Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868

Allan Kardec

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Novembro

Epidemia na Ilha Maurícia

Na Revista de julho de 1867 descrevemos a terrível epidemia que há dois anos devasta a Ilha Maurício (antiga Ilha de França). O último correio nos traz cartas de dois dos nossos irmãos em crença daquele país. Numa encontra-se a seguinte passagem:

“Peço desculpar-me por ter ficado tanto tempo sem vos dar notícias minhas. Certamente não era o desejo que me faltava, mas antes a possibilidade, porque meu tempo era dividido em duas partes: uma, para o trabalho que me faz viver, a outra para a doença que nos mata. Tenho muito poucos instantes para empregar conforme os meus gostos. Contudo, estou um pouco mais tranquila, pois há um mês que não tenho tido febre. É verdade que é nesta época que ela parece ceder um pouco. Mas, ai de mim! é recuar para subir de novo, pois os próximos calores sem dúvida lhe vão dar novamente o seu vigor inicial. Assim, bem convencida da certeza dessa perspectiva, vivo o dia a dia libertando-me tanto quanto possível das vaidades humanas, a fim de facilitar minha passagem para o mundo dos Espíritos onde, francamente, de modo algum me aborreceria de me encontrar, em boas condições, bem entendido.”

Um dia, dizia um incrédulo a propósito de uma pessoa que exprimia um pensamento análogo, a propósito da morte: “É preciso ser espírita para ter semelhantes ideias!” Sem querer, ele fazia o mais belo elogio do Espiritismo. Não é um grande benefício a calma com a qual ele considera o termo fatal da vida, que tanta gente vê aproximar-se com pavor? Quantas angústias e tormentos são poupados aos que encaram a morte como uma transformação de seu ser, uma transição instantânea, sem interrupção da vida espiritual! Eles esperam a partida com serenidade, porque sabem para onde vão e o que serão. O que lhes aumenta a tranquilidade é a certeza, não só de reencontrar os que lhes são caros, mas de não ficarem separados dos que ficam após eles; de vê-los e de ajudá-los mais facilmente e melhor do que quando vivos; não lamentam as alegrias deste mundo, porque sabem que terão outras maiores, mais suaves, sem mescla de tribulações. O que causa as apreensões da morte é o desconhecido. Ora, para os espíritas, a morte não tem mais mistérios.

A segunda carta contém o que segue:

“É com um sentimento de profunda gratidão que venho agradecer-vos os sólidos princípios que inculcastes em meu espírito e que, tão somente eles, me deram a força e a coragem para aceitar com calma e resignação as rudes provas que tive que sofrer de um ano para cá, por causa da terrível epidemia que dizima a nossa população. Já partiram sessenta mil almas.

“Como deveis imaginar, a maior parte dos membros que formam o nosso pequeno grupo em Port-Louis, que começava a funcionar tão bem, tiveram que sofrer, como eu, nesse desastre geral. Por uma comunicação espontânea de 25 de julho de 1866, foi-nos anunciado que iríamos ser obrigados a suspender os nossos trabalhos. Três meses depois fomos forçados a descontinuá-los, por força da moléstia de vários entre nós e da morte de nossos parentes e amigos. Até este momento não pudemos recomeçar, embora todos os nossos médiuns estejam vivos, bem como os principais membros do nosso grupo. Várias vezes tentamos reunir-nos de novo, mas sem resultado, por isto cada um de nós foi obrigado a tomar conhecimento isoladamente de vossa carta de 26 de outubro de 1867 à Sra. G..., na qual se encontra a comunicação do doutor Demeure, que nos dá grandes e muito justos ensinamentos sobre tudo o que nos acontece. Cada um de nós pôde apreciar a sua justeza no que lhe concerne, porque há a constatar que a moléstia tomou tão múltiplas formas, que os médicos jamais chegaram a um acordo: cada um seguiu um método particular.

“Entretanto, o jovem doutor Labonté parece ser o que melhor definiu a moléstia. Quero crer que ele esteja certo do ponto de vista material, pois que passou por todos os sofrimentos de que se fez narrador.[1] Sob nosso ponto de vista espiritualista, poderíamos aí ver uma aplicação do prefácio de O Evangelho segundo o Espiritismo, porque o período nefasto que atravessamos foi marcado, no começo, por uma extraordinária chuva de estrelas cadentes que caiu na Ilha Maurício na noite de 13 para 14 de novembro de 1866. Embora o fenômeno fosse conhecido, por ter sido muito frequente de setembro a novembro, em certas épocas periódicas, não é menos admirável que desta vez as estrelas cadentes foram tão numerosas que fizeram tremer e impressionaram aqueles que as observaram. Esse imponente espetáculo ficará gravado em nossa memória, porque foi precisamente depois desse acontecimento que a moléstia tomou um caráter aflitivo. A partir desse momento, ela tornou-se geral e mortal, o que hoje pode autorizar-nos a pensar, como diz o Dr. Demeure, que chegamos ao período da transformação dos habitantes da Terra, para seu adiantamento moral.

“A propósito dos calmantes recomendados pelo Dr. Demeure, falastes das castanhas da Índia, cujo emprego seria mais vantajoso que o quinino, que afeta os órgãos cerebrais. Aqui não conhecemos essa planta, mas depois da leitura de vossa carta, na qual se faz menção dela, o nome de uma outra planta me veio ao espírito por intuição: é o croton tiglium, vulgarmente chamado em Maurício Pinhão da Índia. Empreguei-o como sudorífico, com muito sucesso, mas apenas as folhas, porque o grão é um veneno violento. Peço-vos a bondade de perguntar ao Dr. Demeure o que ele pensa dessa planta, e se ele aprova o emprego que dela fiz, como calmante, pois partilho completamente de sua opinião sobre o caráter dessa doença esquisita que me parece uma variante do ramannenzaa, ou febre de Madagascar, exceto as manifestações exteriores.”

Se pudéssemos por um só instante duvidar da vulgarização universal da Doutrina Espírita, a dúvida desapareceria vendo as pessoas que ela faz felizes, as consolações que ela proporciona, a força e a coragem que ela dá nos momentos mais penosos da vida, porque está na natureza do homem rebuscar o que pode assegurar a sua felicidade e a sua tranquilidade. Aí está o mais poderoso elemento de propagação do Espiritismo, que ninguém lho tirará, a menos que dê mais do que ele dá. Para nós, é uma grande satisfação ver os benefícios que ele espalha. Cada aflito consolado, cada coragem abatida soerguida, cada progresso moral operado nos paga ao cêntuplo as nossas penas e as nossas fadigas. Eis, ainda, uma satisfação que ninguém tem o poder de nos tirar.

Lidas na Sociedade de Paris, estas cartas deram lugar às seguintes comunicações, que tratam a questão do duplo ponto de vista local e geral, material e moral.

(Sociedade de Paris, 16 de outubro de 1868.

Em todos os tempos fizeram preceder os grandes cataclismos fisiológicos de sinais manifestos da cólera dos deuses. Fenômenos particulares precediam a irrupção do mal, como uma advertência para se prepararem para o perigo. Essas manifestações, com efeito, ocorreram não como um presságio sobrenatural, mas como sintomas da iminência da perturbação.

