Ditados espontâneos e dissertações espíritasDesenvolvimento das ideias. A propósito da evocação de Thilorier. (Médium, Sra. Costel)
A propósito da evocação de Thilorier (Médium, Sra. Costel)
Vou
falar-vos a propósito da necessidade de reunir elementos diversos do
Espírito para formar um todo. É ilusão comum pensar que para se
desenvolver uma aptidão especial não se necessite senão de estudo
especial. Não. O Espírito humano, como um rio, se avoluma com todos os
afluentes. O homem não deve isolar-se no seu trabalho, isto é, deve,
pelos contrastes os mais opostos, fazer brotar a força das ideias. A
originalidade é o contraste das ideias-mães; é uma das mais raras
superioridades. Desde a infância ela é abafada pela regra absurda, que
rebaixa todos os Espíritos ao mesmo nível. Vou explicar minha ideia.
Thilorier, que acabam de evocar, era um inventor apaixonado, uma
inteligência ativa, mas se havia fechado na esfera da invenção, isto é,
na ideia fixa. Jamais se postava à janela para ver passarem as ideias
dos outros. Assim, ficou prisioneiro de seu próprio cérebro. O gênio
flutuava ao seu redor. Encontrando todas as saídas fechadas, deixou a
loucura, sua irmã, penetrar e invadir o lugar tão bem guardado.
Thilorier, que teria deixado um nome imortal, vive apenas na lembrança
de alguns cientistas.
Georges (Espírito Familiar)
Mascaradas humanas (Médium, Sra. Costel)
Falarei da necessidade singular dos
melhores Espíritos de imiscuir-se sempre nas coisas que não lhes
competem. Por exemplo: um excelente comerciante não duvidará um instante
de sua aptidão política, e o maior diplomata porá o amorpróprio na
decisão das mais frívolas questões. Este defeito, comum a todos, não tem
outro móvel senão a vaidade, e a vaidade só tem necessidades
artificiais. Para a toalete, para o espírito, para o próprio coração,
ela busca, antes de mais nada, o que é falso; vicia o instinto do belo e
do verdadeiro; leva as mulheres a desnaturar sua beleza; persuade os
homens a buscar precisamente o que lhes é mais prejudicial. Se os
franceses e as francesas não tivessem esse defeito, eles seriam os mais
inteligentes do mundo e elas as mais sedutoras Evas conhecidas. Não
tenhamos, pois, essa absurda fraqueza; tenhamos a coragem de sermos nós
mesmos; de levar a cor do nosso Espírito, como a dos nossos cabelos. Mas
os tronos ruirão, as repúblicas se estabelecerão, antes que um francês
leviano renuncie às suas pretensões de gravidade e uma francesa às suas
pretensões de firmeza. Hipocrisia continuada, em que cada um veste uma
roupa de outra época, ou apenas a do vizinho. Hipocrisia política,
máscara religiosa, em que todos, arrastados pela vertigem, vos buscais
apaixonadamente, sem encontrar nesse tumulto nem o ponto de partida, nem
o vosso objetivo.
DELPHINE DE GIRARDIN
O saber dos Espíritos (Médium, Srta. Huet)
No estudo do Espiritismo há um grave
erro, que cada dia mais se propaga e que se torna quase o móvel que faz
os outros virem a nós: é o de nos julgarem infalíveis nas respostas.
Pensam que tudo devemos saber, tudo ver, tudo prever. Erro! Grande erro!
Certamente, nossa alma não mais estando encerrada num corpo material,
como um pássaro numa gaiola, lança-se no espaço; os sentidos dessa alma
tornam-se mais sutis, mais desenvolvidos; vemos e ouvimos melhor, mas
não podemos saber tudo, estar em toda parte, porque não temos o dom da
ubiquidade. Que diferença haveria, então, entre nós e Deus, se nos fosse
permitido conhecer o futuro e anunciá-lo pontualmente? Isto é
impossível. Sabemos mais que os homens, certamente; por vezes podemos
ler no pensamento e no coração dos que nos falam, mas aí se detém a
nossa ciência espírita. Corrigi-vos, pois, da ideia de nos interrogar
unicamente para saber o que se passa em tal ou qual parte do vosso
globo, em relação a uma descoberta material, comercial, ou para serdes
advertidos do que se passará amanhã, nos negócios políticos ou
industriais. Nós vos informaremos sempre sobre o nosso estado, sobre
nossa existência extracorpórea, sobre a bondade e a grandeza de Deus,
enfim, sobre tudo quanto possa servir à vossa instrução e à vossa
felicidade presente e futura, mas não nos pergunteis o que não podemos
nem devemos dizer-vos.
