que relatamos. Um proprietário de Saint-Loup recebeu comunicado de que um de seus bosques seria expropriado a 14 de maio, pela Companhia de Estradas de Ferro do Leste. A informação o afetou profundamente.
Não podia suportar a ideia de separar-se de seu bosque, e deu sinais de alienação mental. A 2 de maio saiu de casa, às três da manhã, e afogou-se no ribeirão de Combeauté.”
Com efeito, é difícil suicidar-se por uma causa tão fútil. Um ato tão desarrazoado só se explica por um desarranjo no cérebro. Mas, o que foi que produziu o desarranjo? Com certeza, não foi a crença nos Espíritos. O fato da desapropriação do campo? Nesse caso, por que todos os que sofrem desapropriações não ficam loucos? Dirão que é porque nem todos têm o cérebro tão fraco. Então, admitis uma predisposição natural para a loucura. Não poderia ser de outra forma, desde que a mesma causa nem sempre produz o mesmo efeito, já o dissemos muitas vezes, em resposta aos que acusam o Espiritismo de provocar a loucura. Que digam se, antes de tratar-se de Espíritos, não havia loucos, e se há loucos apenas entre os que creem nos Espíritos? Uma causa física ou uma violenta comoção moral só produzirão uma loucura instantânea. Fora disso, se examinarmos os antecedentes, sempre serão encontrados sintomas que uma causa fortuita pode desenvolver. Então a loucura toma o caráter da preocupação principal. O louco fala do que o preocupa, mas a causa não é essa preocupação; é, de alguma maneira, uma forma de manifestação. Assim, havendo uma predisposição para a loucura, aquele que se ocupa de religião terá uma loucura religiosa; o amor produzirá a loucura amorosa; a ambição, a loucura das honras e das riquezas, etc. No caso acima referido, seria absurdo ver outra coisa além de um simples efeito que qualquer outra causa teria provocado, pois existia a predisposição. Agora, vamos mais longe: dizemos bem alto que se esse proprietário, tão impressionável em relação ao seu bosque, estivesse imbuído profundamente dos princípios do Espiritismo, não teria enlouquecido nem se afogado. Duas desgraças teriam sido evitadas, como nos mostram numerosos exemplos. A razão disso é evidente. A loucura tem como causa primeira uma relativa fraqueza moral, que torna o indivíduo incapaz de suportar o choque de certas impressões, em cujo número figuram, ao menos em três quartas partes, a mágoa, o desespero, o desapontamento e todas as tribulações da vida. Dar ao homem a força necessária para ver essas coisas com indiferença, é atenuar a causa mais frequente que o leva à loucura e ao suicídio. Ora, essa força ele tira da Doutrina Espírita bem compreendida. Ante a grandeza do futuro que ela desenrola aos nossos olhos, e de que dá prova patente, as tribulações da vida se tornam tão efêmeras, que deslizam sobre a alma como água sobre o mármore, sem deixar traços. O verdadeiro espírita não se liga à matéria senão na medida das necessidades da vida. Mas, se lhe falta alguma coisa, resigna-se, porque sabe estar aqui de passagem e que uma sorte muito melhor o aguarda. Assim, isso não o aborrece mais do que se encontrasse acidentalmente uma pedra em seu caminho. Se o nosso homem estivesse imbuído dessas ideias, em que se teria tornado o bosque aos seus olhos? A contrariedade sofrida seria insignificante ou nula, e uma desgraça imaginária não o teria arrastado a uma desgraça real. Em resumo, um dos efeitos, e nós podemos dizer um dos benefícios do Espiritismo, é o de dar à alma a força que lhe falta em muitas circunstâncias, e é nisto que ele pode reduzir as causas de loucura e de suicídio. Como se vê, os mais simples fatos podem ser uma fonte de ensinamentos para quem quer refletir. É mostrando as aplicações do Espiritismo nos mais vulgares casos que se fará compreender toda a sua sublimidade. Não está nisso a verdadeira filosofia?
Tradição muçulmana
Extraímos a passagem seguinte da sábia e notável obra do Sr. Géraldy Saintine, publicada sob o título de Três Anos na Judéia.
