Conselho de família.
Meus caros filhos, em minhas instruções precedentes aconselhei-vos a
calma e a coragem; contudo, nem todos as mostrais tanto quanto
deveríeis. Pensai que o lamento não acalma a dor. Ao contrário, ele
tende a aumentá-la. Um bom conselho, uma boa palavra, um sorriso, um
simples gesto, dão força e coragem. Uma lágrima amolece o coração, em
vez de endurecê-lo. Chorai, se o coração a isto vos impele, mas que seja
nos momentos de solidão, e não em presença dos que necessitam de toda a
sua força ou energia que uma lágrima ou um suspiro podem diminuir e
enfraquecer. Todos necessitamos de encorajamento, e nada mais próprio a
nos encorajar do que uma voz amiga, um olhar benevolente, uma palavra
vinda do coração. Quando vos aconselhei a vos reunirdes, não foi para
que reunísseis vossas lágrimas e amarguras; não foi para vos incitar à
prece, que apenas prova uma boa intenção, mas foi sim para que unísseis
os vossos pensamentos,
vossos esforços
mútuos e coletivos; para que mutuamente vos désseis bons conselhos e
para que em comum procurásseis, não o meio de vos entristecerdes, mas o
caminho a seguir para vencerdes os obstáculos que se vos apresentam. Em
vão um infeliz que não tem pão se prostrará para rogar a Deus a
subsistência que não cairá do céu. Que ele trabalhe e, por pouco que
obtenha, isto lhe valerá mais do que todas as suas preces. A prece mais
agradável a Deus é o trabalho útil, seja qual for. Eu o repito: a prece
apenas prova uma boa intenção, um bom sentimento, mas só produz um
efeito moral, porque é toda moral. A prece é excelente como um consolo
da alma, porque a alma que ora sinceramente nela encontra alívio para as
dores morais.
Fora destes efeitos e dos que decorrem da
prece, como vos expliquei em outras instruções, nada espereis, pois
sereis iludidos em vossa esperança.
Segui pois exatamente os
meus conselhos. Não vos contenteis em pedir a Deus que vos ajude.
Ajudai-vos vós mesmos, pois assim provareis a sinceridade de vossa
prece. Seria muito cômodo, na verdade, que bastasse pedir uma coisa nas
preces para que ela vos fosse concedida. Seria o maior incentivo à
preguiça e à negligência das boas ações. A respeito, eu poderia
estender-me ainda mais, mas seria muito para vós. Vosso estado de
adiantamento ainda não o comporta. Meditai sobre esta instrução, como
sobre as precedentes, pois são de natureza a ocupar longamente os vossos
espíritos. Elas contêm em germe tudo quanto vos será desvendado no
futuro. Segui meus conselhos anteriores.