Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868

Allan Kardec

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Março

Comentários sobre os Messias do Espiritismo

(Vide o nº de fevereiro último)

Tendo-nos sido dirigidas várias perguntas a propósito das comunicações sobre os messias, publicadas no último número da Revista, julgamos dever completá-las por alguns desenvolvimentos que farão compreender melhor o seu sentido e o seu alcance.

1.º ─ Considerando-se que a primeira dessas comunicações recomendava guardar segredo até nova ordem, embora a mesma coisa fosse ensinada em diferentes regiões, senão quanto à forma e as circunstâncias de detalhes, ao menos pelo fundo da ideia, perguntaram-nos se os Espíritos, num consentimento geral, tinham reconhecido a urgência dessa publicação, o que teria uma significação de certa gravidade.

A opinião da maioria dos Espíritos é um poderoso controle para o valor dos princípios da Doutrina, mas não exclui o do julgamento e da razão cujo uso incessante todos os Espíritos sérios recomendam. Quando o ensino se generaliza espontaneamente sobre uma questão, num determinado sentido, é um indício certo de que tal questão chegou ao seu tempo. Mas a oportunidade, no caso de que se trata, não é uma questão de princípio, e julgamos que não deveríamos esperar o conselho da maioria para esta publicação, porquanto sua utilidade nos estava demonstrada. Seria puerilidade crer que, fazendo abnegação de nossa iniciativa, não obedeceríamos, como instrumento passivo, senão a um pensamento que se nos impunha.

A ideia da vinda de um ou vários messias era mais ou menos geral, mas encarada sob pontos de vista mais ou menos errados, por força das circunstâncias de detalhes contidos em certas comunicações, e de uma assimilação demasiado literal, por parte de alguns, com as palavras do Evangelho sobre o mesmo assunto. Esses erros podiam ter inconvenientes materiais cujos sintomas já se faziam sentir. Importava, pois, não deixá-los propagar-se. Eis porque julgamos útil dar a conhecer o verdadeiro sentido no qual essa previsão era entendida pela maioria dos Espíritos, retificando, assim, pelo ensinamento geral, o que o ensino isolado podia ter de parcialmente defeituoso.

2.º ─ Disseram que os messias do Espiritismo, vindo após a sua constituição, teriam um papel apenas secundário, e se perguntaram se era esse o verdadeiro caráter dos messias. Aquele que Deus encarrega de uma missão pode vir utilmente quando o objeto de sua missão está realizado? Não seria como se o Cristo tivesse vindo após o estabelecimento do Cristianismo, ou como se o arquiteto encarregado da construção de uma casa chegasse quando esta estivesse construída?

A revelação espírita deveria realizar-se em condições diferentes de suas antecessoras, porque as condições da Humanidade não são mais as mesmas. Sem voltar ao que foi dito a respeito dos caracteres desta revelação, lembramos que em vez de ser individual, ela devia ser coletiva e ao mesmo tempo o produto do ensino dos Espíritos e do trabalho inteligente do homem; ela não devia ser localizada, mas tomar raízes simultaneamente em todos os pontos do globo. Esse trabalho se realiza sob a direção de grandes Espíritos que receberam missão de presidir à regeneração da Humanidade. Se eles não cooperam na obra como encarnados, nem por isso deixam de dirigir os trabalhos como Espíritos, do que temos as provas. Seu papel de messias, então, não se apagou, pois que o realizam antes de sua encarnação e não é senão maior. Como Espíritos, sua ação é mesmo mais eficaz, porque podem estendêla a toda a parte, ao passo que, como encarnados, ela é necessariamente circunscrita. Como Espíritos, hoje fazem o que o Cristo fazia como homem: ensinam, mas pelas mil vozes da mediunidade; eles virão a seguir fazer como homens o que o Cristo não pôde fazer: instalar sua doutrina.

A instalação de uma doutrina chamada a regenerar o mundo não pode ser obra de um dia, e a vida de um homem não bastaria para isto. Primeiro é preciso elaborar os princípios ou, se preferirem, confeccionar o instrumento; depois limpar o terreno dos obstáculos e lançar os primeiros fundamentos. Que fariam esses Espíritos na Terra durante o trabalho, de certo modo material, de limpeza? Sua vida se gastaria nessa luta. Assim, eles virão mais utilmente quando a obra estiver elaborada e o terreno preparado. A eles, então, incumbirá pôr a última demão no edifício e o consolidar; numa palavra, fazer frutificar a árvore que tiver sido plantada. Mas, enquanto esperam, eles não ficam inativos: eles dirigem os trabalhadores. A encarnação não será, pois, senão uma fase de sua missão. Só o Espiritismo podia fazer compreender a cooperação dos Espíritos da erraticidade numa obra terrestre.

3.º ─ Além disso, perguntaram se não seria para temer que o anúncio desses messias não tentaria alguns ambiciosos que se dariam pretensas missões, e realizariam esta predição: Haverá falsos cristos e falsos profetas.

A resposta a isso é muito simples; está toda inteira no Cap. XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo. Lendo esse capítulo, ver-se-á que o papel do falso cristo não é tão fácil quanto se poderia supor, porque é o caso de dizer que não é o hábito que faz o monge. Em todos os tempos houve intrigantes que se quiseram fazer passar por aquilo que não eram. Sem dúvida eles podem imitar a forma exterior, mas quando se trata de justificar o fundo, acontece-lhes o mesmo que acontece com o jumento vestido com a pele do leão.

Diz o bom-senso que Deus não pode escolher seus messias entre os Espíritos vulgares, mas entre aqueles que ele sabe capazes de realizar seus desígnios. O que pretendesse haver recebido tal favor deveria, portanto, justificá-lo pela eminência de suas capacidades e de suas virtudes, e sua presunção seria o primeiro desmentido dado a essas mesmas virtudes. Que diriam de um rimador que quisesse passar por príncipe dos poetas? Dar-se por cristo ou messias seria dizer-se o homem mais virtuoso do Universo, e não se é virtuoso quando não se é modesto.

É verdade que a virtude é simulada pela hipocrisia; mas há uma coisa que desafia qualquer imitação: é o gênio, porque ele deve afirmar-se por obras positivas; quanto à virtude de fachada, é uma comédia que não se pode representar muito tempo sem se trair. Na primeira linha das qualidades morais que distinguem o verdadeiro missionário de Deus, há que colocar a humildade sincera, o devotamento sem limites e sem segundas intenções, o desinteresse material e moral absoluto, a abnegação da personalidade, virtudes pelas quais não brilham nem os ambiciosos nem os charlatães, que antes de tudo buscam a glória ou o lucro. Eles podem ter inteligência; é-lhes necessária para vencer pela intriga, mas não é essa inteligência que coloca o homem acima da Humanidade terrena. Se o Cristo voltasse a encarnarse na Terra, ele para cá voltaria com todas as suas virtudes. Se, pois, alguém se desse por ele, deveria igualá-lo em tudo. Uma só qualidade a menos bastaria para descobrir a impostura.

Assim como se reconhece a qualidade da árvore por seu fruto, reconhecer-seiam os verdadeiros messias pela qualidade de suas obras, e não por suas pretensões. Não são os que se proclamarão, porque talvez eles próprios se ignorem. Vários poderão estar na Terra sem ter sido reconhecidos. É vendo o que terão sido e o que terão feito que os homens dirão, como disseram do Cristo: “Aquele devia ser um messias.”

Há cem pedras de toque para reconhecer os messias e os profetas de contrabando. A definição do caráter daqueles que são verdadeiros é feita mais para desencorajar os contrafatores do que para excitá-los a representar um papel que eles não têm força para desempenhar, e só lhes acarretaria dissabores. É ao mesmo tempo dar aos que tentassem abusar, os meios de evitar serem vítimas de sua velhacaria.

4.º ─ Parece que algumas pessoas temeram que a qualificação de messias espalhasse sobre a Doutrina um verniz de misticismo.

Para quem conhece a Doutrina, ela é, de ponta a ponta, um protesto contra o misticismo, pois que tende a reconduzir todas as crenças para o terreno positivo das leis da Natureza. Mas, entre os que não a conhecem, há pessoas para as quais tudo o que escapa da Humanidade tangível é místico. Para estas, adorar Deus, orar, crer na Providência é ser místico. Nós não temos que nos preocupar com a sua opinião.

A palavra messias é empregada pelo Espiritismo na sua acepção literal de mensageiro, enviado, abstração feita da ideia de redenção e de mistério particular aos cultos cristãos. O Espiritismo não tem que discutir esses dogmas, que não são de sua alçada. Ele diz o sentido no qual emprega esse vocábulo, para evitar qualquer equívoco, deixando cada um crer conforme a sua consciência, que ele não procura perturbar.

Assim, para o Espiritismo, todo Espírito encarnado para cumprir uma missão especial junto à Humanidade é um messias, na acepção geral da palavra, isto é, um missionário ou enviado, com a diferença, entretanto, que o vocábulo messias implica mais particularmente a ideia de uma missão direta da divindade e, consequentemente, a da superioridade do Espírito e da importância da missão, de onde se segue que há uma distinção a fazer entre os messias propriamente ditos e os Espíritos simples missionários. O que os distingue é que, para uns, a missão ainda é uma prova, porque podem falir, ao passo que para os outros é um atributo de sua superioridade. Do ponto de vista da vida corporal, os messias entram na categoria das encarnações ordinárias de Espíritos, e o vocábulo não tem nenhum caráter de misticismo.

