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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Janeiro
Janeiro
Golpe de vista retrospectivo
O ano de 1867 tinha sido anunciado como devendo ser particularmente proveitoso para o Espiritismo, e essa previsão realizou-se plenamente. Ele viu aparecerem várias obras que, sem lhe trazer o nome, popularizam os seus princípios, e entre as quais lembraremos Mirette, do Sr. Sauvage; Le Roman de l’Avenir, do Sr. Bonnemère; Dieu dans la Nature, pelo Sr. Camille Flammarion. La Raison du Spiritisme, pelo Sr. juiz de instrução Bonnamy, é um acontecimento nos anais da doutrina, porque a bandeira é alta e corajosamente arvorada por um homem cujo nome, justamente estimado e considerado, é uma autoridade, ao mesmo tempo que sua obra é um protesto contra epítetos com que a crítica gratifica geralmente os adeptos da ideia. Todos os espíritas apreciaram esse livro como ele merece, e lhe compreenderam o alcance. É uma resposta peremptória a certos ataques. Assim, pensamos que considerarão como um dever propagá-lo no interesse da doutrina.
Se o ano só tivesse tido esses resultados, seria para nos felicitarmos. Mas ele os produziu mais efetivos. O número das sociedades ou grupos oficialmente conhecidos não aumentou sensivelmente, é verdade; antes até diminuiu, por força das intrigas, com cujo auxílio procuraram miná-los, neles introduzindo elementos de dissolução. Mas, em compensação, o número de reuniões particulares, ou de família, cresceu numa grande proporção.
Além disso, é para todos notório e da própria confissão dos nossos adversários, que as ideias espíritas ganharam terreno consideravelmente, como o constata o autor da obra a que nos referimos adiante. Elas se infiltram por uma porção de brechas; tudo concorre para isto; as coisas que, à primeira vista, a elas pareciam mais estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas ideias vêm à luz. É que o Espiritismo toca em tão grande número de questões, que é muito difícil abordar seja o que for sem ver aí surgir um pensamento espírita, de tal sorte que, mesmo nos meios refratários, essas ideias brotam sob uma ou outra forma, como essas plantas de cores variadas que crescem por entre as pedras. E como nesses meios geralmente repelem o Espiritismo, por espírito de prevenção, sem saber o que ele diz, não é surpreendente que, quando pensamentos espíritas aí aparecem, não os reconheçam, mas então os aclamam, porque os acham bons, sem suspeitar que se trata de Espiritismo.
A literatura contemporânea, grande ou pequena, séria ou leviana, semeia essas ideias em profusão; é por elas esmaltada e não lhe falta senão o nome. Se reuníssemos todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, constituiríamos o Espiritismo completo. Ora, aí está um fato considerável e um dos mais característicos do ano que findou. Isto prova que cada um tem em si alguns de seus elementos no estado de intuição, e que entre os seus antagonistas e ele não há, o mais das vezes, senão uma questão de palavra. Aqueles que o repelem com perfeito conhecimento de causa são os que têm interesse em combatê-lo.
Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecido, para triunfar dessas prevenções? Isto é obra do tempo. É preciso que as circunstâncias para aí levem naturalmente, e para isto pode-se contar com os Espíritos, que sabem fazê-las nascer em tempo oportuno. Essas circunstâncias são particulares ou gerais. As primeiras agem sobre os indivíduos e as outras sobre as massas. As últimas, por sua repercussão, fazem o efeito das minas que, a cada explosão, arrancam alguns fragmentos do rochedo.
Que cada espírita trabalhe de seu lado sem desanimar com a pouca importância do resultado obtido individualmente, e pense que à força de acumular grãos de areia se forma uma montanha.
Entre os fatos materiais que assinalaram este ano, as curas do zuavo Jacob ocupam o primeiro lugar. Elas tiveram uma repercussão que todo mundo conhece. E, embora o Espiritismo aí só tenha figurado incidentemente, a atenção geral não deixou de ser vivamente atraída para um fenômeno dos mais sérios, e que a ele se liga de maneira direta. Esses fatos, produzindo-se em condições vulgares, sem aparelho místico, não por um só indivíduo, mas por diversos, ou por isso mesmo, perderam o caráter miraculoso, que até agora lhes haviam atribuído. Como tantos outros, entraram no domínio dos fenômenos naturais. Entre os que os rejeitavam como milagres, muitos se tornaram menos absolutos na negação do fato e admitiram a sua possibilidade como resultado de uma lei desconhecida da Natureza. Era um primeiro passo numa via fecunda em consequências, e mais de um cético ficou abalado. Certamente nem todos ficaram convencidos, mas a coisa deu muito que falar. Daí resultou em muita gente uma impressão profunda, que provocou muito mais reflexão do que se pensa. São sementes que, se não dão uma colheita abundante imediata, não estão perdidas para o futuro.
O Sr. Jacob mantém-se afastado de maneira absoluta. Ignoramos os motivos de sua abstenção e se deve ou não retomar o curso de suas sessões. Se há intermitência em sua faculdade, como acontece muitas vezes em casos semelhantes, é uma prova de que ela não se deve exclusivamente à sua pessoa, e que fora do indivíduo há alguma coisa, uma vontade independente.
Mas, perguntarão, por que essa suspensão, se a produção desses fenômenos era uma vantagem para a doutrina? Tendo as coisas, até aqui, sido conduzidas com uma sabedoria que jamais se desmentiu, devemos supor que os que dirigem o movimento julgaram o efeito suficiente para o momento, e que seria útil pôr um tempo de espera na efervescência. Mas a ideia foi lançada e podemos ficar certos de que não ficará no estado de letra morta.
Em suma, como vemos, o ano foi bom para o Espiritismo. Suas falanges recrutaram homens sérios, cuja opinião é tida por alguma coisa num certo mundo. Nossa correspondência assinala quase por toda parte um movimento geral da opinião por essas ideias e, coisa bizarra neste século positivo, as que ganham mais terreno são as ideias filosóficas, muito mais que os fatos materiais de manifestação que muitas pessoas ainda se obstinam em rejeitar, de sorte que, perante o maior número, o melhor meio de fazer proselitismo é começar pela filosofia, e isso é compreensível. Sendo as ideias fundamentais latentes na maioria, basta despertá-las. Compreendem-nas porque possuem em si os seus germes, ao passo que os fatos, para serem aceitos e compreendidos, demandam estudo e observações que muitos não querem se dar ao trabalho de fazer.
Depois, o charlatanismo, que se apoderou dos fatos para explorá-los em seu proveito, desacreditou-os na opinião de certas pessoas, dando margem à crítica. Assim não se podia dar com a filosofia, que não era tão fácil de contrafazer, e que, além disto, não é matéria explorável.
Por sua natureza, o charlatanismo é turbulento e intrigante, sem o que não seria charlatanismo. A crítica, que geralmente pouco se preocupa em ir ao fundo do poço buscar a verdade, viu o charlatanismo alardear-se, e se esforçou para conferir-lhe a etiqueta de Espiritismo. Daí, contra esta palavra, uma prevenção que se apaga à medida que o Espiritismo verdadeiro é melhor conhecido, porque não há ninguém, que tendo estudado seriamente, o confunda com o Espiritismo grotesco de fantasia, que a despreocupação ou a malevolência procuram substituir. É uma reação neste sentido que se manifestou nestes últimos tempos.
Os princípios que se propagam com mais facilidade são o da pluralidade dos mundos habitados e o da pluralidade das existências ou reencarnação. O primeiro pode ser considerado como admitido sem contestação pela Ciência e pelo assentimento unânime, mesmo no campo materialista. O segundo está no estado de intuição numa porção de indivíduos, nos quais é uma crença inata; ele encontra numerosas simpatias, como princípio racional de filosofia, mesmo fora do Espiritismo. É uma ideia que sorri a muitos incrédulos, porque nele encontram imediatamente a solução das dificuldades que os haviam levado à dúvida. Assim, essa crença tende a vulgarizar-se mais e mais. Mas, para quem quer que reflita, esses dois princípios têm consequências forçadas que desembocam em linha reta no Espiritismo. Podemos, portanto, considerar o progresso dessas ideias como o primeiro passo para a Doutrina, porquanto dela são partes integrantes.
A imprensa que, malgrado seu, sofre a influência da difusão das ideias espíritas, porque estas penetram até no seu seio, em geral se abstém, senão por simpatia, ao menos por prudência; já se percebe que não é de bom gosto falar dos Davenport. Diríamos até que ela afeta evitar a questão do Espiritismo. Se, de vez em quando, ela atira algumas flechas contra os seus aderentes, são como os últimos lampejos de um fogo de artifício. Mas não há mais esse fogo contínuo de invectivas que se ouvia há apenas dois anos. Embora ela tenha feito quase tanto alvoroço quanto o Sr. Jacob, quanto os Davenport, sua linguagem foi muito diferente, e é de notar que, na sua polêmica, o nome do Espiritismo só figurou muito acessoriamente.
No exame da situação, não só há que considerar os grandes movimentos ostensivos, mas há que levar em conta principalmente o estado íntimo da opinião e das causas que podem influenciá-la. Assim como dissemos alhures, se observarmos atentamente o que se passa pelo mundo, reconheceremos que uma porção de fatos, em aparência estranhos ao Espiritismo, parecem vir de propósito para lhe abrir o caminho. É no conjunto das circunstâncias que se deve procurar os verdadeiros sinais do progresso. Deste ponto de vista, então, a situação é tão satisfatória quanto se pode desejar. É o caso de concluir que a oposição está desarmada, e que de agora em diante as coisas vão avançar sem embaraços? Guardemo-nos de acreditar nisso e de dormir numa enganadora segurança. O futuro do Espiritismo, sem contradita, está assegurado, e seria preciso ser cego para duvidar disto, mas os seus piores dias não passaram. Ele ainda não recebeu o batismo que consagra todas as grandes ideias. Os Espíritos são unânimes em nos prevenir contra uma luta inevitável mas necessária a fim de provar a sua invulnerabilidade e a sua força; ele sairá dela maior e mais forte; somente então conquistará seu lugar no mundo, porque os que quiseram derrubá-lo terão preparado o seu triunfo. Que os espíritas sinceros e devotados se fortaleçam pela união e se confundam numa santa comunhão de pensamentos. Lembremo-nos da parábola das dez virgens e velemos para não sermos apanhados desprevenidos.
Aproveitamos esta circunstância para exprimir toda a nossa gratidão àqueles dos nossos irmãos espíritas que, como nos anos anteriores, por ocasião da renovação das assinaturas da Revista, nos dão novos testemunhos de sua afetuosa simpatia. Ficamos feliz com os penhores que nos fazem de seu devotamento à causa sagrada que todos defendemos, e que é a da Humanidade e do progresso. Àqueles que nos dizem: coragem! diremos que jamais recuaremos diante de nenhuma das necessidades de nossa posição, por mais duras que sejam. Que contem conosco, como nós contamos, no dia da vitória, neles encontrar os soldados da véspera, e não os soldados do amanhã.
Se o ano só tivesse tido esses resultados, seria para nos felicitarmos. Mas ele os produziu mais efetivos. O número das sociedades ou grupos oficialmente conhecidos não aumentou sensivelmente, é verdade; antes até diminuiu, por força das intrigas, com cujo auxílio procuraram miná-los, neles introduzindo elementos de dissolução. Mas, em compensação, o número de reuniões particulares, ou de família, cresceu numa grande proporção.
Além disso, é para todos notório e da própria confissão dos nossos adversários, que as ideias espíritas ganharam terreno consideravelmente, como o constata o autor da obra a que nos referimos adiante. Elas se infiltram por uma porção de brechas; tudo concorre para isto; as coisas que, à primeira vista, a elas pareciam mais estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas ideias vêm à luz. É que o Espiritismo toca em tão grande número de questões, que é muito difícil abordar seja o que for sem ver aí surgir um pensamento espírita, de tal sorte que, mesmo nos meios refratários, essas ideias brotam sob uma ou outra forma, como essas plantas de cores variadas que crescem por entre as pedras. E como nesses meios geralmente repelem o Espiritismo, por espírito de prevenção, sem saber o que ele diz, não é surpreendente que, quando pensamentos espíritas aí aparecem, não os reconheçam, mas então os aclamam, porque os acham bons, sem suspeitar que se trata de Espiritismo.
A literatura contemporânea, grande ou pequena, séria ou leviana, semeia essas ideias em profusão; é por elas esmaltada e não lhe falta senão o nome. Se reuníssemos todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, constituiríamos o Espiritismo completo. Ora, aí está um fato considerável e um dos mais característicos do ano que findou. Isto prova que cada um tem em si alguns de seus elementos no estado de intuição, e que entre os seus antagonistas e ele não há, o mais das vezes, senão uma questão de palavra. Aqueles que o repelem com perfeito conhecimento de causa são os que têm interesse em combatê-lo.
Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecido, para triunfar dessas prevenções? Isto é obra do tempo. É preciso que as circunstâncias para aí levem naturalmente, e para isto pode-se contar com os Espíritos, que sabem fazê-las nascer em tempo oportuno. Essas circunstâncias são particulares ou gerais. As primeiras agem sobre os indivíduos e as outras sobre as massas. As últimas, por sua repercussão, fazem o efeito das minas que, a cada explosão, arrancam alguns fragmentos do rochedo.
Que cada espírita trabalhe de seu lado sem desanimar com a pouca importância do resultado obtido individualmente, e pense que à força de acumular grãos de areia se forma uma montanha.
Entre os fatos materiais que assinalaram este ano, as curas do zuavo Jacob ocupam o primeiro lugar. Elas tiveram uma repercussão que todo mundo conhece. E, embora o Espiritismo aí só tenha figurado incidentemente, a atenção geral não deixou de ser vivamente atraída para um fenômeno dos mais sérios, e que a ele se liga de maneira direta. Esses fatos, produzindo-se em condições vulgares, sem aparelho místico, não por um só indivíduo, mas por diversos, ou por isso mesmo, perderam o caráter miraculoso, que até agora lhes haviam atribuído. Como tantos outros, entraram no domínio dos fenômenos naturais. Entre os que os rejeitavam como milagres, muitos se tornaram menos absolutos na negação do fato e admitiram a sua possibilidade como resultado de uma lei desconhecida da Natureza. Era um primeiro passo numa via fecunda em consequências, e mais de um cético ficou abalado. Certamente nem todos ficaram convencidos, mas a coisa deu muito que falar. Daí resultou em muita gente uma impressão profunda, que provocou muito mais reflexão do que se pensa. São sementes que, se não dão uma colheita abundante imediata, não estão perdidas para o futuro.
O Sr. Jacob mantém-se afastado de maneira absoluta. Ignoramos os motivos de sua abstenção e se deve ou não retomar o curso de suas sessões. Se há intermitência em sua faculdade, como acontece muitas vezes em casos semelhantes, é uma prova de que ela não se deve exclusivamente à sua pessoa, e que fora do indivíduo há alguma coisa, uma vontade independente.
Mas, perguntarão, por que essa suspensão, se a produção desses fenômenos era uma vantagem para a doutrina? Tendo as coisas, até aqui, sido conduzidas com uma sabedoria que jamais se desmentiu, devemos supor que os que dirigem o movimento julgaram o efeito suficiente para o momento, e que seria útil pôr um tempo de espera na efervescência. Mas a ideia foi lançada e podemos ficar certos de que não ficará no estado de letra morta.
Em suma, como vemos, o ano foi bom para o Espiritismo. Suas falanges recrutaram homens sérios, cuja opinião é tida por alguma coisa num certo mundo. Nossa correspondência assinala quase por toda parte um movimento geral da opinião por essas ideias e, coisa bizarra neste século positivo, as que ganham mais terreno são as ideias filosóficas, muito mais que os fatos materiais de manifestação que muitas pessoas ainda se obstinam em rejeitar, de sorte que, perante o maior número, o melhor meio de fazer proselitismo é começar pela filosofia, e isso é compreensível. Sendo as ideias fundamentais latentes na maioria, basta despertá-las. Compreendem-nas porque possuem em si os seus germes, ao passo que os fatos, para serem aceitos e compreendidos, demandam estudo e observações que muitos não querem se dar ao trabalho de fazer.
Depois, o charlatanismo, que se apoderou dos fatos para explorá-los em seu proveito, desacreditou-os na opinião de certas pessoas, dando margem à crítica. Assim não se podia dar com a filosofia, que não era tão fácil de contrafazer, e que, além disto, não é matéria explorável.
Por sua natureza, o charlatanismo é turbulento e intrigante, sem o que não seria charlatanismo. A crítica, que geralmente pouco se preocupa em ir ao fundo do poço buscar a verdade, viu o charlatanismo alardear-se, e se esforçou para conferir-lhe a etiqueta de Espiritismo. Daí, contra esta palavra, uma prevenção que se apaga à medida que o Espiritismo verdadeiro é melhor conhecido, porque não há ninguém, que tendo estudado seriamente, o confunda com o Espiritismo grotesco de fantasia, que a despreocupação ou a malevolência procuram substituir. É uma reação neste sentido que se manifestou nestes últimos tempos.