Como tivemos oportunidade de dizer-vos, nas crises em aparência as mais anormais que dizimam passo a passo as diferentes regiões do globo, nada foi deixado ao acaso; elas são a consequência das influências dos mundos e dos elementos uns sobre os outros (outubro de 1868); elas são preparadas de longa data, e sua causa é, por consequência, perfeitamente normal.

A saúde é o resultado do equilíbrio das forças naturais; se uma doença epidêmica devasta qualquer lugar, ela não pode ser senão a consequência de uma ruptura desse equilíbrio; daí o estado particular da atmosfera e os fenômenos singulares que aí podem ser observados.

Os meteoros conhecidos pelo nome de estrelas cadentes são compostos de elementos materiais, como tudo o que cai sob os nossos sentidos. Eles não aparecem senão graças à fosforescência desses elementos em combustão, e cuja natureza especial por vezes desenvolve no ar respirável, influências deletérias e mórbidas. As estrelas cadentes eram, para a Ilha Maurício, não o presságio, mas a causa secundária do flagelo. Por que sua ação se exerceu em particular sobre aquela região? Primeiro, porque, como disse muito bem o vosso correspondente, ela é um dos meios destinados a regenerar a Humanidade e a Terra propriamente dita, provocando a partida de encarnados e a modificação dos elementos materiais. Depois, porque as causas que determinam essas espécies de epidemias em Madagascar, no Senegal e por toda parte onde a febre palustre e a febre amarela exercem sua devastação não existem nas Ilhas Maurício, a violência e a persistência do mal deveria determinar a pesquisa séria de sua fonte e atrair a atenção sobre a parte que aí podiam tomar as influências de ordem psicológica.

Aqueles que sobreviveram, em contato forçado com os doentes e os agonizantes, foram testemunhas de cenas de que a princípio não se deram conta, mas cuja lembrança lhes voltará com a calma, e que não podem ser explicadas senão pela ciência espírita. Os casos de aparições, de comunicações com os mortos, de previsões seguidas de realização, aí foram muito comuns.

Aplacado o desastre, a memória de todos esses fatos surgirá e provocará reflexões que pouco a pouco levarão a aceitar as nossas crenças.

A ilha Maurício vai renascer! O ano novo verá extinguir-se o flagelo de que ela foi vítima, não por efeito dos remédios, mas porque a causa terá produzido o seu efeito. Outros climas, por sua vez, sofrerão o ataque de um mal da mesma, ou de qualquer outra natureza, determinando os mesmos desastres e conduzindo aos mesmos resultados.

Uma epidemia universal teria semeado o espanto da Humanidade inteira e por muito tempo detido a marcha do progresso; uma epidemia restrita, atacando passo a passo e sob múltiplas formas cada centro de civilização, produzirá os mesmos efeitos, salutares e regeneradores, mas deixará intactos os meios de ação de que a Ciência pode dispor. Os que morrem são vitimados pela impotência, mas os que veem a morte à sua porta buscam novos meios de combatê-la. O perigo torna inventivo, e quando todos os meios materiais estiverem esgotados, cada um será constrangido a pedir a salvação aos meios espirituais.

Sem dúvida é apavorante pensar em perigos dessa natureza, mas, pelo fato de serem necessários e não provocarem senão felizes consequências, é preferível, em vez de esperá-los tremendo, preparar-se para enfrentá-los sem medo, sejam quais forem os seus resultados. Para o materialista, é a morte horrível e o nada por consequência; para o espiritualista, e em particular para o espírita, que importa o que acontecer! Se escapar do perigo, a prova o encontrará sempre inabalável; se morrer, o que conhece da outra vida fá-lo-á encarar a passagem sem empalidecer.

Preparai-vos, pois, para tudo, e sejam quais forem a hora e a natureza do perigo, compenetrai-vos desta verdade: A morte não é senão uma palavra vã e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar. Aqueles para os quais o mal será insuportável, serão os únicos que tê-lo-ão recebido com o riso nos lábios e a despreocupação no coração, isto é, que julgar-se-ão fortes em sua incredulidade.

CLÉLIE DUPLANTIER.

(Sociedade de Paris, 23 de outubro de 1868)

O croton tiglium certamente pode ser empregado com sucesso, sobretudo em doses homeopáticas, para acalmar as câimbras e restabelecer a circulação normal do fluido nervoso; pode-se igualmente utilizá-lo localmente, friccionando a pele com uma infusão fraca, mas não seria prudente generalizar o seu uso. Ele não é um medicamento aplicável a todos os doentes, nem em todas as fases da doença. Caso ele fosse de uso público, só deveria ser aplicado por indicação de pessoa que possa constatar a sua utilidade e apreciar o seus efeitos; do contrário, aquele que já tivesse experimentado a sua ação salutar poderia, num dado caso, a ele ser inteiramente insensível, ou mesmo experimentar os seus inconvenientes, Não é um desses medicamentos neutros que não fazem qualquer mal quando não produzem o bem. Ele não deve ser empregado senão em casos especiais e sob a direção de pessoas que possuam conhecimentos suficientes para dirigir a sua ação.

Ademais, espero que não seja necessário experimentar a sua eficácia, e que um período mais calmo se prepare para os infelizes habitantes de Maurício. Eles ainda não estão livres, por assim dizer, mas, salvo exceção, os ataques em geral não são fatais, a menos que incidentes de outra natureza lhes venham dar um caráter de gravidade particular. A doença em si mesma não está acabando. A ilha entra no período de convalescença; pode haver algumas pequenas recrudescências, mas tenho razões para crer que a epidemia irá, de agora em diante, diminuindo até a completa extinção dos sintomas que a caracterizam.

Mas qual será a sua influência sobre os habitantes de Maurício que tiverem sobrevivido ao desastre? Que consequências deduzirão das manifestações de toda natureza de que foram testemunhas involuntárias? As aparições de que muitas pessoas foram objeto, produzirão o efeito que delas se tem o direito de esperar? As resoluções tomadas sob o império do medo, do remorso e das censuras de uma consciência perturbada, não serão reduzidas a nada, quando voltar a tranquilidade?

Seria desejável que a lembrança dessas cenas lúgubres fosse gravada de maneira indelével em seus espíritos, e os obrigasse a modificar a sua conduta, reformando suas crenças, porque elas devem estar bem persuadidas que o equilíbrio não será restabelecido de maneira completa senão quando os espíritos estiverem tão despojados de sua iniquidade que a atmosfera seja purificada dos miasmas deletérios que provocaram o nascimento e o desenvolvimento do mal.

Cada dia mais entramos no período transitório que deve trazer a transformação orgânica da Terra e a regeneração de seus habitantes. Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão, ou melhor, cada região será passo a passo atingida por flagelos de naturezas diversas. Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois, preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso. Algumas regiões já foram provadas, mas seus habitantes estariam em completo erro se se fiassem na era de calma que vai suceder à tempestade para recair nos seus antigos erros. Há um período de mora que lhes é concedido para entrarem num caminho melhor. Se não o aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até levá-los ao arrependimento. Bemaventurados aqueles a quem a prova feriu de começo, porque eles terão, para se instruírem, não só os males que sofreram, mas o espetáculo dos seus irmãos em Humanidade que por sua vez forem feridos. Esperamos que um tal exemplo lhes seja salutar, e que entrem, sem hesitar, na via nova que lhes permitirá avançar de acordo com o progresso.