Todas as grandes épocas de renovação viram aparecer messias encarregados de dar impulso ao movimento regenerador e de dirigi-lo. Sendo a época atual uma das maiores transformações da Humanidade, terá também os seus messias, que já a presidem como Espíritos, e que terminarão sua missão como encarnados. Sua vinda não será marcada por nenhum prodígio, e Deus não perturbará a ordem das leis da Natureza para permitir que eles sejam reconhecidos. Nenhum sinal extraordinário aparecerá no céu nem na Terra, e eles não serão vistos descendo das nuvens acompanhados por anjos. Nascerão, viverão e morrerão como o comum dos homens, e sua morte não será anunciada ao mundo nem por tremores de Terra, nem pelo obscurecimento do Sol; nenhum sinal exterior os distinguirá, assim como o Cristo, em vida, não se distinguia dos outros homens. Nada, pois, os assinalará à atenção pública senão a grandeza de suas obras, a sublimidade de suas virtudes, e a parte ativa e fecunda que eles tomarão na fundação da nova ordem de coisas. A antiguidade pagã transformou-os em deuses; a História os colocará no panteão dos grandes homens, dos homens de gênio, mas, sobretudo entre os homens de bem, cuja memória será honrada pela posterioridade.

Tais serão os messias do Espiritismo. Grandes homens entre os homens, grandes Espíritos entre os Espíritos, eles marcarão sua passagem por prodígios da inteligência e da virtude, que atestam a verdadeira superioridade, muito mais que a produção de efeitos materiais que o primeiro que aparece pode realizar. Este quadro um pouco prosaico talvez faça caírem algumas ilusões, mas é assim que as coisas se passarão, muito naturalmente, e os seus resultados não serão menos importantes por não serem rodeados das formas ideais e um tanto maravilhosas com que certas imaginações gostam de cercá-los.

Dissemos os messias porque, com efeito, as previsões dos Espíritos anunciam que haverá vários, o que nada tem de admirável, segundo o sentido ligado a essa palavra, e em razão da grandeza da tarefa, pois que se trata, não do adiantamento de um povo ou de uma raça, mas da regeneração da Humanidade inteira. Quantos serão? Uns dizem três, outros mais, outros menos, o que prova que a coisa está nos segredos de Deus. Um deles teria a supremacia? É ainda o que pouco importa, o que até seria perigoso saber antecipadamente.

A vinda dos Messias, como fato geral, está anunciada, porque era útil que dela estivéssemos prevenidos; é uma dádiva do futuro e um motivo de tranquilidade, mas as individualidades não se devem revelar senão por seus atos. Se alguém deve abrigar a infância de um deles, o fará inconscientemente, como para o primeiro vindo; assisti-lo-á e o protegerá por pura caridade, sem a isto ser solicitado por um sentimento de orgulho, do qual talvez não se pudesse defender, que malgrado seu deslizaria para o coração e lhe faria perder o fruto de sua ação. Seu devotamento talvez não fosse tão desinteressado moralmente quanto ele próprio o imaginasse.

Além disso, a segurança do predestinado exige que ele seja coberto por um véu impenetrável, porque ele terá seus Herodes. Ora, um segredo jamais é melhor guardado do que quando por todos desconhecido. Ninguém, pois, deve conhecer a sua família, nem o lugar de seu nascimento, e os próprios Espíritos vulgares não o sabem. Nenhum anjo virá anunciar sua vinda à sua mãe, porque ela não deve fazer diferença entre ele e seus outros filhos; magos não virão adorá-lo em seu berço e lhe oferecer ouro e incenso, porque ele não deve ser saudado senão quando tiver dado suas provas.

Ele será protegido pelos invisíveis encarregados de velar por ele e conduzido à porta onde deverá bater, e o dono da casa não conhecerá aquele que receberá em seu lar.

Falando do novo Messias, disse Jesus: “Se alguém vos disser: O Cristo está aqui, ou está ali, não vades lá, porque ele lá não estará.” Há, pois, que desconfiar das falsas indicações, que têm por fim ludibriar, visando fazer procurá-lo onde ele não está. Levando-se em conta que não é permitido aos Espíritos revelar o que deve ficar secreto, toda comunicação circunstanciada sobre este ponto deve ser tida por suspeita, ou como uma provação para quem a recebe.

Pouco importa, pois, o número dos messias. Só Deus sabe o que é necessário. Entretanto, o que é indubitável, é que ao lado dos messias propriamente ditos, Espíritos superiores em número ilimitado encarnar-se-ão, ou já estão encarnados, com missões especiais para secundá-los. Surgirão em todas as classes, em todas as posições sociais, em todas as seitas e em todos os povos. Havê-los-á nas Ciências, nas Artes, na Literatura, na Política, nos chefes de estado, enfim por toda parte onde sua influência poderá ser útil à difusão das ideias novas e às reformas que serão sua consequência. A autoridade de sua palavra será muito maior porque será fundada na estima e na consideração de que serão cercados.

Mas, perguntarão, nessa multidão de missionários de todas as classes, como distinguir os messias? Que importa se os distinguem ou não? Eles não vêm à Terra para aí se fazerem adorar, nem para receber homenagens dos homens. Eles não trarão, pois, nenhum sinal na fronte; mas, assim como pela obra se conhece o artífice, dirão após a sua partida: Aquele que fez a maior soma de bens deve ser o maior.

Sendo o Espiritismo o principal elemento regenerador, importava que o instrumento estivesse pronto quando vierem os que dele devem servir-se. É o trabalho que se realiza neste momento, e que os precede de pouco. Mas antes é preciso que a grade tenha passado pelo chão para expurgá-lo das ervas parasitas que abafariam o bom grão.

É sobretudo o vigésimo século que verá florescerem grandes apóstolos do Espiritismo, e que poderá ser chamado o século dos messias. Então a antiga geração terá desaparecido e a nova estará em plena força; livre de suas convulsões, formada de elementos novos ou regeneradores, a Humanidade entrará definitivamente e pacificamente na fase do progresso moral que deve elevar a Terra na hierarquia dos mundos.


Correspondência inédita de Lavater com a imperatriz Maria da Rússia


Os espíritas são numerosos em São Petersburgo, e entre eles há homens sérios muito esclarecidos, que compreendem o objetivo e o alto alcance humanitário da doutrina. Um deles, que não tínhamos a honra de conhecer, houve por bem mandar-nos um documento, tanto mais precioso para a história do Espiritismo, quanto era desconhecido e toca nas mais altas regiões sociais. Eis o que diz o nosso honrado correspondente, na carta de remessa:

“A biblioteca imperial de São Petersburgo publicou, em 1858, num pequeno número de exemplares, uma coletânea de cartas inéditas do célebre fisionomista Lavater. Essas cartas, até agora desconhecidas na Alemanha, foram dirigidas à Imperatriz Maria da Rússia, esposa de Paulo I e avó do imperador reinante. A leitura dessas cartas me chocou pelas ideias filosóficas eminentemente espíritas que encerram, sobre as relações que existem entre o mundo visível e o mundo invisível, a mediunidade intuitiva e a influência dos fluidos que a produzem.

“Presumindo que essas cartas, provavelmente desconhecidas na França, poderiam interessar aos espíritas esclarecidos desse país, mostrando-lhes que suas convicções eram partilhadas pelo eminente filósofo suíço e duas cabeças coroadas, tomo a liberdade, senhor, de vos remeter anexa a tradução exata quase literal dessas cartas, que talvez julgueis oportuno inserir na vossa sábia e tão interessante publicação mensal.

“Aproveito a ocasião, senhor, para vos exprimir os sentimentos de minha profunda e perfeita estima, partilhada pelos espíritas sinceros de todos os países, que sabem dignamente apreciar os serviços eminentes que vosso zelo infatigável prestou ao desenvolvimento científico e à propagação da sublime e tão consoladora Doutrina Espírita. Esta terceira revelação terá como consequência a regeneração, o progresso moral e a consolidação da fé na pobre Humanidade, infelizmente desencaminhada, e que flutua entre a dúvida e a indiferença em matéria de religião e de moral.”

W. de F.

Publicamos integralmente o manuscrito do Sr. de F. Sua extensão obriga-nos a dele fazer o objeto de três artigos.



Preâmbulo



No castelo do grão-duque de Pawlowsk, situado a vinte e quatro verstas de Petersburgo, onde o imperador Paulo da Rússia passou os mais felizes anos de sua vida, e que, com o tempo, tornou-se a residência favorita da imperatriz Maria, sua augusta viúva, verdadeira benfeitora da Humanidade sofredora, acha-se uma seleta biblioteca, fundada pelo casal imperial, na qual, entre muitos tesouros científicos e literários, se acha um pacote de cartas escritas de próprio punho por Lavater, que ficaram desconhecidas dos biógrafos do célebre fisionomista.

Essas cartas são datadas de Zurique, em 1798. Dezesseis anos antes, em Zurique e em Schaffouse, Lavater tinha tido ocasião de travar o primeiro contato com o conde e a condessa do Norte (título sob qual o grão-duque da Rússia e sua esposa viajavam pela Europa), e, de 1796 a 1800, ele mandava para a Rússia, endereçadas à Imperatriz Maria, reflexões sobre a fisionomia, às quais juntava cartas, tendo por objetivo descrever o estado da alma depois da morte.

Nessas cartas, Lavater toma como ponto de partida que uma alma, tendo deixado o seu corpo, inspira ideias a um homem de sua escolha, apto para a luz (lichtfaehig) e faz com que ele escreva cartas dirigidas a um amigo que ficou na Terra, para instruí-lo sobre o estado em que ela se encontra.