Os princípios que se propagam com mais facilidade são o da pluralidade dos mundos habitados e o da pluralidade das existências ou reencarnação. O primeiro pode ser considerado como admitido sem contestação pela Ciência e pelo assentimento unânime, mesmo no campo materialista. O segundo está no estado de intuição numa porção de indivíduos, nos quais é uma crença inata; ele encontra numerosas simpatias, como princípio racional de filosofia, mesmo fora do Espiritismo. É uma ideia que sorri a muitos incrédulos, porque nele encontram imediatamente a solução das dificuldades que os haviam levado à dúvida. Assim, essa crença tende a vulgarizar-se mais e mais. Mas, para quem quer que reflita, esses dois princípios têm consequências forçadas que desembocam em linha reta no Espiritismo. Podemos, portanto, considerar o progresso dessas ideias como o primeiro passo para a Doutrina, porquanto dela são partes integrantes.
A imprensa que, malgrado seu, sofre a influência da difusão das ideias espíritas, porque estas penetram até no seu seio, em geral se abstém, senão por simpatia, ao menos por prudência; já se percebe que não é de bom gosto falar dos Davenport. Diríamos até que ela afeta evitar a questão do Espiritismo. Se, de vez em quando, ela atira algumas flechas contra os seus aderentes, são como os últimos lampejos de um fogo de artifício. Mas não há mais esse fogo contínuo de invectivas que se ouvia há apenas dois anos. Embora ela tenha feito quase tanto alvoroço quanto o Sr. Jacob, quanto os Davenport, sua linguagem foi muito diferente, e é de notar que, na sua polêmica, o nome do Espiritismo só figurou muito acessoriamente.
No exame da situação, não só há que considerar os grandes movimentos ostensivos, mas há que levar em conta principalmente o estado íntimo da opinião e das causas que podem influenciá-la. Assim como dissemos alhures, se observarmos atentamente o que se passa pelo mundo, reconheceremos que uma porção de fatos, em aparência estranhos ao Espiritismo, parecem vir de propósito para lhe abrir o caminho. É no conjunto das circunstâncias que se deve procurar os verdadeiros sinais do progresso. Deste ponto de vista, então, a situação é tão satisfatória quanto se pode desejar. É o caso de concluir que a oposição está desarmada, e que de agora em diante as coisas vão avançar sem embaraços? Guardemo-nos de acreditar nisso e de dormir numa enganadora segurança. O futuro do Espiritismo, sem contradita, está assegurado, e seria preciso ser cego para duvidar disto, mas os seus piores dias não passaram. Ele ainda não recebeu o batismo que consagra todas as grandes ideias. Os Espíritos são unânimes em nos prevenir contra uma luta inevitável mas necessária a fim de provar a sua invulnerabilidade e a sua força; ele sairá dela maior e mais forte; somente então conquistará seu lugar no mundo, porque os que quiseram derrubá-lo terão preparado o seu triunfo. Que os espíritas sinceros e devotados se fortaleçam pela união e se confundam numa santa comunhão de pensamentos. Lembremo-nos da parábola das dez virgens e velemos para não sermos apanhados desprevenidos.
Aproveitamos esta circunstância para exprimir toda a nossa gratidão àqueles dos nossos irmãos espíritas que, como nos anos anteriores, por ocasião da renovação das assinaturas da Revista, nos dão novos testemunhos de sua afetuosa simpatia. Ficamos feliz com os penhores que nos fazem de seu devotamento à causa sagrada que todos defendemos, e que é a da Humanidade e do progresso. Àqueles que nos dizem: coragem! diremos que jamais recuaremos diante de nenhuma das necessidades de nossa posição, por mais duras que sejam. Que contem conosco, como nós contamos, no dia da vitória, neles encontrar os soldados da véspera, e não os soldados do amanhã.
O Espiritismo - Ante a história e a igreja, sua origem, sua natureza, sua certeza, seus perigos
Esta obra é uma refutação do Espiritismo do ponto de vista religioso. É, sem contradita, uma das mais completas e mais bem elaboradas que conhecemos. É escrita com moderação e conveniência, e não se suja pelos epítetos grosseiros a que nos habituaram, na sua maior parte, os contestadores do mesmo partido. Nela, nada de declarações furibundas, nada de personalismos ultrajantes. É o princípio que é discutido. Podemos não estar de acordo com o autor; achar que as conclusões que ele tira de suas premissas são de uma lógica contestável; dizer, por exemplo, depois de ele haver demonstrado, com as provas na mão, que o sol brilha ao meio-dia, que ele está errado ao concluir que deve ser noite, mas não se lhe reprochará a falta de urbanidade na forma.
A primeira parte da obra é consagrada ao histórico do Espiritismo na Antiguidade e na Idade Média. Essa parte é rica em documentos tirados dos autores sacros e profanos, que atestam laboriosas pesquisas e um estudo sério. É um trabalho que nos propúnhamos fazer um dia e nos sentimos feliz por nos haver o Sr. Abade Poussin poupado esse esforço.
Na segunda parte, intitulada Parte doutrinária, o autor, discutindo os fatos que acaba de citar, inclusive os fatos atuais, conclui, segundo a infalibilidade da Igreja e seus próprios argumentos, que todos os fenômenos magnéticos e espíritas são obra do demônio. É uma opinião como qualquer outra, e respeitável quando sincera. Ora, nós cremos na sinceridade das convicções do Sr. Poussin, embora não tenhamos a honra de conhecê-lo. O que se lhe pode reprochar é não invocar em favor de sua tese senão a opinião dos adversários conhecidos do Espiritismo, assim como as doutrinas e alegações que ele desaprova. Em vão procuraríamos nesse livro a menção das obras fundamentais, assim como qualquer refutação direta das respostas que foram dadas às alegações contraditórias.
Numa palavra, ele não discute a doutrina propriamente dita; ele não toma os seus argumentos corpo a corpo, para esmagá-los sob o peso de uma lógica mais rigorosa.
Além disso, podemos estranhar que o Sr. Abade Poussin, para combater o Espiritismo, se apoie na opinião de homens conhecidos por suas ideias materialistas, tais como os Srs. Littré e Figuier. Ele faz numerosas citações, sobretudo deste último, que mais brilhou por suas contradições do que por sua lógica. Esses senhores, combatendo o princípio do Espiritismo, negando a causa dos fenômenos psíquicos, por isto mesmo negam o princípio da espiritualidade; então, sapam a base da religião, pela qual não professam, como se sabe, uma grande simpatia. Invocando a sua opinião, a escolha não é feliz; poder-se-ia mesmo dizer que é desastrosa, pois é excitar os fiéis a ler escritos que não são nada ortodoxos. Vendo-o beber em tais fontes, poder-se-ia crer que ele não julgou os outros bastante preponderantes.
O Sr. Abade Poussin não contesta nenhum dos fenômenos espíritas; ele virtualmente prova a sua existência pelos fatos autênticos que cita, e que colhe indiferentemente na história sagrada e na história pagã. Aproximando uns dos outros, não pode deixar de reconhecer a sua analogia. Ora, em boa lógica, da similitude dos efeitos deve concluir-se pela similitude das causas. Entretanto, o Sr. Poussin conclui que os mesmos fatos são miraculosos e de fonte divina em certos casos, e diabólicos em outros.
Os homens que professam as mesmas crenças que o Sr. Figuier também têm sobre esses mesmos fatos duas opiniões: negam-nos simplesmente e os atribuem à charlatanice; quanto aos que são verificados, esforçam-se para ligá-los apenas às leis da matéria. Perguntai-lhes o que pensam dos milagres do Cristo: eles vos dirão que são fatos lendários, contos inventados para as necessidades da causa ou produtos de imaginações superexcitadas e em delírio.
É verdade que o Espiritismo não reconhece nos fenômenos psíquicos um caráter sobrenatural; ele os explica pelas faculdades e atributos da alma, e como a alma está na Natureza, os considera como efeitos naturais, que se produzem em virtude de leis especiais, até agora desconhecidas, que o Espiritismo dá a conhecer. Realizando-se esses fenômenos aos nossos olhos, em condições idênticas, acompanhados das mesmas circunstâncias, e por intermédio de indivíduos que nada têm de excepcional, daí concluiu pela possibilidade dos que se passaram em tempos mais remotos, e isto pela mesma causa natural.
A primeira parte da obra é consagrada ao histórico do Espiritismo na Antiguidade e na Idade Média. Essa parte é rica em documentos tirados dos autores sacros e profanos, que atestam laboriosas pesquisas e um estudo sério. É um trabalho que nos propúnhamos fazer um dia e nos sentimos feliz por nos haver o Sr. Abade Poussin poupado esse esforço.
Na segunda parte, intitulada Parte doutrinária, o autor, discutindo os fatos que acaba de citar, inclusive os fatos atuais, conclui, segundo a infalibilidade da Igreja e seus próprios argumentos, que todos os fenômenos magnéticos e espíritas são obra do demônio. É uma opinião como qualquer outra, e respeitável quando sincera. Ora, nós cremos na sinceridade das convicções do Sr. Poussin, embora não tenhamos a honra de conhecê-lo. O que se lhe pode reprochar é não invocar em favor de sua tese senão a opinião dos adversários conhecidos do Espiritismo, assim como as doutrinas e alegações que ele desaprova. Em vão procuraríamos nesse livro a menção das obras fundamentais, assim como qualquer refutação direta das respostas que foram dadas às alegações contraditórias.
Numa palavra, ele não discute a doutrina propriamente dita; ele não toma os seus argumentos corpo a corpo, para esmagá-los sob o peso de uma lógica mais rigorosa.
Além disso, podemos estranhar que o Sr. Abade Poussin, para combater o Espiritismo, se apoie na opinião de homens conhecidos por suas ideias materialistas, tais como os Srs. Littré e Figuier. Ele faz numerosas citações, sobretudo deste último, que mais brilhou por suas contradições do que por sua lógica. Esses senhores, combatendo o princípio do Espiritismo, negando a causa dos fenômenos psíquicos, por isto mesmo negam o princípio da espiritualidade; então, sapam a base da religião, pela qual não professam, como se sabe, uma grande simpatia. Invocando a sua opinião, a escolha não é feliz; poder-se-ia mesmo dizer que é desastrosa, pois é excitar os fiéis a ler escritos que não são nada ortodoxos. Vendo-o beber em tais fontes, poder-se-ia crer que ele não julgou os outros bastante preponderantes.
O Sr. Abade Poussin não contesta nenhum dos fenômenos espíritas; ele virtualmente prova a sua existência pelos fatos autênticos que cita, e que colhe indiferentemente na história sagrada e na história pagã. Aproximando uns dos outros, não pode deixar de reconhecer a sua analogia. Ora, em boa lógica, da similitude dos efeitos deve concluir-se pela similitude das causas. Entretanto, o Sr. Poussin conclui que os mesmos fatos são miraculosos e de fonte divina em certos casos, e diabólicos em outros.
Os homens que professam as mesmas crenças que o Sr. Figuier também têm sobre esses mesmos fatos duas opiniões: negam-nos simplesmente e os atribuem à charlatanice; quanto aos que são verificados, esforçam-se para ligá-los apenas às leis da matéria. Perguntai-lhes o que pensam dos milagres do Cristo: eles vos dirão que são fatos lendários, contos inventados para as necessidades da causa ou produtos de imaginações superexcitadas e em delírio.
É verdade que o Espiritismo não reconhece nos fenômenos psíquicos um caráter sobrenatural; ele os explica pelas faculdades e atributos da alma, e como a alma está na Natureza, os considera como efeitos naturais, que se produzem em virtude de leis especiais, até agora desconhecidas, que o Espiritismo dá a conhecer. Realizando-se esses fenômenos aos nossos olhos, em condições idênticas, acompanhados das mesmas circunstâncias, e por intermédio de indivíduos que nada têm de excepcional, daí concluiu pela possibilidade dos que se passaram em tempos mais remotos, e isto pela mesma causa natural.
O Espiritismo não se dirige às pessoas convictas da existência desses fenômenos, e que são perfeitamente livres de neles ver milagres, se tal é sua opinião, mas aos que os negam precisamente por causa do caráter miraculoso que lhes querem dar. Provando que esses fatos não têm de sobrenatural senão a aparência, ele os faz aceitos pelas mesmas pessoas que os repeliam. Os espíritas foram recrutados, em imensa maioria, entre os incrédulos, contudo, hoje não há um só que negue os fatos realizados pelo Cristo. Ora, vale mais crer na existência desses fatos sem o sobrenatural, ou neles não crer absolutamente? Aqueles que os admitem a um título qualquer não estão mais perto de vós do que aqueles que os rejeitam completamente? A partir do momento em que o fato é admitido, não resta senão provar a sua fonte miraculosa, o que deve ser mais fácil, caso a fonte seja real, do que quando o próprio fato é contestado.
Para combater o Espiritismo, apoiando-se o Sr. Poussin na autoridade dos que rejeitam até o princípio espiritual, seria ele dos que pretendem que a incredulidade absoluta é preferível à fé adquirida pelo Espiritismo?
Citamos integralmente o prefácio do livro do Sr. Poussin, seguindo-o de algumas reflexões:
“O Espiritismo, é preciso mesmo reconhecê-lo, envolve como numa imensa rede a Sociedade inteira, e por seus profetas, por seus oráculos, por seus livros e por seu jornalismo, esforça-se por minar surdamente a Igreja católica. Se ele nos prestou o serviço de derrubar as teorias materialistas do século dezoito, dá-nos em troca uma revelação nova, que sapa pela base todo o edifício da revelação cristã. Contudo, por um fenômeno estranho, ou melhor, por força da ignorância e da fascinação que excita a curiosidade, quantos católicos brincam diariamente com o Espiritismo, sem preocupar-se absolutamente com os seus perigos! É bem verdade que os espíritos ainda estão divididos quanto à essência e mesmo quanto à realidade do Espiritismo, e é provavelmente devido a essas incertezas que a maioria acredita que pode formar a própria consciência e usar o Espiritismo como um curioso divertimento. Não obstante, no fundo das almas timoratas e delicadas manifesta-se uma grande ansiedade. Quantas vezes não temos ouvido estas perguntas interessantes: ‘Dizei-nos a verdade. Que é o Espiritismo? Qual a sua origem? Credes nessa genealogia que queria ligar os fenômenos do Espiritismo à magia antiga? Admitis os fatos estranhos do magnetismo e das mesas girantes? Credes na intervenção dos Espíritos e na evocação das almas; no papel dos anjos e dos demônios? É permitido interrogar as mesas girantes e consultar os espiritistas? Que pensam sobre todas essas questões os teólogos, os bispos?... A Igreja Romana tomou algumas decisões, etc, etc.’
“Estas perguntas, que ainda retinem aos nossos ouvidos, inspiraram o pensamento deste livro, que tem por objetivo responder a todas, nos limites de nossas forças. Assim, para estar mais seguro e mais convincente, jamais afirmamos nada sem uma autoridade grave, e nada decidimos que os bispos e Roma não tenham decidido.
“Entre os que estudaram especialmente estas matérias, uns rejeitam em massa todos os fatos extraordinários que o Espiritismo se atribui. Outros, concedendo larga margem às alucinações e ao charlatanismo, reconhecem que é impossível deixar de admitir certos fenômenos inexplicáveis e não explicados, tão inconciliáveis com os ensinamentos gerais das ciências naturais quanto desconcertantes para a razão humana; entretanto, eles procuram interpretá-los, ou por certas leis misteriosas da Fisiologia, ou pela intervenção da grande alma da Natureza, da qual a nossa é simples emanação, etc.
“Vários escritores católicos, forçados a admitir os fatos, achando a solução natural por vezes impossível e a explicação panteísta absurda, não hesitam em reconhecer em certos fatos do Espiritismo a intervenção direta do demônio. Para estes, o Espiritismo não é senão a continuação dessa magia pagã que aparece em toda a História, desde os mágicos do Faraó, da pitonisa de Endor, dos oráculos de Delfos, das profecias das sibilas e dos adivinhos, até as possessões demoníacas do Evangelho e os fenômenos extraordinários e constatados do magnetismo contemporâneo.
“A Igreja não se pronunciou sobre as discussões especulativas; ela abandona a questão histórica das origens do Espiritismo e a questão psicológica de seus agentes misteriosos à vã disputa dos homens. Teólogos sérios, bispos e doutores particulares têm sustentado essas últimas opiniões, oficialmente; Roma não os aprova nem os censura. Mas se a Igreja prudentemente guardou silêncio sobre as teorias, levantou a voz nas questões práticas, e, em presença das incertezas da razão, ela assinala perigos para a consciência. Uma ciência curiosa e até mesmo inocente em si pode tornar-se, por causa dos abusos frequentes, uma fonte de perigos; assim, Roma condenou como perigosas para os costumes, certas práticas e certos abusos do magnetismo, cujos graves inconvenientes os próprios espíritas não dissimulam. Ainda mais, os bispos julgaram dever interditar aos seus diocesanos, e em qualquer hipótese, como supersticiosos e perigosos para os costumes e para a fé, não só os abusos do magnetismo, mas o uso de interrogar mesas girantes.