Seria desejável que os habitantes de Maurício não fossem os últimos a tirar proveito da severa lição que receberam.

DOUTOR DEMEURE.



[1] O Sr. Dr. Labonté descreveu a epidemia da Ilha Maurício numa brochura que lemos com interesse, na qual ele se revela o observador sério e judicioso. É um homem devotado à sua arte e, tanto quanto podemos julgar de longe, por analogia, parece ter bem caracterizado essa singular doença, do ponto de vista fisiológico. Infelizmente, no que concerne à terapêutica, ela desafia todas as previsões da Ciência. Num caso excepcional como esse, o insucesso nada prejulgaria contra o saber do médico. O Espiritismo abre à ciência médica horizontes completamente novos, demonstrando o papel preponderante do elemento espiritual na economia e num grande número de afecções, nas quais a Medicina falha porque se obstina em procurar a sua causa apenas na matéria tangível. O conhecimento da ação do perispírito sobre o organismo adicionará um novo ramo à patologia, e modificará profundamente o modo de tratamento de certas doenças, cuja verdadeira causa não será mais um problema.







O Espiritismo em toda a parte

A amizade após a morte (Pela Sra. Rowe)

Nada é mais instrutivo e ao mesmo tempo mais concludente em favor do Espiritismo do que ver as ideias sobre as quais ele se apoia, professadas por pessoas estranhas à Doutrina, e antes mesmo de seu aparecimento. Um dos nossos correspondentes de Antuérpia, que já nos transmitiu preciosos documentos a tal respeito, manda-nos o seguinte extrato de uma obra inglesa, cuja tradução, feita da 5ª edição, foi publicada em Amsterdã em 1753. Talvez jamais os princípios do Espiritismo tenham sido formulados com tanta precisão. É intitulado: A amizade após a morte, contendo as cartas dos mortos aos vivos. Pela Senhora Rowe.

Página 7.

─ Os Espíritos bem-aventurados ainda se interessam pela felicidade dos mortais, e fazem frequentes visitas aos seus amigos. Eles poderiam até aparecer aos seus olhos, se as leis do mundo material não lhos impedissem. O esplendor de seus veículos[1] e o domínio que exercem sobre as forças que governam as coisas materiais e sobre os órgãos da visão poderiam facilmente lhes servir para se tomarem visíveis. Muitas vezes olhamos como uma espécie de milagre que não percebeis, porque não estamos afastados de vós em relação ao lugar que ocupamos, mas apenas pela diferença de estado em que estamos.

Página 12, Carta III: De um filho único, falecido aos dois anos, à sua mãe:

─ Desde o momento em que minha alma foi libertada de sua incômoda prisão, achei-me um ser ativo e racional. Admirado por vos ver chorar por uma pequena massa apenas capaz de respirar que eu acabara de deixar, e da qual eu estava encantado por ter-me desembaraçado, pareceu-me que estivésseis aborrecida pela minha feliz libertação. Encontrei uma tão justa proporção, tanta agilidade, e uma luz tão brilhante no novo veículo que acompanhava o meu Espírito, que fiquei muito espantado por ver que vos afligíeis tanto com a feliz troca que eu havia feito. Então eu conhecia tão pouco a diferença dos corpos materiais e imateriais, que eu me imaginava ser tão visível para vós quanto vós éreis para mim.

Página 37, carta VIII.

─ Os gênios celestes que cuidam de vós nada negligenciaram durante o vosso sono, para arrancar do vosso coração esse ímpio desígnio. Algumas vezes vos conduziram a lugares cobertos por uma sombra lúgubre; ali ouvistes os lamentos amargos dos Espíritos infortunados. Outras vezes, as recompensas da constância e da resignação desdobraram aos vossos olhos a glória que vos espera, se, fiéis ao vosso dever, vos ligardes pacientemente à virtude.

Página 50. Carta X.

─ Como, minha cara Leonora, me pudestes temer? Quando eu era mortal, isto é, capaz de loucura e de erro, jamais vos fiz mal; muito menos vo-lo farei no estado de perfeição e de felicidade em que estou. Não resta o menor resquício de vício ou de malícia nos Espíritos virtuosos; quando estes romperam sua prisão terrena, tudo neles é amável e benfazejo; o interesse que eles tomam pela felicidade dos mortais é infinitamente mais terno e mais puro que antes.

O pavor que no mundo geralmente sentem por nós nos pareceria incrível se não nos lembrássemos de nossas loucuras e de nossos preconceitos; mas não fazemos senão gracejar de vossas ridículas apreensões. Não teríeis mais razão de vos temer e de fugir uns dos outros do que nos temer, a nós que não temos nem o poder nem a vontade de vos inquietar? Enquanto desconheceis os vossos benfeitores, nós trabalhamos para desviar mil perigos que vos ameaçam e para levar adiante os vossos interesses com o mais generoso ardor. Se vossos órgãos fossem aperfeiçoados e se vossas percepções tivessem adquirido o alto grau de delicadeza a que chegarão um dia, então saberíeis que os Espíritos etéreos, ornados com a flor de uma beleza divina e de uma vida imortal, não são feitos para produzir em vós o terror, mas o amor e os prazeres. Eu vos queria curar de vossas injustas prevenções, reconciliando-vos com a sociedade dos Espíritos, a fim de estar em melhores condições de vos advertir dos perigos e dos riscos que ameaçam a vossa juventude.

Página 54. Carta XI.

─ Vosso restabelecimento surpreende os próprios anjos que, se ignoram os diversos limites que o soberano dispensador pôs à vida humana, muitas vezes não deixam de fazer justas conjecturas sobre o curso das causas secundárias e sobre o período da vida dos humanos.

Página 68. Carta XIV.

─ Desde que deixei o mundo, muitas vezes tive a felicidade de tomar o lugar do vosso anjo da guarda. Testemunha invisível das lágrimas que a minha morte vos fez derramar, enfim me foi permitido suavizar as vossas dores, informando-vos que sou feliz.

Página 73. Carta XVI.

─ Como os seres imateriais podem misturar-se em vossa companhia sem ser percebidos, na noite passada tive a curiosidade de descobrir vossos pensamentos sobre o que vos tinha acontecido na noite anterior. Para tanto, estive naquela reunião em que estáveis. Ali, ouvi que brincáveis com alguns de vossos amigos familiares a propósito do poder da prevenção e da força de vossa imaginação. Contudo, senhor, não sois tão visionário e tão extravagante quanto vos dizeis. Não há nada mais real do que aquilo que vistes e ouvistes, e deveis acreditar nos vossos sentidos, do contrário fareis degenerar em vício a vossa desconfiança e a vossa modéstia. Meu caro irmão, não tendes mais que algumas semanas de vida; vossos dias estão contados. Tive a permissão, o que acontece raramente, de vos dar algum aviso sobre o vosso destino, que se aproxima. Vossa vida, eu sei, não foi maculada por nenhuma ação baixa ou injusta; entretanto, aparecem nos vossos costumes certas leviandades que reclamam, de vossa parte, uma pronta e sincera reforma. Faltas que a princípio parecem uma bagatela, degeneram em crimes enormes.