CHANNING
Origens (Médium, Sra. Costel)
No princípio era o Verbo, e o Verbo
era Deus. Assim se anuncia no Evangelho de São João. Isto é, no começo
estava o princípio e o princípio era Deus, o Criador de todas as coisas,
que não hesitou mais na formação do homem do que na do globo.
Ele o
criou tal qual é hoje, dando-lhe, ao sair de suas mãos, o livre-arbítrio
e o poder de progredir. Deus disse ao mar: Não irás mais longe. Aos
homens, ao contrário, mostrando-lhe o Universo disse: Tudo isto é para
vós; trabalhai, desenvolvei, descobri os tesouros em germe semeados por
toda parte, no ar, nas ondas, no seio da terra. Trabalhai e amai. Não
duvideis de vossa origem divina, pois ela é direta. Não sois o fruto de
uma lenta progressão; não passastes pela fieira animal; positivamente
sois filhos de Deus. Então de onde provém o pecado? O pecado foi criado
por vossas próprias faculdades; é o avesso e o exagero delas.
Não
houve um primeiro homem, pai do gênero humano, assim como não houve
apenas um sol para iluminar o Universo. Deus abriu sua grande mão e
espalhou com a mesma profusão a raça humana sobre os mundos quanto as
estrelas no céu.
Espíritos animados por seu sopro logo revelaram sua
existência aos homens, muito antes dos profetas que conheceis. Outros
enviados desconhecidos haviam arroteado as almas ignorantes de si
mesmas. Ao mesmo tempo que os homens, foram criados os animais. Estes
dotados de instinto, mas não de inteligência progressiva. Assim,
conservaram o tipo primitivo e, salvo a educação individual, são os
mesmos do tempo dos patriarcas. Os cataclismos dos dilúvios ─ pois não
houve um único, mas vários ─ fizeram desaparecer raças inteiras de
homens e de animais. São consequências geológicas que ainda vos ameaçam.
Os
homens descobrem, mas nada inventam. Assim, as crenças mitológicas não
eram meras ficções, mas revelações de Espíritos inferiores. Os sátiros e
os faunos eram Espíritos secundários, que habitavam os bosques e os
campos, como ainda hoje. Então era-lhes permitido manifestar-se mais
vezes aos olhos dos homens, porque o materialismo não se tinha depurado
pelo Cristianismo e pelo conhecimento de um Deus único. O Cristo
destruiu o império dos Espíritos inferiores, para estabelecer o do
espírito sobre a Terra. Isto é a verdade, que afirmo em nome de Deus
Todo-Poderoso.
LÁZARO
O futuro (Médium, Sr. Coll...)
O Espiritismo é a ciência de toda a
luz. Feliz da sociedade que o puser em prática! Somente então a idade de
ouro, ou melhor, a era do pensamento celeste reinará entre vós. Não
penseis que por isto tereis menos satisfações terrenas. Muito pelo
contrário, tudo será felicidade para vós, porque nesse tempo a luz vos
fará ver a verdade sob um aspecto mais agradável. O que os homens
ensinarão não será mais essa ciência capciosa, que vos faz ver, sob a
enganadora máscara do bem geral ou de um bem futuro no qual, muitas
vezes, o próprio mestre não tem nenhuma confiança.
Não será a mentira
e a cupidez; a vontade de tudo ter, em proveito de uma seita e por
vezes até em proveito de um só. Certamente os homens não serão
perfeitos, mas então o equívoco será tão restrito e os maus terão tão
pouca influência que serão felizes na sua minoria. Nesses tempos os
homens compreenderão o trabalho e todos chegarão à riqueza, porque não
desejarão o supérfluo senão para fazer grandes obras em proveito de
todos. O amor, esta palavra tão divina, não mais terá essa acepção
impura que lhe emprestais. Todo sentimento pessoal desaparecerá, ante
esse ensinamento tão suave, contido nestas palavras do Cristo: Amai-vos
uns aos outros, como a vós mesmos.