“Para nós, na questão especulativa, posta em presença dos que veem o demônio em toda parte e dos que não o veem em parte alguma, quisemos, mantendo-nos à distância dos dois escolhos, estudar as origens históricas do Espiritismo; examinar a certeza dos fatos e discutir imparcialmente os sistemas psicológicos e panteístas pelos quais eles tudo querem interpretar. Evidentemente, quando refutamos vários desses sistemas, a ninguém pretendemos impor os nossos próprios pensamentos, embora as autoridades sobre as quais nos apoiamos nos pareçam da mais alta gravidade. Separando das opiniões livres tudo o que é de fé, como a existência dos anjos e dos demônios, as possessões e as obsessões demoníacas do Evangelho, a legitimidade e a força dos exorcismos na Igreja etc., deixamos a cada um o direito, não de negar o comércio voluntário dos homens com o demônio, o que seria temerário, segundo o Padre Perronne, e conduziria ao pirronismo histórico, mas reconhecemos a todo católico o direito de não ver no Espiritismo a intervenção do demônio, se os nossos argumentos parecerem mais especiosos do que sólidos, e se a razão e o estudo mais atento dos fatos provarem o contrário.
“Quanto à questão prática, não nos reconhecemos o direito de absolver o que Roma condena, e se algumas almas ainda hesitassem, nós as remeteríamos simplesmente às decisões romanas, às interdições episcopais, e mesmo às decisões teológicas que reproduzimos por inteiro.
“O plano deste livro é muito simples. A primeira parte, ou parte histórica, depois de haver dado o ensino das santas Escrituras e a tradição de todos os povos sobre a existência e o papel dos Espíritos, nos inicia aos fatos mais salientes do Espiritismo ou da magia, desde a origem do mundo até os nossos dias.
“A segunda parte, ou parte doutrinal, expõe e discute os diversos sistemas imaginados para descobrir o agente verdadeiro do Espiritismo; após ter precisado da melhor forma possível o ensino da teologia católica sobre a intervenção geral dos Espíritos, e dado livre curso a opiniões livres sobre o agente misterioso da magia moderna, assinalamos aos fiéis os perigos do Espiritismo para a fé, para os costumes e mesmo para a saúde ou para a vida.
“Possam estas páginas, mostrando o perigo, concluir o bem que outros começaram!... Inútil acrescentar que, filhos dóceis da Igreja, condenamos por antecipação tudo quanto Roma pudesse desaprovar.”
O abade Poussin reconhece duas coisas: 1º ─ que o Espiritismo envolve, como numa imensa rede, a Sociedade inteira; 2º ─ que prestou à Igreja o serviço de derrubar as teorias materialistas do século dezoito. Vejamos que consequências decorrem destes dois fatos.
Como dissemos, a grande maioria dos adeptos do Espiritismo é recrutada entre os incrédulos. Com efeito, perguntai aos adeptos do Espiritismo em que eles acreditavam antes de ser espíritas, e 90% deles responderão que não acreditavam em nada ou, pelo menos, que duvidavam de tudo. Para eles, a existência da alma era uma hipótese, sem dúvida desejável, mas incerta; a vida futura era uma quimera; o Cristo era um mito ou, no máximo, um filósofo; Deus, se ele existia, devia ser injusto, cruel e parcial, razão pela qual eles tanto gostavam de crer que ele não existisse.
Hoje eles creem, e sua fé é inabalável, porque ela está fundamentada na evidência e na demonstração e satisfaz à sua razão; o futuro não mais é uma esperança, mas uma certeza, porque eles veem a vida espiritual manifestar-se aos seus olhos; dela não duvidam mais do que duvidam do nascer do sol. É verdade que eles não acreditam nem nos demônios nem nas chamas eternas do inferno, mas em compensação acreditam firmemente num Deus soberanamente justo, bom e misericordioso; eles não creem que o mal venha dele, que é a fonte de todo o bem, nem dos demônios, mas das próprias imperfeições do homem; que se o homem se reformar, o mal não existirá mais; vencer-se a si mesmo é vencer o demônio. Tal é a fé dos espíritas, e a prova de sua força é que se esforçam por se tornarem melhores, por dominar seus maus pendores e por colocar em prática as máximas do Cristo, olhando todos os homens como irmãos, sem acepção de raças, de castas, nem de seitas, perdoando aos seus inimigos, retribuindo o mal com o bem, a exemplo do divino modelo.
Sobre quem devia o Espiritismo ter mais fácil acesso? Não é sobre os que tinham fé e a quem esta bastava; que nada pediam e de nada necessitavam, mas sobre aqueles a quem faltava a fé. Como o Cristo, ele foi aos doentes e não aos que tinham saúde; aos que têm fome e não aos saciados. Ora, os doentes são os que se acham torturados pelas angústias da dúvida e da incredulidade.
E o que foi que ele fez para trazê-los a si? Foram grandes reforços de reclames? Indo pregar a doutrina em praças públicas? Violentando as consciências? Absolutamente, porque estes são os meios da fraqueza, e se ele os tivesse usado, teria mostrado que duvidava do poder de sua moral. Ele tem como regra invariável, conforme a lei da caridade ensinada pelo Cristo, não constranger ninguém, respeitar todas as convicções; contentou-se em anunciar os seus princípios, em desenvolver em seus escritos as bases sobre as quais estão assentadas as suas crenças, e deixou virem a si os que quisessem. Se vieram muitos, é que a muitos conveio e muitos nele acharam o que não haviam achado alhures. Como ele recrutou principalmente entre os incrédulos, se, em alguns anos, ele envolveu o mundo, isto prova que os incrédulos e os que não estão satisfeitos com o que lhes dão são numerosos, porque não se é atraído senão para onde se encontra algo melhor do que o que se tem. Dissemos centenas de vezes: Querem combater o Espiritismo? Que deem algo melhor que ele dá.
Reconheceis, senhor abade, que o Espiritismo prestou à Igreja o serviço de derrubar as teorias materialistas. Sem dúvida é um grande feito, do qual ele se glorifica. Mas como o conseguiu? Precisamente com o auxílio desses meios que chamais diabólicos, das provas materiais que ele dá da alma e da vida futura; foi com a manifestação dos Espíritos que ele confundiu a incredulidade e que triunfará definitivamente. E dizeis que tal serviço é obra de Satã? Mas então não deveríeis querê-lo tanto, porquanto ele próprio destrói a barreira que retinha os que ele havia açambarcado. Lembrai-vos da resposta do Cristo aos Fariseus, que lhe falavam exatamente na mesma linguagem, acusando-o de curar os doentes e de expulsar os demônios pelos demônios. Lembrai-vos, também, das palavras de Monsenhor Frayssinous, bispo de Hermópolis, sobre este mesmo tema, em suas conferências sobre a religião: “Certamente, um demônio que procurasse destruir o reino do vício para estabelecer o da virtude, seria um demônio esquisito, porque se destruiria a si próprio.”
Se esse resultado obtido pelo Espiritismo é obra de Satã, como é que a Igreja lhe deixou o mérito e não o obteve ela própria? Como deixou a incredulidade invadir a Sociedade? Entretanto, não foram os meios de ação que lhe faltaram. Não tem ela um pessoal e recursos materiais imensos; as pregações, desde as capitais até as menores aldeias; a pressão que exerce sobre as consciências através da confissão; o terror das penas eternas; a instrução religiosa que acompanha a criança durante todo o curso da sua educação; o prestígio das cerimônias do culto e o de sua ancianidade? Como é que uma doutrina apenas desabrochada, que não tem sacerdotes nem templos nem culto nem pregações; que é combatida sistematicamente pela Igreja, caluniada, perseguida como o foram os primeiros cristãos, em tão pouco tempo conduziu à fé e à crença na imortalidade da alma um tão grande número de incrédulos? Entretanto, a coisa não era muito difícil, pois bastou à maioria ler alguns livros para ver se esvaírem suas dúvidas.
Tirai daí todas as consequências que quiserdes, mas concordai que se isto é obra do diabo, ele fez o que vós mesmos não pudestes fazer e que ele desempenhou a vossa tarefa.
Sem dúvida direis que o que depõe contra o Espiritismo é que ele não emprega, para convencer, os mesmos argumentos que vós, e que se triunfa da incredulidade, não conduz completamente à vós.
Mas o Espiritismo não tem a pretensão de marchar nem convosco nem com ninguém. Ele mesmo faz os seus trabalhos, e como entende. De boa-fé, acreditais que se a incredulidade foi refratária aos vossos argumentos, o Espiritismo teria triunfado servindo-se dos mesmos? Se um médico não cura um doente com um remédio, outro médico o curará empregando o mesmo remédio?
O Espiritismo não procura mais trazer os incrédulos ao regaço absoluto do Catolicismo mais do que ao de qualquer outro culto.
Em lhes fazendo aceitar as bases comuns a todas as religiões, ele destrói o principal obstáculo, e os leva a fazer a metade do caminho; a cada uma cabe fazer o resto, no que lhe concerne; aquelas que fracassam dão uma prova manifesta de impotência.
A partir do instante em que a Igreja reconhece a existência de todos os fatos de manifestações sobre os quais se apoia o Espiritismo; que ela os reivindica para si mesma, a título de milagres divinos; que há entre os fatos que se passam nos dois campos uma analogia completa quanto aos efeitos, analogia que o Sr. Poussin demonstra com a última evidência e peças de apoio, pondo-as à vista, toda a questão se reduz, então, em saber se é Deus que age de um lado e o diabo do outro. É uma questão de pessoa. Ora, quando duas pessoas fazem exatamente a mesma coisa, daí se conclui que uma é tão poderosa quanto a outra. Todo o argumento do Sr. Poussin termina, assim, por demonstrar que o diabo é tão poderoso quanto Deus.
De duas, uma: ou os efeitos são idênticos, ou não o são; se são idênticos, é que provêm de uma mesma causa, ou de duas causas equivalentes; se não o são, mostrai em que diferem. É nos resultados? Mas, então a comparação seria em favor do Espiritismo, porque ele conduz a Deus os que nele não acreditavam.
Fica bem entendido, portanto, conforme a decisão formal das autoridades competentes, que os Espíritos que se manifestam não são e nem podem ser senão demônios. Concordai, entretanto, senhor abade, que se esses mesmos Espíritos, em vez de contradizer a Igreja sobre alguns pontos, tivessem sido em tudo da sua opinião, se tivessem vindo apoiar todas as suas pretensões temporais e espirituais, aprovar sem restrição tudo quanto ela diz e tudo o que faz, ela não os chamaria de demônios, mas de Espíritos angélicos.
O Sr. Abade Poussin escreveu seu livro, diz ele, tendo em vista premunir os fiéis contra os perigos que pode correr sua fé, pelo estudo do Espiritismo. É testemunhar pouca confiança na solidez das bases sobre as quais está assente essa fé, pois pode desmoronar tão facilmente. O Espiritismo não tem o mesmo receio. Tudo quanto puderam dizer e fazer contra ele não lhe fez perder uma polegada de terreno, pois ele o ganha todos os dias; entretanto, não faltou talento a mais de um de seus adversários. As lutas empenhadas contra ele, longe de enfraquecê-lo, fortaleceramno; elas contribuíram poderosamente para difundi-lo mais rapidamente do que terse-ia difundido sem isso, de tal sorte que essa rede que em alguns anos envolveu a Sociedade inteira, é, em grande parte, obra de seus antagonistas. Sem nenhum dos meios materiais de ação que fazem os sucessos neste mundo, ele não se propagou senão pelo poder da ideia. Considerando-se que os argumentos com a ajuda dos quais o combateram não o derrubaram, é que, aparentemente, os julgaram menos convincentes que os seus. Quereis ter o segredo de sua fé? Ei-lo: É que antes de crer, eles compreendem.
O Espiritismo não teme a luz; ele a chama sobre suas doutrinas, porque quer ser aceito livremente e pela razão. Longe de temer que os espíritas percam sua fé pela leitura de obras que o combatem, ele lhes diz: Lede tudo, o pró e o contra, e escolhei com conhecimento de causa. É por isto que assinalamos à sua atenção a obra do Sr. Abade Poussin[1].
Para combater o Espiritismo, apoiando-se o Sr. Poussin na autoridade dos que rejeitam até o princípio espiritual, seria ele dos que pretendem que a incredulidade absoluta é preferível à fé adquirida pelo Espiritismo?
Citamos integralmente o prefácio do livro do Sr. Poussin, seguindo-o de algumas reflexões:
“O Espiritismo, é preciso mesmo reconhecê-lo, envolve como numa imensa rede a Sociedade inteira, e por seus profetas, por seus oráculos, por seus livros e por seu jornalismo, esforça-se por minar surdamente a Igreja católica. Se ele nos prestou o serviço de derrubar as teorias materialistas do século dezoito, dá-nos em troca uma revelação nova, que sapa pela base todo o edifício da revelação cristã. Contudo, por um fenômeno estranho, ou melhor, por força da ignorância e da fascinação que excita a curiosidade, quantos católicos brincam diariamente com o Espiritismo, sem preocupar-se absolutamente com os seus perigos! É bem verdade que os espíritos ainda estão divididos quanto à essência e mesmo quanto à realidade do Espiritismo, e é provavelmente devido a essas incertezas que a maioria acredita que pode formar a própria consciência e usar o Espiritismo como um curioso divertimento. Não obstante, no fundo das almas timoratas e delicadas manifesta-se uma grande ansiedade. Quantas vezes não temos ouvido estas perguntas interessantes: ‘Dizei-nos a verdade. Que é o Espiritismo? Qual a sua origem? Credes nessa genealogia que queria ligar os fenômenos do Espiritismo à magia antiga? Admitis os fatos estranhos do magnetismo e das mesas girantes? Credes na intervenção dos Espíritos e na evocação das almas; no papel dos anjos e dos demônios? É permitido interrogar as mesas girantes e consultar os espiritistas? Que pensam sobre todas essas questões os teólogos, os bispos?... A Igreja Romana tomou algumas decisões, etc, etc.’
“Estas perguntas, que ainda retinem aos nossos ouvidos, inspiraram o pensamento deste livro, que tem por objetivo responder a todas, nos limites de nossas forças. Assim, para estar mais seguro e mais convincente, jamais afirmamos nada sem uma autoridade grave, e nada decidimos que os bispos e Roma não tenham decidido.
“Entre os que estudaram especialmente estas matérias, uns rejeitam em massa todos os fatos extraordinários que o Espiritismo se atribui. Outros, concedendo larga margem às alucinações e ao charlatanismo, reconhecem que é impossível deixar de admitir certos fenômenos inexplicáveis e não explicados, tão inconciliáveis com os ensinamentos gerais das ciências naturais quanto desconcertantes para a razão humana; entretanto, eles procuram interpretá-los, ou por certas leis misteriosas da Fisiologia, ou pela intervenção da grande alma da Natureza, da qual a nossa é simples emanação, etc.
“Vários escritores católicos, forçados a admitir os fatos, achando a solução natural por vezes impossível e a explicação panteísta absurda, não hesitam em reconhecer em certos fatos do Espiritismo a intervenção direta do demônio. Para estes, o Espiritismo não é senão a continuação dessa magia pagã que aparece em toda a História, desde os mágicos do Faraó, da pitonisa de Endor, dos oráculos de Delfos, das profecias das sibilas e dos adivinhos, até as possessões demoníacas do Evangelho e os fenômenos extraordinários e constatados do magnetismo contemporâneo.
“A Igreja não se pronunciou sobre as discussões especulativas; ela abandona a questão histórica das origens do Espiritismo e a questão psicológica de seus agentes misteriosos à vã disputa dos homens. Teólogos sérios, bispos e doutores particulares têm sustentado essas últimas opiniões, oficialmente; Roma não os aprova nem os censura. Mas se a Igreja prudentemente guardou silêncio sobre as teorias, levantou a voz nas questões práticas, e, em presença das incertezas da razão, ela assinala perigos para a consciência. Uma ciência curiosa e até mesmo inocente em si pode tornar-se, por causa dos abusos frequentes, uma fonte de perigos; assim, Roma condenou como perigosas para os costumes, certas práticas e certos abusos do magnetismo, cujos graves inconvenientes os próprios espíritas não dissimulam. Ainda mais, os bispos julgaram dever interditar aos seus diocesanos, e em qualquer hipótese, como supersticiosos e perigosos para os costumes e para a fé, não só os abusos do magnetismo, mas o uso de interrogar mesas girantes.
“Para nós, na questão especulativa, posta em presença dos que veem o demônio em toda parte e dos que não o veem em parte alguma, quisemos, mantendo-nos à distância dos dois escolhos, estudar as origens históricas do Espiritismo; examinar a certeza dos fatos e discutir imparcialmente os sistemas psicológicos e panteístas pelos quais eles tudo querem interpretar. Evidentemente, quando refutamos vários desses sistemas, a ninguém pretendemos impor os nossos próprios pensamentos, embora as autoridades sobre as quais nos apoiamos nos pareçam da mais alta gravidade. Separando das opiniões livres tudo o que é de fé, como a existência dos anjos e dos demônios, as possessões e as obsessões demoníacas do Evangelho, a legitimidade e a força dos exorcismos na Igreja etc., deixamos a cada um o direito, não de negar o comércio voluntário dos homens com o demônio, o que seria temerário, segundo o Padre Perronne, e conduziria ao pirronismo histórico, mas reconhecemos a todo católico o direito de não ver no Espiritismo a intervenção do demônio, se os nossos argumentos parecerem mais especiosos do que sólidos, e se a razão e o estudo mais atento dos fatos provarem o contrário.
“Quanto à questão prática, não nos reconhecemos o direito de absolver o que Roma condena, e se algumas almas ainda hesitassem, nós as remeteríamos simplesmente às decisões romanas, às interdições episcopais, e mesmo às decisões teológicas que reproduzimos por inteiro.