Página 27. Epístola dedicatória.

─ A Terra em que habitais seria uma morada deliciosa se todos os homens, cheios de estima pela virtude, praticassem as suas santas máximas. Julgai, pois, o excesso de nossa felicidade, pois que, ao mesmo tempo que aproveitamos todas as vantagens de uma virtude generosa e perfeita, sentimos prazeres tão acima dos de que gozais, quanto o céu é acima da Terra, o tempo da eternidade e o finito do infinito. Os mundanos são incapazes de desfrutar dessas delícias. Que gosto encontraria, em nossas augustas assembleias, um voluptuoso? O vinho e a carne daí foram banidos; o invejoso aí seria consumido pela dor contemplando a nossa felicidade; o avarento aí não encontraria riquezas; o jogador viciado aborrecer-se-ia mortalmente por não mais encontrar meios de matar o tempo. Como uma alma interesseira poderia achar prazer na amizade terna e sincera que podemos considerar como uma das principais vantagens que possuímos no Céu, a verdadeira morada da amizade?

O tradutor diz, no prefácio, na página 7:

“Espero que a leitura de seu livro possa reconduzir à religião cristã uma certa ordem de criaturas, cujo número é muito grande neste reino, que, sem consideração aos princípios da religião natural e revelada, tratam a imortalidade da alma como pura quimera. É para estabelecer a certeza dessa imortalidade que nossa autora se aplica principalmente.”

Página 9:

“Não era propriamente para os filósofos incrédulos que ela escrevia; era, como dissemos, para uma certa classe de criaturas, muito numerosas na alta sociedade, que, ocupadas inteiramente com os divertimentos frívolos do século, acharam a arte funesta de esquecer a imortalidade da alma, de se atordoar sobre as verdades da fé, e de afastar de seu espírito ideias tão consoladoras. Bastava-lhes, pois, para realizar esse desígnio, inventar espécies de fábulas e de apólogos cheios de traços vivos etc.”

OBSERVAÇÃO: Parece que o tradutor não acredita na comunicação dos Espíritos, porquanto ele pensa que os relatos da Senhora Rowe são fábulas ou apólogos inventados pela autora em apoio à sua tese. Entretanto ele achou o livro tão útil, que o julga capaz de reconduzir os incrédulos à fé na imortalidade da alma. Mas há aí uma singular contradição, porque para provar que uma coisa existe, é preciso mostrar a sua realidade e não a sua ficção. Ora, foi precisamente o abuso das ficções que destruiu a fé nos incrédulos. Diz o simples bom-senso que não é com um romance sobre imortalidade, por mais engenhoso que seja, que se provará a imortalidade. Se, em nossos dias, as manifestações dos Espíritos combatem a incredulidade com tanto sucesso, é porque elas são uma realidade.

Segundo a perfeita concordância de forma e de fundo que existe entre as ideias desenvolvidas no livro da senhora Rowe e o atual ensino dos Espíritos, não podemos duvidar que o que ela escreveu seja produto de comunicações reais.

Como é que um livro tão singular, capaz de atiçar a curiosidade no mais alto grau, tão difundido, pois havia chegado à quinta edição e foi traduzido, produziu tão pouca sensação, e uma ideia tão consoladora, tão racional e tão fecunda em resultados, ficou no estado de letra morta, ao passo que, em nossos dias, alguns anos bastaram para fazer a volta ao mundo? Poder-se-ia dizer outro tanto de uma porção de invenções e descobertas preciosas que caem no esquecimento à sua aparição e florescem alguns séculos mais tarde, quando a necessidade se faz sentir. É a confirmação do princípio que as melhores ideias abortam, quando vêm prematuramente, antes que os espíritos estejam maduros para aceitá-las.

Dissemos muitas vezes que se o Espiritismo tivesse vindo um século mais cedo, não teria tido nenhum sucesso. Disto eis a prova evidente, porque esse livro é seguramente do mais puro e do mais profundo Espiritismo. Para que ele pudesse ser apreciado e compreendido, seriam necessárias as crises morais pelas quais passou o espírito humano nestes últimos cem anos, e que lhe ensinaram a discutir as suas crenças; mas seria necessário, também, que o niilismo, sob suas diversas formas, como transição entre a fé cega e a fé raciocinada, provasse a sua impotência em satisfazer as necessidades sociais e as legítimas aspirações da Humanidade. A rápida propagação do Espiritismo em nossa época prova que ele veio no devido tempo.

Se ainda hoje vemos pessoas que têm sob os olhos todas as provas, materiais e morais, da realidade dos fatos espíritas, e que, apesar disto, se recusam à evidência e o raciocínio, com mais forte razão deviam ser encontradas em número muito maior há um século. É que seu espírito ainda é impróprio para assimilar essa ordem de ideias; elas veem, ouvem e não compreendem, o que não denota uma falta de inteligência, mas uma falta de aptidão especial. Elas são como as pessoas a quem, embora muito inteligentes, falta o senso musical para compreender e sentir as belezas da música. É o que se deve entender quando se diz que sua hora ainda não chegou.



[1] Ver-se-á adiante que o autor entende por veículo o corpo fluídico.



Lê-se o seguinte no 2º volume dessa obra, que teve um sucesso popular nos dois mundos:

Página 10. ─ Meu pai era um aristocrata. Creio que, nalguma existência anterior, ele deve ter pertencido às classes da mais elevada ordem social, e que tenha trazido consigo, na atual, todo o orgulho de sua antiga casta, porque esse orgulho lhe era inerente; estava na medula de seus ossos, embora ele fosse de uma família pobre e plebeia.

Página 128. ─ Evidentemente as palavras que ele havia cantado nessa mesma tarde lhe atravessavam o espírito, palavras de súplica dirigidas à infinita misericórdia. Seus lábios moviam-se fracamente, e, com raros intervalos, escapavalhes uma palavra.

─ Seu espírito varia, disse o médico.

─ Não, ele volta a si, disse Saint-Claire com energia.

Esse esforço o esgotou. A palidez da morte espalhou-se em seu rosto, mas com ela uma admirável expressão de paz, como se algum Espírito misericordioso o tivesse abrigado sob suas asas. Ele parecia uma criança que dorme de fadiga.

Ele ficou assim alguns instantes; uma mão todo-poderosa repousava sobre ele. Mas, no momento em que o Espírito ia alçar o seu voo, ele abriu os olhos, que um clarão de alegria iluminou, como se reconhecesse um ser amado, e murmurou baixinho: “Minha mãe!” Sua alma se tinha evolado.

Página 200. ─ Oh! Como a alma perversa ousa penetrar neste mundo tenebroso do sono, cujos limites incertos se avizinham tanto das cenas apavorantes e misteriosas da retribuição!

