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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Fevereiro
Fevereiro
Extraído dos manuscritos de um jovem médium bretão
Alucinados, inspirados, fluídicos e sonâmbulos
Nossos leitores se lembram de ter lido, em junho do ano passado, a análise do Romance do Futuro, que o Sr. Bonnemère havia tirado dos manuscritos de um jovem médium bretão que lhe havia confiado os seus trabalhos.
Foi ainda nesse volumoso acervo de manuscritos que o autor encontrou estas páginas, escritas em hora de inspiração, e que vem submeter à apreciação dos leitores da Revista Espírita. Desnecessário dizer que deixamos ao médium, ou antes, ao Espírito que o inspira, a responsabilidade das opiniões que ele emite, reservando-nos o direito de apreciá-las mais tarde. Assim como o Romance do Futuro, é um curioso espécimen de mediunidade inconsciente.
Foi ainda nesse volumoso acervo de manuscritos que o autor encontrou estas páginas, escritas em hora de inspiração, e que vem submeter à apreciação dos leitores da Revista Espírita. Desnecessário dizer que deixamos ao médium, ou antes, ao Espírito que o inspira, a responsabilidade das opiniões que ele emite, reservando-nos o direito de apreciá-las mais tarde. Assim como o Romance do Futuro, é um curioso espécimen de mediunidade inconsciente.
I
OS ALUCINADOS
Temos pouco a dizer sobre a alucinação, estado provocado por uma causa moral que influi sobre o físico e à qual se mostram mais acessíveis as naturezas nervosas, sempre mais prontas a se impressionar.
Sobretudo as mulheres, por sua organização íntima, são levadas à exaltação, e a febre se apresenta nelas com mais frequência, acompanhada de delírio que toma a aparência de loucura momentânea.
Temos que reconhecer que a alucinação toca ligeiramente a loucura, bem como todas as superexcitações cerebrais, e, ao passo que o delírio se exala sobretudo em palavras incoerentes, ela representa mais particularmente a ação, a encenação. Entretanto, erroneamente por vezes as confundem.
Presa de uma espécie de febre interior que não se traduz externamente por nenhuma perturbação aparente dos órgãos, o alucinado vive em meio ao mundo imaginário que sua imaginação perturbada cria; tudo está em desordem, nele como em torno dele; ele leva tudo ao extremo. Por vezes a alegria, e quase sempre a tristeza e as lágrimas rolam dos olhos enquanto seus lábios imitam um sorriso doentio.
Essas visões fantásticas existem para ele; ele as vê, as toca e se amedronta. Contudo, conserva o exercício de sua vontade; conversa com os interlocutores e lhes oculta o objeto de seus terrores ou de suas sombrias preocupações.
Conhecemos um que durante cerca de seis meses assistia todas as manhãs ao enterro de seu corpo, tendo plena consciência de que sua alma sobrevivia. Nada parecia mudado nos seus hábitos de vida, contudo esse pensamento incessante, essa mesma visão o seguia em todos os lugares. A palavra morte ressoava incessantemente em seu ouvido. Quando o sol brilhava, dissipava a noite ou atravessava as nuvens, a horrível visão se desvanecia pouco a pouco e por fim desaparecia. À noite ele adormecia, triste e desesperado, porque sabia que horrível despertar o aguardava no dia seguinte.
Por vezes, quando o excesso de sofrimento físico impunha silêncio à sua vontade e lhe tirava esse poder de dissimulação que de ordinário ele conservava, exclamava de súbito: ─ Ah! Ei-los!... Eu os vejo! ... Então ele descrevia aos que o cercavam com mais intimidade os detalhes da lúgubre cerimônia; narrava as cenas sinistras que se desenrolavam sob seus olhos, ou as rondas de personagens fantásticas que desfilavam diante dele.
O alucinado vos revelará as loucas percepções de seu cérebro doente, mas não tem nada a vos repetir do que outros viriam lhe revelar, porque, para ser inspirado, é preciso que a paz e a harmonia reinem em vossa alma, e que estejais desprendido de todo pensamento material ou mesquinho; algumas vezes a disposição doentia provoca a inspiração, e é então como um socorro que os amigos que partiram antes vêm vos trazer para vos aliviar.
Esse louco, que ontem gozava da plenitude de sua razão, não apresenta desordens exteriores perceptíveis pelo olho do observador; contudo elas são numerosas, existem e são reais. Muitas vezes o mal está na alma, lançada fora de simesma pelo excesso de trabalho, de alegria, de dor; o homem físico não está mais em equilíbrio com o homem moral; o choque moral foi mais violento do que o físico pode suportar: daí o cataclismo.
O alucinado sofre igualmente as consequências de uma perturbação grave em seu organismo nervoso. Mas ─ o que raramente acontece na loucura ─ nele essas desordens são intermitentes e muito mais facilmente curáveis, porque sua vida,de certo modo, é dupla, pois ele pensa com a vida real e sonha com a vida fantástica.
Esta última é, por vezes, o despertar de sua alma doente, e se o escutarmos com inteligência, chegaremos a descobrir a causa do mal, que muitas vezes ele quer ocultar. Entre o fluxo de palavras incoerentes que uma pessoa em delírio expressa, e que parecem em nada se referir às causas prováveis de sua doença, encontrar-se-á uma que voltará sem cessar, que queria reter e que, contudo, escapa, a despeito de sua vontade. Essa é a causa verdadeira, e que é necessário combater.
Mas o trabalho é longo e difícil, porque o alucinado é um hábil comediante, e se ele percebe que o observam; seu espírito se lança em estranhos desvios e toma as aparências da loucura, para escapar a essa pressão inoportuna que pareceis decidido a exercer sobre ele. Portanto, é necessário estudá-lo com um tato extremo, sem jamais contradizê-lo ou tentar retificar os erros de seu cérebro em delírio.
Estão aí diversas fases de excitações cerebrais, ou melhor, excitações do ser todo inteiro, pois não é preciso localizar a sede da inteligência. A alma humana, que a dá, plana por toda parte; é o sopro do alto que faz vibrar e agir a máquina inteira.
O alucinado pode, de boa-fé, julgar-se inspirado e profetizar, quer tenha consciência do que diz, quer os que o rodeiam possam, só eles e malgrado seu, recolher suas palavras. Mas dar fé às indicações de um alucinado seria arriscar-se a estranhas decepções, e é assim que muitas vezes são levados a débito da inspiração os erros que não passavam de fruto da alucinação.
O físico é coisa material, sensível, exposta à luz, que cada um pode ver, admirar, criticar, cuidar ou tentar reerguer. Mas quem pode conhecer o homem moral? Quando nos ignoramos a nós mesmos, como nos julgarão os outros? Se nós lhes revelamos alguns dos nossos pensamentos, são em muito maior quantidade aqueles que ocultamos dos seus olhares e que gostaríamos de ocultá-los a nós mesmos.
Essa dissimulação é quase um crime social. Criados para o progresso, nossa alma, nosso coração, nossa inteligência são feitos para se difundir sobre todos os irmãos da grande família, para lhes prodigalizar tudo quanto está em nós, como para se enriquecer ao mesmo tempo com tudo o que eles podem transmitir-nos.
A expansão recíproca é, pois, a grande lei humanitária, e a concentração, isto é, a dissimulação de nossas ações, de nossos pensamentos, de nossas aspirações é uma espécie de roubo que cometemos em prejuízo de todo mundo. Que progresso far-seá, se guardarmos em nós tudo o que a Natureza e a educação aí puseram e se cada um age do mesmo modo a nosso respeito?
Exilados voluntários e nos mantendo fora do comércio de nossos irmãos, nós nos concentramos numa ideia fixa; a imaginação obsedada procura a isso subtrair-se, perseguindo toda sorte de pensamentos inconsequentes, e assim pode-se chegar até à loucura, justo castigo que nos é infringido por não termos querido andar por nossos caminhos naturais.
Vivamos, pois, nos outros e eles em nós, a fim de que não constituamos senão um. As grandes alegrias, como as grandes dores, nos quebram quando não são confiadas a um amigo. Toda solidão é má e condenada, e toda coisa contrária aos desígnios da Natureza traz como consequência inevitáveis, imensas desordens interiores.
Sobretudo as mulheres, por sua organização íntima, são levadas à exaltação, e a febre se apresenta nelas com mais frequência, acompanhada de delírio que toma a aparência de loucura momentânea.
Temos que reconhecer que a alucinação toca ligeiramente a loucura, bem como todas as superexcitações cerebrais, e, ao passo que o delírio se exala sobretudo em palavras incoerentes, ela representa mais particularmente a ação, a encenação. Entretanto, erroneamente por vezes as confundem.
Presa de uma espécie de febre interior que não se traduz externamente por nenhuma perturbação aparente dos órgãos, o alucinado vive em meio ao mundo imaginário que sua imaginação perturbada cria; tudo está em desordem, nele como em torno dele; ele leva tudo ao extremo. Por vezes a alegria, e quase sempre a tristeza e as lágrimas rolam dos olhos enquanto seus lábios imitam um sorriso doentio.
Essas visões fantásticas existem para ele; ele as vê, as toca e se amedronta. Contudo, conserva o exercício de sua vontade; conversa com os interlocutores e lhes oculta o objeto de seus terrores ou de suas sombrias preocupações.
Conhecemos um que durante cerca de seis meses assistia todas as manhãs ao enterro de seu corpo, tendo plena consciência de que sua alma sobrevivia. Nada parecia mudado nos seus hábitos de vida, contudo esse pensamento incessante, essa mesma visão o seguia em todos os lugares. A palavra morte ressoava incessantemente em seu ouvido. Quando o sol brilhava, dissipava a noite ou atravessava as nuvens, a horrível visão se desvanecia pouco a pouco e por fim desaparecia. À noite ele adormecia, triste e desesperado, porque sabia que horrível despertar o aguardava no dia seguinte.
Por vezes, quando o excesso de sofrimento físico impunha silêncio à sua vontade e lhe tirava esse poder de dissimulação que de ordinário ele conservava, exclamava de súbito: ─ Ah! Ei-los!... Eu os vejo! ... Então ele descrevia aos que o cercavam com mais intimidade os detalhes da lúgubre cerimônia; narrava as cenas sinistras que se desenrolavam sob seus olhos, ou as rondas de personagens fantásticas que desfilavam diante dele.
O alucinado vos revelará as loucas percepções de seu cérebro doente, mas não tem nada a vos repetir do que outros viriam lhe revelar, porque, para ser inspirado, é preciso que a paz e a harmonia reinem em vossa alma, e que estejais desprendido de todo pensamento material ou mesquinho; algumas vezes a disposição doentia provoca a inspiração, e é então como um socorro que os amigos que partiram antes vêm vos trazer para vos aliviar.
Esse louco, que ontem gozava da plenitude de sua razão, não apresenta desordens exteriores perceptíveis pelo olho do observador; contudo elas são numerosas, existem e são reais. Muitas vezes o mal está na alma, lançada fora de simesma pelo excesso de trabalho, de alegria, de dor; o homem físico não está mais em equilíbrio com o homem moral; o choque moral foi mais violento do que o físico pode suportar: daí o cataclismo.
O alucinado sofre igualmente as consequências de uma perturbação grave em seu organismo nervoso. Mas ─ o que raramente acontece na loucura ─ nele essas desordens são intermitentes e muito mais facilmente curáveis, porque sua vida,de certo modo, é dupla, pois ele pensa com a vida real e sonha com a vida fantástica.
Esta última é, por vezes, o despertar de sua alma doente, e se o escutarmos com inteligência, chegaremos a descobrir a causa do mal, que muitas vezes ele quer ocultar. Entre o fluxo de palavras incoerentes que uma pessoa em delírio expressa, e que parecem em nada se referir às causas prováveis de sua doença, encontrar-se-á uma que voltará sem cessar, que queria reter e que, contudo, escapa, a despeito de sua vontade. Essa é a causa verdadeira, e que é necessário combater.
Mas o trabalho é longo e difícil, porque o alucinado é um hábil comediante, e se ele percebe que o observam; seu espírito se lança em estranhos desvios e toma as aparências da loucura, para escapar a essa pressão inoportuna que pareceis decidido a exercer sobre ele. Portanto, é necessário estudá-lo com um tato extremo, sem jamais contradizê-lo ou tentar retificar os erros de seu cérebro em delírio.
Estão aí diversas fases de excitações cerebrais, ou melhor, excitações do ser todo inteiro, pois não é preciso localizar a sede da inteligência. A alma humana, que a dá, plana por toda parte; é o sopro do alto que faz vibrar e agir a máquina inteira.
O alucinado pode, de boa-fé, julgar-se inspirado e profetizar, quer tenha consciência do que diz, quer os que o rodeiam possam, só eles e malgrado seu, recolher suas palavras. Mas dar fé às indicações de um alucinado seria arriscar-se a estranhas decepções, e é assim que muitas vezes são levados a débito da inspiração os erros que não passavam de fruto da alucinação.
O físico é coisa material, sensível, exposta à luz, que cada um pode ver, admirar, criticar, cuidar ou tentar reerguer. Mas quem pode conhecer o homem moral? Quando nos ignoramos a nós mesmos, como nos julgarão os outros? Se nós lhes revelamos alguns dos nossos pensamentos, são em muito maior quantidade aqueles que ocultamos dos seus olhares e que gostaríamos de ocultá-los a nós mesmos.
Essa dissimulação é quase um crime social. Criados para o progresso, nossa alma, nosso coração, nossa inteligência são feitos para se difundir sobre todos os irmãos da grande família, para lhes prodigalizar tudo quanto está em nós, como para se enriquecer ao mesmo tempo com tudo o que eles podem transmitir-nos.
A expansão recíproca é, pois, a grande lei humanitária, e a concentração, isto é, a dissimulação de nossas ações, de nossos pensamentos, de nossas aspirações é uma espécie de roubo que cometemos em prejuízo de todo mundo. Que progresso far-seá, se guardarmos em nós tudo o que a Natureza e a educação aí puseram e se cada um age do mesmo modo a nosso respeito?
Exilados voluntários e nos mantendo fora do comércio de nossos irmãos, nós nos concentramos numa ideia fixa; a imaginação obsedada procura a isso subtrair-se, perseguindo toda sorte de pensamentos inconsequentes, e assim pode-se chegar até à loucura, justo castigo que nos é infringido por não termos querido andar por nossos caminhos naturais.
Vivamos, pois, nos outros e eles em nós, a fim de que não constituamos senão um. As grandes alegrias, como as grandes dores, nos quebram quando não são confiadas a um amigo. Toda solidão é má e condenada, e toda coisa contrária aos desígnios da Natureza traz como consequência inevitáveis, imensas desordens interiores.
II
OS INSPIRADOS
A inspiração é mais rara que a alucinação, porque não se deve somente ao estado físico, mas ainda, e sobretudo, à situação moral do indivíduo predisposto a recebê-la.
Todo homem não dispõe senão de um certo quinhão inteligência que lhe é dado desenvolver por seu trabalho. Quando chega ao ponto culminante que lhe é dado atingir, ele para um momento, depois retorna ao estado primitivo, ao estado de criança, menos essa mesma inteligência que em um cresce dia a dia e no velho diminui, apaga-se e se extingue. Então, tendo dado tudo, e não podendo mais nada acrescentar à bagagem de seu século, ele parte, mas para ir continuar alhures sua obra interrompida aqui embaixo; ele parte, mas deixando o lugar rejuvenescido a um outro que, chegando a idade viril, terá o poder de cumprir, por sua vez, uma missão maior e mais útil.
O que chamamos morte não é senão o devotamento ao progresso e à Humanidade. Mas nada morre, tudo sobrevive e se reencontra pela transmissão do pensamento dos seres que partiram antes e que têm ainda, pela parte mais etérea de si mesmos, na pátria que deixaram, mas que não esqueceram, que continuam amando, porquanto ela é habitada pelos continuadores de sua vida, pelos herdeiros de suas ideias, aos quais se comprazem em insuflar por momentos as que não tiveram tempo de semear ao seu redor, ou que não puderam ver progredir ao nível de suas esperanças.
Não tendo mais órgãos a serviço de sua inteligência, eles vêm pedir aos homens de boa vontade que apreciam, que lhes cedam o lugar por um momento. Sublimes benfeitores ocultos, eles impregnam seus irmãos da quintessência de seu pensamento a fim de que sua obra esboçada continue e se conclua, passando pelo cérebro daqueles que podem fazê-la perlustrar seu caminho no mundo.
Entre os amigos desaparecidos e nós, o amor continua, e o amor é a vida. Eles nos falam com a voz de nossa consciência posta em vigília. Purificados e melhores, eles não nos trazem senão coisas puras, desprendidos que estão de toda a parte material, como de todas as mesquinharias de nossa pobre existência. Eles nos inspiram no sentimento que tinham neste mundo, mas nesse sentimento desprendido de toda mistura.
Resta-lhes uma parte de si mesmos para dar: eles no-la trazem, deixando-nos crer que a obtivemos apenas por nosso trabalho pessoal. Daí vêm essas revelações imprevistas, que desconcertam a Ciência. O espírito de Deus sopra onde quer... Desconhecidos fazem grandes descobertas, e o mundo oficial das Academias aí está para lhes entravar a passagem.
Não queremos dizer que para ser inspirado seja indispensável manter-se incessantemente nas vias estreitas do bem e da virtude, entretanto, de ordinário são seres morais aos quais, muitas vezes como compensação dos males que eles sofrem por causa dos outros, permitimos manifestações que lhes permitem vingar-se à sua maneira, trazendo o tributo de alguns benefícios à Humanidade que os desconhece, ridiculariza-os e os calunia.