“O plano deste livro é muito simples. A primeira parte, ou parte histórica, depois de haver dado o ensino das santas Escrituras e a tradição de todos os povos sobre a existência e o papel dos Espíritos, nos inicia aos fatos mais salientes do Espiritismo ou da magia, desde a origem do mundo até os nossos dias.
“A segunda parte, ou parte doutrinal, expõe e discute os diversos sistemas imaginados para descobrir o agente verdadeiro do Espiritismo; após ter precisado da melhor forma possível o ensino da teologia católica sobre a intervenção geral dos Espíritos, e dado livre curso a opiniões livres sobre o agente misterioso da magia moderna, assinalamos aos fiéis os perigos do Espiritismo para a fé, para os costumes e mesmo para a saúde ou para a vida.
“Possam estas páginas, mostrando o perigo, concluir o bem que outros começaram!... Inútil acrescentar que, filhos dóceis da Igreja, condenamos por antecipação tudo quanto Roma pudesse desaprovar.”
O abade Poussin reconhece duas coisas: 1º ─ que o Espiritismo envolve, como numa imensa rede, a Sociedade inteira; 2º ─ que prestou à Igreja o serviço de derrubar as teorias materialistas do século dezoito. Vejamos que consequências decorrem destes dois fatos.
Como dissemos, a grande maioria dos adeptos do Espiritismo é recrutada entre os incrédulos. Com efeito, perguntai aos adeptos do Espiritismo em que eles acreditavam antes de ser espíritas, e 90% deles responderão que não acreditavam em nada ou, pelo menos, que duvidavam de tudo. Para eles, a existência da alma era uma hipótese, sem dúvida desejável, mas incerta; a vida futura era uma quimera; o Cristo era um mito ou, no máximo, um filósofo; Deus, se ele existia, devia ser injusto, cruel e parcial, razão pela qual eles tanto gostavam de crer que ele não existisse.
Hoje eles creem, e sua fé é inabalável, porque ela está fundamentada na evidência e na demonstração e satisfaz à sua razão; o futuro não mais é uma esperança, mas uma certeza, porque eles veem a vida espiritual manifestar-se aos seus olhos; dela não duvidam mais do que duvidam do nascer do sol. É verdade que eles não acreditam nem nos demônios nem nas chamas eternas do inferno, mas em compensação acreditam firmemente num Deus soberanamente justo, bom e misericordioso; eles não creem que o mal venha dele, que é a fonte de todo o bem, nem dos demônios, mas das próprias imperfeições do homem; que se o homem se reformar, o mal não existirá mais; vencer-se a si mesmo é vencer o demônio. Tal é a fé dos espíritas, e a prova de sua força é que se esforçam por se tornarem melhores, por dominar seus maus pendores e por colocar em prática as máximas do Cristo, olhando todos os homens como irmãos, sem acepção de raças, de castas, nem de seitas, perdoando aos seus inimigos, retribuindo o mal com o bem, a exemplo do divino modelo.
Sobre quem devia o Espiritismo ter mais fácil acesso? Não é sobre os que tinham fé e a quem esta bastava; que nada pediam e de nada necessitavam, mas sobre aqueles a quem faltava a fé. Como o Cristo, ele foi aos doentes e não aos que tinham saúde; aos que têm fome e não aos saciados. Ora, os doentes são os que se acham torturados pelas angústias da dúvida e da incredulidade.
E o que foi que ele fez para trazê-los a si? Foram grandes reforços de reclames? Indo pregar a doutrina em praças públicas? Violentando as consciências? Absolutamente, porque estes são os meios da fraqueza, e se ele os tivesse usado, teria mostrado que duvidava do poder de sua moral. Ele tem como regra invariável, conforme a lei da caridade ensinada pelo Cristo, não constranger ninguém, respeitar todas as convicções; contentou-se em anunciar os seus princípios, em desenvolver em seus escritos as bases sobre as quais estão assentadas as suas crenças, e deixou virem a si os que quisessem. Se vieram muitos, é que a muitos conveio e muitos nele acharam o que não haviam achado alhures. Como ele recrutou principalmente entre os incrédulos, se, em alguns anos, ele envolveu o mundo, isto prova que os incrédulos e os que não estão satisfeitos com o que lhes dão são numerosos, porque não se é atraído senão para onde se encontra algo melhor do que o que se tem. Dissemos centenas de vezes: Querem combater o Espiritismo? Que deem algo melhor que ele dá.
Reconheceis, senhor abade, que o Espiritismo prestou à Igreja o serviço de derrubar as teorias materialistas. Sem dúvida é um grande feito, do qual ele se glorifica. Mas como o conseguiu? Precisamente com o auxílio desses meios que chamais diabólicos, das provas materiais que ele dá da alma e da vida futura; foi com a manifestação dos Espíritos que ele confundiu a incredulidade e que triunfará definitivamente. E dizeis que tal serviço é obra de Satã? Mas então não deveríeis querê-lo tanto, porquanto ele próprio destrói a barreira que retinha os que ele havia açambarcado. Lembrai-vos da resposta do Cristo aos Fariseus, que lhe falavam exatamente na mesma linguagem, acusando-o de curar os doentes e de expulsar os demônios pelos demônios. Lembrai-vos, também, das palavras de Monsenhor Frayssinous, bispo de Hermópolis, sobre este mesmo tema, em suas conferências sobre a religião: “Certamente, um demônio que procurasse destruir o reino do vício para estabelecer o da virtude, seria um demônio esquisito, porque se destruiria a si próprio.”
Se esse resultado obtido pelo Espiritismo é obra de Satã, como é que a Igreja lhe deixou o mérito e não o obteve ela própria? Como deixou a incredulidade invadir a Sociedade? Entretanto, não foram os meios de ação que lhe faltaram. Não tem ela um pessoal e recursos materiais imensos; as pregações, desde as capitais até as menores aldeias; a pressão que exerce sobre as consciências através da confissão; o terror das penas eternas; a instrução religiosa que acompanha a criança durante todo o curso da sua educação; o prestígio das cerimônias do culto e o de sua ancianidade? Como é que uma doutrina apenas desabrochada, que não tem sacerdotes nem templos nem culto nem pregações; que é combatida sistematicamente pela Igreja, caluniada, perseguida como o foram os primeiros cristãos, em tão pouco tempo conduziu à fé e à crença na imortalidade da alma um tão grande número de incrédulos? Entretanto, a coisa não era muito difícil, pois bastou à maioria ler alguns livros para ver se esvaírem suas dúvidas.
Tirai daí todas as consequências que quiserdes, mas concordai que se isto é obra do diabo, ele fez o que vós mesmos não pudestes fazer e que ele desempenhou a vossa tarefa.
Sem dúvida direis que o que depõe contra o Espiritismo é que ele não emprega, para convencer, os mesmos argumentos que vós, e que se triunfa da incredulidade, não conduz completamente à vós.
Mas o Espiritismo não tem a pretensão de marchar nem convosco nem com ninguém. Ele mesmo faz os seus trabalhos, e como entende. De boa-fé, acreditais que se a incredulidade foi refratária aos vossos argumentos, o Espiritismo teria triunfado servindo-se dos mesmos? Se um médico não cura um doente com um remédio, outro médico o curará empregando o mesmo remédio?
O Espiritismo não procura mais trazer os incrédulos ao regaço absoluto do Catolicismo mais do que ao de qualquer outro culto.
Em lhes fazendo aceitar as bases comuns a todas as religiões, ele destrói o principal obstáculo, e os leva a fazer a metade do caminho; a cada uma cabe fazer o resto, no que lhe concerne; aquelas que fracassam dão uma prova manifesta de impotência.
A partir do instante em que a Igreja reconhece a existência de todos os fatos de manifestações sobre os quais se apoia o Espiritismo; que ela os reivindica para si mesma, a título de milagres divinos; que há entre os fatos que se passam nos dois campos uma analogia completa quanto aos efeitos, analogia que o Sr. Poussin demonstra com a última evidência e peças de apoio, pondo-as à vista, toda a questão se reduz, então, em saber se é Deus que age de um lado e o diabo do outro. É uma questão de pessoa. Ora, quando duas pessoas fazem exatamente a mesma coisa, daí se conclui que uma é tão poderosa quanto a outra. Todo o argumento do Sr. Poussin termina, assim, por demonstrar que o diabo é tão poderoso quanto Deus.
De duas, uma: ou os efeitos são idênticos, ou não o são; se são idênticos, é que provêm de uma mesma causa, ou de duas causas equivalentes; se não o são, mostrai em que diferem. É nos resultados? Mas, então a comparação seria em favor do Espiritismo, porque ele conduz a Deus os que nele não acreditavam.
Fica bem entendido, portanto, conforme a decisão formal das autoridades competentes, que os Espíritos que se manifestam não são e nem podem ser senão demônios. Concordai, entretanto, senhor abade, que se esses mesmos Espíritos, em vez de contradizer a Igreja sobre alguns pontos, tivessem sido em tudo da sua opinião, se tivessem vindo apoiar todas as suas pretensões temporais e espirituais, aprovar sem restrição tudo quanto ela diz e tudo o que faz, ela não os chamaria de demônios, mas de Espíritos angélicos.
O Sr. Abade Poussin escreveu seu livro, diz ele, tendo em vista premunir os fiéis contra os perigos que pode correr sua fé, pelo estudo do Espiritismo. É testemunhar pouca confiança na solidez das bases sobre as quais está assente essa fé, pois pode desmoronar tão facilmente. O Espiritismo não tem o mesmo receio. Tudo quanto puderam dizer e fazer contra ele não lhe fez perder uma polegada de terreno, pois ele o ganha todos os dias; entretanto, não faltou talento a mais de um de seus adversários. As lutas empenhadas contra ele, longe de enfraquecê-lo, fortaleceramno; elas contribuíram poderosamente para difundi-lo mais rapidamente do que terse-ia difundido sem isso, de tal sorte que essa rede que em alguns anos envolveu a Sociedade inteira, é, em grande parte, obra de seus antagonistas. Sem nenhum dos meios materiais de ação que fazem os sucessos neste mundo, ele não se propagou senão pelo poder da ideia. Considerando-se que os argumentos com a ajuda dos quais o combateram não o derrubaram, é que, aparentemente, os julgaram menos convincentes que os seus. Quereis ter o segredo de sua fé? Ei-lo: É que antes de crer, eles compreendem.
O Espiritismo não teme a luz; ele a chama sobre suas doutrinas, porque quer ser aceito livremente e pela razão. Longe de temer que os espíritas percam sua fé pela leitura de obras que o combatem, ele lhes diz: Lede tudo, o pró e o contra, e escolhei com conhecimento de causa. É por isto que assinalamos à sua atenção a obra do Sr. Abade Poussin[1].
Transcrevemos, a seguir, sem comentários, alguns fragmentos tirados da primeira parte.
1. ─ Certos católicos, mesmo piedosos, em matéria de fé têm ideias singulares, resultado inevitável do ceticismo ambiente que, malgrado seu, os domina e dos quais sofrem a influência deletéria. Falai de Deus, de Jesus Cristo, e eles aceitam tudo imediatamente; mas se tentardes falar do demônio e sobretudo da intervenção diabólica na vida humana, não mais vos entendem. Como os nossos racionalistas contemporâneos, de boa vontade eles tomariam o demônio por um mito ou uma personificação fantástica do gênio do mal; os êxtases dos santos por fenômenos de catalepsia e as possessões diabólicas, mesmo as do Evangelho, senão por epilepsia, ao menos por parábolas. Santo Tomás, em sua linguagem precisa, responde em duas palavras a esse perigoso ceticismo: “Se a facilidade de ver falar o demônio procede da ignorância das leis da Natureza e da credulidade, a tendência geral a não ver sua ação em parte alguma procede da irreligião e da incredulidade.” Negar o demônio é negar o Cristianismo e negar Deus.
1. ─ Certos católicos, mesmo piedosos, em matéria de fé têm ideias singulares, resultado inevitável do ceticismo ambiente que, malgrado seu, os domina e dos quais sofrem a influência deletéria. Falai de Deus, de Jesus Cristo, e eles aceitam tudo imediatamente; mas se tentardes falar do demônio e sobretudo da intervenção diabólica na vida humana, não mais vos entendem. Como os nossos racionalistas contemporâneos, de boa vontade eles tomariam o demônio por um mito ou uma personificação fantástica do gênio do mal; os êxtases dos santos por fenômenos de catalepsia e as possessões diabólicas, mesmo as do Evangelho, senão por epilepsia, ao menos por parábolas. Santo Tomás, em sua linguagem precisa, responde em duas palavras a esse perigoso ceticismo: “Se a facilidade de ver falar o demônio procede da ignorância das leis da Natureza e da credulidade, a tendência geral a não ver sua ação em parte alguma procede da irreligião e da incredulidade.” Negar o demônio é negar o Cristianismo e negar Deus.
2. ─
A crença na existência dos Espíritos e sua intervenção no domínio de nossa
vida, mais ainda, o próprio Espiritismo ou a prática da evocação dos Espíritos,
almas, anjos ou demônios, remontam à mais alta Antiguidade, e são tão antigas
quanto o mundo. ─ Sobre a existência e o papel dos Espíritos, interroguemos,
para começar, nossos livros sagrados, os mais antigos e os mais incontestados
livros de História, que são, ao mesmo tempo, o código divino de nossa fé. O
demônio seduzindo sob uma forma sensível Adão e Eva no Paraíso; os querubins
que guardavam a sua entrada; os anjos que visitam Abraão e discutem com ele a
questão da salvação de Sodoma; os anjos insultados na cidade imunda, arrancando
Loth ao incêndio; o anjo de Isaac, de Jacob, de Moisés e de Tobias; o demônio
que mata os sete maridos de Sara; o que tortura a alma e o corpo de Job; o anjo
exterminador dos egípcios sob Moisés, e dos israelitas sob David; a mão
invisível que escreve a sentença Baltazar; o anjo que fere Heliodoro; o anjo da
Encarnação, Gabriel, que anuncia São João e Jesus Cristo; que mais é preciso
para mostrar a existência dos Espíritos e a crença na intervenção desses
Espíritos, bons ou maus, nos atos da vida humana? Deus fez dos Espíritos seus
embaixadores, diz o salmista; são os ministros de Deus, diz São Paulo; São
Pedro nos ensina que os demônios rondam sem cessar em torno de nós, como leões
rugidores; São Paulo, tentado por eles, nos declara que o ar está cheio deles.
3. ─
Notamos aqui que as tradições pagãs estão em perfeita harmonia com as tradições
judias e cristãs. O mundo, segundo Tales e Pitágoras, está cheio de substâncias espirituais. Todos esses
autores os dividem em Espíritos bons e maus; Empédocles diz que os demônios são
punidos pelas faltas que cometeram; Platão fala de um príncipe, de natureza
malfazeja, preposto desses Espíritos expulsos pelos deuses e caídos do céu, diz
Plutarco. Todas as almas, acrescenta Porfírio, que têm por princípio a alma do
Universo, governam os grandes países situados em baixo da Lua: são os bons demônios (Espíritos); e, fiquemos bem
convencidos, eles não agem senão no interesse de seus administrados, seja com o
cuidado que dedicam aos animais, seja quando velam pelos frutos da terra, seja
quando presidem às chuvas, aos ventos moderados, ao bom tempo. É preciso ainda
colocar na categoria dos bons demônios, segundo
Platão, aqueles que são encarregados de levar aos deuses as preces dos homens,
e que trazem aos homens as advertências, as exortações, os oráculos dos deuses.
4. ─
Os árabes chamam o chefe dos demônios Iba;
os caldeus enchem com eles o ar; Confúcio, enfim, ensina absolutamente a
mesma doutrina: “Como são sublimes as virtudes dos Espíritos! dizia ele; nós os
olhamos e não os vemos; escutamo-los e não os ouvimos; unidos à substância das
coisas, eles não podem delas separar-se; eles são a causa de que todos os
homens em todo o Universo se purifiquem e se revistam de roupas de gala para
oferecer sacrifícios; estão espalhados como as ondas do oceano acima de nós, à
nossa esquerda e à nossa direita.”
O culto dos Manitôs, espalhado entre os selvagens da
América, não é senão o culto dos Espíritos.
5. ─
Por seu lado, os Pais da Igreja interpretaram admiravelmente a doutrina das
Escrituras sobre a existência e a intervenção dos Espíritos: “Nada há no mundo
visível que não seja regido e disposto pela criatura invisível”, diz São
Gregório. “Cada ser vivo tem, neste mundo, um anjo que o dirige”, acrescenta
Santo Agostinho. “Os anjos, diz São Gregório de Nazianza, são os ministros da
vontade de Deus; eles têm, naturalmente e por comunicação, uma força
extraordinária; eles percorrem todos os lugares e se acham em toda parte, tanto
pela prontidão com que exercem seu ministério, quanto pela leveza de sua
natureza. Uns são encarregados de velar sobre alguma parte do Universo que lhes
é designada por Deus, de quem dependem em todas as coisas; outros estão na
guarda das cidades e das igrejas; ajudam-nos em tudo quanto fazemos de bem.
6. ─
Em relação à razão fundamental, Deus governa imediatamente o Universo; mas
relativamente à execução, há coisas que ele governa por intermediários.
7. ─
Quanto à própria evocação dos
Espíritos, almas, anjos ou demônios, e a todas as práticas da magia, de que o
Espiritismo não passa de uma forma mais ou menos desenvolvida de charlatanismo,
é uma prática tão antiga quanto a crença nos próprios Espíritos.