OBSERVAÇÃO: É impossível exprimir mais claramente a ideia da reencarnação, da origem de nossas inclinações e da expiação sofrida nas existências posteriores, porquanto se diz que o que foi rico e poderoso pode renascer na pobreza. É notável que esta obra tenha sido publicada nos Estados Unidos, onde o princípio da pluralidade das existências terrenas há muito é rejeitado. Ela apareceu em 1850, na época das primeiras manifestações espíritas, quando a doutrina da reencarnação ainda não havia sido proclamada na Europa. A Sra. Beecher Stowe então a havia colhido em sua própria intuição. Ela aí percebia a única razão plausível das aptidões e das propensões inatas. O segundo fragmento citado é precisamente o quadro da alma que entrevê o mundo dos Espíritos no momento do seu desligamento.



Do pecado original segundo o judaísmo



Pode ser interessante, para os que o ignoram, conhecer a doutrina dos judeus sobre o pecado original. Tiramos a explicação seguinte do jornal israelita la Famille de Jacob, que é publicado em Avignon, sob a direção do grande rabino Benjamin Massé; número de julho de 1868.

“O dogma do pecado original está longe de se achar entre os princípios do Judaísmo. A lenda profunda que relata o Talmude (Nida XXXI, 2) e que representa os anjos, fazendo a alma humana, no momento em que vai se encarnar num corpo terrestre, prestar o juramento de se manter pura durante sua estada neste planeta, a fim de retornar pura ao Criador, é uma poética afirmação de nossa inocência nativa e de nossa independência moral da falta de nossos primeiros pais. Essa afirmação, contida nos nossos livros tradicionais, é conforme ao verdadeiro espírito do Judaísmo.

“Para definir o dogma do pecado original, bastar-nos-á dizer que tomam ao pé da letra o relato da Gênese, cujo caráter lendário se desconhece, e que, partindo desse ponto de vista errado, aceitam cegamente todas as consequências daí decorrentes, sem se preocupar com a sua incompatibilidade com a natureza humana e com os atributos necessários e eternos que a razão confere à natureza divina.

“Escravos da letra, afirmam que a primeira mulher foi seduzida pela serpente; que ela comeu um fruto proibido por Deus; que fez o seu esposo comê-lo, e que, por esse ato de revolta aberta contra a vontade divina, o primeiro homem e a primeira mulher incorreram na maldição do céu, não só para si, mas para os seus filhos, mas para a sua raça, mas para a Humanidade inteira, para a Humanidade cúmplice, em qualquer distância no tempo em que se encontre dos culpados, cúmplice de seu crime, do qual ela é, por consequência, responsável em todos os seus membros atuais e futuros.

“Segundo essa doutrina, a queda e a condenação de nossos primeiros pais foram uma queda e uma condenação para a sua posteridade. A partir de então, para o gênero humano, males inumeráveis que teriam sido sem fim sem a mediação de um Redentor, tão incompreensível quanto o crime e a condenação que o chamam. Assim como o pecado de um só foi cometido por todos, a expiação de um só será a expiação de todos. Perdida por um só, a Humanidade será salva por um só. A redenção é a consequência inevitável do pecado original.

“Compreende-se que não discutamos essas premissas com suas consequências, que para nós não são mais aceitáveis, tanto do ponto de vista dogmático quanto do ponto de vista moral.

“Nossa razão e nossa consciência jamais se acomodarão a uma doutrina que apaga a personalidade humana e a justiça divina e que, para explicar as suas pretensões, nos faz viver todos juntos tanto na alma quanto no corpo do primeiro homem, ensinando-nos que, por mais numerosos que sejamos no curso das idades, fazemos parte de Adão em espírito e em matéria; que tomamos parte em seu crime e que devemos ter nossa parte na sua condenação.

“O sentimento profundo de nossa liberdade moral se recusa a essa assimilação fatal, que tiraria a nossa iniciativa, que nos acorrentaria, malgrado nosso, num pecado distante, misterioso, do qual não temos consciência, e que nos faria sofrer um castigo ineficaz, pois que, aos nossos olhos, não seria merecido.

“A ideia indefectível e universal que temos da justiça do Criador se recusa ainda muito mais energicamente a crer no comprometimento, com a falta de um só, dos seres livres criados sucessivamente por Deus na sequência dos séculos.

Se Adão e Eva pecaram, só a eles pertence a responsabilidade de seu erro; só a eles a proscrição, a expiação, a redenção por meio de esforços pessoais para reconquistar a sua nobreza. Mas nós, que viemos após eles, que, como eles, fomos objeto de um ato idêntico da parte do poder criador, e que devemos, a esse título, ter um valor igual ao de nosso primeiro pai aos olhos do nosso Criador, nascemos com a nossa pureza e a nossa inocência, de que somos os únicos donos, os únicos depositários, e cuja perda ou conservação não dependem absolutamente senão de nossa vontade e das determinações do nosso livre-arbítrio.

“Tal é, sobre esse ponto, a doutrina do Judaísmo, que nada poderia admitir que não fosse conforme à nossa consciência esclarecida pela razão.”

B. M.


Os lazeres de um Espírita no deserto



Reproduzimos sem comentários as seguintes passagens de uma carta que, em março último, nos escreveu um dos nossos correspondentes, capitão do exército da África.

“O Espiritismo se espalha no norte da África e ganhará o centro, se os franceses para ali se dirigirem. Ei-lo que penetra em Laghouat, nas bordas do Saara, a 33 graus de latitude. Emprestei os vossos livros; alguns de meus camaradas os leram; discutimos e a força e a razão ficaram com a Doutrina.

“Há alguns anos entrego-me ao estudo da anatomia, da fisiologia e da psicologia comparadas. A mesma corrente de ideias arrastou-me para o estudo dos animais. Pela observação, pude dar-me conta de que todos os órgãos, todos os aparelhos se simplificam, descendo às raças e espécies inferiores. Como a Natureza é bela para estudar! Como se sente o espírito espalhado por toda parte! Algumas vezes passo longas horas a seguir os hábitos e os movimentos da vida dos insetos e dos répteis destas regiões. Assisto às suas lutas, aos seus esforços, às suas astúcias para assegurar a existência; contemplo a batalha das espécies. O Saara, em cujas bordas estamos acampados há mais de um ano, tão deserto para os meus camaradas, ao contrário me parece muito povoado. Onde eles encontram o exílio, eu encontro a liberdade! É que eu sei que Deus está em toda parte, e que cada um leva a felicidade em si mesmo. Quer eu esteja no polo ou no equador, meus amigos do espaço me seguirão, e eu sei que os caros invisíveis podem povoar as mais tristes solidões. Não que eu desdenhe a companhia de meus semelhantes, nem que seja indiferente às afeições que conservei na França, oh não! porque me tarda rever e abraçar a minha família e todos os que me são caros, mas é somente para testemunhar que se pode ser feliz em qualquer ponto do globo em que se encontre, quando se toma Deus por guia. Para o espírita jamais há isolamento; ele se sabe e se sente constantemente rodeado de seres benevolentes, com os quais está em comunhão de pensamentos.

“Vossa última obra, A Gênese, que acabo de reler, e sobre diversos capítulos da qual me detive particularmente, nos desvenda os mistérios da criação e dá um terrível golpe nos preconceitos. Essa leitura me fez um bem imenso e abriu-me novos horizontes. Eu já compreendia a nossa origem e via em meu corpo material o último anel da animalidade na Terra; eu sabia que o espírito, durante a sua gestação corporal, toma uma parte ativa na construção do seu ninho e apropria o seu envoltório às suas novas necessidades. Esta teoria da origem do homem poderá parecer aos orgulhosos atentatória à grandeza e à dignidade humanas, mas ela será aceita no futuro, por causa de sua simplicidade e de sua amplitude empolgantes.