Encontram-se tantas categorias de inspiração, e consequentemente de inspirados, quantas faculdades existem no cérebro humano para assimilar conhecimentos diferentes.
A luta assusta os Espíritos depurados que partiram para mundos mais adiantados, e eles desejam que os escutemos com docilidade. Também os inspirados são geralmente seres puros, ingênuos e simples, sérios e refletidos, cheios de abnegação e de devotamento, sem personalidade marcante, de impressões profundas e duráveis, acessíveis às influências exteriores, sem ideias preconcebidas sobre as coisas que ignoram, bastante inteligentes para assimilar os pensamentos alheios, mas não moralmente bastante fortes para discuti-los.
Se o inspirado se apega às suas próprias convicções, ele toma, de boa-fé, o seu eco pela advertência das vozes que nele falam e também de boa-fé, engana, em vez de esclarecer. A bondade preside essas revelações, que jamais ocorrem senão com um objetivo ao mesmo tempo útil e moral.
Quando uma dessas organizações simpáticas é sofredora, devido a uma decepção cruel ou a um mal físico, um amigo por ela se interessa e vem, dando um outro alimento ao seu pensamento, trazer alívio para ela própria, mas sobretudo para os que lhe são caros.
Não é raro que o inspirado tenha começado como um alucinado. É como um noviciado, uma preparação de seu cérebro para concentrar seu espírito e para poder aceitar aquilo que lhe dirão.
Porque um inspirado nada pode formular de concludente num certo momento, isto não quer dizer que não possa fazê-lo em outros. As manifestações ficam livres, espontâneas; vêm quando são necessárias. Assim os inspirados, mesmo os melhores, não o são em dia e hora fixos, e as sessões anunciadas previamente muitas vezes preparam inevitáveis decepções.
Fazendo evocações muito frequentes, corre-se o risco de não chegar senão a um estado de superexcitação mais próximo da alucinação do que da inspiração. Então não são mais que jogos de nossa imaginação em delírio, em lugar dessas luzes de outro mundo, destinadas a esclarecer os passos da Humanidade no caminho providencial.
Isto explica esses erros dos quais a incredulidade faz uma arma para negar, de maneira absoluta, a intervenção dos Espíritos superiores.
Os inspirados o são por todos aqueles que partiram antes da hora e têm algo para nos ensinar.
Pode acontecer que a mulher mais simples, a menos instruída, tenha revelações médicas. Vimos uma que, mesmo sem saber ler e escrever, achava em si diversos nomes de plantas que podiam curar. A credulidade popular quase a tinha forçado a explorar essa faculdade. Também não era sempre igualmente bem esclarecida, mesmo que tomando o pulso da pessoa doente que com ela se pusesse em contato, porque ela era também desses fluídicos dos quais falaremos daqui a pouco. Embora fraca e delicada, ela podia, por seu contato, restabelecer o equilíbrio daquele que o necessitava e repor em circulação os princípios vitais interrompidos. Sem se dar conta disto, ela fazia muitas vezes pelo simples toque, em certas pessoas cujo fluido era idêntico ao seu, mais bem do que os remédios que prescrevia, às vezes apenas por hábito, e com variantes insignificantes, fosse qual fosse o mal pelo qual a consultavam.
A Providência colocou junto a cada homem um remédio para cada doença. Apenas existem tantas naturezas quantos indivíduos diferentes. Os remédios também agem diferentemente sobre cada organismo, o qual influi sobre os caracteres do mal; e é isto que faz que seja quase impossível ao médico prescrever o remédio eficaz. Ele conhece os seus efeitos gerais, mas ignora absolutamente em que sentido agirá sobre tal criatura que lhe apresentam.
É aqui que brilha a superioridade dos fluídicos e dos sonâmbulos, porque, quando se acham em certas condições de simpatia com os que vêm consultá-los, os seres superiores os guiam com uma infalibilidade quase certa.
Por vezes essa inspiração é inconsciente de si mesma; às vezes um médico, apenas junto de certos doentes, acha de súbito o remédio que pode curá-los. Não foi a ciência que o guiou, foi a inspiração. A ciência punha à sua disposição vários modos de tratamento, mas uma voz interior lhe gritava um nome; ele foi forçado a dizê-lo, e esse nome era o do remédio que devia agir, com exclusão de qualquer outro.
O que dizemos da Medicina existe, nas mesmas condições, em todos os outros ramos do trabalho humano. Em certas horas, o fogo da inspiração nos devora; há que ceder. Se pretendemos concentrar em nós mesmos o que de nós deve sair, um verdadeiro sofrimento se torna o castigo de nossa revolta.
Todos aqueles a quem Deus concedeu o dom sublime de criação, os poetas, os sábios, os artistas, os inventores, todos têm essas iluminações inesperadas, por vezes numa ordem de fatos muito diferente de seus estudos ordinários, se tiverem pretendido violentar a sua vocação. Mas os Espíritos sabem o que devemos e podemos fazer, e vêm despertar incessantemente em nós as nossas atrações sufocadas.
Sabemos como Molière explicava essas desigualdades que enfeiam as mais belas peças de Corneille: “Este diabo de homem, dizia ele, tem um gênio familiar que vem por momentos soprar-lhe ao ouvido coisas sublimes; depois, de repente, planta-o lá, dizendo-lhe: ‘Sai desta como puderes!’ E então não faz mais nada que preste.” Molière estava certo. O ativo gênio de Corneille não tinha a dócil passividade necessária para suportar continuamente a inspiração do alto. Os Espíritos o abandonavam, e então ele adormecia, como por vezes fazia Homero.
Existem ─ Sócrates e Jeanne d’Arc eram destes ─ os que escutam vozes interiores que neles falam. Outros nada escutam, mas são obrigados a obedecer a uma força poderosa que os domina.
Outras vezes, um nome vem ferir o ouvido do inspirado: é o de um amigo, de um indivíduo que ele nem mesmo conhece, do qual apenas ouviu falar. A personalidade desse amigo desconhecido o penetra, nele se manifesta; pouco a pouco pensamentos estranhos vêm substituir os seus. Por um momento ele tem o espírito daquele; obedece, escreve, sem saber, malgrado seu, se necessário, coisas que não sabe. E como essa obediência passiva à qual foi condenado lhe é difícil de suportar em estado de vigília, foge dessas coisas escritas sob uma inspiração opressiva, e não quer lê-las.
Esses pensamentos podem estar em desacordo formal com suas crenças, com seus sentimentos, ou melhor, com aqueles que a educação lhe impôs, porque, para que certos Espírito venham a ele, é preciso que exista alguma relação entre eles. Eles lhe dão o pensamento, deixando-lhe o cuidado de achar a forma. Então é preciso que eles saibam que sua inteligência pode compreendê-los e assimilar momentaneamente suas ideias para traduzi-las.
É que raramente as circunstâncias nos têm permitido que nos desenvolvamos no sentido de nossas aptidões nativas. Os Espíritos mais adiantados sabem qual corda é preciso tanger para que ela entre em vibração. Ela havia ficado muda, porque tínhamos atacado outras e desprezado aquela. Por um momento eles lhe dão vida. É um germe por muito tempo abafado, que eles fecundam. Depois, o inspirado, voltando ao seu estado habitual, não se lembra mais, porque vive uma existência dupla, cada uma das quais independe da outra.
Entretanto também acontece que ele conserve uma maior facilidade de compreensão, e conquiste um maior desenvolvimento intelectual. É a recompensa do esforço que ele fez para dar uma forma compreensível aos pensamentos que outros lhe vieram revelar.
Não acreditemos que todo inspirado possa conhecer tudo. Cada um, conforme suas predisposições naturais, porém mantidas muitas vezes desconhecidas de si próprio como dos outros, é inspirado por tal ou qual coisa, mas não igualmente por todas. Com efeito, existem naturezas de tal modo antipáticas a certos conhecimentos, que os Espíritos não virão jamais bater numa porta que eles sabem que não pode se abrir.
Só em certa medida o futuro é conhecido pelos inspirados. Assim, não é certo dizer que um inspirado predisse para que mundo tal pessoa irá após a morte e que julgamento Deus pronunciará contra ela. Isto é um jogo de imaginação alucinada. Por mais alto que o homem tenha subido na escala dos mundos, ele não conhece qual será o destino de seu irmão. É a parte reservada a Deus: jamais a criatura poderá usurpar os seus direitos.
Sim, há manifestações, mas não são contínuas, e nossa impaciência a seu respeito muitas vezes é culposa.
Sim, tudo se reúne e nada é rompido no imenso Universo. Sim, existe entre esta existência e as outras um laço simpático e indissolúvel que liga e une uns aos outros, todos os membros da família humana, e que permite que os melhores venham darnos o conhecimento do que não sabemos. É por esse trabalho que se realiza o progresso. Quer se chame trabalho da inteligência ou inspiração, é a mesma coisa. A inspiração é o progresso superior, é o fundo; o trabalho pessoal aí põe a forma, juntando ainda a quintessência dos conhecimentos anteriormente adquiridos.
Nenhuma invenção nos pertence propriamente, porque outros lançaram antes a semente que recolhemos. Aplicamos à obra que queremos prosseguir, as forças e o trabalho da Natureza, que é de todos, e sem o auxílio da qual nada se faz, e depois as forças e o trabalho acumulados pelos outros, que nos prepararam os meios de triunfar.
A bem dizer, tudo é obra comum e coletiva, para confirmar ainda esse grande princípio de solidariedade e de associação que é a base das sociedades e a lei da criação toda inteira.
O trabalho do homem jamais será inutilizado pela inspiração. O Espírito que no-lo vem trazer respeitará sempre esta parte reservada ao indivíduo; ele a respeitará como uma coisa nobre e santa, pois o trabalho põe o homem na posse das faculdades que Deus depositou em germe em sua alma, a fim de que o objetivo de sua vida fosse fecundá-las. É por seu desenvolvimento que ele aprendeu a conhecer-se, e que mereceu aproximar-se dele.
A inspiração vem indiferentemente de dia, de noite, na vigília ou durante o sono. Ela só exige recolhimento. É-lhe necessário encontrar naturezas que se possam abstrair de toda preocupação do mundo real, para dar lugar livre e vago ao ser que vier envolvê-lo todo e lhe infundir seus pensamentos.
Nas horas de inspiração, o homem se torna muito mais acessível a todos os ruídos exteriores, e tudo o que vem do mundo real o perturba. Ele não mais está neste mundo, mas está num meio transitório entre este e o outro, porque está, de certo modo, embebido da pessoa moral e intelectual de um ser elevado a uma outra esfera,e cujo corpo, entretanto, prende-se a esta.
Embora ela se dirija a todos, a inspiração descerá mais geralmente sobre as naturezas doentias ou gastas por uma sucessão de sofrimentos, materiais ou morais. Considerando-se que ela é um benefício, não é justo que os que sofrem sejam mais facilmente aptos a recebê-la?
A alucinação é um estado doentio que o magnetismo pode modificar de maneira salutar. A inspiração é uma assimilação moral que se deve evitar provocar por passes magnéticos. O alucinado entrega-se voluntariamente a arroubos e a contorções ridículas. O inspirado é calmo.
Os inspirados são melancólicos. Eles necessitam ser refletidos; para ser alegre não há necessidade de refletir muito; é preciso gozar, na sua saúde, de um equilíbrio que os inspirados nem sempre possuem. Mas não vamos pensar que eles sejam difíceis e extravagantes. Ao contrário, eles se mostram suaves e fáceis com aqueles de quem gostam.
Há inspirados de diversos graus. Uns vêm dizer-vos coisas palpáveis, fatos de segunda vista, para que se possa constatar a realidade da iniciação. Outros, mais clarividentes e pouco preocupados com os processos materiais, cujos segredos são chamados a divulgar, repetem, como lhes vêm, os pensamentos trazidos por Espíritos de progresso. Os primeiros curam o corpo, os últimos são médicos da alma.
A missão dos mais modestos limita-se a revelar como essas coisas lhes vêm. É um fato constatado que forças adiantadas de muitos graus vêm sobre nós para nos dominar e nos inspirar. Para que repetir? Quem quiser acreditará. Mas, sendo bem estabelecidas as constatações, não se deve considerar os inspirados senão pelo lado útil e sério. Pouco importa, se as ideias são boas, de que fonte elas vêm.
EUG. BONNEMÈRE.
Todo homem não dispõe senão de um certo quinhão inteligência que lhe é dado desenvolver por seu trabalho. Quando chega ao ponto culminante que lhe é dado atingir, ele para um momento, depois retorna ao estado primitivo, ao estado de criança, menos essa mesma inteligência que em um cresce dia a dia e no velho diminui, apaga-se e se extingue. Então, tendo dado tudo, e não podendo mais nada acrescentar à bagagem de seu século, ele parte, mas para ir continuar alhures sua obra interrompida aqui embaixo; ele parte, mas deixando o lugar rejuvenescido a um outro que, chegando a idade viril, terá o poder de cumprir, por sua vez, uma missão maior e mais útil.
O que chamamos morte não é senão o devotamento ao progresso e à Humanidade. Mas nada morre, tudo sobrevive e se reencontra pela transmissão do pensamento dos seres que partiram antes e que têm ainda, pela parte mais etérea de si mesmos, na pátria que deixaram, mas que não esqueceram, que continuam amando, porquanto ela é habitada pelos continuadores de sua vida, pelos herdeiros de suas ideias, aos quais se comprazem em insuflar por momentos as que não tiveram tempo de semear ao seu redor, ou que não puderam ver progredir ao nível de suas esperanças.
Não tendo mais órgãos a serviço de sua inteligência, eles vêm pedir aos homens de boa vontade que apreciam, que lhes cedam o lugar por um momento. Sublimes benfeitores ocultos, eles impregnam seus irmãos da quintessência de seu pensamento a fim de que sua obra esboçada continue e se conclua, passando pelo cérebro daqueles que podem fazê-la perlustrar seu caminho no mundo.
Entre os amigos desaparecidos e nós, o amor continua, e o amor é a vida. Eles nos falam com a voz de nossa consciência posta em vigília. Purificados e melhores, eles não nos trazem senão coisas puras, desprendidos que estão de toda a parte material, como de todas as mesquinharias de nossa pobre existência. Eles nos inspiram no sentimento que tinham neste mundo, mas nesse sentimento desprendido de toda mistura.
Resta-lhes uma parte de si mesmos para dar: eles no-la trazem, deixando-nos crer que a obtivemos apenas por nosso trabalho pessoal. Daí vêm essas revelações imprevistas, que desconcertam a Ciência. O espírito de Deus sopra onde quer... Desconhecidos fazem grandes descobertas, e o mundo oficial das Academias aí está para lhes entravar a passagem.
Não queremos dizer que para ser inspirado seja indispensável manter-se incessantemente nas vias estreitas do bem e da virtude, entretanto, de ordinário são seres morais aos quais, muitas vezes como compensação dos males que eles sofrem por causa dos outros, permitimos manifestações que lhes permitem vingar-se à sua maneira, trazendo o tributo de alguns benefícios à Humanidade que os desconhece, ridiculariza-os e os calunia.
Encontram-se tantas categorias de inspiração, e consequentemente de inspirados, quantas faculdades existem no cérebro humano para assimilar conhecimentos diferentes.
A luta assusta os Espíritos depurados que partiram para mundos mais adiantados, e eles desejam que os escutemos com docilidade. Também os inspirados são geralmente seres puros, ingênuos e simples, sérios e refletidos, cheios de abnegação e de devotamento, sem personalidade marcante, de impressões profundas e duráveis, acessíveis às influências exteriores, sem ideias preconcebidas sobre as coisas que ignoram, bastante inteligentes para assimilar os pensamentos alheios, mas não moralmente bastante fortes para discuti-los.
Se o inspirado se apega às suas próprias convicções, ele toma, de boa-fé, o seu eco pela advertência das vozes que nele falam e também de boa-fé, engana, em vez de esclarecer. A bondade preside essas revelações, que jamais ocorrem senão com um objetivo ao mesmo tempo útil e moral.
Quando uma dessas organizações simpáticas é sofredora, devido a uma decepção cruel ou a um mal físico, um amigo por ela se interessa e vem, dando um outro alimento ao seu pensamento, trazer alívio para ela própria, mas sobretudo para os que lhe são caros.
Não é raro que o inspirado tenha começado como um alucinado. É como um noviciado, uma preparação de seu cérebro para concentrar seu espírito e para poder aceitar aquilo que lhe dirão.
Porque um inspirado nada pode formular de concludente num certo momento, isto não quer dizer que não possa fazê-lo em outros. As manifestações ficam livres, espontâneas; vêm quando são necessárias. Assim os inspirados, mesmo os melhores, não o são em dia e hora fixos, e as sessões anunciadas previamente muitas vezes preparam inevitáveis decepções.
Fazendo evocações muito frequentes, corre-se o risco de não chegar senão a um estado de superexcitação mais próximo da alucinação do que da inspiração. Então não são mais que jogos de nossa imaginação em delírio, em lugar dessas luzes de outro mundo, destinadas a esclarecer os passos da Humanidade no caminho providencial.
Isto explica esses erros dos quais a incredulidade faz uma arma para negar, de maneira absoluta, a intervenção dos Espíritos superiores.
Os inspirados o são por todos aqueles que partiram antes da hora e têm algo para nos ensinar.