“Quando o sultão de Babel Bakhtunnassar (Nabucodonosor) foi enviado por Deus para punir os filhos de Israel, que tinham abandonado a doutrina da unidade, ele despojou o templo de todos os objetos preciosos que ali se achavam. Reservando para si o trono de Salomão com seus suportes, os dois leões de ouro puro animados por uma arte mágica que defendiam a entrada, distribuiu o resto do saque aos diversos reis da corte. O rei de Roum recebeu as roupas de Adão e a vara de Moisés; o rei de Antakie teve o trono de Belkis e o pavão maravilhoso cuja cauda, toda em pedrarias, formava no trono um rico dossel; o rei de Andaluzia ficou com a mesa de ouro do Profeta. Um cofre de pedra, que continha a Torá (Bíblia) estava no meio de todas essas riquezas e ninguém lhe dava atenção, posto fosse o mais precioso de todos os tesouros. Assim, deixaram-no abandonado ao capricho dos salteadores que percorriam a cidade e o templo passando a mão em tudo o que encontravam; e o depósito da palavra divina desapareceu nessa imensa desordem.
“Quarenta anos mais tarde, estando aplacada a sua cólera, Deus resolveu restabelecer os filhos de Israel em sua herança e suscitou o Profeta Euzer (Esdras), ─ Que Deus o salve! ─ predestinado pela vontade divina, a uma missão gloriosa. Tinha ele passado toda a juventude na prece e na meditação, negligenciando as Ciências Humanas para se absorver na contemplação do Ser Infinito, e vivia separado do mundo, no fundo de uma das grutas que circundam a cidade santa. Essa gruta ainda hoje se chama el Azérie. * Obedecendo à ordem de Deus, saiu de seu retiro e veio para junto dos filhos de Israel, indicar-lhes como deveriam reconstruir o templo e restabelecer a honra dos antigos ritos.
“Mas o povo não acreditou na missão do profeta. Declarou que não se submeteria à lei; que até cessaria os trabalhos de construção do templo e iria habitar outras terras, se não lhe apresentassem o livro em que nosso senhor Moisés ─ Que Deus o salve! ─ tinha consignado todas as prescrições religiosas a ele ditadas no Monte Sinai. O livro havia desaparecido e todas as buscas para encontrá-lo tinham sido infrutíferas. “Euzer, então, nesse grande embaraço, fez a Deus fervorosas preces, para que o tirasse do sofrimento e impedisse o povo de persistir na via da perdição. Estava sentado debaixo de uma árvore, contemplando com tristeza as ruínas do templo, em redor do qual se agitava uma multidão indócil, quando uma voz do alto lhe ordenou que escrevesse. Embora jamais tivesse pegado num qalam (pena, pincel), obedeceu imediatamente. Depois da prece do meio dia até o dia seguinte à mesma hora, sem se alimentar e sem se levantar do solo santo onde estava sentado, continuou a escrever tudo o que lhe ditava a voz celeste, não hesitando um instante, nem se interrompendo diante das trevas da noite, porque uma luz sobrenatural iluminava o seu espírito e um anjo lhe guiava a mão.
“Todos os filhos de Israel estavam pasmados e contemplavam em silêncio essa manifestação da onipotência divina. Mas quando o profeta terminou sua cópia miraculosa, os imãs, invejosos do favor particular do qual ele acabava de ser objeto, pretenderam que o novo livro fosse uma invenção diabólica e que em nada se parecia com o antigo.
“Euzer voltou-se novamente à Bondade Infinita e, cedendo a uma inspiração súbita, dirigiu-se, seguido por todo o povo, para a fonte de Siloé. Chegado diante da fonte, levantou as mãos ao céu, fez uma longa e ardente prece, e toda a multidão se prosternou com ele. De repente, na superfície da água apareceu uma pedra quadrada, que flutuava como se sustentada por uma mão invisível. Nela os imãs reconheceram, trêmulos, a arca sagrada, há muito perdida. Euzer a tomou com respeito. A arca abriu-se por si mesma. A Torá de Moisés saiu dela, como se animada de vida própria, e a nova cópia, escapando-se do seio do profeta, foi colocar-se na caixa sagrada.
“Não era mais possível a dúvida. Contudo, o santo homem exigiu que os imãs confrontassem os dois exemplares. Estes, a despeito de sua confusão, obedeceram à sua vontade. Após longo exame, testemunharam em altas vozes que nenhuma palavra, nenhum kareket (acento) apresentava a menor diferença entre o livro escrito por Euzer e o que tinha sido traçado por Moisés. Desde que prestaram essa homenagem à verdade, Deus, para puni-los por seus primeiros erros, apagou os seus olhos e os mergulhou em trevas eternas.
“Foi assim que os filhos de Israel foram reconduzidos à fé dos seus pais. O lugar onde se havia sentado o chefe que Deus lhes tinha dado foi chamado depois Kerm ech Cheick (cercado ou vinha do Scheik).”