“Com efeito, a Geologia nos faz ler no grande livro da Natureza. Por ela, achamos que as espécies de hoje teriam por avós as espécies cujos restos se encontram nas camadas terrestres; não se pode mais negar que há uma progressão contínua no desenvolvimento das formas orgânicas, quando vemos aparecer primeiro os tipos mais simples. Esses tipos foram modificados pelos instintos dos próprios animais, providos de órgãos apropriados às suas novas necessidades e ao seu desenvolvimento. Ademais, a Natureza muda os tipos quando a necessidade disto se faz sentir; a vida multiplica gradualmente seus órgãos e os especializa. As espécies saem umas das outras, sem que seja necessária uma intervenção miraculosa. Adão não saiu armado com todas as peças das mãos do Criador. Muito certamente um chimpanzé o deu à luz.

“As espécies não são absolutamente independentes umas das outras; elas se ligam por uma filiação secreta, e pode-se mesmo considerá-las solidárias até a Humanidade. Como dizeis muito judiciosamente, desde o zoófito até o homem, há uma cadeia na qual todos os anéis têm um ponto de contato com o anel precedente. E assim como o espírito sobe e não pode ficar estacionário, assim também o instinto do animal progride, e cada encarnação lhe faz transpor um degrau na escala dos seres. As fases dessas metamorfoses se contam por milhares de anéis, e as formas rudimentares, das quais algumas amostras se encontram nos terrenos silurianos, nos dizem por onde passou a animalidade.

“Não mais deve haver véu entre a Natureza e o homem, e nada deve ficar oculto. A Terra é nosso domínio: cabe-nos estudar as suas leis; a ignorância e a preguiça é que criaram os mistérios. Quanto Deus nos parece maior na harmonia e na unidade de suas leis!

“Sinceramente lamento as pessoas que se aborrecem, porque é uma prova que não pensam em ninguém, e que seu espírito está vazio como o estômago do indivíduo que tem fome.”


Fenômenos de lingüística



O Quatterly Journal of Psychological Medicine publica um relatório muito curioso sobre uma menina que substituiu a língua falada em seu redor por uma série de nomes e verbos que formam todo um idioma do qual ela se serve, e do qual não é possível desabituá-la.

“A criança tem agora quase cinco anos. Até a idade de três anos ela ficou sem falar e não sabia pronunciar senão as palavras ‘papa’ e ‘maman’. Quando se aproximou dos quatro anos, a língua se desatou de repente, e hoje ela fala com toda a facilidade e a volubilidade de sua idade. Mas de tudo quanto diz, só as duas palavras ‘papa’ e ‘maman’ que ela aprendeu a princípio, foram as únicas tiradas da língua inglesa. Todas as outras nasceram de seu pequeno cérebro e de seus pequenos lábios, e não têm nenhuma relação com essa corruptela de palavras de que se servem as crianças que com ela brincam habitualmente.

“Em seu dicionário, Gaan significa God (Deus); migno-migno, water (água); odo, to send for ou to take away (remeter ou retirar), conforme é colocada; gar, horse (cavalo).

“Um dia, diz o Dr. Hun, começou a chover. Fizeram a menina entrar e lhe proibiram de sair antes que a chuva cessasse. Ela postou-se à janela e disse:

“─ Gaan odo migno-migno, feu odo. (Deus, retire a chuva; traga o fogo do sol).

“A palavra feu aplicada no mesmo sentido que na língua a que pertenço me chocou. Soube que a criança jamais tinha ouvido falar francês, coisa muito singular, e que seria interessante verificar bem, porque a criança tomou diversas palavras da língua francesa, tais como ‘tout’, ‘moi’, e a negação ‘ne pas.’



“A menina tem um irmão mais velho com cerca de dezoito meses. Ela lhe ensinou a sua língua, sem tomar nenhuma das palavras de que ele se serve.

“Seus pais estão muito desolados com esse pequeno fenômeno. Muitas vezes tentaram ensinar-lhe inglês, dar-lhe o nome inglês das coisas que ela designa de outro modo em seu idioma. Ela se recusa terminantemente. Tentaram afastá-la das crianças de sua idade e colocá-la em contato com pessoas idosas que falam inglês e que nada conhecem do seu pequeno jargão. Era de se esperar que uma criança que se mostrava tão ávida por transmitir seus pensamentos a ponto de inventar uma língua nova, procurasse aprender o inglês quando se achasse entre pessoas que falassem essa língua. Mas não deu resultado.

“Logo que se acha com pessoas que ela não têm o hábito de ver, põe-se imediatamente a lhes ensinar a sua língua e, pelo menos momentaneamente, os pais renunciaram a desabituá-la.”

Tendo sido esse fato discutido na Sociedade Espírita de Paris, um Espírito deu a sua explicação na comunicação seguinte:

(Sociedade de Paris, 9 de outubro de 1868 ─ Médium: Sr. Nivard.) O fenômeno da pequena inglesa que fala uma língua desconhecida para os que a rodeiam, e que se recusa a servir-se da deles, é o fato mais extraordinário que se produziu desde muitos séculos.

Fatos surpreendentes ocorreram em todos os tempos, em todas as épocas, que causaram admiração aos homens, mas tinham similares ou parecidos. Isto certamente não os explicava, mas eram vistos com menos surpresa. O caso em questão talvez seja único no seu gênero. A explicação que podemos dar não é nem mais fácil nem mais difícil que as outras, mas sua singularidade é chocante, eis o essencial.

Eu disse a palavra chocante: é bem, não a causa, mas a razão do fenômeno. Ele choca de espanto, e é por isto que ele se produziu. Hoje que o progresso ganhou um certo avanço, não se contentarão em falar do fato, como se fala da chuva e do bom tempo; querem procurar-lhe a causa. Os médicos nada têm a ver com isso; a fisiologia é estranha a essa singularidade; se a menina fosse muda, ou se não pudesse senão dificilmente articular algumas palavras que não seriam compreendidas devido à insuficiência de seus órgãos vocais, os cientistas diriam que isto se deve às más disposições fisiológicas, e que fazendo desaparecerem essas más disposições, deixariam à criança o livre uso da palavra. Mas não é esse o caso. Ao contrário, a menina é loquaz, tagarela; ela fala com facilidade; chama as coisas à sua maneira; exprime-as à maneira que lhe convém e vai mais longe: ensina sua língua às suas companheiras, quando está provado que não lhe podem ensinar a língua materna e que não quer mesmo sujeitar-se.

A Psicologia é, pois, a única ciência na qual se deve buscar a explicação desse fato. A razão, o fim especial, acabo de dizer: Era preciso chocar os espíritos e solicitar as suas pesquisas. Quanto à causa, vou tentar vo-la dizer.