Pode acontecer que a mulher mais simples, a menos instruída, tenha revelações médicas. Vimos uma que, mesmo sem saber ler e escrever, achava em si diversos nomes de plantas que podiam curar. A credulidade popular quase a tinha forçado a explorar essa faculdade. Também não era sempre igualmente bem esclarecida, mesmo que tomando o pulso da pessoa doente que com ela se pusesse em contato, porque ela era também desses fluídicos dos quais falaremos daqui a pouco. Embora fraca e delicada, ela podia, por seu contato, restabelecer o equilíbrio daquele que o necessitava e repor em circulação os princípios vitais interrompidos. Sem se dar conta disto, ela fazia muitas vezes pelo simples toque, em certas pessoas cujo fluido era idêntico ao seu, mais bem do que os remédios que prescrevia, às vezes apenas por hábito, e com variantes insignificantes, fosse qual fosse o mal pelo qual a consultavam.
A Providência colocou junto a cada homem um remédio para cada doença. Apenas existem tantas naturezas quantos indivíduos diferentes. Os remédios também agem diferentemente sobre cada organismo, o qual influi sobre os caracteres do mal; e é isto que faz que seja quase impossível ao médico prescrever o remédio eficaz. Ele conhece os seus efeitos gerais, mas ignora absolutamente em que sentido agirá sobre tal criatura que lhe apresentam.
É aqui que brilha a superioridade dos fluídicos e dos sonâmbulos, porque, quando se acham em certas condições de simpatia com os que vêm consultá-los, os seres superiores os guiam com uma infalibilidade quase certa.
Por vezes essa inspiração é inconsciente de si mesma; às vezes um médico, apenas junto de certos doentes, acha de súbito o remédio que pode curá-los. Não foi a ciência que o guiou, foi a inspiração. A ciência punha à sua disposição vários modos de tratamento, mas uma voz interior lhe gritava um nome; ele foi forçado a dizê-lo, e esse nome era o do remédio que devia agir, com exclusão de qualquer outro.
O que dizemos da Medicina existe, nas mesmas condições, em todos os outros ramos do trabalho humano. Em certas horas, o fogo da inspiração nos devora; há que ceder. Se pretendemos concentrar em nós mesmos o que de nós deve sair, um verdadeiro sofrimento se torna o castigo de nossa revolta.
Todos aqueles a quem Deus concedeu o dom sublime de criação, os poetas, os sábios, os artistas, os inventores, todos têm essas iluminações inesperadas, por vezes numa ordem de fatos muito diferente de seus estudos ordinários, se tiverem pretendido violentar a sua vocação. Mas os Espíritos sabem o que devemos e podemos fazer, e vêm despertar incessantemente em nós as nossas atrações sufocadas.
Sabemos como Molière explicava essas desigualdades que enfeiam as mais belas peças de Corneille: “Este diabo de homem, dizia ele, tem um gênio familiar que vem por momentos soprar-lhe ao ouvido coisas sublimes; depois, de repente, planta-o lá, dizendo-lhe: ‘Sai desta como puderes!’ E então não faz mais nada que preste.” Molière estava certo. O ativo gênio de Corneille não tinha a dócil passividade necessária para suportar continuamente a inspiração do alto. Os Espíritos o abandonavam, e então ele adormecia, como por vezes fazia Homero.
Existem ─ Sócrates e Jeanne d’Arc eram destes ─ os que escutam vozes interiores que neles falam. Outros nada escutam, mas são obrigados a obedecer a uma força poderosa que os domina.
Outras vezes, um nome vem ferir o ouvido do inspirado: é o de um amigo, de um indivíduo que ele nem mesmo conhece, do qual apenas ouviu falar. A personalidade desse amigo desconhecido o penetra, nele se manifesta; pouco a pouco pensamentos estranhos vêm substituir os seus. Por um momento ele tem o espírito daquele; obedece, escreve, sem saber, malgrado seu, se necessário, coisas que não sabe. E como essa obediência passiva à qual foi condenado lhe é difícil de suportar em estado de vigília, foge dessas coisas escritas sob uma inspiração opressiva, e não quer lê-las.
Esses pensamentos podem estar em desacordo formal com suas crenças, com seus sentimentos, ou melhor, com aqueles que a educação lhe impôs, porque, para que certos Espírito venham a ele, é preciso que exista alguma relação entre eles. Eles lhe dão o pensamento, deixando-lhe o cuidado de achar a forma. Então é preciso que eles saibam que sua inteligência pode compreendê-los e assimilar momentaneamente suas ideias para traduzi-las.
É que raramente as circunstâncias nos têm permitido que nos desenvolvamos no sentido de nossas aptidões nativas. Os Espíritos mais adiantados sabem qual corda é preciso tanger para que ela entre em vibração. Ela havia ficado muda, porque tínhamos atacado outras e desprezado aquela. Por um momento eles lhe dão vida. É um germe por muito tempo abafado, que eles fecundam. Depois, o inspirado, voltando ao seu estado habitual, não se lembra mais, porque vive uma existência dupla, cada uma das quais independe da outra.
Entretanto também acontece que ele conserve uma maior facilidade de compreensão, e conquiste um maior desenvolvimento intelectual. É a recompensa do esforço que ele fez para dar uma forma compreensível aos pensamentos que outros lhe vieram revelar.
Não acreditemos que todo inspirado possa conhecer tudo. Cada um, conforme suas predisposições naturais, porém mantidas muitas vezes desconhecidas de si próprio como dos outros, é inspirado por tal ou qual coisa, mas não igualmente por todas. Com efeito, existem naturezas de tal modo antipáticas a certos conhecimentos, que os Espíritos não virão jamais bater numa porta que eles sabem que não pode se abrir.
Só em certa medida o futuro é conhecido pelos inspirados. Assim, não é certo dizer que um inspirado predisse para que mundo tal pessoa irá após a morte e que julgamento Deus pronunciará contra ela. Isto é um jogo de imaginação alucinada. Por mais alto que o homem tenha subido na escala dos mundos, ele não conhece qual será o destino de seu irmão. É a parte reservada a Deus: jamais a criatura poderá usurpar os seus direitos.
Sim, há manifestações, mas não são contínuas, e nossa impaciência a seu respeito muitas vezes é culposa.
Sim, tudo se reúne e nada é rompido no imenso Universo. Sim, existe entre esta existência e as outras um laço simpático e indissolúvel que liga e une uns aos outros, todos os membros da família humana, e que permite que os melhores venham darnos o conhecimento do que não sabemos. É por esse trabalho que se realiza o progresso. Quer se chame trabalho da inteligência ou inspiração, é a mesma coisa. A inspiração é o progresso superior, é o fundo; o trabalho pessoal aí põe a forma, juntando ainda a quintessência dos conhecimentos anteriormente adquiridos.
Nenhuma invenção nos pertence propriamente, porque outros lançaram antes a semente que recolhemos. Aplicamos à obra que queremos prosseguir, as forças e o trabalho da Natureza, que é de todos, e sem o auxílio da qual nada se faz, e depois as forças e o trabalho acumulados pelos outros, que nos prepararam os meios de triunfar.
A bem dizer, tudo é obra comum e coletiva, para confirmar ainda esse grande princípio de solidariedade e de associação que é a base das sociedades e a lei da criação toda inteira.
O trabalho do homem jamais será inutilizado pela inspiração. O Espírito que no-lo vem trazer respeitará sempre esta parte reservada ao indivíduo; ele a respeitará como uma coisa nobre e santa, pois o trabalho põe o homem na posse das faculdades que Deus depositou em germe em sua alma, a fim de que o objetivo de sua vida fosse fecundá-las. É por seu desenvolvimento que ele aprendeu a conhecer-se, e que mereceu aproximar-se dele.
A inspiração vem indiferentemente de dia, de noite, na vigília ou durante o sono. Ela só exige recolhimento. É-lhe necessário encontrar naturezas que se possam abstrair de toda preocupação do mundo real, para dar lugar livre e vago ao ser que vier envolvê-lo todo e lhe infundir seus pensamentos.
Nas horas de inspiração, o homem se torna muito mais acessível a todos os ruídos exteriores, e tudo o que vem do mundo real o perturba. Ele não mais está neste mundo, mas está num meio transitório entre este e o outro, porque está, de certo modo, embebido da pessoa moral e intelectual de um ser elevado a uma outra esfera,e cujo corpo, entretanto, prende-se a esta.
Embora ela se dirija a todos, a inspiração descerá mais geralmente sobre as naturezas doentias ou gastas por uma sucessão de sofrimentos, materiais ou morais. Considerando-se que ela é um benefício, não é justo que os que sofrem sejam mais facilmente aptos a recebê-la?
A alucinação é um estado doentio que o magnetismo pode modificar de maneira salutar. A inspiração é uma assimilação moral que se deve evitar provocar por passes magnéticos. O alucinado entrega-se voluntariamente a arroubos e a contorções ridículas. O inspirado é calmo.
Os inspirados são melancólicos. Eles necessitam ser refletidos; para ser alegre não há necessidade de refletir muito; é preciso gozar, na sua saúde, de um equilíbrio que os inspirados nem sempre possuem. Mas não vamos pensar que eles sejam difíceis e extravagantes. Ao contrário, eles se mostram suaves e fáceis com aqueles de quem gostam.
Há inspirados de diversos graus. Uns vêm dizer-vos coisas palpáveis, fatos de segunda vista, para que se possa constatar a realidade da iniciação. Outros, mais clarividentes e pouco preocupados com os processos materiais, cujos segredos são chamados a divulgar, repetem, como lhes vêm, os pensamentos trazidos por Espíritos de progresso. Os primeiros curam o corpo, os últimos são médicos da alma.
A missão dos mais modestos limita-se a revelar como essas coisas lhes vêm. É um fato constatado que forças adiantadas de muitos graus vêm sobre nós para nos dominar e nos inspirar. Para que repetir? Quem quiser acreditará. Mas, sendo bem estabelecidas as constatações, não se deve considerar os inspirados senão pelo lado útil e sério. Pouco importa, se as ideias são boas, de que fonte elas vêm.
EUG. BONNEMÈRE.
Votos de ano novo de um espírita de Leipzig
Um espírita de Leipzig mandou imprimir em alemão o seguinte cartão, cuja tradução temos o prazer de
dar.
MEUS AUGÚRIOS A TODOS OS ESPÍRITAS E ESPIRITUALISTAS DE
LEIPZIG, PARA O ANO NOVO
Também a vós que vos chamais materialistas, porque só quereis conhecer a matéria, eu seria tentado a vos mandar os meus augúrios de felicidade, mas temeria que considerásseis isto como uma ousadia de um estranho que não tem o direito de se contar entre vós.
É diferente com os espiritualistas, que estão no mesmo terreno que os espíritas, no tocante à convicção na imortalidade da alma, em sua individualidade e em seu estado feliz ou infeliz depois da morte. Os espiritualistas e os espíritas reconhecem em cada homem uma alma irmã da sua, e por isto me dão o direito de lhes enviar meus augúrios. Uns e outros agradecem ao Senhor pelo ano que acaba de se escoar e esperam que, sustentados por sua graça, terão coragem para suportar as provações dos dias infelizes, e a força de trabalhar em seu aperfeiçoamento, dominando suas paixões.
A vós, caros espíritas, irmãos e irmãs conhecidos e desconhecidos, eu vos desejo particularmente um ano feliz, porque recebestes de Deus, para a vossa peregrinação terrena, um grande apoio no Espiritismo. A religião a todos veio trazer a fé, e bem-aventurados os que a conservaram. Infelizmente ela está extinta num grande número; eis por que Deus envia uma nova arma para combater a incredulidade, o orgulho e o egoísmo, que tomam proporções cada vez maiores. Essa arma nova é a comunicação com os Espíritos; por ela temos a fé, porque ela nos dá a certeza da vida da alma, e nos permite lançar um olhar na outra vida; assim reconhecemos a fragilidade da felicidade terrena, e temos a solução das dificuldades que nos faziam duvidar de tudo, mesmo da existência de Deus.
Disse Jesus aos seus discípulos: “Eu teria ainda muitas coisas a vos dizer, mas não poderíeis, ainda, suportá-las.” Hoje, tendo a Humanidade progredido, pode compreendê-las. Eis por que Deus nos deu a ciência do Espiritismo, e a prova que a Humanidade está madura para esta ciência é que ela existe. É inútil negar e troçar, como outrora era inútil negar e fazer troça dos fatos sustentados por Copérnico e Galileu. Então esses fatos eram tão pouco conhecidos quanto o são agora os do mundo dos Espíritos. Como outrora, os primeiros opositores são os sábios, até o dia em que, vendo-se isolados, reconhecerão humildemente que as novas descobertas, como o vapor, a eletricidade e o magnetismo, que outrora eram desconhecidos, não são a última palavra das leis da Natureza. Eles serão responsáveis perante as gerações futuras por não terem acolhido a ciência nova como irmã das outras, e por terem-na repelido como uma loucura.
É verdade que ela não ensina nada de novo proclamando a vida da alma, pois o Cristo dela falou, mas o Espiritismo derruba todas as dúvidas e lança uma nova luz sobre essa questão. Entretanto, guardemo-nos de considerar como inúteis os ensinamentos do Cristianismo, e de acreditar que ele foram substituídos pelo Espiritismo; ao contrário, fortifiquemo-nos na fonte das verdades cristãs, para as quais o Espiritismo não é senão um novo facho, a fim de que nossa inteligência e nosso orgulho não nos desgarrem. O Espiritismo nos ensina, antes de mais nada, que “sem o amor e a caridade não há felicidade”, isto é, que é preciso amar o próximo como a nós mesmos. Apoiando-se nesta verdade cristã, ele abre o caminho para a realização desta sentença do Cristo: “Um só rebanho e um só pastor.”
Assim, pois, caros irmãos e irmãs espíritas, permiti que aos meus votos pelo ano novo eu junte ainda esta prece: Que jamais useis mal o poder de comunicação com o mundo espiritual. Não esqueçamos que, conforme a lei sobre a qual repousam nossas relações com os Espíritos, os maus não estão excluídos das comunicações. Se é difícil constatar a identidade de um Espírito que não conhecemos, é fácil distinguir os bons dos maus. Estes podem ocultar-se sob a máscara da hipocrisia, mas um bom espírita os reconhece sempre; eis por que não nos devemos ocupar dessas coisas levianamente, porquanto podemos ser joguete de Espíritos maus, embora inteligentes, como por vezes são encontrados no mundo dos encarnados. Se compararmos nossas comunicações com as que são obtidas nas reuniões dos espíritas fervorosos e sinceros, logo saberemos reconhecer se estamos no bom caminho. Os Espíritos elevados se fazem reconhecer por sua linguagem, que é a mesma por toda parte, sempre de acordo com o Evangelho e a razão humana.
O meio de se preservar dos maus Espíritos é, para começar, fazer uma prece sincera a Deus; depois, jamais empregar o Espiritismo para coisas materiais. Os maus Espíritos estão sempre prontos a satisfazer todos os pedidos, e se por vezes eles dizem coisas justas, o mais das vezes enganam com intenção ou por ignorância, porque os Espíritos inferiores não sabem mais do que sabiam durante sua existência terrestre. Os bons Espíritos, ao contrário, nos ajudam em nossos esforços para nos melhorarmos e nos dão a conhecer a vida espiritual, a fim de que possamos assimilála à nossa. É este o objetivo para onde devem tender todos os espíritas sinceros.
Adolf, conde de PONINSKI.
Leipzig, 1º de janeiro de 1868.
Instruções dos Espíritos
Os Messias do Espiritismo
1. ─ Já vos foi dito que um dia todas as religiões confundir-se-ão numa mesma crença. Ora, eis como isto acontecerá. Deus dará um corpo a alguns Espíritos superiores, e eles pregarão o Evangelho puro. Um novo Cristo virá. Ele porá fim a todos os abusos que duram há tanto tempo, e reunirá os homens sob uma mesma bandeira.
Nasceu o novo Messias, e ele restabelecerá o Evangelho de Jesus Cristo. Glória ao seu poder!
Não é permitido revelar o lugar onde ele nasceu; e se alguém vier vos dizer: “Ele nasceu em tal lugar”; não acrediteis, porque ninguém o saberá antes que ele seja capaz de se revelar, e daqui até lá, é preciso que grandes coisas se realizem, para aplainar os caminhos.
Se Deus vos deixar viver bastante, vós vereis pregar o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo pelo novo Missionário de Deus, e uma grande mudança será feita pelas pregações desse Menino abençoado; à sua palavra poderosa, os homens de diferentes crenças dar-se-ão as mãos.
Glória a esse divino enviado, que vai restabelecer as leis mal compreendidas e mal praticadas do Cristo! Glória ao Espiritismo, que o precede e que vem esclarecer todas as coisas!
Crede, meus irmãos, que não sois senão vós que recebereis semelhantes comunicações, mas conservai esta em segredo até nova ordem.
Nasceu o novo Messias, e ele restabelecerá o Evangelho de Jesus Cristo. Glória ao seu poder!
Não é permitido revelar o lugar onde ele nasceu; e se alguém vier vos dizer: “Ele nasceu em tal lugar”; não acrediteis, porque ninguém o saberá antes que ele seja capaz de se revelar, e daqui até lá, é preciso que grandes coisas se realizem, para aplainar os caminhos.
Se Deus vos deixar viver bastante, vós vereis pregar o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo pelo novo Missionário de Deus, e uma grande mudança será feita pelas pregações desse Menino abençoado; à sua palavra poderosa, os homens de diferentes crenças dar-se-ão as mãos.