Chegando a esta crença, todos
sereis médiuns. Desaparecerão todos os vícios que degradam a vossa
Sociedade. Tudo se tornará luz e verdade. O egoísmo, esse verme roedor e
retardatário do progresso, que abafa todo sentimento fraterno, não terá
mais domínio sobre as vossas almas. Vossas ações não mais terão por
móvel a cupidez e a luxúria. Amareis vossa mulher porque ela terá uma
alma boa e vos quererá; porque verá em vós o homem escolhido por Deus
para proteger a sua fraqueza e porque ambos vos auxiliareis a suportar
as provas terrenas e sereis os instrumentos votados à propagação de
seres destinados a melhorar-se, a progredir, a fim de chegarem a mundos
melhores, onde podereis, por um trabalho ainda mais inteligente,
elevar-vos na direção do nosso supremo Benfeitor. Ide, espíritas!
Perseverai. Fazei o bem pelo bem. Desprezai suavemente os gracejadores.
Lembrai-vos de que tudo é harmonia na Natureza; que a harmonia está nos
mundos superiores e que, malgrado certos Espíritos fortes, tereis também
a vossa harmonia relativa.
São Luís
A eletricidade espiritual (Médium, Sr. Didier Filho)
O homem é, ao mesmo tempo, um ser
muito singular e muito fraco. É singular no sentido de que, mesmo em
meio aos fenômenos que o cercam, não deixa de seguir a sua rotina,
espiritualmente falando. É fraco porque, depois de ter visto e ter-se
convencido, ri porque seu vizinho riu e não pensa mais naquilo. E notai
que aqui falo, não de seres vulgares, sem reflexão e sem experiência.
Não. Falo de gente inteligente e, na maioria, esclarecida. De onde vem
tal fenômeno? Porque refletindo bem, é um fenômeno moral. Mas que! O
Espírito começou a agir sobre a matéria pelo magnetismo e pela
eletricidade; a seguir entrou no próprio coração do homem, e o homem não
se deu conta disso. Estranha cegueira! Cegueira não produzida por uma
causa estranha, mas voluntária, oriunda do Espírito. Em seguida veio o
Espiritismo, que produziu uma comoção no mundo, e o homem publicou
livros muito sérios, dizendo: é uma causa natural, é simplesmente
eletricidade, uma lei física, etc. E o homem ficou satisfeito; mas estai
certos, o homem terá ainda muitos livros a escrever, antes de poder
compreender o que está escrito no livro da Natureza, o livro de Deus. A
eletricidade, essa nuança entre o tempo e o que não é mais o tempo,
entre o finito e o infinito, o homem ainda não conseguiu definir. Por
que? Sabei-o. Não podeis defini-la senão pelo magnetismo, essa
manifestação material do Espírito. Não conheceis ainda senão a
eletricidade material. Mais tarde conhecereis também a eletricidade
espiritual, que não é senão o reino eterno da ideia.
Desenvolvimento sobre a comunicação precedente
1.º ─ Teríeis a bondade de fazer
alguns esclarecimentos sobre certas passagens do vosso último ditado,
que nos parecem um pouco obscuras?
─ Farei o que for possível no momento.
2.º
─ Dizeis: “A eletricidade, essa nuança entre o tempo e o que não é
maistempo, entre o finito e o infinito”. Esta frase não nos parece muito
clara. Teríeis a bondade de desenvolvê-la?
─ Eu a explico assim, da
maneira mais simples que posso. Para vós o tempo existe, não? Para nós,
não existe. Assim defini a eletricidade: “essa nuança entre o tempo e o
que não é mais tempo”, porque essa parte do tempo de que outrora vos
devíeis servir para vos comunicardes de um a outro extremo do mundo,
essa porção do tempo, digo eu, não existe mais. Mais tarde virá essa
eletricidade que não será outra coisa senão o pensamento do homem,
transpondo o espaço. Com efeito, não é esta a imagem mais surpreendente
sobre o finito e o infinito, sobre o pequeno meio e o grande meio? Numa
palavra, quero dizer que a eletricidade suprime o tempo.
3.º ─ Mais
adiante dizeis: “Não conheceis senão a eletricidade material. Mais tarde
conhecereis também a eletricidade espiritual.” Entendeis por isto os
meios de comunicação de homem a homem, por via mediúnica?
─ Sim, como progressos médios; outra coisa virá mais tarde; dai aspirações ao homem: a princípio, ele adivinha; depois, vê.