O Espírito encarnado no corpo dessa menina conheceu a língua, ou melhor, as línguas que ele fala, pois faz uma mistura. Não obstante, a mistura é feita conscientemente e constitui uma língua cujas diversas expressões são tomadas das que esse Espírito conheceu em outras encarnações. Em sua última existência ele tinha tido a ideia de criar uma língua universal a fim de permitir aos homens de todas as nações entender-se e assim aumentar a facilidade das relações e o progresso humano. Para esse efeito ele tinha começado a compor essa língua, que constituía de fragmentos de várias que ele conhecia e mais gostava. A língua inglesa lhe era desconhecida; ele tinha ouvido ingleses falando, mas achava sua língua desagradável e a detestava. Uma vez na erraticidade, o objetivo que se tinha proposto em vida aí continuou; pôs-se à tarefa e compôs um vocabulário que lhe é particular. Encarnou-se entre os ingleses, com o desprezo que tinha por sua língua, e com a determinação bem firme de não falar o inglês. Tomou posse de um corpo cujo organismo flexível lhe permite levar a termo sua resolução. Os laços que o prendem a esse corpo são bastante elásticos para mantê-lo num estado de semi desprendimento, que lhe deixa a lembrança bastante distinta de seu passado, e o mantém em sua resolução. Por outro lado, é ajudado por seu guia espiritual, que vela para que o fenômeno tenha lugar com regularidade e perseverança, a fim de chamar a atenção dos homens. Ademais, o Espírito encarnado estava consentindo na produção do fato. Ao mesmo tempo que demonstra o desprezo pela língua inglesa, cumpre a missão de provocar as pesquisas psicológicas.

L. NIRVAD, pai.

OBSERVAÇÃO: Se esta explicação não pode ser demonstrada, ao menos tem por si a racionalidade e a probabilidade. Um inglês que não admite o princípio da pluralidade das existências e que não tinha conhecimento da comunicação acima, arrastado pela lógica irresistível, disse, falando desse caso, que ele não se poderia explicar senão pela reencarnação, se fosse verdade que a gente pode reviver na Terra.

Eis, pois, um fenômeno que, por sua própria estranheza, cativando a atenção, provoca a ideia da reencarnação, como a única razão plausível que se lhe possa dar. Antes que este princípio estivesse na ordem do dia, ter-se-ia simplesmente achado o caso bizarro e, sem dúvida, em tempos ainda mais remotos, teriam olhado essa menina como enfeitiçada. Nós nem mesmo juraríamos que ainda hoje não fosse esta a opinião de certas pessoas. O que não é menos digno de nota é que este fato se produz precisamente num país ainda refratário à ideia da reencarnação, mas à qual será arrastado pela força das coisas.



Música do espaço



Extraído de uma carta de um jovem a um de seus amigos, guarda de Paris: “Mulhouse, 27 de março de 1868.

“Há cerca de cinco anos ─ eu não tinha senão dezoito anos e ignorava até o nome do Espiritismo ─ fui testemunha e objeto de um fenômeno estranho do qual só me dei conta há alguns meses, depois de haver lido O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Esse fenômeno consistia numa música invisível que se fazia ouvir no ambiente da sala, e acompanhava o meu violino, no qual tomava lições naquela época. Não era uma sucessão de sons, como os que eu produzia no meu instrumento, mas acordes perfeitos cuja harmonia era tocante; dir-se-ia uma harpa tocada com delicadeza e sentimento. Algumas vezes éramos umas doze pessoas reunidas e, sem exceção, todos ouvíamos. Mas se alguém vinha escutar por pura curiosidade, tudo cessava, e desde que o curioso partia, o efeito se produzia imediatamente. Lembrome que o recolhimento contribuía muito para a intensidade dos sons. O que havia de singular é que isto só acontecia entre cinco e oito horas da tarde. Entretanto, um domingo, um órgão da Barbária passava diante da casa, cerca de uma hora da tarde, e tocava uma ária que me deixou atento; logo a música invisível se fez ouvir na sala, acompanhando aquela ária.

“Nesses momentos, eu experimentava uma agitação nervosa que me fatigava sensivelmente e até me fazia sofrer; era como uma espécie de inquietude; ao mesmo tempo, todo o meu corpo irradiava um calor que se fazia sentir a cerca de 10 centímetros.

“Depois que li O Livro dos Médiuns experimentei escrever; uma força quase irresistível levava minha mão da esquerda para a direita num movimento febril, acompanhado de grande agitação nervosa; mas ainda não tracei senão caracteres ininteligíveis.”

Tendo-nos sido mostrada esta carta, escrevemos ao jovem, pedindo algumas explicações complementares. Eis as respostas às perguntas que lhe dirigimos, e que farão prejulgar facilmente as perguntas.

1.º ─ O fato passou-se em Mulhouse, não em meu quarto, mas na sala onde eu me exercitava mais ordinariamente, situada numa casa vizinha, em companhia de dois amigos, dos quais um tocava flauta e outro, violino; este último era o que me dava lições. Ele não se produziu em nenhum outro lugar.

2.º ─ Era necessário que eu tocasse; e se, por vezes, eu parava muito tempo, vários sons e algumas vezes diversos acordes eram ouvidos, como para me convidar a continuar. Entretanto, no dia em que essa música se produziu acompanhando um órgão da Barbária eu não estava tocando;

3.º ─ Essa música tinha um caráter muito acentuado para poder ser notada[1]; não tive a ideia de fazê-lo;

4.º ─ Ela parecia vir de um ponto bem determinado, mas que viajava constantemente na sala; fixava-se durante alguns instantes, de sorte que se podia apontar com o dedo o lugar de onde provinha, mas quando nesse lugar se procurava descobrir o segredo, logo ela mudava de lugar e se fixava noutro, ou se fazia ouvir em diferentes lugares;

5.º ─ Esse efeito durou cerca de três meses, a partir de fevereiro de 1862. Eis como cessou:

Um dia estávamos reunidos, meu patrão, um outro empregado e eu; falávamos de uma coisa e outra, quando meu patrão, sem preâmbulo, me fez esta pergunta:

─ Credes nos fantasmas?

─ Não, respondi-lhe eu.

Ele continuou a me interrogar e eu me decidi a lhe contar o que se passava. Ele me escutava com muita admiração; quando terminei, ele bateu-me no ombro, dizendo:

─ Falarão de vós.

Falou disto a um médico, que dizem muito sábio em Física, e que lhe explicou o fato, dizendo que eu era um sensitivo, um magnetizado. Procurando dar-se conta da coisa, meu patrão veio um dia encontrar-me em meu quarto e mandou-me tocar. Obedeci e a música invisível se fez ouvir durante alguns segundos, muito distintamente para mim, vagamente para o patrão e os assistentes. O patrão aí se posicionou de todas as maneiras possíveis, sem nada mais obter.

No domingo seguinte voltei ao quarto; era aquele onde a música tinha sido ouvida acompanhando o órgão da Barbária, sem que eu tocasse. Foi a última vez; desde então nada de semelhante se produziu.