Glória a esse divino enviado, que vai restabelecer as leis mal compreendidas e mal praticadas do Cristo! Glória ao Espiritismo, que o precede e que vem esclarecer todas as coisas!
Crede, meus irmãos, que não sois senão vós que recebereis semelhantes comunicações, mas conservai esta em segredo até nova ordem.
SÃO JOSÉ.
(Sétif, Argélia, 1861)
OBSERVAÇÃO: Esta revelação é uma das primeiras no gênero que nos foram transmitidas. Mas outras a tinham precedido. Depois, foi dado espontaneamente um grande número de comunicações sobre o mesmo assunto, em diferentes centros espíritas da França e do estrangeiro, todas concordantes no fundo do pensamento. Como por toda parte se compreendeu a necessidade de não divulgá-las, e como nenhuma foi publicada, não podiam ser o reflexo umas das outras. É um dos mais notáveis exemplos da simultaneidade e da concordância do ensino dos Espíritos quando é chegado o momento de uma revelação.[1]
2 ─ Está incontestavelmente constatado que a vossa é uma época de transição e de fermentação geral; mas ela ainda não chegou àquele grau de maturidade que marca a vida das nações. É ao vigésimo século que está reservado o remanejamento da Humanidade; todas as coisas que se realizarão daqui até lá não são senão preliminares da grande renovação. O homem chamado a consumá-la ainda não está maduro para realizar sua missão, mas ele já nasceu, e sua estrela apareceu na França marcada por uma auréola e vos foi mostrada há pouco tempo, na África. Sua rota está previamente marcada. A corrupção dos costumes, as desgraças que serão a consequência do desenvolvimento das paixões, o declínio da fé religiosa, serão os sinais precursores de sua vinda.
A corrupção no seio das religiões é o sintoma de sua decadência, como é o da decadência dos povos e dos regimes políticos, porque ela é o indício de uma falta de fé verdadeira. Os homens corrompidos arrastam a Humanidade por uma rampa funesta, de onde ela não pode sair senão por uma crise violenta. Dá-se o mesmo com as religiões que substituem o culto da Divindade pelo culto do dinheiro e das honras, e que se mostram mais ávidas dos bens materiais da Terra do que dos bens espirituais do Céu.
(Sétif, Argélia, 1861)
OBSERVAÇÃO: Esta revelação é uma das primeiras no gênero que nos foram transmitidas. Mas outras a tinham precedido. Depois, foi dado espontaneamente um grande número de comunicações sobre o mesmo assunto, em diferentes centros espíritas da França e do estrangeiro, todas concordantes no fundo do pensamento. Como por toda parte se compreendeu a necessidade de não divulgá-las, e como nenhuma foi publicada, não podiam ser o reflexo umas das outras. É um dos mais notáveis exemplos da simultaneidade e da concordância do ensino dos Espíritos quando é chegado o momento de uma revelação.[1]
2 ─ Está incontestavelmente constatado que a vossa é uma época de transição e de fermentação geral; mas ela ainda não chegou àquele grau de maturidade que marca a vida das nações. É ao vigésimo século que está reservado o remanejamento da Humanidade; todas as coisas que se realizarão daqui até lá não são senão preliminares da grande renovação. O homem chamado a consumá-la ainda não está maduro para realizar sua missão, mas ele já nasceu, e sua estrela apareceu na França marcada por uma auréola e vos foi mostrada há pouco tempo, na África. Sua rota está previamente marcada. A corrupção dos costumes, as desgraças que serão a consequência do desenvolvimento das paixões, o declínio da fé religiosa, serão os sinais precursores de sua vinda.
A corrupção no seio das religiões é o sintoma de sua decadência, como é o da decadência dos povos e dos regimes políticos, porque ela é o indício de uma falta de fé verdadeira. Os homens corrompidos arrastam a Humanidade por uma rampa funesta, de onde ela não pode sair senão por uma crise violenta. Dá-se o mesmo com as religiões que substituem o culto da Divindade pelo culto do dinheiro e das honras, e que se mostram mais ávidas dos bens materiais da Terra do que dos bens espirituais do Céu.
FÉNELON
(Constantine, dezembro de 1861)
3. ─ Quando uma transformação da Humanidade deve operar-se, Deus envia em missão um Espírito capaz, por seus pensamentos e por sua inteligência superior, de dominar seus contemporâneos e de imprimir às gerações futuras as ideias necessárias para uma revolução moral civilizadora.
De tempos em tempos vemos se elevarem acima do comum dos homens, seres que, como faróis, os guiam na via do progresso e os fazem transpor em alguns anos as etapas de vários séculos. O papel de alguns é limitado a uma região ou a uma raça; são como oficiais sob comando, conduzindo cada um uma divisão do exército; mas há outros cuja missão é agir sobre a Humanidade inteira, e que não aparecem senão nas épocas mais raras que marcam a era das transformações gerais.
Jesus Cristo foi um desses enviados excepcionais. Do mesmo modo, tereis, para os tempos chegados, um Espírito superior que dirigirá o movimento de conjunto e dará uma coesão poderosa às forças esparsas do Espiritismo.
Deus sabe, no devido tempo, modificar nossas leis e nossos hábitos, e quando um fato novo se apresentar, esperai e orai, porque o Eterno nada faz que não seja segundo as leis de divina justiça que regem o Universo.
Para vós que tendes fé, e que consagrastes a vossa vida à propagação da ideia regeneradora, isto deve ser simples e justo, mas só Deus conhece aquele que está prometido. Limito-me a dizer-vos: Esperai e orai, porque o tempo é chegado e o novo Messias não vos faltará: Deus saberá designá-lo a seu tempo. Ademais, é por obras que ele se afirmara.
Podeis dedicar-vos a muitas coisas, vós que vedes tantas ideias estranhas em relação às admitidas pela civilização moderna.
(Constantine, dezembro de 1861)
3. ─ Quando uma transformação da Humanidade deve operar-se, Deus envia em missão um Espírito capaz, por seus pensamentos e por sua inteligência superior, de dominar seus contemporâneos e de imprimir às gerações futuras as ideias necessárias para uma revolução moral civilizadora.
De tempos em tempos vemos se elevarem acima do comum dos homens, seres que, como faróis, os guiam na via do progresso e os fazem transpor em alguns anos as etapas de vários séculos. O papel de alguns é limitado a uma região ou a uma raça; são como oficiais sob comando, conduzindo cada um uma divisão do exército; mas há outros cuja missão é agir sobre a Humanidade inteira, e que não aparecem senão nas épocas mais raras que marcam a era das transformações gerais.
Jesus Cristo foi um desses enviados excepcionais. Do mesmo modo, tereis, para os tempos chegados, um Espírito superior que dirigirá o movimento de conjunto e dará uma coesão poderosa às forças esparsas do Espiritismo.
Deus sabe, no devido tempo, modificar nossas leis e nossos hábitos, e quando um fato novo se apresentar, esperai e orai, porque o Eterno nada faz que não seja segundo as leis de divina justiça que regem o Universo.
Para vós que tendes fé, e que consagrastes a vossa vida à propagação da ideia regeneradora, isto deve ser simples e justo, mas só Deus conhece aquele que está prometido. Limito-me a dizer-vos: Esperai e orai, porque o tempo é chegado e o novo Messias não vos faltará: Deus saberá designá-lo a seu tempo. Ademais, é por obras que ele se afirmara.
Podeis dedicar-vos a muitas coisas, vós que vedes tantas ideias estranhas em relação às admitidas pela civilização moderna.
BALUZE.
(Paris, 1862)
4 ─ Eis uma pergunta que se repete por toda parte: O Messias anunciado é a pessoa do próprio Cristo?
Ao lado de Deus estão numerosos Espíritos que chegaram ao topo da escala dos Espíritos puros, que mereceram ser iniciados em seus desígnios para dirigirem a execução. Deus escolheu entre eles os seus enviados superiores, encarregados de missões especiais. Podeis chamá-los de Cristos. É a mesma escola; são as mesmas ideias modificadas conforme os tempos.
Portanto, não fiqueis admirados de todas as comunicações que vos anunciam a vinda de um Espírito poderoso sob o nome do Cristo; é o pensamento de Deus revelado numa certa época, e que é transmitido pelo grupo dos Espíritos superiores que estão próximos de Deus e que recebem as suas emanações para presidirem o futuro dos mundos que gravitam no espaço.
Aquele que morreu na cruz tinha uma missão a cumprir, e essa missão se renova hoje por outros Espíritos desse grupo divino, que vêm, eu vo-lo repito, presidir aos destinos do vosso mundo.
Se o Messias de que falam essas comunicações não é a personalidade de Jesus, é o mesmo pensamento. É aquele que Jesus anunciou, quando disse: “Eu vos enviarei o Espírito de Verdade, que deve restabelecer todas as coisas”, isto é, reconduzir os homens à sã interpretação de seus ensinamentos, porque ele previa que os homens se desviariam do caminho que ele lhes havia traçado.
Ademais, era necessário completar o que ele então não lhes havia dito, porque não teria sido compreendido. Eis por que uma multidão de Espíritos de todas as ordens, sob a direção do Espírito de Verdade, vieram a todas as partes do mundo e a todos os povos, revelar as leis do mundo espiritual, cujo ensino Jesus havia adiado, e lançar, pelo Espiritismo, os fundamentos da nova ordem social. Quando todas as suas bases estiverem postas, então virá o Messias que deve coroar o edifício e presidir a reorganização com o auxílio dos elementos que tiverem sido preparados.
Mas não creiais que esse Messias esteja só; haverá muitos que abraçarão, pela posição que cada um ocupará no mundo, os grandes segmentos da ordem social: a política, a religião, a legislação, a fim de fazê-las concorrer para o mesmo objetivo.
Além dos Messias principais, surgirão Espíritos de escol em toda parte e que, com lugar-tenentes animados da mesma fé e do mesmo desejo, agirão de comum acordo, sob o impulso do pensamento superior.
Assim é que estabelecer-se-á pouco a pouco a harmonia do conjunto. Entretanto, é necessário que previamente se realizem certos acontecimentos.
(Paris, 1862)
4 ─ Eis uma pergunta que se repete por toda parte: O Messias anunciado é a pessoa do próprio Cristo?
Ao lado de Deus estão numerosos Espíritos que chegaram ao topo da escala dos Espíritos puros, que mereceram ser iniciados em seus desígnios para dirigirem a execução. Deus escolheu entre eles os seus enviados superiores, encarregados de missões especiais. Podeis chamá-los de Cristos. É a mesma escola; são as mesmas ideias modificadas conforme os tempos.
Portanto, não fiqueis admirados de todas as comunicações que vos anunciam a vinda de um Espírito poderoso sob o nome do Cristo; é o pensamento de Deus revelado numa certa época, e que é transmitido pelo grupo dos Espíritos superiores que estão próximos de Deus e que recebem as suas emanações para presidirem o futuro dos mundos que gravitam no espaço.
Aquele que morreu na cruz tinha uma missão a cumprir, e essa missão se renova hoje por outros Espíritos desse grupo divino, que vêm, eu vo-lo repito, presidir aos destinos do vosso mundo.
Se o Messias de que falam essas comunicações não é a personalidade de Jesus, é o mesmo pensamento. É aquele que Jesus anunciou, quando disse: “Eu vos enviarei o Espírito de Verdade, que deve restabelecer todas as coisas”, isto é, reconduzir os homens à sã interpretação de seus ensinamentos, porque ele previa que os homens se desviariam do caminho que ele lhes havia traçado.
Ademais, era necessário completar o que ele então não lhes havia dito, porque não teria sido compreendido. Eis por que uma multidão de Espíritos de todas as ordens, sob a direção do Espírito de Verdade, vieram a todas as partes do mundo e a todos os povos, revelar as leis do mundo espiritual, cujo ensino Jesus havia adiado, e lançar, pelo Espiritismo, os fundamentos da nova ordem social. Quando todas as suas bases estiverem postas, então virá o Messias que deve coroar o edifício e presidir a reorganização com o auxílio dos elementos que tiverem sido preparados.
Mas não creiais que esse Messias esteja só; haverá muitos que abraçarão, pela posição que cada um ocupará no mundo, os grandes segmentos da ordem social: a política, a religião, a legislação, a fim de fazê-las concorrer para o mesmo objetivo.
Além dos Messias principais, surgirão Espíritos de escol em toda parte e que, com lugar-tenentes animados da mesma fé e do mesmo desejo, agirão de comum acordo, sob o impulso do pensamento superior.
Assim é que estabelecer-se-á pouco a pouco a harmonia do conjunto. Entretanto, é necessário que previamente se realizem certos acontecimentos.
LACORDAIRE.
(Paris, 1862)
[1] As comunicações deste gênero são inúmeras; aqui apenas publicamos algumas, e se as publicamos hoje é que é chegado o momento de levar o fato ao conhecimento de todos, e porque é útil, para os espíritas, saber em que sentido a maioria dos Espíritos se pronuncia.
(Paris, 1862)
[1] As comunicações deste gênero são inúmeras; aqui apenas publicamos algumas, e se as publicamos hoje é que é chegado o momento de levar o fato ao conhecimento de todos, e porque é útil, para os espíritas, saber em que sentido a maioria dos Espíritos se pronuncia.
Os Espíritos marcados
5. ─ Há muitos Espíritos superiores que concorrerão poderosamente à obra reorganizadora, mas nem todos são messias. Há que distinguir:
1.º ─ Os Espíritos superiores que agem livremente e por sua própria vontade;
2.º ─ Os Espíritos marcados, isto é, designados para uma importante missão. Eles têm a radiação luminosa que é o signo característico de sua superioridade. São escolhidos entre os Espíritos capazes de cumpri-las; entretanto, como têm livre-arbítrio, podem falir por falta de coragem, de perseverança ou de fé, e não estão ao abrigo dos acidentes que podem abreviar os seus dias, mas como os desígnios de Deus não estão à mercê de um homem, o que um não faz, outro é chamado a fazer. Eis por que há muitos chamados e poucos escolhidos. Feliz aquele que realiza sua missão segundo as vistas de Deus e sem desfalecimentos!
3.º ─ Os Messias, seres superiores que chegaram ao mais alto degrau da hierarquia celeste, depois de haverem atingido uma perfeição que os torna infalíveis daí por diante, e acima das fraquezas humanas, mesmo na Encarnação. Admitidos nos conselhos do Altíssimo, eles recebem diretamente a sua palavra, que são encarregados de transmitir e fazer cumprir. Verdadeiros representantes da Divindade, cujo pensamento eles têm, é entre eles que Deus escolhe os seus enviados especiais, ou seus Messias para as grandes missões gerais, cujos detalhes de execução são confiados a outros Espíritos encarnados ou desencarnados que agem por suas ordens e sob sua inspiração.
Espíritos dessas três categorias devem concorrer no grande movimento regenerador que se opera.
(Êxtase sonambúlico; Paris, 1866)
6. ─ Meus amigos, venho confirmar a esperança dos altos destinos que esperam o Espiritismo. Esse glorioso futuro que vos anunciamos será realizado pela vinda de um Espírito superior que resumirá, na essência de sua perfeição, todas as doutrinas antigas e novas e que, pela autoridade de sua palavra, religará os homens às crenças novas. Semelhante ao sol nascente, ele dissipará todas as obscuridades amontoadas sobre a eterna verdade pelo fanatismo e pela inobservância dos preceitos do Cristo.
A estrela da nova crença, o futuro Messias, cresce na sombra, mas já os seus inimigos tremem, e as virtudes dos céus estão abaladas.
Perguntais se esse novo Messias é a mesma pessoa de Jesus de Nazaré. Que vos importa, se é o mesmo pensamento que os anima a ambos? São as imperfeições que dividem os Espíritos, mas quando as perfeições são iguais, nada os distingue; eles formam unidades coletivas, sem perder a sua individualidade.
O começo de todas as coisas é obscuro e vulgar; o que é pequeno cresce; nossas manifestações, a princípio acolhidas com o desdém, a violência ou a indiferença banal da curiosidade ociosa, espalharão ondas de luz sobre os cegos o os regenerarão.
Todos os grandes acontecimentos têm tido os seus profetas, ora incensados, ora ignorados. Assim como Moisés conduzia os hebreus, nós vos conduziremos para a Terra prometida da inteligência.
Similitude chocante! Os mesmos fenômenos se produzem, não mais no sentido material, destinado a ferir os homens infantis, mas na sua acepção espiritual. As crianças tornaram-se adultos; crescendo o objetivo, os exemplos não mais se dirigem aos olhos; a vara de Aarão está quebrada, e a única transformação que operamos é a de vossos corações que se tornaram atentos ao grito de amor que, do Céu, repercute na Terra.
Espíritas! Compreendei a gravidade de vossa missão; estremecei de alegria, porque não está longe a hora em que o divino enviado alegrará o mundo. Espíritas laboriosos, sede abençoados por vossos esforços e sede perdoados por vossos erros. A ignorância e a perturbação ainda vos roubam uma parte da verdade que só o celeste Mensageiro vos pode revelar por inteiro.
SÃO LUÍS.
(Paris, 1862)
7. ─ A vinda do Cristo trouxe para vossa Terra sentimentos que por um instante a submeteram à vontade de Deus, mas os homens, enceguecidos por suas paixões, não puderam guardar no coração o amor ao próximo, o amor ao Mestre do Céu. O enviado do Todo-Poderoso abriu à Humanidade a rota que conduz ao repouso bem-aventurado, mas a Humanidade recuou um passo imenso que o Cristo a tinha feito dar; caiu no carreiro do egoísmo, e o orgulho a fez esquecer o seu Criador.