Essas cartas inéditas de Lavater foram descobertas durante uma revisão da biblioteca grão-ducal, pelo Dr. Minzloff, bibliotecário da Biblioteca Imperial de Petersburgo e por ele postas em ordem. Com a autorização do atual proprietário do castelo de Pawlowsk, S. A. I., o grão-duque Constantino, e sob os auspícios esclarecidos do barão de Korff, atualmente membro do conselho do império, antigo diretor chefe dessa biblioteca, que lhe deve seus mais notáveis melhoramentos, elas foram publicadas em 1858, em Petersburgo, sob o título: Johann-Kaspar Lavarter’s briefe, an die kaïserin Maria Feodorowna, gemahin kaïser Paul I von Russland (Cartas de Jean-Gaspard Lavater à imperatriz Maria Feodorowna, esposa do imperador Paulo I da Rússia). Essa obra foi impressa por conta da biblioteca imperial e dedicada ao senado da Universidade de Iena, por ocasião do 300º aniversário de sua fundação.

Essas cartas, em número de seis, apresentam o mais alto interesse, porque provam positivamente que as ideias espíritas, e notadamente as possibilidades de relações entre o mundo espiritual e o mundo material, germinavam na Europa há setenta anos, e que não só o célebre fisionomista tinha a convicção dessas relações, mas que ele próprio era o que no Espiritismo se chama médium intuitivo, isto é, um homem que recebia por intuição as ideias dos Espíritos e transcrevia suas comunicações. As cartas de um amigo morto, que Lavater havia juntado às suas próprias, são eminentemente espíritas. Elas desenvolvem e esclarecem de maneira tão engenhosa quanto espirituosa, as ideias fundamentais do Espiritismo, e vêm em apoio a tudo o que esta doutrina oferece de mais racional, de mais profundamente filosófico, religioso e consolador para a Humanidade. As pessoas que não conhecem o Espiritismo poderão supor que essas cartas de um Espírito ao seu amigo da Terra não são senão uma forma poética que Lavater dá às suas próprias ideias espiritualistas; mas os que são iniciados às verdades do Espiritismo as encontrarão nessas comunicações, tais quais elas foram e ainda são dadas pelos Espíritos, por meio de diversos médiuns intuitivos, auditivos, escreventes, falantes, extáticos etc. Não é natural supor que o próprio Lavater tenha podido conceber e expor com tão grande lucidez e tanta precisão, ideias abstratas e tão elevadas sobre o estado da alma após a morte e suas formas de comunicação com os Espíritos encarnados, isto é, com os homens. Essas ideias não podiam provir senão dos próprios Espíritos desencarnados. É indubitável que um deles, tendo guardado sentimentos de afeição por um amigo ainda habitante da Terra, lhe deu, por intermédio de um médium intuitivo (talvez o próprio Lavater fosse esse amigo), noções sobre esse assunto, para iniciá-lo aos mistérios do túmulo, na medida que é permitido a um Espírito desvendar aos homens, e que estes estejam em estado de compreender.

Damos aqui a tradução exata das cartas de Lavater, escritas em alemão, bem como das comunicações de além-túmulo, que ele dirigia à imperatriz Maria, conforme o desejo que ela havia expresso, de conhecer as ideias do filósofo alemão sobre o estado da alma após a morte do corpo.


Primeira Carta

SOBRE O ESTADO DA ALMA APOS A MORTE


Ideias gerais


Mui venerada Maria da Rússia!

Dignai-vos conceder-me permissão para não vos dar o título de majestade, que vos é devido da parte do mundo, mas que não se harmoniza com a santidade do assunto acerca do qual desejastes que eu vos entretivesse, a fim de que eu possa escrever com franqueza e inteira liberdade.

Desejais conhecer algumas das minhas ideias sobre o estado das almas após a morte.

A despeito do pouco que é dado saber sobre isto ao mais sábio e ao mais douto entre nós, porquanto nenhum dos que partiram para o país desconhecido de lá voltou, o homem pensante, o discípulo daquele que do céu desceu entre nós, está, entretanto, em estado de dizer sobre isto, tanto quanto nos é necessário saber para nos encorajar, nos tranquilizar e nos fazer refletir.

Desta vez limitar-me-ei a vos expor, a respeito, algumas das ideias mais gerais.

Penso que deve existir uma grande diferença entre o estado, a maneira de pensar e de sentir de uma alma separada de seu corpo material, e o estado no qual se encontrava durante sua união com este último. Essa diferença deve ser ao menos tão grande quanto a que existe entre o estado de um recém-nascido e o de uma criança vivendo no seio materno.

Estamos ligados à matéria, e são os nossos sentidos e os nossos órgãos que dão à nossa alma as percepções e o entendimento.

Conforme a diferença que exista entre a construção do telescópio, do microscópio e dos óculos, de que se servem os nossos olhos para ver, os objetos que olhamos por seu intermédio nos aparecem sob uma forma diferente. Nossos sentidos são os telescópios, os microscópios e os óculos necessários à nossa vida atual, que é uma vida material.

Penso que o mundo visível deve desaparecer para a alma separada de seu corpo, assim como lhe escapa durante o sono. Ou então o mundo, que a alma entrevia durante sua existência corporal, deve aparecer à alma desmaterializada sob um aspecto completamente diferente.

Se, durante algum tempo, ela pudesse ficar sem corpo, o mundo material não existiria para ela. Mas se, logo depois de haver deixado o seu corpo ─ o que acho muito verossimilhante ─ ela for provida de um corpo espiritual, que teria retirado do seu corpo material, o novo corpo lhe dará indispensavelmente uma percepção muito diversa das coisas. Se, o que facilmente pode acontecer às almas impuras, esse corpo ficasse, durante algum tempo, imperfeito e pouco desenvolvido, todo o Universo apareceria à alma num estado de perturbação, como ele seria visto através de um vidro despolido.

Mas se o corpo espiritual, condutor e intermediário de suas novas impressões, fosse ou se tomasse mais desenvolvido ou melhor organizado, o mundo da alma lhe pareceria, conforme a natureza e as qualidades de seus novos órgãos, bem como segundo o grau de sua harmonia e de sua perfeição, mais regular e mais belo.

Os órgãos se simplificam, adquirem harmonia entre si e são mais apropriados à natureza, ao caráter, às necessidades e às forças da alma, conforme ela se concentre, se enriqueça e se depure aqui embaixo, perseguindo um só objetivo e agindo num sentido determinado. Existindo na Terra, a alma aperfeiçoa, por si mesma, as qualidades do corpo espiritual, do veículo no qual continuará a existir após a morte de seu corpo material, e que lhe servirá de órgão para conceber, sentir e agir em sua nova existência. Esse novo corpo, apropriado à sua natureza íntima, a tornará pura, amável, vivaz e apta a mil belas sensações, impressões, contemplações, ações e prazeres.

Tudo o que podemos, e tudo o que ainda não podemos dizer sobre o estado da alma após a morte, basear-se-á sempre sobre este único axioma, permanente e geral: O homem colhe o que semeou.

É difícil encontrar um princípio mais simples, mais claro, mais abundante e mais próprio a ser aplicado a todos os casos possíveis.

Existe uma lei geral da Natureza, estreitamente ligada, mesmo idêntica, ao princípio acima mencionado, no que concerne ao estado da alma após a morte, uma lei equivalente em todos os mundos, em todos os estados possíveis, no mundo material e no mundo espiritual, visível e invisível, a saber:

“O que se assemelha tende a se reunir. Tudo o que é idêntico se atrai reciprocamente, se não existirem obstáculos que se oponham à sua união.”

Toda a doutrina sobre o estado da alma após a morte é baseada neste simples princípio. Tudo quanto ordinariamente chamamos de julgamento prévio, compensação, felicidade suprema, danação, pode ser explicado desta maneira: “Conforme tenhas semeado o bem em ti mesmo, nos outros e fora de ti, pertencerás à sociedade daqueles que, como tu, semearam o bem em si mesmos e fora de si; gozarás da amizade daqueles aos quais te terás assemelhado em sua maneira de semear o bem.

Cada alma separada de seu corpo, livre das cadeias da matéria, aparece a si mesma tal qual é na realidade. Todas as ilusões, todas as seduções que a impediam de se reconhecer e de ver suas forças, suas fraquezas e seus defeitos, desaparecerão.

Ela experimentará uma tendência irresistível para se dirigir às almas que se lhe assemelham e afastar-se das que lhes são dessemelhantes. Seu próprio peso interior, como obedecendo à lei da gravitação, a atrairá para abismos sem fundo (pelo menos é assim que lhe parecerá); ou então, conforme o grau de sua pureza, lançar-se-á nos ares, como uma centelha levada por sua leveza, e passará rapidamente para as regiões luminosas, fluídicas e etéreas.

A alma se dá a si mesma um peso que lhe é próprio, por seu sentido interior; seu estado de perfeição a impele para a frente, para trás ou para o lado; seu próprio caráter, moral ou religioso, lhe inspira certas tendências particulares. O bom elevarse-á para os bons; a necessidade que ele sente do bem o atrairá para eles. O mau é forçosamente impelido para os maus. A queda precipitada das almas grosseiras, imorais e irreligiosas para junto das almas que se lhes assemelham, será também tão rápida e inevitável quanto a queda de uma bigorna num abismo, quando nada a detém.

É o bastante por esta vez.

Zurique, 1º de agosto de 1798.

JEAN-GASPAR LAVATER.

(Com a permissão de Deus, a continuação de oito em oito dias)



Segunda Carta


As necessidades experimentadas pelo espírito humano, durante seu exílio no corpo material, continuam as mesmas logo depois que o deixou. Sua felicidade consistirá na possibilidade de poder satisfazer suas necessidades espirituais; sua danação, na impossibilidade de poder satisfazer seus apetites carnais, num mundo menos material.