8. ─
Assim explica São Cipriano os mistérios do Espiritismo pagão:
“Os demônios se introduzem nas estátuas e nos
simulacros que o homem adora; são eles que animam as fibras das vítimas, que
inspiram com seu sopro o coração dos adivinhos e dão uma voz aos oráculos. Mas
como podem eles curar? Loedunt primo, diz Tertuliano, postque laedere desinunt, et curasse creduntur. Primeiro ferem e, cessando de ferir, passam por curar.
Na Índia, são os Lamas
e os bramanistas que, desde a mais alta Antiguidade, têm o monopólio dessas
mesmas evocações, que ainda continuam. “Eles faziam comunicar-se o Céu com a
Terra, o homem com a Divindade, absolutamente como os nossos médiuns atuais. A origem desse
privilégio parece remontar à própria gênese dos hindus e pertencer à casta
sacerdotal desses povos. Saída do cérebro de Brahma, a casta sacerdotal deve
ficar mais perto da natureza desse deus criador e entrar mais facilmente em
comunicação com ele do que a casta guerreira, nascida de seus braços e, com
mais forte razão, que a casta dos párias, formada da poeira de seus pés.”
9. ─
Mas o fato mais interessante e mais autêntico da História, é, sem dúvida, a
evocação de Samuel pelo médium da
Pitoniza de Endor, que interroga Saul: “Samuel tinha morrido, diz a Escritura;
toda Israel o tinha chorado e ele tinha sido enterrado na cidade de Ramatha,
lugar de seu nascimento. E Saul havia expulsado os magos e os adivinhos de seu
reino. Estando então reunidos, os Filisteus vieram acampar em Sunam; por seu
lado, Saul reuniu todas as tropas de Israel e veio para Gilboé. E tendo visto o
exército dos Filisteus, foi tomado de espanto e o medo o tomou até o fundo do
coração. Ele consultou o Senhor, mas o Senhor não lhe respondeu, nem em sonhos,
nem pelos sacerdotes, nem pelos profetas. Então ele disse aos seus oficiais:
“Procurai-me uma mulher que tenha um
Espírito de Píton, para que eu vá encontrála e que, por meio dela, eu possa
consultá-lo.” Seus servidores lhe disseram: “Há em Endor uma mulher que tem um
Espírito de Píton.” Então Saul se disfarçou, trocou de roupas e lá foi,
acompanhado por apenas dois homens. Ele foi à noite à casa da mulher e lhe
disse: “Consultai para mim o Espírito de Píton e evocai-me aquele que eu vos
disser.” Essa mulher lhe respondeu: “Vós sabeis tudo o que fez Saul e de que
maneira exterminou os magos e os adivinhos de todas as suas terras. Por que,
então, armais uma cilada para me perder?” Saul jurou pelo Senhor e lhe disse:
“Viva o Senhor! Deste não vos virá nenhum mal.” A mulher lhe disse: “Quem
quereis ver?” Ele respondeu: “Fazei-me vir Samuel.” A mulher, tendo visto Samuel,
soltou um grande grito, e disse a Saul: “Por que me enganastes? Porque sois
Saul.” O rei lhe disse: “Não temais. Que vistes?” ─ Eu vi, disse-lhe ela, um deus
que saía da terra.” Saul lhe
disse: “Como era ele feito?” ─ “É, disse ela, um velho coberto com um manto”.
Saul reconheceu, então, que era Samuel, e lhe fez uma profunda reverência,
curvando-se até o chão. Samuel disse a Saul: “Por que perturbastes o meu
repouso, fazendo-me evocar?” Saul lhe respondeu: “Estou numa situação extrema.
Os Filisteus me fazem guerra e Deus se
afastou de mim: ele não me quis responder nem pelos profetas, nem em
sonhos. Eis por que vos fiz evocar, a fim de que ensineis o que devo fazer.”
Samuel lhe disse: “Por que vos dirigis a mim, se o Senhor vos abandonou e
passou ao vosso rival? Porque o Senhor vos tratará como eu disse de sua parte.
Ele estraçalhará o vosso reino por vossas mãos, para dá-lo a David, vosso
genro, porque não obedecestes à voz do Senhor, nem executastes a sentença de
sua cólera contra os amalacitas. É por isto que o Senhor vos envia hoje aquilo
que sofreis. Ele entregará Israel convosco nas mãos dos Filisteus. Amanhã estareis comigo, vós e o vosso filho, e o Senhor abandonará aos filisteus o
campo de Israel.” Saul caiu imediatamente e ficou estendido no chão, porque as
palavras de Samuel o tinham apavorado, e as forças lhe faltavam, porque ainda
não tinha comido nada naquele dia. A maga veio a ele na perturbação em que ele
estava e lhe disse: ‘Vedes que vossa serva vos obedeceu, que expus minha vida por vós e que me entreguei ao que desejáveis
de mim.’
“Eis que há
quarenta anos faço profissão de evocar os mortos a serviço de estranhos,
disse Philon após essa história, mas jamais vi semelhante aparição. O
Eclesiastes encarregou-se de nos provar que se trata de uma verdadeira aparição
e não de uma alucinação de Saul: “Samuel, depois
de sua morte, falou ao rei, diz o Espírito Santo, predisse o fim de sua
vida e, saindo da terra, ergueu sua
voz para profetizar a ruína de sua nação, por causa de sua impiedade.”
[1] Um vol. in-12; preço, 3 francos. No livreiro Sarlit, Rua Saint-Sulpice, 23. Paris.
Os Aissaouá ou os convulsionários da rua Le Peletier
Entre as curiosidades atraídas a Paris pela Exposição, uma das mais estranhas é certamente a dos exercícios executados por árabes da tribo dos aïssaouá. O Monde Illustré, de 19 de outubro de 1867 fornece um relato acompanhado de vários desenhos das diversas cenas que o autor do artigo testemunhou na Argélia. Ele começa assim o seu relato:
“Os aïssaouá formam uma seita religiosa muito espalhada na África e sobretudo na Argélia. Não conhecemos o seu objetivo; sua fundação remonta, dizem uns, a Aïssa, o escravo favorito do Profeta; outros pretendem que sua confraria foi fundada por Aïssa, piedoso e sábio marabu do século dezesseis. Seja como for, os aïssaouá sustentam que o seu piedoso fundador lhes dá o privilégio de serem insensíveis ao sofrimento.”
Tiramos do Petit Journal de 30 de setembro de 1867 o relato de uma das sessões que uma companhia de aïssaouá deu em Paris, durante a Exposição, primeiro no teatro do Campo de Marte e em último lugar na sala da arena atlética da rua Le Peletier. Sem dúvida a cena não tem o caráter imponente e terrível das que se realizam nas mesquitas, cercadas pelo prestígio das cerimônias religiosas. Mas, à parte algumas nuanças de detalhes, os fatos são os mesmos e os resultados idênticos, e aí está o essencial. Aliás, tendo-se passado as coisas em plena Paris, aos olhos de numeroso público, o relato não pode ser suspeito de exagero. É o Sr. Timothée Trimm que fala:
“Confesso que ontem à noite vi coisas que deixam muito para trás os irmãos Davenport e os pretensos milagres do magnetismo. Os prodígios são produzidos numa pequena sala, ainda não classificada na hierarquia dos espetáculos. Isto se passa na arena atlética da rua Le Peletier. Sem dúvida é por isso que tão pouco se trata dos feiticeiros, dos quais falo hoje.
É evidente que tratamos com iluminados, porque eis vinte e seis árabes que se agacham e, para começar, se servem de castanholas de ferro para acompanhar seus cantos.
Do corpo de balé muçulmano inicialmente saiu o primeiro, um jovem árabe que tomou um carvão aceso. Não suspeito que pudesse ser um carvão de um calor fictício, adrede preparado, porque senti o seu ardor quando ele passou em minha frente e queimou o assoalho quando escapou das mãos que o sustinham. O homem tomou esse carvão ardente, colocou-o em sua boca com gritos horríveis e ali o conservou.
Para mim é evidente que esses bárbaros aïssaouá são verdadeiros convulsionários maometanos. No século passado houve os convulsionários de Paris. Os aïssaouá da rua Le Peletier certamente acharam essa curiosa descoberta do prazer, da volúpia e do êxtase na mortificação corporal.
Théophile Gautier, com seu estilo inimitável, descreveu as danças desses convulsionários árabes. Eis o que ele dizia no Moniteur de 29 de julho último:
O primeiro interlúdio de dança era acompanhado por três grandes caixas e três oboés, tocando em modo menor uma cantilena de uma melancolia nostálgica, sustentada por esses ritmos implacáveis que acabam se apoderando de nós e sentimos uma vertigem. Dir-se-ia uma alma lamentosa que a fatalidade força a marchar com um passo sempre igual para um fim desconhecido, mas que se pressente doloroso.
Em breve levantou-se uma dançarina com esse ar abatido que têm as dançarinas orientais, como uma morta que despertasse de uma encantação mágica e por imperceptíveis deslocamentos dos pés aproximou-se do proscênio; uma de suas companheiras juntou-se a ela e começaram, animando-se pouco a pouco, sob a pressão da mesura, essas torções de ancas, essas ondulações de torso, esses balanços de braços agitando lenços de seda raiados de ouro e essa pantomima langorosamente voluptuosa que forma o fundo da dança das bailadeiras orientais. Levantar a perna para uma pirueta ou um “jeté-battu” seria, aos olhos dessas dançarinas, o cúmulo da indecência.
No fim, todo o elenco se pôs de lado e notamos, entre as outras, uma dançarina de uma beleza arisca e bárbara, vestida de “haïks” brancos e enfeitada com uma espécie de “chachia” cercada de cordões. Suas sobrancelhas negras unidas com “surmeh” na raiz do nariz e sua boca vermelha como um pimentão, no meio da face pálida, lhe davam uma fisionomia ao mesmo tempo terrível e encantadora; mas a atração principal da noite era a sessão dos aïssaouá, ou discípulos de Aïssa, a quem o mestre legou o singular privilégio de impunemente devorar tudo o que lhes apresentam.
Aqui, para dar a compreender a excentricidade dos nossos convulsionários argelinos, prefiro a minha prosa simples e sem arte à fraseologia elegante e sábia do mestre. Eis, então, o que vi:
Chega um árabe; dão-lhe um pedaço de vidro para comer! Ele o toma, mete-o na boca e o come!... Por alguns minutos ouvem-se os seus dentes mastigando o vidro. Aparece sangue na superfície dos lábios trêmulos... Ele engole o pedaço de vidro quebrado, dançando e fazendo genuflexões, ao som dos tam-tans.
A este sucede um árabe que traz na mão galhos de figueira da Barbária, o cacto de espinhos compridos. Cada aspereza da folhagem é como uma ponta acerada. O árabe come essa folhagem picante, como comeríamos uma salada de alface ou de chicória.
Quando a folhagem mortal de cactos acabou de ser absorvida, veio um árabe que dançava com uma lança na mão. Ele apoiou a lança no olho direito, dizendo versículos sagrados, que bem deveriam compreender os nossos oculistas... e o olho direito saiu completamente da órbita!... Todos os assistentes soltaram um grito de terror!
Então veio um homem que mandou amarrar o corpo com uma corda... vinte homens puxam; ele luta, sente a corda entrar nas carnes; ri e canta durante essa agonia.
Eis um outro energúmeno diante do qual trazem um sabre turco. Passei os dedos pela lâmina fina e cortante como a de uma navalha. O homem desfaz a cintura, mostra seu ventre nu e se deita sobre a lâmina; empurram-na, mas o damasco respeita a sua epiderme; o árabe venceu o aço.
“Passo em silêncio os aïssaouá que comem fogo, colocando os pés descalços sobre um braseiro ardente. Fui ver o braseiro nos bastidores e atesto que é ardente e composto de lenha inflamada. Também examinei a boca dos que são chamados comedores de fogo. Os dentes são queimados, as gengivas são calcinadas, a abóbada palatina parece ter-se endurecido. Mas é mesmo fogo, todos esses tições que engolem, com contorções danadas, procurando aclimatar-se no inferno... que passa por um país quente.
O que mais me impressionou nessa estranha exibição dos convulsionários da rua Le Peletier, foi o comedor de serpentes. Imaginai um homem que abre um cesto. Dez serpentes de cabeça ameaçadora saem, silvando. O árabe manipula as serpentes, agrada-as, faz que elas se enrolem em torno de seu torso nu. Depois escolhe a maior e mais esperta e com os dentes morde e lhe arranca a cauda. Então o réptil se torce nas angústias da dor. Ela apresenta a cabeça irritada ao árabe que põe a íngua à altura do dardo; de repente, com uma dentada, arranca a cabeça da serpente e a come. Ouve-se o estalar do corpo do réptil nos dentes do selvagem, que mostra através dos lábios ensanguentados o monstro decapitado. Durante esse tempo, a música melancólica dos tam-tans continua o seu ritmo sagrado, e o devorador de serpentes vai cair, perdido e atordoado, aos pés dos cantores místicos.
Até a semana passada eles tinham feito esse exercício somente com serpentes da Argélia, que poderiam ter sido domesticadas na viagem. Mas as serpentes argelinas se acabam, como todas as coisas. Ontem era a estréia das serpentes de Fontainebleau; o Argelino parecia cheio de desconfiança em relação aos nossos répteis nacionais.
Vá quanto ao fogo devorado, suportado nas extremidades... na planta dos pés e na palma das mãos... mas o mastigador de vidro e o comedor de serpentes!... são fenômenos inexplicáveis.
Nós os tínhamos visto outrora num aduar, nas proximidades de Blidah, diz o Sr. Théophile Gautier, e esse sabá noturno nos deixou lembranças ainda arrepiantes. Os aïssaouá, depois de excitados pela música, pelo vapor dos perfumes e esse balanço de fera, que agita como uma juba sua imensa cabeleira, morderam folhas de cactos; mastigaram carvões ardentes; lamberam pás rubras; engoliram vidro moído que se ouvia estalar em seus maxilares; atravessaram a língua e as bochechas com agulhas; fizeram os olhos saltarem fora das órbitas e andaram sobre o fio de um yatagan de aço de Damasco; um deles, atado em um nó corrediço de uma corda puxada por sete ou oito homens, parecia cortado em dois. Isto não os impediu, acabados os exercícios, de virem saudar-nos em nosso lugar, à maneira oriental, e receber o seu “bacchich”.
Das horríveis torturas a que acabavam de se submeter, não restava qualquer marca. Que alguém mais sábio que nós explique o prodígio, pois de nossa parte, renunciamos.
Sou da opinião de meu ilustre colega e venerado superior na grande arte de escrever, tão difícil quanto a de engolir répteis. Não procuro explicar estas maravilhas; mas era meu dever de cronista não deixá-las passar em silêncio.”
Nós próprio assistimos a uma sessão dos aïssaouá e podemos dizer que este relato nada tem de exagerado. Vimos tudo o que aí está contado e mais, um homem atravessar a face e o pescoço com um espeto cortante, em forma de lardeadeira. Tendo tocado o instrumento e examinado a coisa bem de perto, convencemo-nos que não havia nenhum subterfúgio e que o ferro realmente atravessava as carnes. Mas, coisa bizarra, o sangue não corria e a ferida cicatrizava quase que instantaneamente. Vimos um outro manter na boca ardentes carvões de pedra, do tamanho de um ovo, cuja combustão ativava pelo sopro, passeando em redor da sala e lançando centelhas. Era fogo tão real que vários espectadores nele acenderam os charutos.
Aqui não se trata, pois, de golpes de mágica, de simulacros, nem de charlatanice, mas de fatos positivos; de um fenômeno fisiológico que confunde as mais vulgares noções da Ciência; entretanto, por mais estranho que seja, não pode ter senão uma causa natural. O que é mais estranho ainda é que a Ciência parece não lhe haver prestado a menor atenção. Como é que sábios, que passam a vida à procura das leis da vitalidade, ficam indiferentes à vista de semelhantes fatos e não lhes buscam as causas? Julgam-se dispensados de qualquer explicação, dizendo que “são simplesmente convulsionários como havia no último século”. Seja, estamos de acordo. Mas, então, explicai o que se passava com os convulsionários. Considerando-se que os mesmos fenômenos se produzem hoje, aos nossos olhos, diante do público, que o primeiro pode vê-los e tocá-los, então não era uma comédia. Esses pobres convulsionários, dos quais tanto zombaram, não eram, então, pelotiqueiros e charlatães, como pretenderam? Os mesmos efeitos, produzindo-se à vontade, por infiéis, em nome de Alá ou de Maomé, não são, pois, milagres, como outros pensaram? Dirão que são iluminados. Seja, ainda; mas então seria preciso explicar o que é ser iluminado. É preciso que a iluminação não seja uma qualidade tão ilusória quanto supõem, porquanto seria capaz de produzir efeitos materiais, tão singulares; seria, em todo caso, uma razão a mais para estudá-la com cuidado. Se esses efeitos não são milagres nem habilidades de prestidigitação, há que concluir que são efeitos naturais cuja causa é desconhecida, mas que sem dúvida não é impossível de ser encontrada. Quem sabe se o Espiritismo, que já nos deu a chave de tantas coisas incompreendidas, não nos dará ainda esta? É o que examinaremos num próximo artigo.