Deus permite que ainda uma vez sua palavra seja pregada na Terra, e tereis que glorificá-lo, porque ele quis chamar-vos, como primeiros, a crer no que mais tarde será ensinado. Rejubilai-vos, porque estão próximos os tempos em que essa palavra far-se-á ouvir. Melhorai-vos, aproveitando os ensinamentos que ele permite que vos demos.
Que a árvore da fé, que neste momento fixa raízes tão vivazes, produza os seus frutos; que esses frutos amadureçam, como amadurecerá a fé que hoje anima alguns entre vós!
Sim, meus filhos, o povo comprimir-se-á sobre os passos do novo mensageiro anunciado pelo próprio Cristo, e todos virão escutar essa divina palavra, porque nela encontrarão a linguagem da verdade e o caminho da salvação. Deus, que permitiu que vos esclarecêssemos e que sustentássemos vossa marcha até hoje, permitirá que novamente vos demos as instruções que vos são necessárias.
Mas também vós, os primeiros favorecidos pela crença, tendes vossa missão a cumprir; tereis que trazer aqueles dentre vós que ainda duvidam das manifestações que Deus permite; tereis que fazer luzir aos seus olhos os benefícios daquilo que tanto vos consolou. Nos vossos dias de tristeza e abatimento, vossa crença não vos sustentou? Não fez nascer em vosso coração essa esperança que, sem ela, teríeis ficado no desencorajamento?
Eis o que é preciso fazer partilhar os que ainda não creem, não por uma precipitação intempestiva, mas com prudência e sem chocar de frente os preconceitos longamente arraigados. Não se arranca uma velha árvore de um só golpe, como um broto de erva, mas pouco a pouco.
Semeai desde já o que mais tarde quereis colher; semeai o grão que virá frutificar no terreno que tiverdes preparado, e cujos frutos vós mesmos colhereis, porque Deus levará em conta o que tiverdes feito por vossos irmãos.
LAMENNAIS.
(Havre, 1862)
1.º ─ Os Espíritos superiores que agem livremente e por sua própria vontade;
2.º ─ Os Espíritos marcados, isto é, designados para uma importante missão. Eles têm a radiação luminosa que é o signo característico de sua superioridade. São escolhidos entre os Espíritos capazes de cumpri-las; entretanto, como têm livre-arbítrio, podem falir por falta de coragem, de perseverança ou de fé, e não estão ao abrigo dos acidentes que podem abreviar os seus dias, mas como os desígnios de Deus não estão à mercê de um homem, o que um não faz, outro é chamado a fazer. Eis por que há muitos chamados e poucos escolhidos. Feliz aquele que realiza sua missão segundo as vistas de Deus e sem desfalecimentos!
3.º ─ Os Messias, seres superiores que chegaram ao mais alto degrau da hierarquia celeste, depois de haverem atingido uma perfeição que os torna infalíveis daí por diante, e acima das fraquezas humanas, mesmo na Encarnação. Admitidos nos conselhos do Altíssimo, eles recebem diretamente a sua palavra, que são encarregados de transmitir e fazer cumprir. Verdadeiros representantes da Divindade, cujo pensamento eles têm, é entre eles que Deus escolhe os seus enviados especiais, ou seus Messias para as grandes missões gerais, cujos detalhes de execução são confiados a outros Espíritos encarnados ou desencarnados que agem por suas ordens e sob sua inspiração.
Espíritos dessas três categorias devem concorrer no grande movimento regenerador que se opera.
(Êxtase sonambúlico; Paris, 1866)
6. ─ Meus amigos, venho confirmar a esperança dos altos destinos que esperam o Espiritismo. Esse glorioso futuro que vos anunciamos será realizado pela vinda de um Espírito superior que resumirá, na essência de sua perfeição, todas as doutrinas antigas e novas e que, pela autoridade de sua palavra, religará os homens às crenças novas. Semelhante ao sol nascente, ele dissipará todas as obscuridades amontoadas sobre a eterna verdade pelo fanatismo e pela inobservância dos preceitos do Cristo.
A estrela da nova crença, o futuro Messias, cresce na sombra, mas já os seus inimigos tremem, e as virtudes dos céus estão abaladas.
Perguntais se esse novo Messias é a mesma pessoa de Jesus de Nazaré. Que vos importa, se é o mesmo pensamento que os anima a ambos? São as imperfeições que dividem os Espíritos, mas quando as perfeições são iguais, nada os distingue; eles formam unidades coletivas, sem perder a sua individualidade.
O começo de todas as coisas é obscuro e vulgar; o que é pequeno cresce; nossas manifestações, a princípio acolhidas com o desdém, a violência ou a indiferença banal da curiosidade ociosa, espalharão ondas de luz sobre os cegos o os regenerarão.
Todos os grandes acontecimentos têm tido os seus profetas, ora incensados, ora ignorados. Assim como Moisés conduzia os hebreus, nós vos conduziremos para a Terra prometida da inteligência.
Similitude chocante! Os mesmos fenômenos se produzem, não mais no sentido material, destinado a ferir os homens infantis, mas na sua acepção espiritual. As crianças tornaram-se adultos; crescendo o objetivo, os exemplos não mais se dirigem aos olhos; a vara de Aarão está quebrada, e a única transformação que operamos é a de vossos corações que se tornaram atentos ao grito de amor que, do Céu, repercute na Terra.
Espíritas! Compreendei a gravidade de vossa missão; estremecei de alegria, porque não está longe a hora em que o divino enviado alegrará o mundo. Espíritas laboriosos, sede abençoados por vossos esforços e sede perdoados por vossos erros. A ignorância e a perturbação ainda vos roubam uma parte da verdade que só o celeste Mensageiro vos pode revelar por inteiro.
SÃO LUÍS.
(Paris, 1862)
7. ─ A vinda do Cristo trouxe para vossa Terra sentimentos que por um instante a submeteram à vontade de Deus, mas os homens, enceguecidos por suas paixões, não puderam guardar no coração o amor ao próximo, o amor ao Mestre do Céu. O enviado do Todo-Poderoso abriu à Humanidade a rota que conduz ao repouso bem-aventurado, mas a Humanidade recuou um passo imenso que o Cristo a tinha feito dar; caiu no carreiro do egoísmo, e o orgulho a fez esquecer o seu Criador.
Deus permite que ainda uma vez sua palavra seja pregada na Terra, e tereis que glorificá-lo, porque ele quis chamar-vos, como primeiros, a crer no que mais tarde será ensinado. Rejubilai-vos, porque estão próximos os tempos em que essa palavra far-se-á ouvir. Melhorai-vos, aproveitando os ensinamentos que ele permite que vos demos.
Que a árvore da fé, que neste momento fixa raízes tão vivazes, produza os seus frutos; que esses frutos amadureçam, como amadurecerá a fé que hoje anima alguns entre vós!
Sim, meus filhos, o povo comprimir-se-á sobre os passos do novo mensageiro anunciado pelo próprio Cristo, e todos virão escutar essa divina palavra, porque nela encontrarão a linguagem da verdade e o caminho da salvação. Deus, que permitiu que vos esclarecêssemos e que sustentássemos vossa marcha até hoje, permitirá que novamente vos demos as instruções que vos são necessárias.
Mas também vós, os primeiros favorecidos pela crença, tendes vossa missão a cumprir; tereis que trazer aqueles dentre vós que ainda duvidam das manifestações que Deus permite; tereis que fazer luzir aos seus olhos os benefícios daquilo que tanto vos consolou. Nos vossos dias de tristeza e abatimento, vossa crença não vos sustentou? Não fez nascer em vosso coração essa esperança que, sem ela, teríeis ficado no desencorajamento?
Eis o que é preciso fazer partilhar os que ainda não creem, não por uma precipitação intempestiva, mas com prudência e sem chocar de frente os preconceitos longamente arraigados. Não se arranca uma velha árvore de um só golpe, como um broto de erva, mas pouco a pouco.
Semeai desde já o que mais tarde quereis colher; semeai o grão que virá frutificar no terreno que tiverdes preparado, e cujos frutos vós mesmos colhereis, porque Deus levará em conta o que tiverdes feito por vossos irmãos.
LAMENNAIS.
(Havre, 1862)
Futuro do Espiritismo
8. ─ Depois de suas primeiras etapas, o
Espiritismo, aguerrido, desembaraçando-se cada vez mais das
obscuridades que lhe serviram de fraldas, em breve fará o seu
aparecimento na grande cena do mundo.
Os acontecimentos andam com tal rapidez que não é possível desconhecer a poderosa intervenção dos Espíritos que presidem os destinos da Terra. Há como que um estremecimento íntimo nos flancos do vosso globo em trabalho de parto; novas raças saídas das altas esferas vêm turbilhonar em torno de vós, esperando a hora de sua encarnação messiânica, e para isto se preparando pelo estudo das vastas questões que hoje abalam a Terra.
De todos os lados veem-se sinais de decrepitude nos usos e legislações que não mais estão de acordo com as ideias modernas. As velhas crenças adormecidas há séculos parecem despertar de seu torpor secular e se admiram de se verem em luta com novas crenças emanadas dos filósofos e dos pensadores deste século e do século passado. O sistema abastardado de um mundo que não era senão um simulacro, se esboroa ante a aurora do mundo real, do mundo novo. A lei de solidariedade, da família, passou aos habitantes dos Estados, para em seguida conquistar a Terra inteira, mas essa lei tão sábia, tão progressiva, essa lei divina, numa palavra, não se limitou a esse resultado único; infiltrando-se no coração dos grandes homens, ensinou-lhes que não só ela era necessária ao grande melhoramento da vossa habitação, mas se estendia a todos os mundos do vosso sistema solar, para de lá estender-se a todos os mundos da imensidade.
É bela essa lei da solidariedade universal, porque nela se encontra essa máxima sublime: Todos por um e um por todos.
Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo.
Marchai, pois, imperturbavelmente em vossa estrada, sem vos preocupar com as troças de uns e o amorpróprio ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu mestre e vosso mestre.
ERASTO
(Paris, 1863)
9. ─ Cada dia o Espiritismo estende o círculo de seu ensino moralizador. Sua grande voz repercutiu de um extremo ao outro da Terra. A Sociedade se comoveu com ela, e de seu seio partiram adeptos e adversários.
Adeptos fervorosos, adversários hábeis, mas cuja própria habilidade e renome serviram à causa que queriam combater, chamando para a doutrina nova a atenção das massas e lhes dando o desejo de conhecer os ensinos regeneradores que seus adeptos preconizam e que eles escarneciam e ridicularizavam.
Contemplai o trabalho realizado e alegrai-vos com o resultado! Mas que efervescência indizível se produzirá entre os povos, quando os nomes de seus mais amados escritores vierem juntar-se aos nomes mais obscuros e menos conhecidos daqueles que se comprimem em redor da bandeira da verdade!
Vede o que produziram os trabalhos de alguns grupos isolados, na maioria entravados pela intriga e pela má vontade, e imaginai a revolução que se operará, quando todos os membros da grande família espírita se derem as mãos e declararem, fronte alta e o coração firme, a sinceridade de sua fé e de sua crença na realidade do ensinamento dos Espíritos.
As massas gostam do progresso, buscam-no, mas o temem. O desconhecido inspira um secreto temor aos filhos ignorantes de uma sociedade embalada por preconceitos, que ensaia os primeiros passos na via da realidade e do progresso moral. As grandes palavras liberdade, progresso, amor, caridade ferem o povo sem comovê-lo; muitas vezes ele prefere seu estado presente e medíocre a um futuro melhor, mas desconhecido.
A razão desse temor do futuro está na ignorância do sentimento moral num grande número, e do sentimento inteligente nos outros. Mas não é certo, como disseram vários filósofos célebres, que uma concepção falsa da origem das coisas tenha feito errar, como eu mesmo o disse, ─ por que coraria de dizê-lo? Não pude enganar-me? ─ não é certo, dizia eu, que a Humanidade seja má por essência. Não, aperfeiçoando a sua inteligência, ela não dará um impulso maior às suas más qualidades. Afastai de vós esses pensamentos desesperadores que repousam num falso conhecimento do espírito humano.
A Humanidade não é má por natureza, mas é ignorante, e por isso mesmo mais apta a se deixar governar por suas paixões. Ela é progressiva e deve progredir para atingir os seus destinos; esclarecei-a; mostrai-lhe seus inimigos ocultos na sombra; desenvolvei sua essência moral, que nela é inata, e apenas entorpecida sob a influência dos maus instintos, e reanimareis a centelha da eterna verdade, da eterna presciência do infinito, do belo o do bom, que residem para sempre no coração do homem, mesmo do mais perverso.
Filhos de uma doutrina nova, reuni as vossas forças! Que o sopro divino e o socorro dos bons Espíritos vos sustentem, e fareis grandes coisas. Tereis a glória de haver posto as bases dos princípios imperecíveis cujos frutos vossos descendentes colherão.
MONTAIGNE
(Paris, 1865)
Os acontecimentos andam com tal rapidez que não é possível desconhecer a poderosa intervenção dos Espíritos que presidem os destinos da Terra. Há como que um estremecimento íntimo nos flancos do vosso globo em trabalho de parto; novas raças saídas das altas esferas vêm turbilhonar em torno de vós, esperando a hora de sua encarnação messiânica, e para isto se preparando pelo estudo das vastas questões que hoje abalam a Terra.
De todos os lados veem-se sinais de decrepitude nos usos e legislações que não mais estão de acordo com as ideias modernas. As velhas crenças adormecidas há séculos parecem despertar de seu torpor secular e se admiram de se verem em luta com novas crenças emanadas dos filósofos e dos pensadores deste século e do século passado. O sistema abastardado de um mundo que não era senão um simulacro, se esboroa ante a aurora do mundo real, do mundo novo. A lei de solidariedade, da família, passou aos habitantes dos Estados, para em seguida conquistar a Terra inteira, mas essa lei tão sábia, tão progressiva, essa lei divina, numa palavra, não se limitou a esse resultado único; infiltrando-se no coração dos grandes homens, ensinou-lhes que não só ela era necessária ao grande melhoramento da vossa habitação, mas se estendia a todos os mundos do vosso sistema solar, para de lá estender-se a todos os mundos da imensidade.
É bela essa lei da solidariedade universal, porque nela se encontra essa máxima sublime: Todos por um e um por todos.
Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo.
Marchai, pois, imperturbavelmente em vossa estrada, sem vos preocupar com as troças de uns e o amorpróprio ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu mestre e vosso mestre.
ERASTO
(Paris, 1863)
9. ─ Cada dia o Espiritismo estende o círculo de seu ensino moralizador. Sua grande voz repercutiu de um extremo ao outro da Terra. A Sociedade se comoveu com ela, e de seu seio partiram adeptos e adversários.
Adeptos fervorosos, adversários hábeis, mas cuja própria habilidade e renome serviram à causa que queriam combater, chamando para a doutrina nova a atenção das massas e lhes dando o desejo de conhecer os ensinos regeneradores que seus adeptos preconizam e que eles escarneciam e ridicularizavam.
Contemplai o trabalho realizado e alegrai-vos com o resultado! Mas que efervescência indizível se produzirá entre os povos, quando os nomes de seus mais amados escritores vierem juntar-se aos nomes mais obscuros e menos conhecidos daqueles que se comprimem em redor da bandeira da verdade!
Vede o que produziram os trabalhos de alguns grupos isolados, na maioria entravados pela intriga e pela má vontade, e imaginai a revolução que se operará, quando todos os membros da grande família espírita se derem as mãos e declararem, fronte alta e o coração firme, a sinceridade de sua fé e de sua crença na realidade do ensinamento dos Espíritos.
As massas gostam do progresso, buscam-no, mas o temem. O desconhecido inspira um secreto temor aos filhos ignorantes de uma sociedade embalada por preconceitos, que ensaia os primeiros passos na via da realidade e do progresso moral. As grandes palavras liberdade, progresso, amor, caridade ferem o povo sem comovê-lo; muitas vezes ele prefere seu estado presente e medíocre a um futuro melhor, mas desconhecido.
A razão desse temor do futuro está na ignorância do sentimento moral num grande número, e do sentimento inteligente nos outros. Mas não é certo, como disseram vários filósofos célebres, que uma concepção falsa da origem das coisas tenha feito errar, como eu mesmo o disse, ─ por que coraria de dizê-lo? Não pude enganar-me? ─ não é certo, dizia eu, que a Humanidade seja má por essência. Não, aperfeiçoando a sua inteligência, ela não dará um impulso maior às suas más qualidades. Afastai de vós esses pensamentos desesperadores que repousam num falso conhecimento do espírito humano.
A Humanidade não é má por natureza, mas é ignorante, e por isso mesmo mais apta a se deixar governar por suas paixões. Ela é progressiva e deve progredir para atingir os seus destinos; esclarecei-a; mostrai-lhe seus inimigos ocultos na sombra; desenvolvei sua essência moral, que nela é inata, e apenas entorpecida sob a influência dos maus instintos, e reanimareis a centelha da eterna verdade, da eterna presciência do infinito, do belo o do bom, que residem para sempre no coração do homem, mesmo do mais perverso.
Filhos de uma doutrina nova, reuni as vossas forças! Que o sopro divino e o socorro dos bons Espíritos vos sustentem, e fareis grandes coisas. Tereis a glória de haver posto as bases dos princípios imperecíveis cujos frutos vossos descendentes colherão.