Quem não reconheceria no relato vários fenômenos espíritas que os médiuns reproduzem aos nossos olhos e que nada têm de sobrenatural?
_________________________________________
* Nome árabe da gruta conhecida sob o nome do túmulo de lázaro.
Erro de linguagem de um Espírito
Recebemos a carta seguinte, a propósito do fato relatado na Revista Espírita de maio, no artigo “Pneumatografia ou escrita direta”: Senhor,
Só hoje li o vosso número de maio, e nele encontro o relato de uma experiência de escrita direta, feita em minha presença, em casa da Srta. Huet. É-me um prazer confirmar o relato, exceção de uma pequena inexatidão, que escapou ao narrador.
Não é God loves you, mas God love you, que encontramos no papel, isto é, o verbo love, sem o s, não estava na terceira pessoa do singular do indicativo presente.
Assim, não se poderia traduzir por Deus vos ama, a menos que se subentenda a existência de um que e se dê à frase uma forma de imperativo ou de subjuntivo. A observação foi feita na sessão seguinte ao Espírito de Channing (se é que foi mesmo ao Espírito de Channing, pois me conheceis e vos peço permissão para conservar minhas dúvidas sobre a identidade absoluta dos Espíritos); e o Espírito de Channing, digo eu, não se explicou muito categoricamente a respeito desse s omitido de propósito ou por inadvertência. Ele próprio nos censurou um pouco, se tenho boa memória, por ligar importância a uma letra a mais ou a menos numa experiência tão notável.
A despeito dessa censura amistosa feita pelo Espírito de Channing, julguei dever comunicar-vos a minha observação sobre a maneira que a palavra love foi escrita. O honrado Sr. E. de B..., que ficou com o papel, pode mostrá-lo e o mostrará a muitas pessoas, e entre essas pessoas poderá haver quem tenha conhecimento do vosso último número. Ora, importa ─ e estou persuadido de que sois de minha opinião ─ que a maior fidelidade se encontre no relato de fatos tão estranhos e tão maravilhosos que obtemos.
Recebei, etc.
MATHIEU.
MATHIEU.
Havíamos notado perfeitamente a falta assinalada pelo Sr. Mathieu e incumbimo-nos de corrigi-la, sabendo, por experiência, que os Espíritos ligam muito pouca importância a essas espécies de pecadilhos, com os quais os mais esclarecidos não têm nenhum escrúpulo. Assim, não ficamos absolutamente admirados da observação de Channing em presença, como o disse, de um fato insignificante. A exatidão na reprodução dos fatos é, sem dúvida, uma coisa essencial. Mas a importância de tais fatos é relativa, e confessamos que se devêssemos sempre, para o francês, seguir a ortografia dos invisíveis, os senhores gramáticos iriam divertir-se, tratando-os de cozinheiros, mesmo quando o médium tenha passado nessas matérias.
Temos um, ou uma, na Sociedade, cheia de diplomas, e cujas comunicações, por vezes escritas muito calmamente, têm numerosos erros deste gênero. Os Espíritos sempre nos dizem: “Ligai ao fundo e não à forma; para nós, o pensamento é tudo; a forma, nada. Corrigi, pois, a forma, se quiserdes. Nós vos deixamos esse cuidado”.
Se a forma for defeituosa, não a conservamos senão quando pode servir de ensinamento. Ora, tal não era o caso, em nossa opinião, no fato acima, porque o sentido estava evidente.
Ditados espontâneos e dissertações espíritas
A vaidade(Pela Sra. Leso..., Médium)
Quero falar-te da vaidade, que se mistura a todas as ações humanas. Ela mancha todos os pensamentos delicados; penetra o coração e o cérebro. Planta má, abafa a bondade em seu germe; todas as qualidades são aniquiladas por seu veneno.
Para lutar contra ela, é preciso usar a prece; só ela nos dá a humildade e a força. Incessantemente, ó homens ingratos, vos esqueceis de Deus. Ele não é para vós senão o socorro implorado na aflição, e jamais o amigo convidado para o banqueteda alegria. Para iluminar o dia, ele vos deu o sol, radiação gloriosa, e para clarear a noite, as estrelas, flores de ouro. Por toda parte, ao lado dos elementos necessários à Humanidade, pôs o luxo necessário à beleza de sua obra. Deus vos tratou como faria um anfitrião generoso que, para receber os convidados, multiplica o luxo de sua morada e a abundância do festim. Que fazeis vós, que tendes apenas o coração para lhe oferecer? Longe de enfeitá-lo de alegria e de virtudes, longe de lhe oferecer as premissas de vossas esperanças, não o desejais, não o convidais a vos penetrar o coração, senão quando o luto e as amargas decepções vos arranharam e feriram. Ingratos! Que esperais para amar vosso Deus? A desgraça e o abandono. Ofereceilhe antes o vosso coração livre de dores; oferecei-lhe, como homens em pé, e não como escravos de joelhos, vosso amor isento de medo, e na hora do perigo ele se lembrará de vós, que não o esquecestes na hora da felicidade.