“Os aïssaouá formam uma seita religiosa muito espalhada na África e sobretudo na Argélia. Não conhecemos o seu objetivo; sua fundação remonta, dizem uns, a Aïssa, o escravo favorito do Profeta; outros pretendem que sua confraria foi fundada por Aïssa, piedoso e sábio marabu do século dezesseis. Seja como for, os aïssaouá sustentam que o seu piedoso fundador lhes dá o privilégio de serem insensíveis ao sofrimento.”
Tiramos do Petit Journal de 30 de setembro de 1867 o relato de uma das sessões que uma companhia de aïssaouá deu em Paris, durante a Exposição, primeiro no teatro do Campo de Marte e em último lugar na sala da arena atlética da rua Le Peletier. Sem dúvida a cena não tem o caráter imponente e terrível das que se realizam nas mesquitas, cercadas pelo prestígio das cerimônias religiosas. Mas, à parte algumas nuanças de detalhes, os fatos são os mesmos e os resultados idênticos, e aí está o essencial. Aliás, tendo-se passado as coisas em plena Paris, aos olhos de numeroso público, o relato não pode ser suspeito de exagero. É o Sr. Timothée Trimm que fala:
“Confesso que ontem à noite vi coisas que deixam muito para trás os irmãos Davenport e os pretensos milagres do magnetismo. Os prodígios são produzidos numa pequena sala, ainda não classificada na hierarquia dos espetáculos. Isto se passa na arena atlética da rua Le Peletier. Sem dúvida é por isso que tão pouco se trata dos feiticeiros, dos quais falo hoje.
É evidente que tratamos com iluminados, porque eis vinte e seis árabes que se agacham e, para começar, se servem de castanholas de ferro para acompanhar seus cantos.
Do corpo de balé muçulmano inicialmente saiu o primeiro, um jovem árabe que tomou um carvão aceso. Não suspeito que pudesse ser um carvão de um calor fictício, adrede preparado, porque senti o seu ardor quando ele passou em minha frente e queimou o assoalho quando escapou das mãos que o sustinham. O homem tomou esse carvão ardente, colocou-o em sua boca com gritos horríveis e ali o conservou.
Para mim é evidente que esses bárbaros aïssaouá são verdadeiros convulsionários maometanos. No século passado houve os convulsionários de Paris. Os aïssaouá da rua Le Peletier certamente acharam essa curiosa descoberta do prazer, da volúpia e do êxtase na mortificação corporal.
Théophile Gautier, com seu estilo inimitável, descreveu as danças desses convulsionários árabes. Eis o que ele dizia no Moniteur de 29 de julho último:
O primeiro interlúdio de dança era acompanhado por três grandes caixas e três oboés, tocando em modo menor uma cantilena de uma melancolia nostálgica, sustentada por esses ritmos implacáveis que acabam se apoderando de nós e sentimos uma vertigem. Dir-se-ia uma alma lamentosa que a fatalidade força a marchar com um passo sempre igual para um fim desconhecido, mas que se pressente doloroso.
Em breve levantou-se uma dançarina com esse ar abatido que têm as dançarinas orientais, como uma morta que despertasse de uma encantação mágica e por imperceptíveis deslocamentos dos pés aproximou-se do proscênio; uma de suas companheiras juntou-se a ela e começaram, animando-se pouco a pouco, sob a pressão da mesura, essas torções de ancas, essas ondulações de torso, esses balanços de braços agitando lenços de seda raiados de ouro e essa pantomima langorosamente voluptuosa que forma o fundo da dança das bailadeiras orientais. Levantar a perna para uma pirueta ou um “jeté-battu” seria, aos olhos dessas dançarinas, o cúmulo da indecência.
No fim, todo o elenco se pôs de lado e notamos, entre as outras, uma dançarina de uma beleza arisca e bárbara, vestida de “haïks” brancos e enfeitada com uma espécie de “chachia” cercada de cordões. Suas sobrancelhas negras unidas com “surmeh” na raiz do nariz e sua boca vermelha como um pimentão, no meio da face pálida, lhe davam uma fisionomia ao mesmo tempo terrível e encantadora; mas a atração principal da noite era a sessão dos aïssaouá, ou discípulos de Aïssa, a quem o mestre legou o singular privilégio de impunemente devorar tudo o que lhes apresentam.
Aqui, para dar a compreender a excentricidade dos nossos convulsionários argelinos, prefiro a minha prosa simples e sem arte à fraseologia elegante e sábia do mestre. Eis, então, o que vi:
Chega um árabe; dão-lhe um pedaço de vidro para comer! Ele o toma, mete-o na boca e o come!... Por alguns minutos ouvem-se os seus dentes mastigando o vidro. Aparece sangue na superfície dos lábios trêmulos... Ele engole o pedaço de vidro quebrado, dançando e fazendo genuflexões, ao som dos tam-tans.
A este sucede um árabe que traz na mão galhos de figueira da Barbária, o cacto de espinhos compridos. Cada aspereza da folhagem é como uma ponta acerada. O árabe come essa folhagem picante, como comeríamos uma salada de alface ou de chicória.
Quando a folhagem mortal de cactos acabou de ser absorvida, veio um árabe que dançava com uma lança na mão. Ele apoiou a lança no olho direito, dizendo versículos sagrados, que bem deveriam compreender os nossos oculistas... e o olho direito saiu completamente da órbita!... Todos os assistentes soltaram um grito de terror!
Então veio um homem que mandou amarrar o corpo com uma corda... vinte homens puxam; ele luta, sente a corda entrar nas carnes; ri e canta durante essa agonia.
Eis um outro energúmeno diante do qual trazem um sabre turco. Passei os dedos pela lâmina fina e cortante como a de uma navalha. O homem desfaz a cintura, mostra seu ventre nu e se deita sobre a lâmina; empurram-na, mas o damasco respeita a sua epiderme; o árabe venceu o aço.
“Passo em silêncio os aïssaouá que comem fogo, colocando os pés descalços sobre um braseiro ardente. Fui ver o braseiro nos bastidores e atesto que é ardente e composto de lenha inflamada. Também examinei a boca dos que são chamados comedores de fogo. Os dentes são queimados, as gengivas são calcinadas, a abóbada palatina parece ter-se endurecido. Mas é mesmo fogo, todos esses tições que engolem, com contorções danadas, procurando aclimatar-se no inferno... que passa por um país quente.
O que mais me impressionou nessa estranha exibição dos convulsionários da rua Le Peletier, foi o comedor de serpentes. Imaginai um homem que abre um cesto. Dez serpentes de cabeça ameaçadora saem, silvando. O árabe manipula as serpentes, agrada-as, faz que elas se enrolem em torno de seu torso nu. Depois escolhe a maior e mais esperta e com os dentes morde e lhe arranca a cauda. Então o réptil se torce nas angústias da dor. Ela apresenta a cabeça irritada ao árabe que põe a íngua à altura do dardo; de repente, com uma dentada, arranca a cabeça da serpente e a come. Ouve-se o estalar do corpo do réptil nos dentes do selvagem, que mostra através dos lábios ensanguentados o monstro decapitado. Durante esse tempo, a música melancólica dos tam-tans continua o seu ritmo sagrado, e o devorador de serpentes vai cair, perdido e atordoado, aos pés dos cantores místicos.
Até a semana passada eles tinham feito esse exercício somente com serpentes da Argélia, que poderiam ter sido domesticadas na viagem. Mas as serpentes argelinas se acabam, como todas as coisas. Ontem era a estréia das serpentes de Fontainebleau; o Argelino parecia cheio de desconfiança em relação aos nossos répteis nacionais.
Vá quanto ao fogo devorado, suportado nas extremidades... na planta dos pés e na palma das mãos... mas o mastigador de vidro e o comedor de serpentes!... são fenômenos inexplicáveis.
Nós os tínhamos visto outrora num aduar, nas proximidades de Blidah, diz o Sr. Théophile Gautier, e esse sabá noturno nos deixou lembranças ainda arrepiantes. Os aïssaouá, depois de excitados pela música, pelo vapor dos perfumes e esse balanço de fera, que agita como uma juba sua imensa cabeleira, morderam folhas de cactos; mastigaram carvões ardentes; lamberam pás rubras; engoliram vidro moído que se ouvia estalar em seus maxilares; atravessaram a língua e as bochechas com agulhas; fizeram os olhos saltarem fora das órbitas e andaram sobre o fio de um yatagan de aço de Damasco; um deles, atado em um nó corrediço de uma corda puxada por sete ou oito homens, parecia cortado em dois. Isto não os impediu, acabados os exercícios, de virem saudar-nos em nosso lugar, à maneira oriental, e receber o seu “bacchich”.
Das horríveis torturas a que acabavam de se submeter, não restava qualquer marca. Que alguém mais sábio que nós explique o prodígio, pois de nossa parte, renunciamos.
Sou da opinião de meu ilustre colega e venerado superior na grande arte de escrever, tão difícil quanto a de engolir répteis. Não procuro explicar estas maravilhas; mas era meu dever de cronista não deixá-las passar em silêncio.”
Nós próprio assistimos a uma sessão dos aïssaouá e podemos dizer que este relato nada tem de exagerado. Vimos tudo o que aí está contado e mais, um homem atravessar a face e o pescoço com um espeto cortante, em forma de lardeadeira. Tendo tocado o instrumento e examinado a coisa bem de perto, convencemo-nos que não havia nenhum subterfúgio e que o ferro realmente atravessava as carnes. Mas, coisa bizarra, o sangue não corria e a ferida cicatrizava quase que instantaneamente. Vimos um outro manter na boca ardentes carvões de pedra, do tamanho de um ovo, cuja combustão ativava pelo sopro, passeando em redor da sala e lançando centelhas. Era fogo tão real que vários espectadores nele acenderam os charutos.
Aqui não se trata, pois, de golpes de mágica, de simulacros, nem de charlatanice, mas de fatos positivos; de um fenômeno fisiológico que confunde as mais vulgares noções da Ciência; entretanto, por mais estranho que seja, não pode ter senão uma causa natural. O que é mais estranho ainda é que a Ciência parece não lhe haver prestado a menor atenção. Como é que sábios, que passam a vida à procura das leis da vitalidade, ficam indiferentes à vista de semelhantes fatos e não lhes buscam as causas? Julgam-se dispensados de qualquer explicação, dizendo que “são simplesmente convulsionários como havia no último século”. Seja, estamos de acordo. Mas, então, explicai o que se passava com os convulsionários. Considerando-se que os mesmos fenômenos se produzem hoje, aos nossos olhos, diante do público, que o primeiro pode vê-los e tocá-los, então não era uma comédia. Esses pobres convulsionários, dos quais tanto zombaram, não eram, então, pelotiqueiros e charlatães, como pretenderam? Os mesmos efeitos, produzindo-se à vontade, por infiéis, em nome de Alá ou de Maomé, não são, pois, milagres, como outros pensaram? Dirão que são iluminados. Seja, ainda; mas então seria preciso explicar o que é ser iluminado. É preciso que a iluminação não seja uma qualidade tão ilusória quanto supõem, porquanto seria capaz de produzir efeitos materiais, tão singulares; seria, em todo caso, uma razão a mais para estudá-la com cuidado. Se esses efeitos não são milagres nem habilidades de prestidigitação, há que concluir que são efeitos naturais cuja causa é desconhecida, mas que sem dúvida não é impossível de ser encontrada. Quem sabe se o Espiritismo, que já nos deu a chave de tantas coisas incompreendidas, não nos dará ainda esta? É o que examinaremos num próximo artigo.
Manifestação antes da morte
A carta seguinte nos foi dirigida de Marennes, em janeiro último.
“Senhor Allan Kardec,
“Julgaria ter faltado ao meu dever se, no começo deste ano, não tivesse vindo agradecer-vos a boa lembrança que tivestes a bondade de conservar de mim, dirigindo a Deus novas preces pelo meu restabelecimento. Sim, senhor, elas me foram salutares e nelas reconheço vossa boa influência, bem como a dos bons Espíritos que vos rodeiam, porque desde 14 de maio eu era obrigada a guardar o leito de vez em quando, em consequência das febres malignas que me tinham posto num estado muito triste. Há um mês estou melhor; agradeço-vos mil vezes, rogandovos agradecer, em meu nome, a todos os irmãos da Sociedade e Paris, que tiveram a bondade de unir as suas preces às vossas.
“Muitas vezes tive manifestações, como sabeis, mas uma das mais admiráveis é a do fato que vou relatar.
“Em maio último, meu pai veio a Marennes passar alguns dias conosco. Quando chegou, caiu doente e morreu ao cabo de oito dias. Sua morte me causou uma dor ainda mais viva porque eu tinha sido avisada seis meses antes, mas não havia dado crédito. Eis o fato:
“No mês de dezembro passado, sabendo que ele devia vir, eu tinha mobiliado um quartinho para ele, e meu desejo era que ninguém ali dormisse antes dele. Do momento em que manifestei tal pensamento, tive a intuição de que quem se deitasse naquela cama ali morreria, e essa ideia, que me perseguia incessantemente, me apertava o coração a ponto de não ousar mais ir àquele quarto. Contudo, na esperança de me desembaraçar dela, fui orar junto ao leito. Julguei ali ver um corpo enterrado; para me assegurar, levantei os lençóis e nada vi. Então eu disse para mim mesma que todos esses pressentimentos não passam de ilusões ou de resultados de obsessões. No mesmo instante ouvi suspiros como de uma pessoa que definha, depois senti minha mão direita apertada fortemente por uma mão quente e úmida. Saí do quarto e não mais ousei ali entrar sozinha. Durante seis meses fui atormentada por esse triste aviso, e ninguém lá dormiu antes da chegada de meu pai. Foi lá que ele morreu; seus últimos suspiros foram os mesmos que eu tinha ouvido e, antes de morrer, sem que lhe pedisse, tomou-me a mão direita e a apertou da mesma maneira que eu tinha sentido seis meses antes; a sua tinha o suor quente que eu havia igualmente notado. Não posso, pois, duvidar que tenha sido um aviso que me foi dado.
“Tive muitas outras provas da intervenção dos Espíritos, mas seria demasiado longo vos detalhar numa carta. Não lembrarei senão o fato de uma discussão de quatro horas que tive, em agosto último, com dois sacerdotes, e durante a qual me senti verdadeiramente inspirada e forçada a falar com uma facilidade de que eu própria fiquei surpresa. Lamento não vos poder relatar essa conversa. Isto não vos causaria admiração, mas vos divertiria.
“Recebei etc.
“ANGELINA DE OGÉ.”
Há todo um estudo a fazer nesta carta. Para começar, aí vemos um estímulo a orar pelos doentes, depois uma nova prova da assistência dos Espíritos pela inspiração das palavras que se devem pronunciar em circunstâncias em que se estaria muito embaraçado para falar se se estivesse entregue às suas próprias forças. É talvez um dos gêneros mais comuns de mediunidade, e que vem confirmar o princípio que todo mundo é mais ou menos médium sem o suspeitar. Seguramente, se cada um se reportasse às diversas circunstâncias de sua vida, observasse com cuidado os efeitos que ressente ou de que foi testemunha, não haveria ninguém que não reconhecesse ter alguns efeitos de mediunidade inconsciente.
Mas o fato mais marcante é o do aviso da morte do pai da senhora de Ogé, e do pressentimento com que foi perseguida durante seis meses. Sem dúvida, quando ela foi orar nesse quarto, e acreditou ver um corpo no leito, que constatou estar vazio, poder-se-ia, com alguma verossimilhança, admitir o efeito de uma imaginação ferida. O mesmo poderia ter acontecido com os suspiros que ela ouviu. A pressão da mão também poderia ser atribuída a um efeito nervoso, provocado pela superexcitação de seu espírito. Mas como explicar a coincidência de todos esses fatos com o que se passou quando da morte de seu pai? Dirá a incredulidade: puro efeito do acaso; diz o Espiritismo: fenômeno natural, devido à ação de fluidos cujas propriedades até hoje foram desconhecidas, submetidos à lei que rege as relações do mundo espiritual com o mundo corporal.
Ligando às leis da Natureza a maior parte dos fenômenos reputados sobrenaturais, o Espiritismo vem precisamente combater o fanatismo e o maravilhoso que o acusam de querer fazer reviver; daqueles que são possíveis, ele dá uma explicação racional, e dos que seriam uma derrogação das leis da Natureza ele demonstra a impossibilidade. A causa de uma porção de fenômenos está no princípio espiritual, cuja existência ele vem provar. Mas como os que negam esse princípio podem admitir as suas consequências? Aquele que nega a alma e a vida extra-corporal não pode reconhecer os seus efeitos.
Para os espíritas, o fato de que se trata nada tem de surpreendente, e se explica por analogia, como uma porção de fatos do mesmo gênero, cuja autenticidade não pode ser contestada. Entretanto, as circunstâncias em que se produziu apresentam uma dificuldade, mas o Espiritismo jamais disse que nada mais tinha a aprender. Ele possui uma chave cujas aplicações todas ainda está longe de conhecer. Aplica-se a estudá-las, a fim de chegar a um conhecimento tão completo quanto possível das forças naturais e do mundo invisível em cujo meio vivemos, mundo que nos interessa a todos, porque todos, sem exceção, devemos nele entrar mais cedo ou mais tarde, e vemos todos os dias, pelo exemplo dos que partem, a vantagem de conhecê-lo antecipadamente.