MONTAIGNE
(Paris, 1865)
As estrelas cairão do Céu
10. ─ Oh! Como é bela a luz do Senhor! Que brilho prodigioso espalham os seus raios! Santa Sião! Bem-aventurados os que estão sentados à sombra de teus tabernáculos! Oh! Que harmonia é comparável às esferas do Senhor! Beleza incompreensível para olhos mortais incapazes de perceber tudo quanto não depende do domínio dos sentidos!
Aurora esplêndida de um dia novo, o Espiritismo vem iluminar os homens. Já os clarões mais fortes aparecem no horizonte; já os Espíritos das trevas, vendo que seu império vai esboroar-se, são presa de raivas impotentes e empregam suas últimas forças em conchavos infernais. Já o anjo radioso do progresso estende suas brancas asas matizadas; já as virtudes do Céu se abalam e as estrelas caem de sua abóbada, mas transformadas em puros Espíritos, que vêm, como anuncia a Escritura em linguagem figurada, proclamar sobre as ruínas do velho mundo o advento do Filho do Homem.
Bem-aventurados aqueles cujos corações estão preparados para receber a semente divina que os Espíritos do Senhor lançam aos quatro ventos! Bem-aventurados os que cultivam, no santuário da alma, as virtudes que o Cristo lhes veio ensinar, e que ele ainda lhes ensina pela voz dos médiuns, isto é, dos instrumentos que repetem as palavras dos Espíritos! Bem-aventurados os justos, porque o reino dos céus lhes pertencerá!
Ó meus amigos! Continuai a avançar no caminho que vos foi traçado; não sejais obstáculos à verdade que quer esclarecer o mundo; não, sede propagadores zelosos e infatigáveis como os primeiros apóstolos, que não tinham teto para abrigar suas cabeças, mas que marchavam para a conquista que Jesus havia começado; que marchavam sem ideia preconcebida, sem hesitação; que tudo sacrificavam, até a última gota de sangue, para que o Cristianismo fosse estabelecido.
Vós, meus amigos, vós não necessitais de sacrifícios tão grandes. Não, Deus não vos pede vossa vida, mas o vosso coração, vossa boa vontade. Sede, pois, zelosos, e marchai unidos e confiantes, repetindo a palavra divina: “Meu Pai, que vossa vontade seja feita, e não a minha!”
DUPUCH, bispo de Argel.
(Bordéus, 1863)
Aurora esplêndida de um dia novo, o Espiritismo vem iluminar os homens. Já os clarões mais fortes aparecem no horizonte; já os Espíritos das trevas, vendo que seu império vai esboroar-se, são presa de raivas impotentes e empregam suas últimas forças em conchavos infernais. Já o anjo radioso do progresso estende suas brancas asas matizadas; já as virtudes do Céu se abalam e as estrelas caem de sua abóbada, mas transformadas em puros Espíritos, que vêm, como anuncia a Escritura em linguagem figurada, proclamar sobre as ruínas do velho mundo o advento do Filho do Homem.
Bem-aventurados aqueles cujos corações estão preparados para receber a semente divina que os Espíritos do Senhor lançam aos quatro ventos! Bem-aventurados os que cultivam, no santuário da alma, as virtudes que o Cristo lhes veio ensinar, e que ele ainda lhes ensina pela voz dos médiuns, isto é, dos instrumentos que repetem as palavras dos Espíritos! Bem-aventurados os justos, porque o reino dos céus lhes pertencerá!
Ó meus amigos! Continuai a avançar no caminho que vos foi traçado; não sejais obstáculos à verdade que quer esclarecer o mundo; não, sede propagadores zelosos e infatigáveis como os primeiros apóstolos, que não tinham teto para abrigar suas cabeças, mas que marchavam para a conquista que Jesus havia começado; que marchavam sem ideia preconcebida, sem hesitação; que tudo sacrificavam, até a última gota de sangue, para que o Cristianismo fosse estabelecido.
Vós, meus amigos, vós não necessitais de sacrifícios tão grandes. Não, Deus não vos pede vossa vida, mas o vosso coração, vossa boa vontade. Sede, pois, zelosos, e marchai unidos e confiantes, repetindo a palavra divina: “Meu Pai, que vossa vontade seja feita, e não a minha!”
DUPUCH, bispo de Argel.
(Bordéus, 1863)
Os mortos sairão dos túmulos
11. ─ Povos, escutai!... Uma grande voz se faz ouvir de um extremo a outro dos mundos; é a do precursor, anunciando a vinda do Espírito de Verdade, que vem endireitar as vias tortuosas por onde o espírito humano se desgarrava em falsos sofismas. É a trombeta do anjo que vem despertar os mortos para que saiam de seus túmulos.
Muitas vezes tendes lido a revelação de João e vos perguntastes: Mas, o que quer ele dizer? Como, então, cumprir-se-ão essas coisas surpreendentes? E vossa razão confusa, mergulhava num tenebroso dédalo de onde ela não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava expresso em sentido figurado.
Agora que chegou o tempo em que uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendeis a ler nesse livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado ver. Entretanto, as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.
Compreendei apenas que se Deus permite que o véu seja levantado mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que, pioneiros infatigáveis, eles desbravem as terras incultas. É, enfim, para que eles fecundem com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.
Ah! Quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa permanente em que as distrações e os prazeres se sucedem sem interrupção! Eles inventam mil nadas para encantar os seus lazeres; eles cultivam o seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer destacar a sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras que refletem as cores do prisma e balançando no espaço atraem os olhares por algum tempo, depois as procurais... e elas desapareceram sem deixar traços. Assim, essas almas mundanas brilharam com uma luz de empréstimo, durante sua curta passagem terrestre, e dela nada restou de útil, nem para os seus semelhantes, nem para elas próprias.
Vós que conheceis o valor do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso instrumentos dóceis servindo para levar a luz e a fecundidade a essas almas, das quais se diz: “Têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam”, porque tendo-se desviado do facho da verdade, e tendo escutado a voz das paixões, sua luz não é senão trevas, em meio às quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar para Deus.
O Espiritismo é essa voz poderosa que já repercute até as extremidades da Terra; todos a entenderão. Felizes aqueles que, não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de seus túmulos, e daí por diante realizarão os atos da verdadeira vida, a do Espírito, desembaraçando-se dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sepulcro, à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene do despertamento das inteligências que usaram seu arbítrio para se demorar nos caminhos pantanosos cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento que lhe dá a aparência da morte. O Pai celeste tem piedade desses filhos pródigos, caídos tão baixo que nem mesmo pensam na morada paterna, e é para eles que ele permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que além deste mundo das formas perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.
Possam esses pobres escravos da matéria sacudir o torpor que os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sinceridade, para que a luz divina, penetrando-lhes a alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.
JOÃO EVANGELISTA
(Paris, 1866)
Muitas vezes tendes lido a revelação de João e vos perguntastes: Mas, o que quer ele dizer? Como, então, cumprir-se-ão essas coisas surpreendentes? E vossa razão confusa, mergulhava num tenebroso dédalo de onde ela não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava expresso em sentido figurado.
Agora que chegou o tempo em que uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendeis a ler nesse livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado ver. Entretanto, as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.
Compreendei apenas que se Deus permite que o véu seja levantado mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que, pioneiros infatigáveis, eles desbravem as terras incultas. É, enfim, para que eles fecundem com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.
Ah! Quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa permanente em que as distrações e os prazeres se sucedem sem interrupção! Eles inventam mil nadas para encantar os seus lazeres; eles cultivam o seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer destacar a sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras que refletem as cores do prisma e balançando no espaço atraem os olhares por algum tempo, depois as procurais... e elas desapareceram sem deixar traços. Assim, essas almas mundanas brilharam com uma luz de empréstimo, durante sua curta passagem terrestre, e dela nada restou de útil, nem para os seus semelhantes, nem para elas próprias.
Vós que conheceis o valor do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso instrumentos dóceis servindo para levar a luz e a fecundidade a essas almas, das quais se diz: “Têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam”, porque tendo-se desviado do facho da verdade, e tendo escutado a voz das paixões, sua luz não é senão trevas, em meio às quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar para Deus.
O Espiritismo é essa voz poderosa que já repercute até as extremidades da Terra; todos a entenderão. Felizes aqueles que, não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de seus túmulos, e daí por diante realizarão os atos da verdadeira vida, a do Espírito, desembaraçando-se dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sepulcro, à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene do despertamento das inteligências que usaram seu arbítrio para se demorar nos caminhos pantanosos cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento que lhe dá a aparência da morte. O Pai celeste tem piedade desses filhos pródigos, caídos tão baixo que nem mesmo pensam na morada paterna, e é para eles que ele permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que além deste mundo das formas perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.
Possam esses pobres escravos da matéria sacudir o torpor que os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sinceridade, para que a luz divina, penetrando-lhes a alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.
JOÃO EVANGELISTA
(Paris, 1866)
O juízo final
12. ─ Jesus virá sobre as nuvens, para julgar os vivos e os mortos.
Sim, Deus o enviará, como o envia todos os dias, fazer essa justiça soberana nas planícies imensas do éter. Ah! Quando São Tiago foi precipitado do alto da torre do templo de Jerusalém, pelos pontífices e fariseus, por ter anunciado ao povo reunido esta verdade ensinada pelo Cristo e seus apóstolos, lembraivos que a essa palavra do justo a multidão se prosternou exclamando: Glória a Jesus, filho de Deus, no mais alto dos céus!
Ele virá sobre as nuvens proferir suas terríveis sentenças. Isto não quer dizer, ó espíritas, que ele vem perpetuamente receber as almas dos que entram na erraticidade? Passai à minha direita, diz o pastor às suas ovelhas, vós que agistes bem, segundo as vistas de meu Pai; passai à minha direita e subi para ele; quanto a vós, que vos deixastes dominar pelas paixões da Terra, passai à minha esquerda; estais condenados.
Sim, estais condenados a recomeçar o caminho percorrido, em nova existência terrena, até que vos vejais saciados de matérias e iniquidades, e que, enfim, tenhais expulso o impuro que vos domina. Sim, estais condenados; ide e voltai ao inferno da vida humana, enquanto vossos irmãos da minha direita vão penetrar as esferas superiores, de onde as paixões da Terra são excluídas, até o dia em que eles entrarão no reino de meu Pai, por uma maior purificação.
Sim, Jesus virá julgar os vivos e os mortos. Os vivos: os justos, os da sua direita; os mortos: os impuros, os da sua esquerda; e quando nascerem as asas dos justos, a matéria ainda tomará os impuros, e isto até que estes saiam vencedores dos combates contra a impureza e enfim se despojem, para sempre, de suas crisálidas humanas.
O espíritas! Vedes que vossa doutrina é a única que consola, a única que dá esperança, não condenando a uma danação eterna os infelizes que se comportaram mal durante alguns minutos da eternidade; a única, enfim, que prediz o fim verdadeiro da Terra pela elevação gradual dos Espírito.
Progredi, pois, despojando-vos do homem velho, para entrar na região dos Espíritos amados por Deus.
ERASTO
(Paris, 1861)
13. ─ A Sociedade em geral ou, para dizer melhor, a reunião dos seres, tanto encarnados quanto desencarnados, que compõem a população flutuante de um mundo, numa palavra, uma Humanidade, não é senão uma criança coletiva que, como todo ser dotado de vida, passa por todas as fases que se sucedem em cada um, desde o nascimento até a mais avançada idade. Assim como o desenvolvimento do indivíduo é acompanhado por certas perturbações físicas e intelectuais que ocorrem mais particularmente em certos períodos da vida, a Humanidade tem as suas doenças de crescimento, seus desmoronamentos morais e intelectuais. É a uma dessas grandes épocas que marcam o término de um período e o início de outro que vos é dado assistir. Participando ao mesmo tempo das coisas do passado e das do futuro; dos sistemas que se esboroam e das verdades que se estabelecem, tende cuidado, meus amigos, de vos pôr do lado da solidez, do progresso e da lógica, se não quiserdes ser levados à deriva, e de abandonar os palácios suntuosos quanto à aparência, mas vacilantes pela base, e que em breve enterrarão sob suas ruínas os infelizes bastante insensatos para não querer deles sair, malgrado as advertências de toda natureza que lhes são prodigalizadas.
Todas as frontes se anuviam e a calma aparente que desfrutais só serve para acumular um maior número de elementos destruidores.
Algumas vezes a tempestade que destrói o fruto dos suores de um ano é precedida por precursores que permitem tomar as precauções necessárias para evitar, tanto quanto possível, a devastação. Desta vez não será assim. O céu carregado parecerá iluminar-se; as nuvens fugirão; depois, de repente, todos os furores longamente comprimidos desencadear-se-ão com uma violência inusitada.
Infelizes aqueles que não tiverem preparado um abrigo! Infelizes os fanfarrões que enfrentarem o perigo de mãos desarmadas e peito descoberto! Infelizes aqueles que desafiarem o perigo a golpes de mão! Que decepção terrível os espera! Antes que a taça que sustentam chegue aos seus lábios, eles serão atingidos!
À obra, pois, espíritas, e não esqueçais que deveis ser todo prudência e todo previdência. Tendes um escudo. Sabei dele vos servir. Tendes uma âncora de salvação. Não a desprezeis.
CLÉLIE DUPLANTIER
(Paris, 1867)
Sim, Deus o enviará, como o envia todos os dias, fazer essa justiça soberana nas planícies imensas do éter. Ah! Quando São Tiago foi precipitado do alto da torre do templo de Jerusalém, pelos pontífices e fariseus, por ter anunciado ao povo reunido esta verdade ensinada pelo Cristo e seus apóstolos, lembraivos que a essa palavra do justo a multidão se prosternou exclamando: Glória a Jesus, filho de Deus, no mais alto dos céus!
Ele virá sobre as nuvens proferir suas terríveis sentenças. Isto não quer dizer, ó espíritas, que ele vem perpetuamente receber as almas dos que entram na erraticidade? Passai à minha direita, diz o pastor às suas ovelhas, vós que agistes bem, segundo as vistas de meu Pai; passai à minha direita e subi para ele; quanto a vós, que vos deixastes dominar pelas paixões da Terra, passai à minha esquerda; estais condenados.
Sim, estais condenados a recomeçar o caminho percorrido, em nova existência terrena, até que vos vejais saciados de matérias e iniquidades, e que, enfim, tenhais expulso o impuro que vos domina. Sim, estais condenados; ide e voltai ao inferno da vida humana, enquanto vossos irmãos da minha direita vão penetrar as esferas superiores, de onde as paixões da Terra são excluídas, até o dia em que eles entrarão no reino de meu Pai, por uma maior purificação.
Sim, Jesus virá julgar os vivos e os mortos. Os vivos: os justos, os da sua direita; os mortos: os impuros, os da sua esquerda; e quando nascerem as asas dos justos, a matéria ainda tomará os impuros, e isto até que estes saiam vencedores dos combates contra a impureza e enfim se despojem, para sempre, de suas crisálidas humanas.
O espíritas! Vedes que vossa doutrina é a única que consola, a única que dá esperança, não condenando a uma danação eterna os infelizes que se comportaram mal durante alguns minutos da eternidade; a única, enfim, que prediz o fim verdadeiro da Terra pela elevação gradual dos Espírito.
Progredi, pois, despojando-vos do homem velho, para entrar na região dos Espíritos amados por Deus.
ERASTO
(Paris, 1861)
13. ─ A Sociedade em geral ou, para dizer melhor, a reunião dos seres, tanto encarnados quanto desencarnados, que compõem a população flutuante de um mundo, numa palavra, uma Humanidade, não é senão uma criança coletiva que, como todo ser dotado de vida, passa por todas as fases que se sucedem em cada um, desde o nascimento até a mais avançada idade. Assim como o desenvolvimento do indivíduo é acompanhado por certas perturbações físicas e intelectuais que ocorrem mais particularmente em certos períodos da vida, a Humanidade tem as suas doenças de crescimento, seus desmoronamentos morais e intelectuais. É a uma dessas grandes épocas que marcam o término de um período e o início de outro que vos é dado assistir. Participando ao mesmo tempo das coisas do passado e das do futuro; dos sistemas que se esboroam e das verdades que se estabelecem, tende cuidado, meus amigos, de vos pôr do lado da solidez, do progresso e da lógica, se não quiserdes ser levados à deriva, e de abandonar os palácios suntuosos quanto à aparência, mas vacilantes pela base, e que em breve enterrarão sob suas ruínas os infelizes bastante insensatos para não querer deles sair, malgrado as advertências de toda natureza que lhes são prodigalizadas.
Todas as frontes se anuviam e a calma aparente que desfrutais só serve para acumular um maior número de elementos destruidores.
Algumas vezes a tempestade que destrói o fruto dos suores de um ano é precedida por precursores que permitem tomar as precauções necessárias para evitar, tanto quanto possível, a devastação. Desta vez não será assim. O céu carregado parecerá iluminar-se; as nuvens fugirão; depois, de repente, todos os furores longamente comprimidos desencadear-se-ão com uma violência inusitada.
Infelizes aqueles que não tiverem preparado um abrigo! Infelizes os fanfarrões que enfrentarem o perigo de mãos desarmadas e peito descoberto! Infelizes aqueles que desafiarem o perigo a golpes de mão! Que decepção terrível os espera! Antes que a taça que sustentam chegue aos seus lábios, eles serão atingidos!