GEORGES (Espírito Familiar)
A miséria humana
A miséria humana não está na incerteza dos acontecimentos que ora nos elevam, ora nos rebaixam. Está inteira no coração ávido e insaciável que incessantemente aspira a receber, que se lamenta da secura de outrem e jamais se lembra da própria aridez. Essa desgraça de aspirar acima de si mesmo; essa desgraça de não poder satisfazer-se com as mais caras alegrias; essa desgraça, digo eu, constitui a miséria humana. Que importa o cérebro; que importam suas mais brilhantes faculdades, se elas são sempre ensombradas pelo desejo amargo e insaciável de algo que lhe escapa sem cessar? A sombra flutua junto ao corpo; a felicidade flutua junto à alma, para ela inatingível. Contudo, não vos deveis lamentar nem maldizer a sorte, porque essa sombra, essa felicidade fugidia e móvel como a onda, pelo ardor e pela angústia que deposita no coração, dá-nos a prova da divindade aprisionada na humanidade. Amai, pois, a dor e sua poesia vivificante, que faz vibrar vossos Espíritos pela lembrança da pátria eterna. O coração humano é um cálice cheio de lágrimas; mas vem a aurora, que beberá a água dos vossos corações; ela será para vós a vida que deslumbrará vossos olhos, enceguecidos pela escuridão da prisão carnal. Coragem! Cada dia é uma libertação. Marchai pelo caminho doloroso; marchai, acompanhando com o olhar a misteriosa estrela da esperança.
GEORGES (Espírito familiar)
A tristeza e o pesar
(Pela Sra. Leso..., Médium)
É um erro ceder frequentemente à tristeza. Não vos enganeis. O pesar é o sentimento firme e honesto que fere o homem atingido no seu coração ou nos seus interesses, mas a vil tristeza não passa de manifestação física do sangue vagaroso ou precipitado em seu curso. A tristeza encobre com seu nome muito egoísmo e muita fraqueza. Debilita o espírito que a ela se abandona. Ao contrário, o pesar é o pão dos fortes; este amargo alimento nutre as faculdades do espírito e diminui a parte animal.
Não busqueis o martírio do corpo, mas sede ávidos pelo martírio da alma. Os homens compreendem que devem mover pernas e braços para manter a vida do corpo, e não compreendem que devem sofrer para exercitar as faculdades morais. A felicidade, ou apenas a alegria, são hóspedes tão passageiros da Humanidade, que não podeis, sem ser por elas esmagados, suportar a sua presença, por mais ligeira que seja. Fostes feitos para sofrer e sonhar incessantemente com a felicidade, porque sois aves sem asas, pregadas ao solo, que olhais o céu e desejais o espaço.
GEORGE (Espírito familiar)
OBSERVAÇÃO: Estas duas comunicações encerram incontestavelmente belíssimos pensamentos e imagens de grande elevação, mas elas nos parecem escritas sob o império de ideias um pouco sombrias e um tanto misantrópicas.
Parece haver nelas a expressão de um coração ulcerado. O Espírito que as ditou morreu há poucos anos; em vida era amigo do médium, do qual, após a morte, tornou-se o gênio familiar. Era um pintor de talento, cuja vida tinha sido calma e muito despreocupada. Mas quem sabe se isso teria acontecido da mesma forma na existência precedente? Seja como for, todas as suas comunicações atestam muita profundeza e sabedoria. Poder-se-ia crer que são o reflexo do caráter da médium. A Sra. Lesc... é, sem contradita, uma senhora muito séria e acima do vulgar, sob muitos aspectos, e é isso que, sem dúvida, abstração feita de sua faculdade mediúnica, lhe granjeia a simpatia dos bons Espíritos. Mas a mensagem seguinte, obtida na Sociedade, prova que ela pode receber comunicações de caracteres muito variados.
A fantasia
(Médium, Sra. Leso...)