Nunca seria demais repetir que o Espiritismo não admite qualquer teoria preconcebida: ele vê, observa, estuda os efeitos e dos efeitos procura remontar às causas, de tal sorte que, quando formula um princípio ou uma teoria, sempre se apoia na experiência. É, pois, rigorosamente certo dizer que é uma ciência de observação. Aqueles que afetam não ver nele senão uma obra de imaginação, provam que lhe desconhecem as primeiras palavras.
Se o pai da senhora de Ogé tivesse morrido sem que ela o soubesse, na época em que sentiu os efeitos de que falamos, esses efeitos se explicariam da maneira mais simples. Desprendido do corpo, o Espírito teria vindo a ela avisá-la de sua partida deste mundo, e atestar sua presença por uma manifestação sensível, com a ajuda de seu fluido perispiritual. Isto é muito frequente. Compreendemos perfeitamente que aqui o efeito é devido ao mesmo princípio fluídico, isto é, à ação do perispírito, mas como a ação material do corpo, que ocorreu no momento da morte, pôde produzir-se identicamente seis meses antes dessa morte, quando nada de ostensivo, doença ou outra causa, poderia fazê-la pressentir?
Eis a explicação a respeito, dada na Sociedade de Paris:
O Espírito do pai dessa senhora, em estado de desprendimento, tinha um conhecimento antecipado de sua morte e da maneira pela qual ela se realizaria. Abarcando sua visão espiritual um certo espaço de tempo, para ele a coisa era como presente, mas, no estado de vigília, disso ele não conservava qualquer lembrança. Foi ele próprio que se manifestou à sua filha, seis meses antes, nas condições que deviam se produzir, a fim de que mais tarde ela soubesse que era ele, e que estando preparada para uma separação próxima, ela não fosse surpreendida com a sua partida. Ela própria, como Espírito, tinha conhecimento disto, porque os dois Espíritos se comunicavam em seus momentos de liberdade. É o que lhe dava a intuição de que alguém devia morrer naquele quarto. Essa manifestação ocorreu igualmente com o fito de fornecer um assunto de instrução acerca do conhecimento do mundo invisível.”
“Senhor Allan Kardec,
“Julgaria ter faltado ao meu dever se, no começo deste ano, não tivesse vindo agradecer-vos a boa lembrança que tivestes a bondade de conservar de mim, dirigindo a Deus novas preces pelo meu restabelecimento. Sim, senhor, elas me foram salutares e nelas reconheço vossa boa influência, bem como a dos bons Espíritos que vos rodeiam, porque desde 14 de maio eu era obrigada a guardar o leito de vez em quando, em consequência das febres malignas que me tinham posto num estado muito triste. Há um mês estou melhor; agradeço-vos mil vezes, rogandovos agradecer, em meu nome, a todos os irmãos da Sociedade e Paris, que tiveram a bondade de unir as suas preces às vossas.
“Muitas vezes tive manifestações, como sabeis, mas uma das mais admiráveis é a do fato que vou relatar.
“Em maio último, meu pai veio a Marennes passar alguns dias conosco. Quando chegou, caiu doente e morreu ao cabo de oito dias. Sua morte me causou uma dor ainda mais viva porque eu tinha sido avisada seis meses antes, mas não havia dado crédito. Eis o fato:
“No mês de dezembro passado, sabendo que ele devia vir, eu tinha mobiliado um quartinho para ele, e meu desejo era que ninguém ali dormisse antes dele. Do momento em que manifestei tal pensamento, tive a intuição de que quem se deitasse naquela cama ali morreria, e essa ideia, que me perseguia incessantemente, me apertava o coração a ponto de não ousar mais ir àquele quarto. Contudo, na esperança de me desembaraçar dela, fui orar junto ao leito. Julguei ali ver um corpo enterrado; para me assegurar, levantei os lençóis e nada vi. Então eu disse para mim mesma que todos esses pressentimentos não passam de ilusões ou de resultados de obsessões. No mesmo instante ouvi suspiros como de uma pessoa que definha, depois senti minha mão direita apertada fortemente por uma mão quente e úmida. Saí do quarto e não mais ousei ali entrar sozinha. Durante seis meses fui atormentada por esse triste aviso, e ninguém lá dormiu antes da chegada de meu pai. Foi lá que ele morreu; seus últimos suspiros foram os mesmos que eu tinha ouvido e, antes de morrer, sem que lhe pedisse, tomou-me a mão direita e a apertou da mesma maneira que eu tinha sentido seis meses antes; a sua tinha o suor quente que eu havia igualmente notado. Não posso, pois, duvidar que tenha sido um aviso que me foi dado.
“Tive muitas outras provas da intervenção dos Espíritos, mas seria demasiado longo vos detalhar numa carta. Não lembrarei senão o fato de uma discussão de quatro horas que tive, em agosto último, com dois sacerdotes, e durante a qual me senti verdadeiramente inspirada e forçada a falar com uma facilidade de que eu própria fiquei surpresa. Lamento não vos poder relatar essa conversa. Isto não vos causaria admiração, mas vos divertiria.
“Recebei etc.
“ANGELINA DE OGÉ.”
Há todo um estudo a fazer nesta carta. Para começar, aí vemos um estímulo a orar pelos doentes, depois uma nova prova da assistência dos Espíritos pela inspiração das palavras que se devem pronunciar em circunstâncias em que se estaria muito embaraçado para falar se se estivesse entregue às suas próprias forças. É talvez um dos gêneros mais comuns de mediunidade, e que vem confirmar o princípio que todo mundo é mais ou menos médium sem o suspeitar. Seguramente, se cada um se reportasse às diversas circunstâncias de sua vida, observasse com cuidado os efeitos que ressente ou de que foi testemunha, não haveria ninguém que não reconhecesse ter alguns efeitos de mediunidade inconsciente.
Mas o fato mais marcante é o do aviso da morte do pai da senhora de Ogé, e do pressentimento com que foi perseguida durante seis meses. Sem dúvida, quando ela foi orar nesse quarto, e acreditou ver um corpo no leito, que constatou estar vazio, poder-se-ia, com alguma verossimilhança, admitir o efeito de uma imaginação ferida. O mesmo poderia ter acontecido com os suspiros que ela ouviu. A pressão da mão também poderia ser atribuída a um efeito nervoso, provocado pela superexcitação de seu espírito. Mas como explicar a coincidência de todos esses fatos com o que se passou quando da morte de seu pai? Dirá a incredulidade: puro efeito do acaso; diz o Espiritismo: fenômeno natural, devido à ação de fluidos cujas propriedades até hoje foram desconhecidas, submetidos à lei que rege as relações do mundo espiritual com o mundo corporal.
Ligando às leis da Natureza a maior parte dos fenômenos reputados sobrenaturais, o Espiritismo vem precisamente combater o fanatismo e o maravilhoso que o acusam de querer fazer reviver; daqueles que são possíveis, ele dá uma explicação racional, e dos que seriam uma derrogação das leis da Natureza ele demonstra a impossibilidade. A causa de uma porção de fenômenos está no princípio espiritual, cuja existência ele vem provar. Mas como os que negam esse princípio podem admitir as suas consequências? Aquele que nega a alma e a vida extra-corporal não pode reconhecer os seus efeitos.
Para os espíritas, o fato de que se trata nada tem de surpreendente, e se explica por analogia, como uma porção de fatos do mesmo gênero, cuja autenticidade não pode ser contestada. Entretanto, as circunstâncias em que se produziu apresentam uma dificuldade, mas o Espiritismo jamais disse que nada mais tinha a aprender. Ele possui uma chave cujas aplicações todas ainda está longe de conhecer. Aplica-se a estudá-las, a fim de chegar a um conhecimento tão completo quanto possível das forças naturais e do mundo invisível em cujo meio vivemos, mundo que nos interessa a todos, porque todos, sem exceção, devemos nele entrar mais cedo ou mais tarde, e vemos todos os dias, pelo exemplo dos que partem, a vantagem de conhecê-lo antecipadamente.
Nunca seria demais repetir que o Espiritismo não admite qualquer teoria preconcebida: ele vê, observa, estuda os efeitos e dos efeitos procura remontar às causas, de tal sorte que, quando formula um princípio ou uma teoria, sempre se apoia na experiência. É, pois, rigorosamente certo dizer que é uma ciência de observação. Aqueles que afetam não ver nele senão uma obra de imaginação, provam que lhe desconhecem as primeiras palavras.
Se o pai da senhora de Ogé tivesse morrido sem que ela o soubesse, na época em que sentiu os efeitos de que falamos, esses efeitos se explicariam da maneira mais simples. Desprendido do corpo, o Espírito teria vindo a ela avisá-la de sua partida deste mundo, e atestar sua presença por uma manifestação sensível, com a ajuda de seu fluido perispiritual. Isto é muito frequente. Compreendemos perfeitamente que aqui o efeito é devido ao mesmo princípio fluídico, isto é, à ação do perispírito, mas como a ação material do corpo, que ocorreu no momento da morte, pôde produzir-se identicamente seis meses antes dessa morte, quando nada de ostensivo, doença ou outra causa, poderia fazê-la pressentir?
Eis a explicação a respeito, dada na Sociedade de Paris:
O Espírito do pai dessa senhora, em estado de desprendimento, tinha um conhecimento antecipado de sua morte e da maneira pela qual ela se realizaria. Abarcando sua visão espiritual um certo espaço de tempo, para ele a coisa era como presente, mas, no estado de vigília, disso ele não conservava qualquer lembrança. Foi ele próprio que se manifestou à sua filha, seis meses antes, nas condições que deviam se produzir, a fim de que mais tarde ela soubesse que era ele, e que estando preparada para uma separação próxima, ela não fosse surpreendida com a sua partida. Ela própria, como Espírito, tinha conhecimento disto, porque os dois Espíritos se comunicavam em seus momentos de liberdade. É o que lhe dava a intuição de que alguém devia morrer naquele quarto. Essa manifestação ocorreu igualmente com o fito de fornecer um assunto de instrução acerca do conhecimento do mundo invisível.”
Variedades
Estranha violação de sepultura (Estudo psicológico)
O Observateur, de Avesnes (20 de abril de 1867) relata o caso seguinte:
“Há três semanas um operário de Louvroil, chamado Magnan, de vinte e três anos, teve a infelicidade de perder a mulher, atingida por uma doença do peito. A mágoa profunda que ele por isto sentiu, em breve foi aumentada pela morte de seu filho, que não sobreviveu à mãe senão alguns dias. Magnan falava sem cessar de sua mulher, não podendo acreditar que ela o tivesse deixado para sempre e imaginando que não tardaria a voltar. Era em vão que os amigos buscavam oferecer-lhe algum consolo; ele os repelia a todos e se fechava em sua aflição.
“Quinta-feira última, após muitas dificuldades, seus camaradas de oficina decidiram acompanhar até a estrada de ferro um amigo comum, militar em férias que voltava ao regimento. Mas logo depois de chegarem à estação, Magnan esquivou-se e voltou sozinho à cidade, ainda mais preocupado do que de costume. Num cabaré tomou alguns copos de cerveja que acabaram de perturbá-lo, e foi nessas disposições que entrou em casa, pelas nove horas da noite. Achando-se só, o pensamento de que sua mulher não mais estava lá o superexcitou ainda mais, e ele experimentou um desejo invencível de vê-la. Então tomou uma velha cavadeira e uma pá ordinária, foi ao cemitério, e, a despeito da escuridão e da chuva horrível que caía no momento, logo começou a tirar a terra que cobria sua cara defunta.
“Só depois de várias horas de trabalho sobre-humano conseguiu retirar o caixão de sua cova. Só com as mãos, e quebrando as unhas, ele arrancou a tampa; depois, tomando nos braços o corpo de sua pobre companheira, levou-o para casa e o pôs na cama. Deveria ser, então, aproximadamente três horas da manhã. Depois de ter feito um bom fogo, descobriu o rosto da morta; então, quase alegre, correu à casa da vizinha que o tinha enterrado, para lhe dizer que sua mulher tinha voltado, como ele havia predito.
“Sem dar qualquer importância às palavras de Magnan, que, dizia ela, tinha visões, levantou-se e o acompanhou até a casa dele, a fim de acalmá-lo e fazê-lo deitar-se. Imagine-se a sua surpresa e o seu pavor, vendo o corpo exumado. O infeliz operário falava à morta como se ela pudesse escutá-lo e procurava com uma tenacidade tocante obter uma resposta, dando à sua voz uma doçura e toda a persuasão de que era capaz. Essa afeição além do túmulo oferecia um espetáculo pungente.
“Entretanto, a vizinha teve a presença de espírito de induzir o pobre alucinado a repor sua mulher no caixão, o que ele prometeu, vendo o silêncio obstinado daquela que julgava ter chamado à vida. Acreditando em tal promessa, ela voltou para casa, mais morta do que viva.
Mas Magnan não se deu por vencido e foi despertar dois vizinhos, que se levantaram, como a que a enterrara, para tentar tranquilizar o infortunado. Como ela, passado o primeiro momento de estupefação, eles o aconselharam a levar a morta para o cemitério, e dessa vez, sem hesitar, ele tomou a mulher nos braços e voltou a depositá-la na cova de onde a havia tirado, recolocou-a na fossa e a recobriu de terra.
“A mulher de Magnan estava enterrada há dezessete dias; não obstante, ainda se achava em perfeito estado de conservação, porque a expressão de seu rosto era exatamente a mesma que no momento em que foi enterrada.
“Quando interrogaram Magnan, no dia seguinte, ele pareceu não se lembrar do que havia feito nem do que se havia passado algumas horas antes. Apenas disse que acreditava ter visto sua mulher durante a noite.” (Siècle, 29 de abril de 1867).”
“Há três semanas um operário de Louvroil, chamado Magnan, de vinte e três anos, teve a infelicidade de perder a mulher, atingida por uma doença do peito. A mágoa profunda que ele por isto sentiu, em breve foi aumentada pela morte de seu filho, que não sobreviveu à mãe senão alguns dias. Magnan falava sem cessar de sua mulher, não podendo acreditar que ela o tivesse deixado para sempre e imaginando que não tardaria a voltar. Era em vão que os amigos buscavam oferecer-lhe algum consolo; ele os repelia a todos e se fechava em sua aflição.
“Quinta-feira última, após muitas dificuldades, seus camaradas de oficina decidiram acompanhar até a estrada de ferro um amigo comum, militar em férias que voltava ao regimento. Mas logo depois de chegarem à estação, Magnan esquivou-se e voltou sozinho à cidade, ainda mais preocupado do que de costume. Num cabaré tomou alguns copos de cerveja que acabaram de perturbá-lo, e foi nessas disposições que entrou em casa, pelas nove horas da noite. Achando-se só, o pensamento de que sua mulher não mais estava lá o superexcitou ainda mais, e ele experimentou um desejo invencível de vê-la. Então tomou uma velha cavadeira e uma pá ordinária, foi ao cemitério, e, a despeito da escuridão e da chuva horrível que caía no momento, logo começou a tirar a terra que cobria sua cara defunta.
“Só depois de várias horas de trabalho sobre-humano conseguiu retirar o caixão de sua cova. Só com as mãos, e quebrando as unhas, ele arrancou a tampa; depois, tomando nos braços o corpo de sua pobre companheira, levou-o para casa e o pôs na cama. Deveria ser, então, aproximadamente três horas da manhã. Depois de ter feito um bom fogo, descobriu o rosto da morta; então, quase alegre, correu à casa da vizinha que o tinha enterrado, para lhe dizer que sua mulher tinha voltado, como ele havia predito.
“Sem dar qualquer importância às palavras de Magnan, que, dizia ela, tinha visões, levantou-se e o acompanhou até a casa dele, a fim de acalmá-lo e fazê-lo deitar-se. Imagine-se a sua surpresa e o seu pavor, vendo o corpo exumado. O infeliz operário falava à morta como se ela pudesse escutá-lo e procurava com uma tenacidade tocante obter uma resposta, dando à sua voz uma doçura e toda a persuasão de que era capaz. Essa afeição além do túmulo oferecia um espetáculo pungente.
“Entretanto, a vizinha teve a presença de espírito de induzir o pobre alucinado a repor sua mulher no caixão, o que ele prometeu, vendo o silêncio obstinado daquela que julgava ter chamado à vida. Acreditando em tal promessa, ela voltou para casa, mais morta do que viva.
Mas Magnan não se deu por vencido e foi despertar dois vizinhos, que se levantaram, como a que a enterrara, para tentar tranquilizar o infortunado. Como ela, passado o primeiro momento de estupefação, eles o aconselharam a levar a morta para o cemitério, e dessa vez, sem hesitar, ele tomou a mulher nos braços e voltou a depositá-la na cova de onde a havia tirado, recolocou-a na fossa e a recobriu de terra.
“A mulher de Magnan estava enterrada há dezessete dias; não obstante, ainda se achava em perfeito estado de conservação, porque a expressão de seu rosto era exatamente a mesma que no momento em que foi enterrada.
“Quando interrogaram Magnan, no dia seguinte, ele pareceu não se lembrar do que havia feito nem do que se havia passado algumas horas antes. Apenas disse que acreditava ter visto sua mulher durante a noite.” (Siècle, 29 de abril de 1867).”