As necessidades não satisfeitas constituem a danação; sua satisfação constitui a felicidade suprema.

Eu gostaria de dizer a cada homem: “Analisa a natureza de tuas necessidades; dá-lhes o seu verdadeiro nome; pergunta-te a ti mesmo: são admissíveis num mundo menos material? Podem elas aí encontrar sua satisfação?” E se verdadeiramente aí puderem ser satisfeitas, serão daquelas que um Espírito intelectual e imortal poderia honestamente confessar e desejar a sua satisfação, sem sentir uma profunda vergonha ante outros seres intelectuais e imortais como ele?

A necessidade que sente a alma de satisfazer às aspirações espirituais de outras almas imortais; de lhes proporcionar os puros prazeres da vida; de inspirar-lhes a certeza da continuação de sua existência após a morte; de cooperar assim no grande plano da sabedoria e do amor supremos; o progresso adquirido por essa nobre atividade, tão digna do homem, assim como o desejo desinteressado do bem, dão às almas humanas a aptidão e, portanto, o direito de serem recebidas nos grupos e nos círculos de Espíritos mais elevados, mais puros, mais santos.

Mui venerada Imperatriz, quando temos a íntima persuasão de que a necessidade mais natural, e entretanto muito rara, que possa nascer numa alma imortal: a de Deus, a necessidade de dele se aproximar cada vez mais, sob todos os aspectos, e de se assemelhar ao Pai invisível de todas as criaturas, torna-se predominante em nós, oh! então não devemos experimentar o menor receio concernente o nosso estado futuro, quando a morte nos tiver desembaraçado de nosso corpo, esse muro espesso que nos ocultava Deus. Esse corpo material que nos separava dele é abatido, e o véu que nos ocultava a vista do mais santo dos santos é rasgado. O Ser adorável que amávamos acima de tudo, com todas as suas graças resplandecentes, terá então livre entrada em nossa alma dele faminta e o recebendo com alegria e amor.

Logo que o amor sem limites por Deus tiver predominado em nossa alma, por força dos esforços que tiver feito para dele se aproximar e a ele se parecer em seu amor vivificante da Humanidade, e por todos os meios que tinha em seu poder, essa alma, desembaraçada de seu corpo, passando necessariamente por muitos degraus para se aperfeiçoar sempre mais, subirá com uma facilidade e uma rapidez espantosas para o objeto de sua mais profunda veneração e de seu amor ilimitado, para a fonte inesgotável e a única suficiente para a satisfação de todas as suas necessidades, de todas as suas aspirações.

Nenhum olho fraco, doente ou velado, está em condições de olhar o Sol de frente; do mesmo modo, nenhum Espírito não depurado, ainda envolto no nevoeiro material de uma vida exclusivamente material, mesmo no momento de sua separação do corpo, não estaria em estado de suportar a vista do mais puro sol dos Espíritos, na sua claridade resplandecente, seu símbolo, seu foco, de onde emanam essas ondas de luz que penetram até mesmo os seres finitos com o sentimento de sua infinitude.

Quem melhor que vós, senhora, sabe que os bons não são atraídos senão pelos bons! Que só as almas elevadas sabem gozar da presença de outras almas de escol! Todo homem que conhece a vida e os homens, aquele que muitas vezes foi obrigado a encontrar-se na companhia desses zombadores desonestos, efeminados, faltos de caráter, sempre apressados em realçar e fazer valer a palavra mais insignificante, a menor alusão daqueles cujo favor disputam, ou então desses hipócritas que procuram astuciosamente penetrar as ideias alheias, para em seguida interpretá-las num sentido absolutamente contrário, aquele, digo eu, deve saber quanto essas almas vis e escravas de súbito se embaraçam a uma simples palavra pronunciada com firmeza e dignidade. Quanto apenas um olhar severo os confunde, fazendo-os sentir profundamente que os conhecem e que os julgam por seu justo valor! Como então se lhes torna penoso suportar a presença de um homem honesto! Nenhuma alma velhaca e hipócrita é feliz ao contato de uma alma proba e enérgica que a penetra. Cada alma impura, tendo deixado o seu corpo, deve, segundo sua natureza íntima, como impulsionada por uma força oculta e invencível, fugir da presença de todo ser puro e luminoso, para lhe ocultar, tanto quanto possível, a vista de suas numerosas imperfeições que ela não está em condições de ocultar a si própria, nem aos outros.

Mesmo que não tivesse sido escrito: Ninguém, sem ser depurado, poderá ver o Senhor, isto estaria perfeitamente na ordem das coisas. Uma alma impura se acha numa impossibilidade absoluta de entrar em qualquer tipo de relação com uma alma pura, bem como de sentir por ela a menor simpatia. Uma alma assustada pela luz não pode, por isto mesmo, ser atraída para a fonte da luz. A claridade privada de toda obscuridade deve queimá-la como um fogo devorador.

E quais são as almas, senhora, que chamamos impuras? Penso que são aquelas nas quais o desejo de se depurar, de se corrigir, de se aperfeiçoar, jamais predominou. Penso que são aquelas que não estão submetidas ao princípio elevado do desinteresse em todas as coisas; aquelas que se escolheram a si mesmas para centro único de todos os seus desejos e de todas as suas ideias; aquelas que se olham como o objetivo de tudo o que está fora delas; que não buscam senão o meio de satisfazer suas paixões e seus sentidos; aquelas, enfim, nas quais reinam o egoísmo, o orgulho, o amor-próprio e o interesse pessoal; que querem servir a dois senhores que se contradizem, e isto simultaneamente.

Semelhantes almas, penso eu, devem achar-se após a separação de seus corpos, no miserável estado de uma horrível contemplação de si mesmas; ou então, o que dá no mesmo, do desprezo profundo que sentem por si próprias, e serem arrastadas por uma força irresistível para a horrorosa companhia de outras almas egoístas, condenando-se elas próprias incessantemente.

É o egoísmo que produz a impureza da alma e a faz sofrer. Ele é combatido em todas as almas humanas por alguma coisa que lhe é contrária, algo de puro, de divino: o sentimento moral. Sem esse sentimento, o homem não é capaz de nenhum prazer moral, de nenhuma estima, de nenhum desprezo por si mesmo, e não compreende o Céu, nem o inferno. Esta luz divina lhe torna insuportável toda obscuridade que descobre em si, e é a razão pela qual as almas delicadas, aquelas que possuem o senso moral, sofrem mais cruelmente quando o egoísmo delas se apropria e subjuga esse sentimento.

Da concordância e da harmonia que subsistem no homem, entre ele próprio e sua lei interior, dependem sua pureza, sua aptidão para receber a luz, sua felicidade, seu céu, seu Deus. Seu Deus lhe aparece na sua semelhança consigo mesmo. Àquele que sabe amar, Deus aparece como o supremo amor, sob mil formas amantes. Seu grau de felicidade e sua aptidão para tornar os outros felizes são proporcionais ao princípio do amor que nele reina. Aquele que ama com desinteresse fica em harmonia incessante com a fonte de todo amor e com todos os que aí bebem o amor.

Procuremos conservar em nós o amor em toda a sua pureza, senhora, e seremos sempre arrastados por ele para junto das almas mais amantes. Purifiquemo-nos todos os dias, cada vez mais, das manchas do egoísmo, e então, ainda que tivermos de deixar este mundo hoje ou amanhã, devolvendo à terra o nosso envoltório mortal, nossa alma tomará o seu voo com a rapidez do relâmpago na direção do modelo de todos aqueles que amam, e reunir-se-á a eles com uma felicidade inexprimível.

Nenhum de nós pode saber em que se tornará a sua alma após a morte do corpo, contudo, estou plenamente persuadido que o amor depurado deve necessariamente dar ao nosso Espírito liberto do corpo, uma liberdade sem limites, uma existência cêntupla, um gozo contínuo de Deus, e um poder ilimitado para tornar felizes todos os que estão aptos a gozar a felicidade suprema.

Oh! Como é incomparável a liberdade moral do Espírito despojado de seu corpo! Com que rapidez a alma do ser amante, cercada de uma luz resplandecente, efetua a sua ascensão! Como a ciência infinita, como a força de se comunicar aos outros se tomam o seu apanágio! Que luz jorra dela mesma! Que vida anima todos os átomos de que é formada! Ondas de gozos se lançam de todos os lados ao seu encontro, para satisfazer suas necessidades mais puras e mais elevadas! Inumeráveis legiões de seres amantes lhe estendem os braços! Vozes harmoniosas se fazem ouvir nesses coros numerosos e radiantes de alegria e lhe dizem: “Espírito de nosso Espírito! Coração de nosso coração! Amor haurido na fonte de todo amor! Alma amante, tu nos pertences a nós todos, e nós somos todas tuas! Cada um de nós é teu e tu pertences a cada um de nós. Deus é amor e Deus é nosso. Estamos todos cheios de Deus e o amor encontra sua felicidade na felicidade de todos.”

Desejo ardentemente, mui venerada imperatriz, que vós, vosso nobre e generoso esposo, o imperador, tão dedicados um e outro para o bem, e eu convosco, possamos jamais não nos tornarmos estranhos ao amor que é Deus e homem ao mesmo tempo; que nos seja concedido nos prepararmos para os gozos do amor, por nossas ações, nossas preces e nossos sofrimentos, aproximando-nos daquele que se deixou pregar na cruz do Gólgota.

Zurique, 18 de agosto de 1798,

JEAN-GASPAR LAVATER.