Queres que te fale da fantasia. Ela foi minha rainha, minha dona, minha escrava. Eu a servi e a dominei. Mas embora sempre sujeito às suas adoráveis flutuações, jamais lhe fui infiel. É ainda ela que me impele a falar de outra coisa: da facilidade com que o coração carrega dois amores, facilidade mal vista e muito censurada. Considero absurda essa censura dos bons burgueses que só gostam de seus pequenos vícios moderados, ainda mais enfadonhos que suas virtudes. Eles só admitem o que os seus miolos podados e cercados de sebes como um jardim de padre conseguem entender. Tens medo do que te digo; fica tranquila; Musset tem a sua garra; não se lhe podem pedir gentilezas de cãezinhos amestrados. É preciso suportar e compreender suas piadas, verdadeiras sob sua aparência frívola, tristes sob sua alegria, risonhas nas suas lágrimas.
ALFRED DE MUSSET
OBSERVAÇÃO: Uma pessoa que só tinha ouvido esta comunicação à sua primeira leitura dizia, numa sessão íntima, que ela lhe parecia de pouca significação.
O Espírito de Sócrates, que participava da conversa, respondendo a essa observação, escreveu espontaneamente: “Não, tu te enganas; relê; há coisas boas; ela é muito inteligente e isto tem o seu lado bom. Diz-se que nisto se conhece o homem. Com efeito, é mais fácil provar a identidade de um Espírito do vosso tempo do que do meu. Para certas pessoas é útil que de vez em quando tenhais comunicações desta espécie”.
Um outro dia, numa conversa sobre médiuns, referindo-se ao caráter de Alfred de Musset, que um dos assistentes acusava de ter sido muito material em vida, este escreveu espontaneamente a notável comunicação seguinte, por um de seus médiuns preferidos.
Influência do médium sobre o Espírito
(Médium, Sra. Schmidt)
Só os Espíritos superiores podem comunicar-se indistintamente com todos os médiuns e manter em todas as situações a mesma linguagem. Mas eu não sou um Espírito superior, por isso às vezes sou um pouco material. Contudo, sou mais adiantado do que pensais.
Quando nos comunicamos por um médium, a emanação de sua natureza se reflete mais ou menos sobre nós. Por exemplo, se o médium é dessas naturezas em que predomina o coração; desses seres mais adiantados, capazes de sofrer por seus irmãos; enfim, dessas almas devotadas, grandes, que a infelicidade tornou fortes e que ficaram puras no meio da tormenta, então o reflexo faz bem, no sentido de nos corrigirmos espontaneamente e nossa linguagem se ressentir. Mas, no caso contrário, se nos comunicamos através de um médium de uma natureza menos elevada, servimo-nos meramente e simplesmente de sua faculdade como de um instrumento. É então que nos tornamos o que chamas de um pouco material. Dizemos coisas espirituais, se quiseres, mas pomos de lado o coração.
Pergunta: ─ Os médiuns instruídos, de espírito culto, são mais aptos a receber comunicações elevadas que os não instruídos?
Resposta: ─ Não; repito. Só a essência da alma se reflete sobre os Espíritos, mas os Espíritos superiores são os únicos invulneráveis.
ALFRED DE MUSSET
Bibliografia
Num artigo acima falamos de uma nova publicação periódica sobre o Espiritismo, feita em Londres, sob o título de The Spiritual Magazine. A Itália não fica atrás do movimento que eleva as ideias para o mundo invisível. Recebemos o prospecto de um jornal que se publica em Gênova, sob o título de L’AMORE DEL VERO, periodico de scienze, litteratura, belle arti, magnetismo animale, omeopatia, elettro-telegrafia, Spiritismo, ec. Sotto la direzzione dei signori D. Pietro Gatti e B. E. Maineri. Esse jornal aparece três vezes por mês, em cadernos de 18 páginas.
O Dr. Gatti, diretor do Instituto Homeopático de Gênova, é um adepto esclarecido do Espiritismo, e não duvidamos que as questões relativas a esta ciência sejam tratadas por ele com o talento e a sagacidade que o caracterizam.
A HISTÓRIA DE JOANA D’DARC, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux, cuja reimpressão anunciamos, acaba de aparecer na Livraria Ledoyen.
Referimo-nos a essa obra notável na Revista Espírita de janeiro de 1858. Desde então, nossa opinião não variou quanto à sua importância, não só do ponto de vista histórico, mas como um dos fatos mais curiosos de manifestação espírita. A reedição era vivamente reclamada, e não duvidamos que obtenha um sucesso tanto maior, quanto os partidários da nova ciência são hoje mais numerosos do que no tempo da primeira publicação.
ALLAN KARDEC
ALLAN KARDEC