Instruções sobre o fato precedente
(Sociedade de Paris, 10 de maio de 1867 - Médium: Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo)
Os fatos se mostram em toda parte, e tudo quanto se produz parece ter uma direção especial que leva aos estudos espirituais. Observai bem, e vereis a cada instante coisas que à primeira vista parecem anomalias na vida humana, e cuja causa inutilmente encontraríeis em qualquer lugar que não fosse na vida espiritual. Sem dúvida, para muita gente são apenas fatos curiosos, nos quais não pensam mais, desde que virada a página; mas outros pensam mais seriamente; procuram uma explicação e, à força de ver a vida espiritual erguer-se diante deles, serão obrigados a reconhecer que somente aí está a solução do que não podem compreender. Vós, que conheceis a vida espiritual, examinai bem os detalhes do fato que acaba de vos ser lido, e vede se ela não se mostra com evidência.
Não penseis que os estudos que fazeis sobre esses assuntos de atualidade e outros sejam perdidos para as massas, porque, até agora, eles vão quase exclusivamente aos espíritas, aos que já se acham convencidos. Não. Para começar, tende a certeza que os escritos espíritas vão além dos adeptos; há pessoas muito interessadas na questão para não se manterem ao corrente de tudo o que fazeis e da marcha da Doutrina. Sem que o pareça, a Sociedade, que é o centro onde se elaboram os trabalhos, é um ponto em mira, e as soluções sábias e raciocinadas que dela saem fazem refletir mais do que supondes. Mas dia virá em que esses mesmos escritos serão lidos, comentados, analisados publicamente; aí as pessoas colherão a mancheias os elementos sobre os quais devem assentar-se as novas ideias, porque aí encontrarão a verdade. Ainda uma vez, ficai convencidos que nada do que fazeis está perdido, mesmo para o presente, com mais forte razão para o futuro.
Tudo é assunto de instrução para o homem que reflete. No fato que vos ocupa, vedes um homem possuindo suas faculdades intelectuais, suas forças materiais, e que parece, no momento, completamente despojado das primeiras; ele pratica um ato que à primeira vista parece insensato. Ora! Aí está um grande ensinamento.
Isto aconteceu? perguntarão algumas pessoas. O homem estava em estado de sonambulismo natural, ou sonhou? O Espírito da mulher estava metido nisso? Tais são as perguntas que podem ser feitas a este respeito. Pois bem! O Espírito da senhora Magnan esteve muito envolvido nesse acontecimento, e muito mais do que podiam supor os próprios espíritas.
Se seguirdes o homem com atenção, desde o momento da morte de sua mulher, velo-eis mudar pouco a pouco; desde as primeiras horas da partida de sua mulher, vedes seu Espírito tomar uma direção que se acentua cada vez mais, para chegar ao ato de loucura da exumação do cadáver. Há, nesse ato, algo além do pesar, e, como ensina O Livro dos Espíritos e todas as comunicações, não é na vida presente, é no passado que se deve procurar a causa. Não estamos aqui na Terra senão para cumprir uma missão ou pagar uma dívida. No primeiro caso, realizais uma tarefa voluntária; no segundo, fazei a contrapartida dos sofrimentos que experimentais, e tereis a causa de vossos sofrimentos.
Quando a mulher morreu, lá ficou em Espírito, e como a união dos fluidos espirituais e do corpo era difícil de romper, em razão da inferioridade do Espírito, foi-lhe preciso um certo tempo para retomar sua liberdade de ação, um novo trabalho para a assimilação dos fluidos; depois, quando ela estava na medida, apoderou-se do corpo do homem e o possuiu. Eis aqui, pois, um verdadeiro caso de possessão.
O homem não é mais ele, e notai: ele não é mais ele mesmo senão quando vem a noite. Seria preciso entrar em longas explicações para vos fazer compreender a causa desta singularidade; mas, em duas palavras: a mistura de certos fluidos, como em Química a de certos gases, não pode suportar o brilho da luz. Eis por que certos fenômenos espontâneos ocorrem mais vezes à noite do que de dia. Ela possui esse homem; ela o induz a fazer o que ela quer; foi ela que o conduziu ao cemitério para obrigá-lo a fazer um trabalho sobre-humano e fazê-lo sofrer. E no dia seguinte, quando perguntam ao homem o que se passou, ele fica estupefato e só se lembra de haver sonhado com sua mulher. O sonho era a realidade; ela tinha prometido voltar e voltou; ela voltará e arrastá-lo-á.
Numa outra existência, foi cometido um crime; o que queria vingar-se deixou o primeiro encarnar-se e escolheu uma existência que, pondo-o em relação consigo, lhe permitia realizar sua vingança. Perguntareis por que essa permissão? Mas Deus nada concede que não seja justo e lógico. Um quer vingar-se; é preciso que tenha, como prova, ocasião superar seu desejo de vingança, e o outro deve sofrer a prova e pagar pelo que fez sofrer o primeiro. Aqui o caso é o mesmo; apenas, não estando terminados os fenômenos, não se estendem mais por muito tempo: ainda existirá outra coisa.
Não penseis que os estudos que fazeis sobre esses assuntos de atualidade e outros sejam perdidos para as massas, porque, até agora, eles vão quase exclusivamente aos espíritas, aos que já se acham convencidos. Não. Para começar, tende a certeza que os escritos espíritas vão além dos adeptos; há pessoas muito interessadas na questão para não se manterem ao corrente de tudo o que fazeis e da marcha da Doutrina. Sem que o pareça, a Sociedade, que é o centro onde se elaboram os trabalhos, é um ponto em mira, e as soluções sábias e raciocinadas que dela saem fazem refletir mais do que supondes. Mas dia virá em que esses mesmos escritos serão lidos, comentados, analisados publicamente; aí as pessoas colherão a mancheias os elementos sobre os quais devem assentar-se as novas ideias, porque aí encontrarão a verdade. Ainda uma vez, ficai convencidos que nada do que fazeis está perdido, mesmo para o presente, com mais forte razão para o futuro.
Tudo é assunto de instrução para o homem que reflete. No fato que vos ocupa, vedes um homem possuindo suas faculdades intelectuais, suas forças materiais, e que parece, no momento, completamente despojado das primeiras; ele pratica um ato que à primeira vista parece insensato. Ora! Aí está um grande ensinamento.
Isto aconteceu? perguntarão algumas pessoas. O homem estava em estado de sonambulismo natural, ou sonhou? O Espírito da mulher estava metido nisso? Tais são as perguntas que podem ser feitas a este respeito. Pois bem! O Espírito da senhora Magnan esteve muito envolvido nesse acontecimento, e muito mais do que podiam supor os próprios espíritas.
Se seguirdes o homem com atenção, desde o momento da morte de sua mulher, velo-eis mudar pouco a pouco; desde as primeiras horas da partida de sua mulher, vedes seu Espírito tomar uma direção que se acentua cada vez mais, para chegar ao ato de loucura da exumação do cadáver. Há, nesse ato, algo além do pesar, e, como ensina O Livro dos Espíritos e todas as comunicações, não é na vida presente, é no passado que se deve procurar a causa. Não estamos aqui na Terra senão para cumprir uma missão ou pagar uma dívida. No primeiro caso, realizais uma tarefa voluntária; no segundo, fazei a contrapartida dos sofrimentos que experimentais, e tereis a causa de vossos sofrimentos.
Quando a mulher morreu, lá ficou em Espírito, e como a união dos fluidos espirituais e do corpo era difícil de romper, em razão da inferioridade do Espírito, foi-lhe preciso um certo tempo para retomar sua liberdade de ação, um novo trabalho para a assimilação dos fluidos; depois, quando ela estava na medida, apoderou-se do corpo do homem e o possuiu. Eis aqui, pois, um verdadeiro caso de possessão.
O homem não é mais ele, e notai: ele não é mais ele mesmo senão quando vem a noite. Seria preciso entrar em longas explicações para vos fazer compreender a causa desta singularidade; mas, em duas palavras: a mistura de certos fluidos, como em Química a de certos gases, não pode suportar o brilho da luz. Eis por que certos fenômenos espontâneos ocorrem mais vezes à noite do que de dia. Ela possui esse homem; ela o induz a fazer o que ela quer; foi ela que o conduziu ao cemitério para obrigá-lo a fazer um trabalho sobre-humano e fazê-lo sofrer. E no dia seguinte, quando perguntam ao homem o que se passou, ele fica estupefato e só se lembra de haver sonhado com sua mulher. O sonho era a realidade; ela tinha prometido voltar e voltou; ela voltará e arrastá-lo-á.
Numa outra existência, foi cometido um crime; o que queria vingar-se deixou o primeiro encarnar-se e escolheu uma existência que, pondo-o em relação consigo, lhe permitia realizar sua vingança. Perguntareis por que essa permissão? Mas Deus nada concede que não seja justo e lógico. Um quer vingar-se; é preciso que tenha, como prova, ocasião superar seu desejo de vingança, e o outro deve sofrer a prova e pagar pelo que fez sofrer o primeiro. Aqui o caso é o mesmo; apenas, não estando terminados os fenômenos, não se estendem mais por muito tempo: ainda existirá outra coisa.
Bibliografia
À VENDA A PARTIR DE 6 DE JANEIRO DE 1868
A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
Por ALLAN KARDEC *
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A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
Por ALLAN KARDEC *
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I. CARACTERES DA REVELAÇÃO ESPÍRITA.
II. DEUS. ─ Existência de Deus. ─ Da natureza divina. ─ A Providência. ─ A visão de Deus.
III. O BEM E O MAL. ─ Fonte do bem e do mal. ─ A inteligência e o instinto. ─ Destruição dos seres vivos uns pelos outros.
IV. PAPEL DA CIÊNCIA NA GÊNESE.
V. SISTEMAS DE MUNDOS ANTIGOS E MODERNOS.
VI. URANOGRAFIA GERAL. ─ O espaço e o tempo. ─ A matéria. ─ As leis e as forças. ─ A criação primeira. ─ A criação universal. Os sóis e os planetas. ─ Os satélites. ─ Os cometas. A Via Láctea. ─ As estrelas fixas. ─ Os desertos do espaço. ─ Sucessão eterna dos mundos. ─ A vida universal. ─ A Ciência. -Considerações morais.
VII. ESBOÇO GEOLÓGICO DA TERRA. ─ Períodos geológicos. ─ Estado primitivo do globo, ─ Período primário. ─ Período de transição. ─ Período secundário. ─ Período terciário. ─ Período diluviano. ─ Período pós diluviano ou atual. ─ Nascimento do homem.
VIII. TEORIAS DA TERRA. ─ Teoria da projeção (Buffon). ─ Teoria da condensação. ─ Teoria da incrustação.
IX. REVOLUÇÕES DO GLOBO. ─ Revoluções gerais ou parciais. ─ Dilúvio bíblico. ─ Revoluções periódicas. ─ Cataclismos futuros.
X. GÊNESE ORGÂNICA. ─ Primeira formação dos seres vivos. ─ Princípio vital. ─ Geração espontânea. ─ Escala dos seres corporais. ─ O homem.
INTRODUÇÃO
I. CARACTERES DA REVELAÇÃO ESPÍRITA.
II. DEUS. ─ Existência de Deus. ─ Da natureza divina. ─ A Providência. ─ A visão de Deus.
III. O BEM E O MAL. ─ Fonte do bem e do mal. ─ A inteligência e o instinto. ─ Destruição dos seres vivos uns pelos outros.
IV. PAPEL DA CIÊNCIA NA GÊNESE.
V. SISTEMAS DE MUNDOS ANTIGOS E MODERNOS.
VI. URANOGRAFIA GERAL. ─ O espaço e o tempo. ─ A matéria. ─ As leis e as forças. ─ A criação primeira. ─ A criação universal. Os sóis e os planetas. ─ Os satélites. ─ Os cometas. A Via Láctea. ─ As estrelas fixas. ─ Os desertos do espaço. ─ Sucessão eterna dos mundos. ─ A vida universal. ─ A Ciência. -Considerações morais.
VII. ESBOÇO GEOLÓGICO DA TERRA. ─ Períodos geológicos. ─ Estado primitivo do globo, ─ Período primário. ─ Período de transição. ─ Período secundário. ─ Período terciário. ─ Período diluviano. ─ Período pós diluviano ou atual. ─ Nascimento do homem.
VIII. TEORIAS DA TERRA. ─ Teoria da projeção (Buffon). ─ Teoria da condensação. ─ Teoria da incrustação.
IX. REVOLUÇÕES DO GLOBO. ─ Revoluções gerais ou parciais. ─ Dilúvio bíblico. ─ Revoluções periódicas. ─ Cataclismos futuros.
X. GÊNESE ORGÂNICA. ─ Primeira formação dos seres vivos. ─ Princípio vital. ─ Geração espontânea. ─ Escala dos seres corporais. ─ O homem.
XI. GÊNESE ESPIRITUAL. ─ Princípio espiritual. ─ União do princípio
espiritual e da matéria. ─ Hipótese sobre a origem dos corpos humanos. ─
Encarnação dos Espíritos. ─ Reencarnação. ─ Emigração e imigração dos Espíritos.
─ Raça adâmica. ─ Doutrina dos anjos decaídos.
XII. GÊNESE MOSAICA. ─ Os seis dias. ─ O paraíso perdido.
XII. GÊNESE MOSAICA. ─ Os seis dias. ─ O paraíso perdido.
OS MILAGRES
XIII. CARACTERES DOS MILAGRES.
XIV. OS FLUIDOS. ─ Natureza e propriedade dos fluidos. ─ Explicação natural de alguns fatos reputados sobrenaturais.
XV. OS MILAGRES DO EVANGELHO. ─ Observações preliminares. ─ Sonhos. ─ Estrela dos Magos. ─ Dupla vista. ─ Curas. ─ Possessos. ─ Ressurreições. ─ Jesus anda sobre as águas. ─ Transfiguração. ─ Tempestade apaziguada. ─ Bodas de Caná. ─ Multiplicação dos pães. ─ Tentação de Jesus. ─ Prodígios na morte de Jesus. ─ Aparição de Jesus após a morte. ─ Desaparecimento do corpo de Jesus.
XIII. CARACTERES DOS MILAGRES.
XIV. OS FLUIDOS. ─ Natureza e propriedade dos fluidos. ─ Explicação natural de alguns fatos reputados sobrenaturais.
XV. OS MILAGRES DO EVANGELHO. ─ Observações preliminares. ─ Sonhos. ─ Estrela dos Magos. ─ Dupla vista. ─ Curas. ─ Possessos. ─ Ressurreições. ─ Jesus anda sobre as águas. ─ Transfiguração. ─ Tempestade apaziguada. ─ Bodas de Caná. ─ Multiplicação dos pães. ─ Tentação de Jesus. ─ Prodígios na morte de Jesus. ─ Aparição de Jesus após a morte. ─ Desaparecimento do corpo de Jesus.
AS PREDIÇÕES
XVI. TEORIA DA PRESCIÊNCIA.
XVII. PREDIÇÕES DO EVANGELHO. ─ Ninguém é profeta em sua terra. ─ Morte e paixão de Jesus. ─ Perseguição aos apóstolos. ─ Cidades impenitentes. ─ Ruína do Templo e de Jerusalém. ─ Maldição aos Fariseus. ─ Minhas palavras não passarão. ─ A pedra angular. ─ Parábola dos vinhateiros homicidas. ─ Um só rebanho e um só pastor. ─ A volta de Elias. ─ Anúncio do Consolador. ─ Segunda vinda do Cristo. ─ Sinais precursores. ─ Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. ─ Juízo final.
XVIII. OS TEMPOS SÃO CHEGADOS. ─ Sinais dos tempos. ─ A nova geração.
XVI. TEORIA DA PRESCIÊNCIA.
XVII. PREDIÇÕES DO EVANGELHO. ─ Ninguém é profeta em sua terra. ─ Morte e paixão de Jesus. ─ Perseguição aos apóstolos. ─ Cidades impenitentes. ─ Ruína do Templo e de Jerusalém. ─ Maldição aos Fariseus. ─ Minhas palavras não passarão. ─ A pedra angular. ─ Parábola dos vinhateiros homicidas. ─ Um só rebanho e um só pastor. ─ A volta de Elias. ─ Anúncio do Consolador. ─ Segunda vinda do Cristo. ─ Sinais precursores. ─ Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. ─ Juízo final.
XVIII. OS TEMPOS SÃO CHEGADOS. ─ Sinais dos tempos. ─ A nova geração.
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* Livraria Internacional, Boulevard Montmartre, 15,
Paris. ─ Um grosso volume in-12. Preço: 3,50 francos; pelo
correio 4 francos. As despesas de correio para esta como para
as outras obras são as para a França e para a Argélia. Para o
estrangeiro, os preços variam conforme o país, a saber:
Bélgica 0,65 franco. ─ Itália, 0,75 franco. ─ Inglaterra, Suíça,
Espanha, Grécia, Constantinopla e Egito, l franco. ─ Prússia e
Baviera, l,20 franco. ─ Holanda, l,50 franco. Portugal,
Estados Unidos, Canadá, Canárias, Guadalupe, Cayenne,
México, Maurício, China, Buenos Aires e Montevidéu, l,45
franco. ─ Holanda, 1,50 franco. ─ Brasil, l,80 franco. ─
Ducado de Baden, 2,25 francos. ─ Peru, 2,60 francos. ─
Áustria, 3,20 francos.
ERRATUM
No número de julho de 1867, artigo “Curta excursão espírita”, onde constou: As criaturas mais ilustres compreendem..., lede: As criaturas mais iletradas...