(Continua proximamente, se Deus o permitir)

Já se pode ver em que ordem de ideias Lavater escrevia à imperatriz Maria, e até que ponto possuía ele a intuição dos princípios do Espiritismo moderno. Julgaremos melhor ainda pelo complemento dessa correspondência notável. Enquanto esperamos as reflexões com que a acompanharemos, julgamos conveniente, desde já, destacarmos um fato importante: é que para manter uma correspondência sobre semelhante assunto com a imperatriz, era preciso que esta partilhasse dessas ideias, e várias circunstâncias não permitem duvidar que o mesmo se passava com o czar, seu esposo. Era a pedido dela, ou melhor, a pedido de ambos, que Lavater escrevia, e o tom das cartas prova que ele se dirigia a pessoas convictas. Como se vê, as crenças espíritas, nas altas esferas, não datam de hoje. Aliás, pode-se ver, na Revista de abril de 1866, o relato de uma aparição tangível de Pedro o Grande a esse mesmo Paulo I.

As cartas de Lavater, lidas na Sociedade de Paris, determinaram uma conversação a propósito. Sem dúvida atraído pelo pensamento que na ocasião lhe era dirigido, Paulo I manifestou-se espontaneamente e sem evocação, por intermédio de um dos médiuns, ao qual ditou a seguinte comunicação:

(Sociedade de Paris, 7 de fevereiro de 1868 - Médium: Sr. Leymarie)

O poder é coisa pesada, e os aborrecimentos que deixa impressionam dolorosamente a nossa alma! Os desgostos são contínuos; há que conformar-se aos hábitos, às velhas instituições, ao preconceito, e Deus sabe quanta resistência é necessária para se opor a todos os apetites que vêm bater no trono, como ondas tumultuosas. Assim, que felicidade quando, deixando um instante essa túnica de Nessus chamada realeza, a gente pode encerrar-se num lugar pacífico, onde se pode repousar em paz, longe do ruído e do tumulto das ambições!

Minha querida Maria gostava da calma. Natureza sólida, suave, resignada, amorosa, ela teria preferido o esquecimento das grandezas para se votar completamente à caridade, para estudar as altas questões filosóficas que eram a mola propulsora de suas faculdades. Como ela, eu gostava desses recreios intelectuais; eles eram um bálsamo para as minhas feridas de soberano, uma força nova para me guiar no dédalo da política europeia.

Lavater, esse grande coração, esse grande Espírito, esse irmão predestinado, nos iniciava na sublime doutrina. Suas cartas, que hoje possuís, eram por nós esperadas com ansiedade febril. Tudo o que elas encerram era a miragem dos nossos ideais pessoais. Nós líamos essas cartas queridas com uma alegria infantil, felizes por depor a nossa coroa, a sua gravidade, a sua etiqueta, para discutir os direitos da alma, sua emancipação e seu curso divino para o eterno.

Todas essas questões, hoje causticantes, nós as aceitamos há setenta anos. Elas faziam parte de nossa vida, de nosso repouso. Muitos dos efeitos estranhos, aparições, ruídos, tinham fortalecido a nossa opinião a esse respeito. A imperatriz Maria via e ouvia os Espíritos; por eles ela tinha tomado conhecimento dos acontecimentos passados a grandes distâncias. Um príncipe Lopoukine, morto em Kiew, a centenas de léguas, tinha vindo nos anunciar sua morte, os incidentes que tinham precedido a sua partida, a expressão de suas últimas vontades. A imperatriz tinha escrito, ditado pelo Espírito de Lopoukine, e apenas vinte dias depois sabia-se na corte todos os detalhes que possuíamos. Eles foram para nós uma brilhante confirmação, e também a prova que Lavater e nós éramos iniciados às grandes verdades.

Hoje conhecemos melhor, por vós, a doutrina cuja base alargastes. Viremos pedir-vos alguns instantes e vos agradecemos antecipadamente, se tiverdes a bondade de escutar Maria da Rússia e este que teve o favor de tê-la por companheira.

PAULO I


Flageolet
ESPÍRITO MISTIFICADOR


O fato seguinte nos é relatado por um dos nossos correspondentes de Maine-etLoire, o Sr. doutor E. Champneuf. Embora o fato em si não saia do círculo dos fenômenos conhecidos de manifestações físicas, é instrutivo porque prova, uma vez mais, a diversidade dos tipos que se encontram no mundo invisível, e que aí entrando certos Espíritos não se despojam imediatamente de seu caráter. É o que se ignorava, antes que o Espiritismo nos tivesse posto em relação com os habitantes desse mundo. Eis o relato que nos é dirigido:

“Permiti-me dar-vos a conhecer um fato assaz curioso, não de um transporte, mas de uma subtração por um Espírito, produzida há oito dias em nosso meio.

“Há um Espírito que há muitos anos frequenta nosso grupo de Saumur, que há algum tempo se fez ainda mais familiar do nosso grupo de Vernantes. Ele disse chamar-se Flageolet, mas nosso médium, pelo qual ele se fez reconhecer, e que com efeito o conheceu quando vivia no mundo, nos disse que ele tinha o nome de Biron, violinista medíocre, muito corajoso, vivedor, correndo tascas onde fazia as pessoas dançarem. É um Espírito leviano, mistificador, mas não é mau.

“Então, Flageolet instalou-se em casa de meu irmão, onde se fazem as sessões. E os almoços e jantares são alegrados pelas árias tocadas que lhe pedem ou não lhe pedem, felizes quando os copos e os pratos não são virados por sua jovialidade turbulenta.

“Há oito dias o meu irmão, que fuma muito, tinha, como de costume, sua tabaqueira a seu lado, sobre a mesa e, como também de costume, Flageolet assistia ao jantar de família. Depois de tocadas algumas árias e marchas, o Espírito se pôs a tocar a canção: J’ai du bon tabac dans ma tabatière (Tenho bom tabaco em minha tabaqueira). Nesse momento meu irmão procurou a sua, que não estava mais ao seu lado. Ele passeou o olhar ao seu redor, revistou os bolsos, nada. A mesma canção continua com mais animação; ele se levanta, examina a mesinha da lareira, os móveis, leva a investigação até os cômodos vizinhos e a canção da tabaqueira, cantada com mais vigor, o persegue com redobrada zombaria, à medida que ele se afasta e se anima em suas buscas. Se ele se aproxima da lareira, as batidas se tornam mais fortes e rápidas. Enfim o procurador, aborrecido por essa harmonia impiedosa, pensa em Flageolet e lhe diz:

“─ Foste tu que tiraste minha tabaqueira?

“─ Sim.

“─ Queres devolvê-la?

“─ Sim.

“─ Então fala!

“Tomaram o alfabeto e um lápis e o Espírito ditou: “Eu a lancei no fogo.” Remexem as cinzas quentes e encontram, no fundo da lareira, a tabaqueira cujo pó estava calcinado.

“Todos os dias há alguma surpresa de sua parte ou alguma traquinada à sua maneira. Há três dias ele nos revelou o conteúdo de um cesto bem afivelado que acabara de chegar.

“Ontem à noite era uma nova malícia contra meu irmão. Este, durante o dia, entrando em casa, procurou o boné que usa no interior e, não encontrando, decidiu não pensar mais no caso. À noite Flageolet, sem dúvida aborrecido de executar canções sem que lhe dessem atenção, e sem que pensassem em interrogá-lo, pediu para escrever. Pusemo-nos à sua disposição e ele ditou:

“─ Eu afanei o teu barrete.

“─ Queres dizer-me onde ele está?

“─ Sim.

“─ Onde o meteste?

“─ Eu o dei a Napoleão.

“Persuadidos de que era outra piada do Espírito, perguntamos:

“─ Qual?

“─ O teu.

“Há muitos anos há uma estátua de Napoleão I, de tamanho médio, na sala onde fazemos as nossas sessões. Dirigimo-nos para a estátua, com a lâmpada na mão, e encontramos o boné desaparecido, que cobria o pequeno chapéu histórico.”

OBSERVAÇÃO: Tudo no Espiritismo é assunto de estudo para o observador sério; os fatos aparentemente insignificantes têm sua causa, e essa causa pode ligarse aos mais importantes princípios. As grandes leis da Natureza não se revelam no menor inseto como no animal gigantesco? No grão de areia que cai, como no movimento dos astros? O botânico despreza uma flor porque é humilde e sem brilho? Dá-se o mesmo na ordem moral, onde tudo tem o seu valor filosófico, como na ordem física tudo tem seu valor científico.

Ao passo que certas pessoas não verão no fato acima relatado senão uma coisa curiosa, divertida, um assunto de distração, outros aí verão uma aplicação da lei que rege a marcha progressiva dos seres inteligentes e colherão um ensinamento. Sendo o mundo invisível o meio onde fatalmente desemboca a Humanidade, nada do que pode ajudar a torná-lo conhecido poderia ser indiferente. O mundo corporal e o mundo espiritual, desaguando incessantemente um no outro, pelas mortes e pelos nascimentos, se explicam um pelo outro. Eis uma das grandes leis reveladas pelo Espiritismo.

O caráter desse Espírito não é o de uma criança traquinas? Contudo, em vida era um homem feito e até de uma certa idade. Certos Espíritos voltariam, então, a ser crianças? Não; o Espírito realmente adulto não volta atrás, assim como o rio não remonta à sua fonte. Mas a idade do corpo não é absolutamente um indício da idade do Espírito. Como é necessário que todos os Espíritos que se encarnam passem pela infância corporal, resulta que em corpos de crianças se encontrem, forçosamente, Espíritos adiantados. Ora, se esses Espíritos morrem prematuramente, revelam sua superioridade a partir do momento que se despojaram de seu envoltório. Pela mesma razão, um Espírito jovem, espiritualmente falando, não podendo chegar à maturidade no curso de uma existência, que é menos que uma hora em relação à vida do Espírito, um corpo adulto pode encerrar um Espírito criança, pelo caráter e pelo desenvolvimento moral.