À obra, pois, espíritas, e não esqueçais que deveis ser todo prudência e todo previdência. Tendes um escudo. Sabei dele vos servir. Tendes uma âncora de salvação. Não a desprezeis.
CLÉLIE DUPLANTIER
(Paris, 1867)
Apreciação da obra sobre a gênese
(Paris, 18 de dezembro de 1867 - Médium: Sr. Desliens)
Esta obra chega no momento certo, no sentido que a Doutrina está hoje bem estabelecida do ponto de vista moral e religioso. Seja qual for a direção que tome de agora em diante, ela tem precedentes muito arraigados no coração dos adeptos, para que ninguém possa temer que ela se desvie de sua rota.
O que importava satisfazer, antes de tudo, eram as aspirações da alma; era encher o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé. Essa primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo atualmente entra numa nova fase. Ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor do Espírito, em Ciência e em Filosofia, como em moralidade. A caridade, sua base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a ciência, a solidariedade, a progressão, o espírito liberal dele farão o traço de união das almas fortes. Ele conquistou os corações amigos com as armas da doçura; hoje viril, é às inteligências viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas inteligências lhes mostrariam, nele vão encontrar novos alimentos para sua insaciabilidade. A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa satisfação. É que o espírito tem suas necessidades, também ele; é que a alma mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações reclamam seu alimento.
A Religião, antagonista da Ciência, respondia, pelo mistério, a todas as questões da filosofia cética. Ela violava as leis da Natureza e as violentava a seu belprazer, para daí extrair uma explicação capenga de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis. Tal será o efeito desta nova obra. Ela não poderá senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a possuem, e fará com que todos os dissidentes deem um passo à frente em busca da unidade, à exceção, entretanto, daqueles que o são por interesse ou por amor-próprio. Esses o veem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis, que os deixam para trás e os mergulham na sombra. Havia pouco ou nenhum terreno comum onde eles pudessem se encontrar. Hoje o materialismo vos acotovela por toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que ainda derruba algumas das ruínas do passado, e uma colher de pedreiro que edifica para o futuro.
A questão de origem que se liga à Gênese é uma questão causticante para todos. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em consequência, interessar a todos os Espíritos sérios. Por esse livro, como eu vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e essa preparará o caminho para a fase que se abrirá mais tarde, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão nocivo quanto deixá-lo escapar.
SÃO LUÍS.
O que importava satisfazer, antes de tudo, eram as aspirações da alma; era encher o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé. Essa primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo atualmente entra numa nova fase. Ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor do Espírito, em Ciência e em Filosofia, como em moralidade. A caridade, sua base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a ciência, a solidariedade, a progressão, o espírito liberal dele farão o traço de união das almas fortes. Ele conquistou os corações amigos com as armas da doçura; hoje viril, é às inteligências viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas inteligências lhes mostrariam, nele vão encontrar novos alimentos para sua insaciabilidade. A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa satisfação. É que o espírito tem suas necessidades, também ele; é que a alma mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações reclamam seu alimento.
A Religião, antagonista da Ciência, respondia, pelo mistério, a todas as questões da filosofia cética. Ela violava as leis da Natureza e as violentava a seu belprazer, para daí extrair uma explicação capenga de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis. Tal será o efeito desta nova obra. Ela não poderá senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a possuem, e fará com que todos os dissidentes deem um passo à frente em busca da unidade, à exceção, entretanto, daqueles que o são por interesse ou por amor-próprio. Esses o veem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis, que os deixam para trás e os mergulham na sombra. Havia pouco ou nenhum terreno comum onde eles pudessem se encontrar. Hoje o materialismo vos acotovela por toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que ainda derruba algumas das ruínas do passado, e uma colher de pedreiro que edifica para o futuro.
A questão de origem que se liga à Gênese é uma questão causticante para todos. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em consequência, interessar a todos os Espíritos sérios. Por esse livro, como eu vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e essa preparará o caminho para a fase que se abrirá mais tarde, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão nocivo quanto deixá-lo escapar.
SÃO LUÍS.
Bibliografia
Resumo da doutrina espírita por Florent Loth de Amiens *
Esse livro, que apenas pudemos anunciar em nosso último número, é um resumo dos mais essenciais princípios da Doutrina Espírita. Ele se compõe, na maior parte, de citações textuais tiradas de obras fundamentais, e de exemplos extraídos de Céu e Inferno, próprios para dar, sobre as consequências da maneira pela qual empregamos a vida, uma ideia mais justa, mais racional, mais satisfatória, e sobretudo mais conforme com a justiça de Deus do que a doutrina das chamas eternas. O autor não faz de seu livro nem uma questão de amor-próprio nem de interesse; espírita fervoroso e devotado, ele publicou-o sobretudo para propagar a Doutrina nos campos de seu Departamento. A modéstia de seus pontos de vista não impede que esse livrinho possa alhures ser muito útil.
Eis o relato dado deste opúsculo pelo Journal d’Amiens, de 29 de dezembro de 1867. Fazemo-lo seguir da carta dirigida pelo Sr. Loth, a propósito desse relato, ao autor do artigo, e que o mesmo jornal publicou em seu número de 17 de janeiro.
Eis o relato dado deste opúsculo pelo Journal d’Amiens, de 29 de dezembro de 1867. Fazemo-lo seguir da carta dirigida pelo Sr. Loth, a propósito desse relato, ao autor do artigo, e que o mesmo jornal publicou em seu número de 17 de janeiro.
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* Pequena brochura In-2o, 150 páginas; preço l,25 franco. ─ Pelo correio l,50 franco. ─ Amien, principais livrarias. Também nos escritórios da Revista Espírita.
Resumo da doutrina espírita
Eis um pequeno livro muito curioso, escrito por um aldeão de Saint-Sauflieu. É verdade que o autor morou muito tempo em Paris, e foi nessa cidade que ele pôde entrar em contato com os apóstolos do Espiritismo.
Como damos importância a todas as publicações de nossa terra, quisemos travar conhecimento com essa obra. Tinham-nos dito que a obra do Sr. Florent Loth havia sido posta no índex nas comunas vizinhas de sua aldeia; esta notícia aguçou a nossa curiosidade e decidimo-nos a ler o Abrégé de la Doctrine Spirite; é pelo quanto a gente gosta do fruto proibido.
Quanto a nós, que não temos o menor interesse em censurar ou aprovar a obra do autor, diremos francamente, para nos pormos à vontade, que não acreditamos no Espiritismo; que não damos o menor crédito às mesas girantes ou falantes, porque à nossa razão repugna admitir que objetos materiais possam ser dotados da menor inteligência. Também não cremos no dom da segunda vista, ou, para dizer melhor, na faculdade de ver através de paredes espessas ou de distinguir a grandes distâncias o que se passa ao longe, isto é, a centenas de léguas. Enfim, para continuar nossas confissões preliminares, ajuntamos que não temos nenhuma fé nos Espíritos que voltam do além, e que o homem, mais ou menos inspirado, não tem o poder de evocar e, sobretudo, de fazer falar a alma dos mortos.
Dito isto, para desembaraçar o terreno de tudo o que não entra em nossos pontos de vista, reconhecemos que o livro do Sr. Florent Loth não é um mau livro.
Sua moral é pura, o amor ao próximo ali é recomendado, a tolerância para as crenças alheias nele é defendida, e isto explica a venda dessa obra.
Mas dizer que adeptos convencidos da Doutrina Espírita, com todas as suas partes admitidas, serão formados por força da leitura da obra do nosso compatriota, seria sustentar um fato que não se realizará. No que nos parece razoável e, digamos a palavra, ter senso comum, segundo a melhor acepção destes termos, ali há coisas excelentes. Assim, certos abusos são repelidos com razões claras, limpas e precisas; e se o autor procura convencer, é sempre pela suavidade e pela persuasão.
Portanto, pondo de lado tudo quanto se liga às práticas materiais do Espiritismo, práticas nas quais não acreditamos absolutamente, poderíamos retirar da leitura do livro em questão muito boas noções de moral, de tolerância e de amor ao próximo. Sob esses pontos de vista, aprovamos inteiramente o Sr. Florent Loth e não compreendemos o interdito lançado contra o seu opúsculo.
O Resumo da Doutrina Espírita será um dia proibido pela congregação do Index, cuja sede está em Roma? É uma questão ainda não resolvida, porque este livrinho não está destinado a transpor as nossas fronteiras picardas. Contudo, se o fato ocorresse, o Sr. Florent Loth recolheria por sua obra uma notoriedade com a qual jamais deverá ter sonhado.
Quanto às experiências físicas do Espiritismo, cremos que devemos deixar falar aqui o Sr. Georges Sauton, um dos nossos confrades, o qual, na Liberté de quartafeira, 12 de setembro de 1867, assim se exprimia sobre uma sessão espírita que se tinha realizado em Paris, na casa de um doutor em Medicina:
“O doutor F... amealhou uma certa fortuna. Ele a consome fazendo sessões de Espiritismo, que lhe custam muito caro em velas e em médiuns.
“Ontem à noite ele havia convidado a imprensa para a sua reunião mensal. Esses Espíritos deviam ser interrogados a respeito do zuavo Jacob e dizer sua maneira de pensar relativamente a esse interessante militar. O Sr. Babinet, do Instituto ─ escusai o pouco! ─ tinha prometido honrar a reunião com a sua presença; pelo menos o anfitrião, pelas cartas de convite, deixou isto a entender.
“Albert Brun, Victor Noir e eu fomos à casa do doutor. Nada do Sr. Babinet.
“Dez pessoas em volta de uma mesa faziam girar o móvel, que girava mal; trinta outras, entre as quais muitas figuras decorativas as olhavam.
“Os Espíritos, sem dúvida indispostos, só falaram depois de lhes puxarem as orelhas. Apenas se dignaram imitar o ruído da serra, dos martelos dos toneleiros e do ferreiro batendo nos tonéis e na bigorna. Pediram-lhes que cantassem A Mulher de barba e Tenho bom tabaco, mas eles não cantaram. Intimaram-nos a fazer uma pera saltar no ar e a pera não saltou.”
Nada acrescentaremos a este pequeno relato espirituoso.
Terminemos por um resumo do prefácio do autor, no qual a parte moral de suas ideias é exposta:
“O Espiritismo não tem a pretensão de impor a sua crença; só pela persuasão é que ele espera chegar ao seu objetivo, que é o bem da Humanidade. Liberdade de consciência: assim, creio firmemente na existência da alma e na sua imortalidade; creio nas penas e recompensas futuras; creio nas manifestações dos Espíritos, isto é, nas almas dos que viveram nesta Terra e em outros mundos; creio nisto em virtude do direito que tem o meu vizinho de não crer; mas me é tão fácil provar-lhe a minha afirmação quanto lhe é impossível me provar a sua negação, porque a negação dos incrédulos não é uma prova. O fato, dizem eles, é contrário às leis conhecidas. Pois bem! É que ele repousa sobre uma lei desconhecida: não podemos conhecer todas as leis da Natureza, porque Deus é grande e ele tudo pode!...
“Pessoas malévolas espalharam o boato de que o Espiritismo era um obstáculo ao progresso da religião. Essas pessoas, mais ignorantes do que realmente piedosas, desconhecendo absolutamente a doutrina, não podem apreciá-la nem julgá-la.
“Nós dizemos, e ainda provamos, que o ensino dos Espíritos é muito cristão, que ele se apoia na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus e na moral do Cristo.”
A citação desta profissão de fé pelo autor será suficiente para dar a conhecer a sua maneira de ver. Cabe ao leitor apreciar a obra de que falamos.
Fazendo este relato, apenas quisemos constatar um fato: é que na nossa província de Picardia o Espiritismo tinha encontrado um defensor fervoroso e convicto.
Não admitimos todas as ideias do autor. Esperamos que, em virtude de sua suavidade, ele não se aborreça com a nossa franqueza. Enquanto a paz pública não for perturbada por doutrinas ímpias, e enquanto a ordem social não for abalada por máximas subversivas, nossa tolerância fraterna nos fará dizer o que aqui dizemos do livro do Sr. Florent Loch:
Paz às consciências! Respeito às crenças do próximo!
M. A. GABRIEL REMBAULT.
Como damos importância a todas as publicações de nossa terra, quisemos travar conhecimento com essa obra. Tinham-nos dito que a obra do Sr. Florent Loth havia sido posta no índex nas comunas vizinhas de sua aldeia; esta notícia aguçou a nossa curiosidade e decidimo-nos a ler o Abrégé de la Doctrine Spirite; é pelo quanto a gente gosta do fruto proibido.
Quanto a nós, que não temos o menor interesse em censurar ou aprovar a obra do autor, diremos francamente, para nos pormos à vontade, que não acreditamos no Espiritismo; que não damos o menor crédito às mesas girantes ou falantes, porque à nossa razão repugna admitir que objetos materiais possam ser dotados da menor inteligência. Também não cremos no dom da segunda vista, ou, para dizer melhor, na faculdade de ver através de paredes espessas ou de distinguir a grandes distâncias o que se passa ao longe, isto é, a centenas de léguas. Enfim, para continuar nossas confissões preliminares, ajuntamos que não temos nenhuma fé nos Espíritos que voltam do além, e que o homem, mais ou menos inspirado, não tem o poder de evocar e, sobretudo, de fazer falar a alma dos mortos.
Dito isto, para desembaraçar o terreno de tudo o que não entra em nossos pontos de vista, reconhecemos que o livro do Sr. Florent Loth não é um mau livro.
Sua moral é pura, o amor ao próximo ali é recomendado, a tolerância para as crenças alheias nele é defendida, e isto explica a venda dessa obra.
Mas dizer que adeptos convencidos da Doutrina Espírita, com todas as suas partes admitidas, serão formados por força da leitura da obra do nosso compatriota, seria sustentar um fato que não se realizará. No que nos parece razoável e, digamos a palavra, ter senso comum, segundo a melhor acepção destes termos, ali há coisas excelentes. Assim, certos abusos são repelidos com razões claras, limpas e precisas; e se o autor procura convencer, é sempre pela suavidade e pela persuasão.
Portanto, pondo de lado tudo quanto se liga às práticas materiais do Espiritismo, práticas nas quais não acreditamos absolutamente, poderíamos retirar da leitura do livro em questão muito boas noções de moral, de tolerância e de amor ao próximo. Sob esses pontos de vista, aprovamos inteiramente o Sr. Florent Loth e não compreendemos o interdito lançado contra o seu opúsculo.
O Resumo da Doutrina Espírita será um dia proibido pela congregação do Index, cuja sede está em Roma? É uma questão ainda não resolvida, porque este livrinho não está destinado a transpor as nossas fronteiras picardas. Contudo, se o fato ocorresse, o Sr. Florent Loth recolheria por sua obra uma notoriedade com a qual jamais deverá ter sonhado.
Quanto às experiências físicas do Espiritismo, cremos que devemos deixar falar aqui o Sr. Georges Sauton, um dos nossos confrades, o qual, na Liberté de quartafeira, 12 de setembro de 1867, assim se exprimia sobre uma sessão espírita que se tinha realizado em Paris, na casa de um doutor em Medicina:
“O doutor F... amealhou uma certa fortuna. Ele a consome fazendo sessões de Espiritismo, que lhe custam muito caro em velas e em médiuns.
“Ontem à noite ele havia convidado a imprensa para a sua reunião mensal. Esses Espíritos deviam ser interrogados a respeito do zuavo Jacob e dizer sua maneira de pensar relativamente a esse interessante militar. O Sr. Babinet, do Instituto ─ escusai o pouco! ─ tinha prometido honrar a reunião com a sua presença; pelo menos o anfitrião, pelas cartas de convite, deixou isto a entender.
“Albert Brun, Victor Noir e eu fomos à casa do doutor. Nada do Sr. Babinet.
“Dez pessoas em volta de uma mesa faziam girar o móvel, que girava mal; trinta outras, entre as quais muitas figuras decorativas as olhavam.
“Os Espíritos, sem dúvida indispostos, só falaram depois de lhes puxarem as orelhas. Apenas se dignaram imitar o ruído da serra, dos martelos dos toneleiros e do ferreiro batendo nos tonéis e na bigorna. Pediram-lhes que cantassem A Mulher de barba e Tenho bom tabaco, mas eles não cantaram. Intimaram-nos a fazer uma pera saltar no ar e a pera não saltou.”
Nada acrescentaremos a este pequeno relato espirituoso.
Terminemos por um resumo do prefácio do autor, no qual a parte moral de suas ideias é exposta:
“O Espiritismo não tem a pretensão de impor a sua crença; só pela persuasão é que ele espera chegar ao seu objetivo, que é o bem da Humanidade. Liberdade de consciência: assim, creio firmemente na existência da alma e na sua imortalidade; creio nas penas e recompensas futuras; creio nas manifestações dos Espíritos, isto é, nas almas dos que viveram nesta Terra e em outros mundos; creio nisto em virtude do direito que tem o meu vizinho de não crer; mas me é tão fácil provar-lhe a minha afirmação quanto lhe é impossível me provar a sua negação, porque a negação dos incrédulos não é uma prova. O fato, dizem eles, é contrário às leis conhecidas. Pois bem! É que ele repousa sobre uma lei desconhecida: não podemos conhecer todas as leis da Natureza, porque Deus é grande e ele tudo pode!...
“Pessoas malévolas espalharam o boato de que o Espiritismo era um obstáculo ao progresso da religião. Essas pessoas, mais ignorantes do que realmente piedosas, desconhecendo absolutamente a doutrina, não podem apreciá-la nem julgá-la.
