Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Filosofia

Escrevei isto: O homem! Que é ele? De onde veio? Aonde vai? Deus? A Natureza? A Criação? O mundo? Sua eternidade no passado e no futuro! Limite da Natureza, relações do ser infinito com o ser particular? Passagem do infinito ao finito? ─ Perguntas que devia fazer o homem, criança ainda, quando viu pela primeira vez, com sua razão, acima da cabeça, a marcha misteriosa dos astros; sob seus pés a terra, alternativamente revestida com roupas de festa, sob o tépido sopro da primavera, ou coberta de um manto de luto, debaixo do sopro gelado do inverno; quando ele próprio, pensando, sentindo, se viu por um instante lançado nesse imenso turbilhão vital entre o ontem, dia de seu nascimento, e o amanhã, dia de sua morte. Perguntas que se fizeram todos os povos, em todas as idades e em todas as suas escolas e que, entretanto, não deixaram de ficar como enigmas para as gerações seguintes. São, contudo, questões dignas de cativar o espírito investigador do vosso século e o gênio do vosso país. Se, pois, houvesse entre vós um homem, dez homens, com a consciência da alta importância de uma missão apostólica e vontade de deixar um traço de sua passagem por aqui, para servir de ponto de referência à posteridade, eu lhes diria: Durante muito tempo transigistes com os erros e preconceitos da vossa época; para vós, a fase das manifestações materiais e físicas é passada; aquilo a que chamais de evocações experimentais já não vos pode ensinar grandes coisas, porque, na maioria dos casos, apenas a curiosidade está em jogo. Mas a era filosófica da Doutrina se aproxima. Não vos demoreis mais tempo agarrados aos batentes já carcomidos do pórtico, e penetrai corajosamente no santuário celeste, levando com firmeza a bandeira da filosofia moderna, na qual inscrevei sem medo: misticismo, racionalismo. Fazei ecletismo no ecletismo moderno; fazei-o como os Antigos, apoiando-vos na tradição histórica, mística e legendária, sempre, porém, com o cuidado de não sair da revelação, facho que nos faltou a todos, recorrendo às luzes dos Espíritos superiores, votados missionariamente à marcha do espírito humano. Esses Espíritos, por mais elevados que sejam, não sabem tudo. Só Deus o sabe. Além disso, de tudo quanto sabem, nem tudo podem revelar. Onde ficaria, então, o livre-arbítrio do homem, sua responsabilidade, o mérito e o demérito? E, como sanção, o castigo e a recompensa?

Contudo, posso balizar o caminho que vos mostro, com alguns princípios fundamentais. Portanto, escutai isto:

1º. ─ A alma tem o poder de retirar-se da matéria;

2º. ─ De elevar-se muito acima da inteligência;

3º. ─ Esse estado é superior à razão;

4º. ─ Ele pode colocar o homem em relação com aquilo que escapa às suas faculdades;

5º. ─ O homem pode provocá-lo pela prece a Deus, por um esforço constante da vontade, reduzindo a alma, por assim dizer, ao estado de pura essência, privada da atividade sensível e exterior; pela abstração, numa palavra, de tudo o que há de diverso, de múltiplo, de indeciso, de turbilhonamento, de exterioridade na alma;

6. ─ Existe no Eu concreto e complexo do homem uma força completamente ignorada até hoje. Procurai-a, portanto.

MOISÉS, PLATÃO, depois JULIANO

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