Incontestavelmente Flageolet pertence a esta última categoria de Espíritos. Ele avançará mais rapidamente que outros, porque apenas tem em si a leviandade, e no fundo não é mau. O meio sério no qual se manifesta, o contato com homens esclarecidos, amadurecerão suas ideias. Sua educação é uma tarefa que lhes incumbe, ao passo que nada teria ganho com pessoas fúteis, que se teriam divertido com suas facécias, como com as de um palhaço.


Ensaio teórico das curas instantâneas

De todos os fenômenos espíritas, um dos mais extraordinários é, sem qualquer dúvida, o das curas instantâneas. Compreende-se as curas produzidas pela ação continuada de um bom fluido. Mas pergunta-se como esse fluido pode operar uma transformação súbita no organismo e, sobretudo, por que o indivíduo que possui essa faculdade não tem acesso sobre todos os que são atingidos pela mesma moléstia, admitindo-se que haja especialidades. A afinidade dos fluidos é uma razão, sem dúvida, mas que não satisfaz completamente, porque nada tem de positivo, nem de científico. Entretanto as curas instantâneas são um fato que não poderíamos pôr em dúvida. Se não tivéssemos em apoio senão os exemplos dos tempos remotos, poderíamos, com alguma aparência de fundamento, considerá-los como lendários, ou pelo menos como ampliados pela credulidade, mas quando os mesmos fenômenos se reproduzem sob nossas vistas, no século mais céticos a respeito das coisas sobrenaturais, a negação já não é possível, e somos forçados a neles ver, não um efeito miraculoso, mas um fenômeno que deve ter sua causa nas leis da Natureza, ainda desconhecidas.

A explicação seguinte, deduzida das indicações fornecidas por um médium em sonambulismo espontâneo, está baseada em considerações fisiológicas que nos parecem jogar luz nova sobre a questão. Ela foi dada na ocasião em que uma pessoa atingida por enfermidades muito graves que perguntava se um tratamento fluídico poderia ser-lhe salutar.

Por mais racional que nos pareça esta explicação, não a damos como absoluta, mas a título de hipótese e como tema de estudo, até que tenha recebido a dupla sanção da lógica e da opinião geral dos Espíritos, único controle válido das doutrinas espíritas, e que possa assegurar-lhe a perpetuidade.

Na medicação terapêutica são necessários remédios apropriados ao mal. Não podendo o mesmo remédio ter virtudes contrárias: ser, ao mesmo tempo, estimulante e calmante, aquecer e esfriar, não pode convir a todos os casos. É por isto que não existe um remédio universal.

Dá-se o mesmo com o fluido curador, verdadeiro agente terapêutico, cujas qualidades variam conforme o temperamento físico e moral dos indivíduos que o transmitem. Há fluidos que superexcitam e outros que acalmam, fluidos fortes e outros suaves e de muitas outras nuanças. Conforme as suas qualidades, o mesmo fluido, como o mesmo remédio, poderá ser salutar em certos casos, ineficaz e até prejudicial em outros, de onde se segue que a cura depende, em princípio, da adequação das qualidades do fluido à natureza e à causa do mal. Eis o que muitas pessoas não compreendem e por que se admiram que um curador não cure todos os males. Quanto às circunstâncias que influem nas qualidades intrínsecas dos fluidos, elas foram suficientemente desenvolvidas no capítulo XIV de A Gênese, motivo pelo qual é supérfluo relembrá-las aqui.

A esta causa inteiramente física de impossibilidade de cura, há que acrescentar uma, inteiramente moral, que o Espiritismo nos dá a conhecer. É que a maioria das moléstias, como todas as misérias humanas, são expiação do presente ou do passado, ou provações para o futuro; são dívidas contraídas, cujas consequências devem ser sofridas, até que tenham sido resgatadas. Não pode ser curado aquele que deve suportar sua provação até o fim. Este princípio é um motivo de resignação para o doente, mas não deve ser uma escusa para que o médico procurasse, na necessidade da provação, um meio cômodo de abrigar a sua ignorância.

Consideradas unicamente do ponto de vista fisiológico, as doenças têm duas causas, que até hoje não foram distinguidas, e que não podiam ser apreciadas antes dos novos conhecimentos trazidos pelo Espiritismo. É da diferença dessas duas causas que ressalta a possibilidade das curas instantâneas em casos especiais, e não em todos.

Certas doenças têm sua causa original na própria alteração dos tecidos orgânicos; é a única admitida pela Ciência até hoje, e como, para remediá-la, até hoje só conhece as substâncias medicamentosas tangíveis, ela não compreende a ação de um fluido impalpável que tem a vontade como propulsor. Entretanto, aí estão os curadores magnéticos para provar que isso não é uma ilusão.

Na cura das moléstias dessa natureza, pelo influxo fluídico, há substituição das moléculas orgânicas mórbidas por moléculas sadias. É a história de uma casa velha cujas pedras carcomidas são substituídas por boas pedras. Temos sempre a mesma casa, mas restaurada e consolidada. A torre Saint-Jacques e Notre-Dame de Paris acabam de passar por um tratamento desse gênero.

A substância fluídica produz um efeito análogo ao da substância medicamentosa, com a diferença que, sendo maior a sua penetração, em razão da tenuidade de seus princípios constitutivos, ela age mais diretamente sobre as moléculas primeiras do organismo do que podem fazê-lo as moléculas mais grosseiras das substâncias materiais. Em segundo lugar, sua eficácia é mais geral, sem ser universal, porque suas qualidades são modificáveis pelo pensamento, ao passo que as da matéria são fixas e invariáveis e não podem ser aplicadas senão a casos determinados.

Tal é, em tese geral, o princípio sobre o qual repousam os tratamentos magnéticos. Ajuntemos sumariamente, e de memória, pois não podemos aqui aprofundar o assunto, que a ação dos remédios homeopáticos em doses infinitesimais é baseada no mesmo princípio; a substância medicamentosa, levada pela divisão ao estado atômico, até certo ponto adquire as propriedades dos fluidos, menos, entretanto, o princípio anímico, que existe nos fluidos animalizados e lhes dá qualidades especiais.

Em resumo, trata-se de reparar uma desordem orgânica pela introdução, na economia, de materiais sãos em substituição aos materiais deteriorados. Esses materiais sãos podem ser fornecidos pelos medicamentos ordinários in natura; por esses mesmos medicamentos em estado de divisão homeopática; enfim, pelo fluido magnético, que não é senão a matéria espiritualizada. São três modos de reparação, ou melhor, de introdução e de assimilação dos elementos reparadores; todos os três estão igualmente na Natureza, e têm sua utilidade, conforme os casos especiais, o que explica por que um tem êxito onde outro fracassa, porque seria parcialidade negar os serviços prestados pela medicina ordinária. Em nossa opinião, são três ramos da arte de curar, destinados a suplementar-se e completar-se, conforme as circunstâncias, mas dos quais nenhum tem o direito de se julgar a panaceia universal do gênero humano.

Cada um desses meios poderá, pois, ser eficaz, se empregado adequadamente e de forma apropriada à especialidade do mal; mas, seja qual for, compreende-se que a substituição molecular, necessária ao restabelecimento do equilíbrio, só pode operarse gradualmente, e não por encanto e por um toque de varinha mágica; se a cura é possível, ela não pode deixar de ser senão o resultado de uma ação contínua e perseverante, mais ou menos longa, conforme a gravidade dos casos.

Entretanto, as curas instantâneas são um fato, e como não podem ser mais miraculosas que as outras, é preciso que se realizem em circunstâncias especiais. O que prova é que não se dão indistintamente para todas as doenças, nem para todos os indivíduos. É, pois, um fenômeno natural cuja lei há que buscar. Ora, eis a explicação que se lhe dá. Para compreendê-la, era preciso ter o termo de comparação que acabamos de estabelecer.

Certas afecções, mesmo muito graves e que passaram para o estado crônico, não têm como causa primeira a alteração das moléculas orgânicas, mas a presença de um mau fluido que as desagrega, por assim dizer, e perturba a sua economia.

Aqui acontece como num relógio cujas peças todas estão em bom estado, mas cujo movimento é parado ou desregulado pela poeira; nenhuma peça necessita de substituição, contudo, ele não funciona; para restabelecer a regularidade do movimento basta purgar o relógio do obstáculo que o impedia de funcionar.

Tal é o caso de grande número de doenças cuja origem é devida aos fluidos perniciosos, dos quais é penetrado o organismo. Para obter a cura, não são moléculas deterioradas que devem ser substituídas, mas um corpo estranho que se deve expulsar; afastada a causa do mal, o equilíbrio se restabelece e as funções retomam o seu curso.

Concebe-se que em semelhantes casos os medicamentos terapêuticos, por sua natureza destinados a agir sobre a matéria, não tenham eficácia sobre um agente fluídico. Assim, a medicina ordinária é inoperante em todas as doenças causadas por fluidos viciados, e elas são numerosas. À matéria pode opor-se a matéria, mas a um fluido mau é preciso opor um fluido melhor e mais poderoso. A medicina terapêutica naturalmente falha contra os agentes fluídicos; pela mesma razão a medicina fluídica falha onde há que opor matéria à matéria; a medicina homeopática nos parece ser intermediária, o traço de união entre esses dois extremos, e deve particularmente ter êxito nas afecções que poderiam chamar-se mistas.