“Nós dizemos, e ainda provamos, que o ensino dos Espíritos é muito cristão, que ele se apoia na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus e na moral do Cristo.”
A citação desta profissão de fé pelo autor será suficiente para dar a conhecer a sua maneira de ver. Cabe ao leitor apreciar a obra de que falamos.
Fazendo este relato, apenas quisemos constatar um fato: é que na nossa província de Picardia o Espiritismo tinha encontrado um defensor fervoroso e convicto.
Não admitimos todas as ideias do autor. Esperamos que, em virtude de sua suavidade, ele não se aborreça com a nossa franqueza. Enquanto a paz pública não for perturbada por doutrinas ímpias, e enquanto a ordem social não for abalada por máximas subversivas, nossa tolerância fraterna nos fará dizer o que aqui dizemos do livro do Sr. Florent Loch:
Paz às consciências! Respeito às crenças do próximo!
M. A. GABRIEL REMBAULT.
“Senhor diretor,
“Eu vos serei grato se quiserdes inserir no vosso jornal minha resposta à crítica do Sr. Gabriel Rembault ao meu Resumo da Doutrina Espírita, artigo que apareceu a 29 de dezembro último.
“Não quero travar polêmica com o Sr. Gabriel Rembault; não estou à altura de seu talento de escritor, incontestável e que todos lhe reconhecem, mas que ele me permita demonstrar-lhe as razões que me fizeram escrever meu livro.
“Antes de tudo devo reconhecer que a crítica do Sr. Gabriel Rembault é cortês e polida; ela emana de um homem convicto, mas não irritado. Bem! Não posso dizer outro tanto de outros críticos, que lançam o anátema aos espíritas por insultos e palavras grosseiras! Nada compreendo desse extravasamento de ódio e de injúrias, dessas palavras dissonantes de loucos e mal-educados que nos lançam à face e que às pessoas decentes só inspiram um profundo desgosto. Entretanto, esses homens intolerantes bem sabem que, segundo os princípios de nossa sociedade moderna, todas as consciências são livres e têm direito a um respeito inviolável.
“Perdoai-me esta digressão, Sr. Diretor, como perdoo a esses insultadores. Eu os perdoo de todo o coração e peço a Deus se digne esclarecê-los sobre a caridade.
Eles deveriam praticar melhor essa virtude evangélica para com seu próximo.
“Volto ao meu assunto:
“Foi pelo estudo, pela meditação e sobretudo pela prática, que adquiri a prova de certos fatos físicos, até agora olhados como sobrenaturais; é pelo fluido universal que se podem explicar os fenômenos do magnetismo. Estes fenômenos não mais podem ser contestados seriamente; é graças ao mesmo fluido que o Espírito transpõe o espaço, que ele possui a dupla vista, que ele é dotado da penetração etérea, à qual não poderia opor-se a opacidade dos corpos. Esses fenômenos não passam da libertação momentânea do Espírito. É certo que a incredulidade não quer admitir esses fenômenos, mas constatações autênticas e numerosas não mais permitem pôlos em dúvida.
“Assim, todas as maravilhas de que acusam o Magnetismo e o Espiritismo não passam de efeitos cuja causa reside nas leis da Natureza.
“E desde que o Sr. Gabriel Rembault citou um artigo do jornal Liberté permitirme-ei, por minha vez, fazer uma citação de um livro novíssimo (La Raison du Spiritisme), fruto de longos estudos de um honrado magistrado. Diz ele à página 216: “Jamais Deus derrogou as leis que instituiu para levar sua obra a bom fim? Aquele que tudo previu não proveu a tudo? Como poderíeis pretender que a mediunidade, a comunicação dos Espíritos não estejam conforme às leis da natureza do homem? E se a revelação é a consequência necessária da mediunidade, por que diríeis que é uma derrogação da lei de Deus, quando ela entraria ostensivamente nas vistas da Providência e da economia humana?”
“Paro após esta citação. É um argumento no sentido oposto às ideias do Sr. Gabriel Rembault, e que submeto à apreciação dos vossos leitores.
“Em resumo, estou de acordo com ele quando diz: “Paz às consciências!
Respeito às crenças do próximo!”
“Recebei, senhor Diretor, meus cumprimentos respeitosos.
“FLORENT LOTH
“Eu vos serei grato se quiserdes inserir no vosso jornal minha resposta à crítica do Sr. Gabriel Rembault ao meu Resumo da Doutrina Espírita, artigo que apareceu a 29 de dezembro último.
“Não quero travar polêmica com o Sr. Gabriel Rembault; não estou à altura de seu talento de escritor, incontestável e que todos lhe reconhecem, mas que ele me permita demonstrar-lhe as razões que me fizeram escrever meu livro.
“Antes de tudo devo reconhecer que a crítica do Sr. Gabriel Rembault é cortês e polida; ela emana de um homem convicto, mas não irritado. Bem! Não posso dizer outro tanto de outros críticos, que lançam o anátema aos espíritas por insultos e palavras grosseiras! Nada compreendo desse extravasamento de ódio e de injúrias, dessas palavras dissonantes de loucos e mal-educados que nos lançam à face e que às pessoas decentes só inspiram um profundo desgosto. Entretanto, esses homens intolerantes bem sabem que, segundo os princípios de nossa sociedade moderna, todas as consciências são livres e têm direito a um respeito inviolável.
“Perdoai-me esta digressão, Sr. Diretor, como perdoo a esses insultadores. Eu os perdoo de todo o coração e peço a Deus se digne esclarecê-los sobre a caridade.
Eles deveriam praticar melhor essa virtude evangélica para com seu próximo.
“Volto ao meu assunto:
“Foi pelo estudo, pela meditação e sobretudo pela prática, que adquiri a prova de certos fatos físicos, até agora olhados como sobrenaturais; é pelo fluido universal que se podem explicar os fenômenos do magnetismo. Estes fenômenos não mais podem ser contestados seriamente; é graças ao mesmo fluido que o Espírito transpõe o espaço, que ele possui a dupla vista, que ele é dotado da penetração etérea, à qual não poderia opor-se a opacidade dos corpos. Esses fenômenos não passam da libertação momentânea do Espírito. É certo que a incredulidade não quer admitir esses fenômenos, mas constatações autênticas e numerosas não mais permitem pôlos em dúvida.
“Assim, todas as maravilhas de que acusam o Magnetismo e o Espiritismo não passam de efeitos cuja causa reside nas leis da Natureza.
“E desde que o Sr. Gabriel Rembault citou um artigo do jornal Liberté permitirme-ei, por minha vez, fazer uma citação de um livro novíssimo (La Raison du Spiritisme), fruto de longos estudos de um honrado magistrado. Diz ele à página 216: “Jamais Deus derrogou as leis que instituiu para levar sua obra a bom fim? Aquele que tudo previu não proveu a tudo? Como poderíeis pretender que a mediunidade, a comunicação dos Espíritos não estejam conforme às leis da natureza do homem? E se a revelação é a consequência necessária da mediunidade, por que diríeis que é uma derrogação da lei de Deus, quando ela entraria ostensivamente nas vistas da Providência e da economia humana?”
“Paro após esta citação. É um argumento no sentido oposto às ideias do Sr. Gabriel Rembault, e que submeto à apreciação dos vossos leitores.
“Em resumo, estou de acordo com ele quando diz: “Paz às consciências!
Respeito às crenças do próximo!”
“Recebei, senhor Diretor, meus cumprimentos respeitosos.
“FLORENT LOTH
“Saint-Sauflieu, 16 de janeiro de 1868.”
Ressalta do relato acima que o autor do artigo não conhecia uma palavra da Doutrina; ele a julgava, como tantos outros, por ouvir dizer, sem se ter dado ao trabalho de ir ao fundo da questão e de levantar o manto do ridículo com o qual a crítica malévola ou mais ou menos interesseira houve por bem cobri-la. Ele fez como o macaco da fábula, que rejeitava a noz porque ele havia mordido apenas na casca verde. Se ele tivesse tomado conhecimento dos seus primeiros elementos, não teria suposto os espíritas tão simplórios para acreditarem na inteligência de uma mesa, como ele próprio não acredita na inteligência da pena que, em suas mãos, transmite os pensamentos de seu próprio espírito. Como ele, os espíritas não admitem que objetos materiais possam ser dotados da menor inteligência; mas, como ele, sem dúvida, admitem que esses objetos podem ser instrumentos a serviço de uma inteligência. O livro do Sr. Loth não o convenceu, mas lhe mostrou o lado sério e as tendências morais da doutrina, e isto lhe bastou para compreender que a coisa tinha algo bom e merecia ao menos o respeito devido às crenças do próximo. Ele deu prova de uma louvável imparcialidade, inserindo imediatamente a retificação que lhe foi remetida pelo autor.
O que o tocou não foram os fatos de manifestações, dos quais aliás pouco se trata no livro, foram as tendências liberais e anti-retrógadas, o espírito de tolerância e de conciliação da doutrina. É essa, com efeito, a impressão que ela produzirá sobre todos os que se derem ao trabalho de estudá-la. Sem aceitar a sua parte experimental, que para os espíritas é a prova material da verdade de seus princípios, eles aí verão um poderoso auxiliar para a reforma dos abusos contra os quais se levantam todos os dias. Em vez de fanáticos de um novo gênero, eles verão em todos os espíritas, cujo número aumenta dia a dia, um exército que luta pelo mesmo objetivo, é verdade que com outras armas, mas que lhes importam os meios, se o resultado é o mesmo?
Sua ignorância das tendências do Espiritismo é tamanha que nem mesmo sabem que se trata de uma doutrina liberal, emancipadora da inteligência, inimiga da fé cega, que vem proclamar a liberdade de consciência e o livre exame como base essencial de toda crença séria. Eles nem mesmo sabem que ele foi o primeiro a inscrever em sua bandeira esta máxima imortal: Fora da caridade não há salvação, princípio de união e de fraternidade universais, o único que pode pôr um termo aos antagonismos dos povos e das crenças. Enquanto eles o creem puerilmente absorvido por uma mesa que gira, não suspeitam que o menino deixou os brinquedos pela armadura, que cresceu e que agora abarca todas as questões que interessam ao progresso da Humanidade. Aos seus adversários desinteressados e de boa fé só falta conhecê-lo para julgá-lo de modo diferente do que o julgam. Se atentassem para a sua velocidade de propagação, que nada pode deter, eles se diriam que isso não pode ser efeito de uma ideia completamente oca e que, mesmo que ele não encerrasse senão uma verdade, se essa verdade é capaz de mexer com tantas consciências, merece ser levada em consideração; que se ele causa tanto pavor a certa gente, é que não o consideram como uma fumaça à toa.
O artigo acima transcrito constata, além disso, um fato importante: é que o interdito lançado contra esse pequeno livro pelo clero do interior serviu para propagá-lo, o que não podia deixar de ocorrer, tão poderosa é a atração do fruto proibido. O autor do artigo pensa, com razão, que se fosse condenado pela congregação do Index, sediada em Roma, adquiriria uma notoriedade não pretendida pelo Sr. Loth. Ele ignora que as obras fundamentais da Doutrina tiveram esse privilégio, e que foi pelos raios lançados contra a Doutrina em nome desse índex que esses livros foram procurados nos meios onde eram desconhecidos. As pessoas fizeram esta reflexão muito natural: Quanto mais forte trovejam, mais importante a coisa deve ser. Leram os livros primeiro por curiosidade, depois, como ali encontrassem boas coisas, os aceitaram. Eis a história.
Ressalta do relato acima que o autor do artigo não conhecia uma palavra da Doutrina; ele a julgava, como tantos outros, por ouvir dizer, sem se ter dado ao trabalho de ir ao fundo da questão e de levantar o manto do ridículo com o qual a crítica malévola ou mais ou menos interesseira houve por bem cobri-la. Ele fez como o macaco da fábula, que rejeitava a noz porque ele havia mordido apenas na casca verde. Se ele tivesse tomado conhecimento dos seus primeiros elementos, não teria suposto os espíritas tão simplórios para acreditarem na inteligência de uma mesa, como ele próprio não acredita na inteligência da pena que, em suas mãos, transmite os pensamentos de seu próprio espírito. Como ele, os espíritas não admitem que objetos materiais possam ser dotados da menor inteligência; mas, como ele, sem dúvida, admitem que esses objetos podem ser instrumentos a serviço de uma inteligência. O livro do Sr. Loth não o convenceu, mas lhe mostrou o lado sério e as tendências morais da doutrina, e isto lhe bastou para compreender que a coisa tinha algo bom e merecia ao menos o respeito devido às crenças do próximo. Ele deu prova de uma louvável imparcialidade, inserindo imediatamente a retificação que lhe foi remetida pelo autor.
O que o tocou não foram os fatos de manifestações, dos quais aliás pouco se trata no livro, foram as tendências liberais e anti-retrógadas, o espírito de tolerância e de conciliação da doutrina. É essa, com efeito, a impressão que ela produzirá sobre todos os que se derem ao trabalho de estudá-la. Sem aceitar a sua parte experimental, que para os espíritas é a prova material da verdade de seus princípios, eles aí verão um poderoso auxiliar para a reforma dos abusos contra os quais se levantam todos os dias. Em vez de fanáticos de um novo gênero, eles verão em todos os espíritas, cujo número aumenta dia a dia, um exército que luta pelo mesmo objetivo, é verdade que com outras armas, mas que lhes importam os meios, se o resultado é o mesmo?
Sua ignorância das tendências do Espiritismo é tamanha que nem mesmo sabem que se trata de uma doutrina liberal, emancipadora da inteligência, inimiga da fé cega, que vem proclamar a liberdade de consciência e o livre exame como base essencial de toda crença séria. Eles nem mesmo sabem que ele foi o primeiro a inscrever em sua bandeira esta máxima imortal: Fora da caridade não há salvação, princípio de união e de fraternidade universais, o único que pode pôr um termo aos antagonismos dos povos e das crenças. Enquanto eles o creem puerilmente absorvido por uma mesa que gira, não suspeitam que o menino deixou os brinquedos pela armadura, que cresceu e que agora abarca todas as questões que interessam ao progresso da Humanidade. Aos seus adversários desinteressados e de boa fé só falta conhecê-lo para julgá-lo de modo diferente do que o julgam. Se atentassem para a sua velocidade de propagação, que nada pode deter, eles se diriam que isso não pode ser efeito de uma ideia completamente oca e que, mesmo que ele não encerrasse senão uma verdade, se essa verdade é capaz de mexer com tantas consciências, merece ser levada em consideração; que se ele causa tanto pavor a certa gente, é que não o consideram como uma fumaça à toa.
O artigo acima transcrito constata, além disso, um fato importante: é que o interdito lançado contra esse pequeno livro pelo clero do interior serviu para propagá-lo, o que não podia deixar de ocorrer, tão poderosa é a atração do fruto proibido. O autor do artigo pensa, com razão, que se fosse condenado pela congregação do Index, sediada em Roma, adquiriria uma notoriedade não pretendida pelo Sr. Loth. Ele ignora que as obras fundamentais da Doutrina tiveram esse privilégio, e que foi pelos raios lançados contra a Doutrina em nome desse índex que esses livros foram procurados nos meios onde eram desconhecidos. As pessoas fizeram esta reflexão muito natural: Quanto mais forte trovejam, mais importante a coisa deve ser. Leram os livros primeiro por curiosidade, depois, como ali encontrassem boas coisas, os aceitaram. Eis a história.
Caracteres da revelação espírita
Por Allan Kardec
Muitas pessoas consideraram o artigo publicado sob esse título em setembro de 1867, e que, completado, forma o primeiro capítulo de A Gênese, como próprio a dar a conhecer o verdadeiro caráter da Doutrina Espírita, e, ao mesmo tempo, como uma refutação de certas críticas. Em consequência, elas pensavam que seria útil à propagação da ideia espalhar esse artigo. Para obtemperar o seu desejo, fizemos uma tiragem à parte do primeiro capítulo de A Gênese, numa brochura que será vendida nas mesmas condições que a Simples Expressão, a saber, a 15 centavos; pelo correio, 20 centavos. Dez exemplares em conjunto, 2 francos, ou seja, 10 centavos por exemplar; pelo correio, 2,60 francos. Tendo sido retardada, a tiragem da brochura atualmente está terminada
Segunda edição de a gênese
Estando quase esgotada a primeira edição de A Gênese, neste momento procede-se à tiragem da segunda edição, na qual não se fez nenhuma alteração.
NOTA: Na tarifa indicada no número de janeiro para as despesas de porte dessa obra para o estrangeiro, as da Suíça foram por equívoco elevadas em l franco, conforme a antiga tarifa. Hoje não são mais que 60 cêntimos.
Os pensamentos do zuavo Jacob
1 volume in-12, de 220 páginas. Preço: 2,50 francos; pelo correio 2,75 francos. No editor, Rua Bonaparte, 70, em Paris.
Estando em impressão este número da Revista quando nos chegou o livro do Sr. Jacob, adiamos seu comentário para o próximo número.
Estando em impressão este número da Revista quando nos chegou o livro do Sr. Jacob, adiamos seu comentário para o próximo número.
Psiche
Jornal de estudos psicológicos
Publicado sobre a direção do senhor PIETRO CASSELLA
Esse jornal sairá nos dias 1º e 15 de cada mês, a partir de 1º de março próximo, em Nápoles, Cagliardi alle Pigne, 49, 2º piso. Preço: 6 francos por ano e 3 francos por semestre.
Daremos mais detalhes no próximo número.