Seja qual for a pretensão de cada um destes sistemas à supremacia, o que há de positivo é que, cada um de seu lado obtém incontestáveis sucessos, mas que, até agora, nenhum justificou estar na posse exclusiva da verdade, de onde deve-se concluir que todas têm sua utilidade, e que o essencial é aplicá-las adequadamente.

Não temos que nos ocupar aqui dos casos em que o tratamento fluídico é aplicável, mas da causa pela qual esse tratamento por vezes pode ser instantâneo, ao passo que em outros casos exige uma ação continuada.

Essa diferença se deve à própria natureza e à causa primeira do mal. Duas afecções que apresentam, na aparência, sintomas idênticos, podem ter causas diferentes; uma pode ser determinada pela alteração das moléculas orgânicas e, neste caso, é necessário reparar, substituir, como me disseram, as moléculas deterioradas por outras sãs, operação que só se pode fazer gradualmente; a outra, por infiltração, nos órgãos sãos, de um fluido mau que perturba as suas funções. Neste caso não se trata de reparar, mas de expulsar. Esses dois casos requerem, no fluido curador, qualidades diferentes. No primeiro, é preciso um fluido mais suave que violento, sobretudo rico em princípios reparadores; no segundo, um fluido enérgico, mais próprio à expulsão do que à reparação; segundo a qualidade desse fluido, a expulsão pode ser rápida e como por efeito de uma descarga elétrica. Subitamente livre da causa estranha que o fazia sofrer, o doente sente-se aliviado imediatamente, como acontece na extirpação de um dente estragado. Não estando mais obliterado, o órgão volta ao seu estado normal e retoma as suas funções.

Assim podem explicar-se as curas instantâneas, que não são, na realidade, senão uma variedade da ação magnética. Como se vê, elas repousam num princípio essencialmente fisiológico e nada têm de mais miraculoso que os outros fenômenos espíritas. Compreende-se desde logo por que essas espécies de curas não são aplicáveis a todas as doenças. Sua obtenção se deve, ao mesmo tempo, à causa primeira do mal, que não é a mesma em todos os indivíduos, e às qualidades especiais do fluido que se lhes opõe. Disso resulta que uma pessoa que produz efeitos rápidos nem sempre é indicada para um tratamento magnético regular, e que excelentes magnetizadores são impróprios para curas instantâneas.

Esta teoria pode assim resumir-se: “Quando o mal exige a reparação de órgãos alterados, necessariamente a cura é lenta e requer uma ação contínua e um fluido de qualidade especial; quando se trata da expulsão de um mau fluido, ela pode ser rápida e mesmo instantânea.”

Para simplificar a questão, não consideramos senão os dois pontos extremos; no entanto, entre os dois há nuanças infinitas, isto é, uma multidão de casos em que as duas causas existem simultaneamente em diferentes graus, e com mais ou menos preponderância de cada uma; em que, por consequência, é necessário, ao mesmo tempo, expulsar e reparar. Conforme aquela das duas causas que predomina, a cura é mais ou menos lenta; se for a do mau fluido, após a expulsão é preciso a reparação; se for a desordem orgânica, após a reparação é necessária a expulsão. A cura só é completa após a destruição das duas causas. É o caso mais comum; eis por que os tratamentos terapêuticos muitas vezes necessitam ser completados por tratamento fluídico e vice-versa; eis, também, por que as curas instantâneas, que ocorrem nos casos em que a predominância fluídica é, por assim dizer, exclusiva, jamais poderão tornar-se um meio curativo universal; elas não são, consequentemente, chamadas a suplantar nem a Medicina, nem a Homeopatia, nem o magnetismo ordinário.

À cura instantânea radical e definitiva pode ser considerada como um caso excepcional, visto que é raro: 1º ─ que a expulsão do mau fluido seja completa no primeiro golpe; 2º ─ que a causa fluídica não seja acompanhada de alguma alteração orgânica, o que obriga, num caso como no outro, a voltar a ele várias vezes.

Enfim, não podendo os maus fluidos provir senão de maus Espíritos, sua introdução na economia se liga, muitas vezes, à obsessão. Daí resulta que, para obter a cura, é preciso tratar ao mesmo tempo o doente e o Espírito obsessor.

Estas considerações mostram quantas coisas há que levar em conta no tratamento das moléstias, e quanto ainda resta a aprender a tal respeito. Além disso, elas vêm confirmar um fato capital que ressalta da obra A Gênese, que é a aliança do Espiritismo e da Ciência. O Espiritismo marcha no mesmo terreno que a Ciência, até os limites da matéria tangível; mas, ao passo que a Ciência se detém neste ponto, o Espiritismo continua seu caminho e prossegue suas investigações nos fenômenos da Natureza, com o auxílio dos elementos que colhe no mundo extra-material; só aí está a solução das dificuldades contra as quais se choca a Ciência.

NOTA: A pessoa cujo pedido motivou esta explicação está no caso das doenças de causa complexa. Seu organismo está profundamente alterado, ao mesmo tempo que saturado dos mais perniciosos fluidos, que a tornam incurável apenas pela terapêutica ordinária. Uma magnetização violenta e muito enérgica apenas produziria uma superexcitação momentânea logo seguida de maior prostração, ativando o trabalho da decomposição. Ser-lhe-ia necessária uma magnetização suave, continuada por muito tempo; um fluido reparador penetrante, e não um fluido que abala mas nada repara. Ela é, consequentemente, inacessível à cura instantânea.




Notícias bibliográficas

Precedidos de sua prece e da maneira de curar os que sofrem[1]

As citações são a melhor maneira de dar a conhecer o espírito de um livro. Para começar, tomamos no prefácio, a conselho e do editor, as passagens seguintes do que acaba de publicar o Sr. Jacob. Os fatos, aos quais ele deve a sua notoriedade, são muito conhecidos para que seja preciso relembrá-los. Aliás, nós os expusemos suficientemente na Revista de outubro e novembro de 1866, nas proximidades do campo de Châlons, e nos números de outubro e novembro de 1867.

“Henri Jacob, hoje músico no regimento dos zuavos da guarda imperial, nasceu a 6 de março de 1828, em Saint-Martin-des-Champs - Saône-et-Loire. Todos os seus estudos consistem em um ano na escola comunal; assim, não recebeu outra educação senão a que o pai lhe pôde dar; ela não ultrapassa a da simples leitura e escrita, contudo, foi ele que redigiu este escrito que entregamos à publicidade, sem auxílio de ninguém

“Jacob não é um escritor de profissão; é um homem de aspirações religiosas, que não se decidiu a entregar este volume à publicidade senão ante solicitações muito insistentes. Para ele, esta obra é a sua profissão de fé no Deus criador; uma prece, um hino, por assim dizer, que ele dirige ao Todo-Poderoso. É escrito com um bom espírito, sem paixão, e ele aí não faz alusão a nenhum culto e a nenhum espírito de partido político.

“Jacob é um ser dotado de alguma imaginação, nada mais. O leitor se enganaria muito se visse nos seus sentimentos outra coisa senão Deus e a Humanidade. Toda a sua ambição é trazer algum alívio a esta última.

“Nestas páginas, vemos uma espécie de heroísmo e de grandeza refletindo-se nos atos de filantropia tão maravilhosamente realizados por Jacob, crente firme, que sabe que pode muito porque Deus vem em seu auxílio em seus trabalhos tão difíceis, e que só Deus o leva a bom termo.”

Para começar, o Sr. Jacob revela, em termos simples e sem ênfase, um sonho ou visão que contribuiu para a elevação de seus pensamentos para Deus, e para fixar suas ideias sobre o futuro.

Vem, a seguir, uma profissão de fé, em forma de epístola, intitulada: Aos meus irmãos em Espiritismo, da qual extraímos as passagens seguintes:

“Antes de minha iniciação à ciência espírita, eu vivia nas trevas; meu coração jamais havia sentido as doçuras da paz! Minha alma jamais tinha conhecido a alegria; eu vivia apegado à Terra, com os tormentos que ela suscita aos homens vinculados à matéria, sem imaginar que há mundos melhores, que Deus, nosso pai de todos, criou para permitir gozar de uma felicidade inefável os que praticam o bem aqui embaixo.

“Por minha iniciação à Doutrina Espírita, adquiri a convicção de que Deus, em sua misericórdia, nos envia bons Espíritos para nos aconselhar e nos encorajar na prática do bem, e nos deu o poder de nos comunicarmos com eles e com os que deixaram esta Terra e que são caros aos nossos corações. Esta convicção esclareceu a minha alma! Eu vi a luz. Pouco a pouco fortaleci-me em minha convicção e, por este meio, atingi a faculdade de médium escrevente.

“Minhas conversas com os Espíritos e seus bons conselhos encheram-me de uma fé viva, confirmando-me as verdades da ciência espírita, que fortaleciam a minha fé, e pela fé, a faculdade de curar me foi dada.

“Assim, pois, meus caros amigos, que uma fé viva esteja sempre em nós, pela prática das máximas espíritas, que são: o amor a Deus, a fraternidade e a caridade. Amemo-nos uns aos outros, e todos possuiremos a faculdade de nos aliviarmos mutuamente, e muitos poderão chegar a curar, disto tenho a convicção.

“Sejamos, pois, sempre caridosos e generosos e seremos sempre assistidos pelos bons Espíritos. Vós todos, que sois iniciados na Doutrina Espírita, ensinai-a aos que ainda estão nas trevas da matéria; abri suas almas à luz e eles gozarão, por antecipação, da felicidade que nos mundos superiores aguarda aqueles que praticam o bem entre nós.

“Sede firmes em vossas boas resoluções; vivei sempre numa grande pureza de alma, e Deus vos dará o poder de curar vossos semelhantes. Eis a minha prece:

“‘Meu Deus, fazei-me a graça de permitir que os bons e benevolentes Espíritos me venham assistir, de intenção e de fato, na obra de caridade que desejo realizar, aliviando os infelizes que sofrem. É em vosso nome e em vosso louvor, meu Deus, que esses benefícios se espalham sobre nós.’

“Crede, tende fé! E quando quiserdes aliviar um doente, depois de vossa prece, ponde vossa mão sobre o seu coração, e pedi calorosamente a Deus a ajuda de que necessitais e, tenho a convicção, o eflúvio divino infiltrar-se-á em vós para aliviar ou curar vosso irmão que sofre. Minha primeira cura consciente foi fazer sair de seu leito de dor um colérico, operando dessa maneira. Por que queríeis que eu fosse mais privilegiado do que vós, por Deus, que é sabedoria e justiça?

“Por vossas cartas, pedis-me que eu me corresponda convosco e ajude com meus conselhos. Vou comunicar-vos o que os Espíritos me inspiraram, e responder ao vosso apelo, cheio de boa vontade de ser útil à vossa felicidade. A minha seria grande se eu pudesse cooperar para a vitória do grau de perfeição em que desejo vervos chegar.”

Segue-se uma série de 217 cartas que constituem, a bem dizer, o corpo do volume. São comunicações obtidas pelo Sr. Jacob, como médium escrevente, em diferentes grupos ou reuniões espíritas. São excelentes conselhos de moral, em estilo mais ou menos correto; encorajamentos à prática da caridade, da fraternidade, da humildade, da doçura, da benevolência, do devotamento pela Doutrina Espírita, do desinteresse moral e material; exortações à reforma de si mesmo. O mais severo moralista aí não encontrará nada a contestar, e seria desejável que todos os médiuns, curadores e outros, e todos os espíritas em geral, pusessem em prática esses sábios conselhos. Não podemos senão felicitar o Sr. Jacob pelos sentimentos que ele exprime; e lendo esse livro, não virá à mente de ninguém que seja obra de um charlatão; é, pois, um desmentido dado às acusações que à malevolência interesseira aprouve lançar contra ele, bem como àqueles que, por irrisão, o apresentaram como um taumaturgo ou fazedor de milagres.

Embora essas numerosas comunicações sejam todas concebidas num excelente espírito, é de lamentar que a uniformidade dos assuntos que tratam lance um pouco de monotonia sobre essa leitura. Elas não encerram explicações nem instruções especiais sobre a mediunidade curadora, que é apenas a parte acessória do Livro. O relato de alguns fatos autênticos de curas e das circunstâncias que as acompanharam teria contribuído para o interesse e utilidade prática desta obra.

Aliás, eis como o Sr. Jacob descreve o que se passa nas sessões em que se reúnem os doentes:

“No momento da sessão, depois de haver dirigido a Deus minha curta mas fervorosa prece, sinto os meus dedos se contraírem e, tocando o doente, reconheço a força do fluido pela umidade das suas mãos; às vezes elas são inundadas de transpiração, e o calor que ganham as partes inferiores é também um complemento de indício do alívio quase instantâneo que ele experimenta.

“Entretanto, não é por minha própria inspiração que os doentes devem ver desaparecerem os males que os acabrunham, mas antes pela vontade de Deus; vejo também errar em volta de mim, em meio a uma brilhante luz, um grande número de Espíritos benevolentes que parecem associar-se à minha penosa missão. Há sobretudo um que me deixa perceber muito distintamente a auréola que circunda sua cabeça venerável. A seus lados se acham duas pessoas muito radiosas, cercadas de inúmeros Espíritos. O primeiro parece guiar-me e me inspirar em minhas operações, se assim me posso exprimir; enfim, a sala onde dou as consultas está sempre cheia de uma viva luz que vejo continuamente refletir-se sobre os doentes.

“Depois da sessão, não me resta a menor lembrança do que se passou; é por isto que recomendo muito insistentemente às pessoas presentes que prestem a maior atenção às palavras que dirijo aos doentes que a mim se oferecem para serem examinados e curados, se isto for possível.”

A obra termina por alguns conselhos sobre o regime higiênico que devem seguir os doentes de que ele cuida.



[1] Um vol. in-12, de 220 páginas. Preço 2,50 francos. No editor, Rua Bonaparte, 70.



O Espiritismo ante a razão

Por Valentin Tournier, antigo jornalista. Brochura in-18, de 72 páginas. Preço: l franco. ─ Carcassonne,Carcassonne, nas livrarias Lajoux e Maillac.

O autor deste opúsculo se propunha a fazer duas conferências públicas sobre o Espiritismo. Tendo sido impedido por circunstâncias independentes de sua vontade, são essas duas conferências que ele hoje publica. Dirigindo-se ao público não convicto, ele examina sucessivamente as seguintes questões: O Espiritismo é coisa séria? ─ Os estudos espíritas oferecem perigo? ─ Esses estudos são úteis? ─ Os fenômenos são possíveis? ─ São eles reais? ─ Qual a autoridade competente para conhecer os fatos?

Voltaremos a essa interessante publicação que hoje nos limitamos a assinalar.

A terceira edição de a gênese


A segunda edição de A Gênese está quase esgotada. Neste momento tira-se a terceira, de maneira que não haverá interrupção.

Instruções dos Espíritos

A regeneração

(Lyon, 11 de março de 1867 - Médium: Sra. B...)

“Naquele tempo não haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho, porque o que era antes terá passado.”

Esta predição do Apocalipse foi ditada há dezoito séculos, e ainda se espera que tais palavras se realizem, porque sempre se encaram os acontecimentos quando se passaram e não quando se desenrolam aos nossos olhos.

Entretanto, essa época predita já chegou. Não há mais dores para aquele que soube colocar-se à margem da estrada, a fim de deixar passarem as mesquinharias da vida, sem detê-las para delas fazer uma arma ofensiva contra a Sociedade.

Estais em meio a estes tempos como a espiga dourada está na colheita; viveis sob os olhares de Deus e sua radiação vos ilumina! De onde vem que vos inquietais com a marcha dos acontecimentos que foram previstos por Deus, quando apenas éreis as crianças da geração de que falava Jesus quando ele dizia: “Antes que esta geração passe acontecerão grandes coisas?”

O que sois, Deus o sabia; o que sereis, Deus o vê! Cabe-vos bem vos penetrardes do caminho que vos é traçado, porque vossa tarefa é de vos submeterdes a tudo o que Deus decidiu. Vossa resignação, e sobretudo a vossa amenidade, não são senão testemunhos de vossa inteligência e de vossa fé na Eternidade.

Acima de vós, neste Universo onde se move o vosso mundo, planam os Espíritos mensageiros que receberam a missão de vos guiar. Eles sabem quando se realizarão os acontecimentos preditos. Eis por que vos dizem: “Não haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho.”

Sem dúvida não pode mais haver grito para aquele que se submete às vontades de Deus, e que aceita as suas provações. Não há mais luto porque sabeis que os Espíritos que vos precederam não estão perdidos para vós, mas que eles estão em viagem. Ora, não se veste luto quando um amigo está ausente.

O próprio trabalho torna-se um favor, porque se sabe que ele é um concurso à obra harmônica que Deus dirige; então executa-se a sua parte de trabalho com a solicitude do estatuário que se põe a polir a sua estátua. É a recompensa infinita que Deus vos concede.

Entretanto, ainda encontrareis entraves em vossas tentativas para chegar ao melhoramento social. É que jamais se chega ao resultado sem que a luta venha ratificar os esforços. O artista é obrigado a vencer os obstáculos que se opõem à irradiação de seu pensamento. Ele só se torna vitorioso quando soube elevar-se acima das privações e dos vapores brumosos que envolvem seu gênio, ao nascer.

A ideia que surge foi semeada pelos Espíritos, quando Deus lhes disse: “Ide e instruí as nações. Ide e espalhai a luz.” Essa ideia que cresceu com a rapidez de uma inundação, naturalmente deve ter encontrado contraditores, oponentes e incrédulos. Ela não seria a fonte da vida se devesse ter sucumbido sob as troças que a acolheram em seu começo. Mas o próprio Deus guiava esse pensamento através da imensidade; ele o fecundava na Terra, e ninguém o destruirá! Seria inútil que procurassem extirpá-lo pelas raízes; trabalhariam em vão para aniquilá-lo nos corações; as crianças trazem-no ao nascer, e dir-se-ia que um sopro de Deus o incrusta em seu berço, como outrora a Estrela do Oriente iluminava os que vinham à presença de Jesus, portador da ideia regeneradora do Cristianismo.

Bem vedes, pois, que esta geração não passará sem que aconteçam grandes coisas, pois que com a ideia, a fé se eleva e a esperança irradia... Coragem! O que foi predito pelo Cristo deve realizar-se. Nestes tempos de aspiração à verdade, a luz que aclara todo homem que vem a este mundo brilha de novo sobre vós. Perseverai na luta, sede firmes e desconfiai das armadilhas que vos preparam. Ficai ligados a essa bandeira em que escrevestes: Fora da caridade não há salvação, e depois esperai, porque aquele que recebeu a missão de vos regenerar volta, e ele disse:

“Bem-aventurados aqueles que conhecerem o meu novo nome!”

UM ESPÍRITO.



Erratum

Número de abril de 1867, no artigo “Do espírito profético”, onde consta Salmo XXV, v. 17, lede: Salmo XXI, v. 18 e 19[1].





[1] Nesta edição, a falha foi corrigida no artigo indicado. Nota da equipe revisora.


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