OBSERVAÇÃO: Antes de atribuir um fato à intervenção dos Espíritos, há que estudar cuidadosamente todas as suas circunstâncias. Aquele de que se trata aqui tem todos os caracteres de uma manifestação; é provável que tenha sido produzido por algum Espírito simpático ao jovem, com o objetivo de trazê-lo às ideias espíritas e de chamar a atenção de outras pessoas para esta espécie de fenômenos. Mas, então, perguntarão, por que esse efeito não se produziu de maneira mais retumbante? Por que, sobretudo, cessou bruscamente? Os Espíritos não têm que dar contas de todos os motivos que os levam a agir. Mas deve-se supor que tivessem julgado o que se passou suficiente para a impressão que queriam produzir. Ademais, a cessação do fenômeno no exato momento em que queriam a sua continuação, deveria ter como resultado provar que a vontade do jovem nada tinha a ver com o fato, e que não havia charlatanice. Essa música era ouvida pelas pessoas presentes, excluído qualquer efeito de ilusão ou de imaginação, bem como de uma história para distrair; além disso, o jovem, não tendo então nenhuma noção do Espiritismo, não se pode supor que sofresse a influência de ideias preconcebidas; só após vários anos é que ele pôde compreender o fenômeno. Inúmeras pessoas estão no mesmo caso. O Espiritismo lhes traz à memória casos esquecidos que elas consideravam alucinação, e dos quais podem, daí por diante, se dar conta. Os fenômenos espontâneos são o que se pode chamar de Espiritismo experimental natural.



[1] Notação é o conjunto de sinais convencionais que simbolizam os sons de uma obra musical. (N. do revisor)



O espiritualismo e o ideal


Na arte e na poesia dos gregos (Por Chassang) [1]


Nosso número de agosto reproduziu um notabilíssimo artigo, tirado do jornal le Droit, sobre as funestas consequências do materialismo, do ponto de vista da legislação e da ordem social; a Patrie de 30 de julho de 1868 fazia a apreciação de uma obra sobre a influência do espiritualismo nas artes. Esses dois artigos são o corolário e o complemento um do outro: no primeiro provam-se os perigos do materialismo para a Sociedade, e no segundo demonstra-se a necessidade do espiritualismo, sem o qual as artes e a poesia ficam privadas de seu elemento vital.

Com efeito, o sublime da arte e da poesia é falar à alma, elevar o pensamento acima da matéria que nos oprime e da qual incessantemente aspiramos sair, mas para fazer vibrar as cordas da alma é preciso ter uma alma que vibre em uníssono. Como aquele e que não crê senão na matéria poderia inspirar-se e se tornar intérprete de pensamentos e sentimentos que estão fora da matéria? Seu ideal não sai do terra-aterra, e é frio, porque não fala nem ao coração nem ao espírito, mas somente aos sentidos materiais. O belo ideal não está no mundo material; há, pois, que buscá-lo no mundo espiritual, que é o mundo da luz para os cegos; a impossibilidade de atingi-lo criou a escola realista, que não sai deste mundo, porque aí está todo o seu horizonte; estando o verdadeiro belo fora do alcance de certos artistas, eles declaram que o belo é feio. A fábula da raposa que tem o rabo cortado continua sendo uma verdade.

A época em que a fé religiosa era ardente e sincera é também aquela em que a arte religiosa produziu as mais belas obras-primas. O artista se identificava com o seu assunto, porque o via com os olhos da alma e o compreendia; era o seu próprio pensamento que ele representava; mas, à medida que a fé o deixou, o gênio inspirador partiu com ela. Não é pois de admirar se a arte religiosa esteja hoje em plena decadência; não é o talento que falta, é o sentimento.

Dá-se o mesmo com o ideal em todas as coisas. As obras de arte não cativam senão quando fazem pensar. Pode-se admirar o talento plástico do artista, mas ele não pode suscitar um pensamento que não existe em si; ele pinta um mundo que não vê, não sente nem compreende; assim, por vezes cai no grotesco; sente-se que ele visa ao efeito e empenhou-se em fazer algo novo torturando a forma: eis tudo.

Pode-se dizer outro tanto da música moderna; ela faz muito barulho, exige do executante uma grande agilidade dos dedos e da garganta, uma verdadeira deslocação; ela move as fibras do ouvido, mas não as do coração. Essa tendência da arte para a materialidade perverteu o gosto do público, cuja delicadeza do senso moral se acha embotada. [2]

A obra do Sr. Chassang é a aplicação dessas ideias à arte em geral, e à arte grega em particular. Reproduzimos com prazer o que dela diz o autor da crítica da Patrie, porque é uma prova a mais da enérgica reação que se opera em favor das ideias espiritualistas e que, como o dissemos, toda defesa do espiritualismo racional franqueia o caminho do Espiritismo, que é o seu desenvolvimento, combatendo os seus mais tenazes adversários: o materialismo e o fanatismo.

O Sr. Chassang é o autor da história de Apolônio de Tiana, à qual nos referimos na Revista de outubro de 1862.

“Esse livro, de um caráter todo especial, não foi feito por ocasião dos recentes debates sobre o materialismo e, sem a menor dúvida, é independentemente da vontade do autor que as circunstâncias lhe vieram dar uma espécie de atualidade. Escrevendo-o, o Sr. Chassang não pretendia fazer obra de metafísico, mas de simples literato. Não obstante, como as grandes questões de metafísica estão atualmente, como sempre, na ordem do dia, e toda obra literária verdadeiramente digna desse nome supõe sempre algum princípio filosófico, esse livro, de uma inspiração espiritualista muito decidida, se acha em correlação com as preocupações do momento.

“O Sr. Chassang deixa a outros a refutação do materialismo do ponto de vista filosófico puro. Sua tese é toda estética. O que ele pretende provar é que a Literatura e a Arte não estão menos interessadas que a vida moral no triunfo das doutrinas espiritualistas. Assim como o materialismo despoetiza a vida e se dá ao cruel prazer de desencantar o homem, tirando-lhe toda a esperança, toda consolação em meio aos males que o cercam, do mesmo modo subtrai impiedosamente da Literatura e da Arte o que ele chama de ilusões e mentiras, e, sob pretexto de verdade, proclamando o realismo, ele estabelece como lei para os artistas e escritores não exprimir senão o que é.

“As doutrinas espiritualistas, ao contrário, abrem em todos os sentidos a vida às nobres aspirações. Elas entretêm o homem com o futuro e a imortalidade; dizem ao poeta e ao artista que há um belo ideal do qual as mais belas criações humanas não passam de pálidos reflexos, e sobre o qual deve sempre fixar os olhos quem quer que queira encantar os seus contemporâneos e viver para a posteridade.

“Depois de ter, na sua introdução, desenvolvido este dado do ponto de vista geral, o Sr. Chassang procura a prova na mais bela das literaturas e na maior das artes que já despertou a admiração dos homens: na Literatura e na Arte dos Antigos Gregos. Para semelhante demonstração, uma ordem rigorosa e didática é antes para fugir do que para rebuscar; assim, depois da introdução que expõe os princípios, vêm não capítulos estreitamente unidos e metodicamente ligados, mas estudos isolados que, todos, se ligam ao mesmo assunto, se inspiram no mesmo sentimento e convergem para o mesmo objetivo. O livro tem, assim, ao mesmo tempo, unidade no conjunto e variedade nas partes.

“É a princípio um tratado sobre o que o autor chama com propriedade de espiritualismo popular entre os Antigos, isto é, as crenças dos gregos e dos romanos sobre o destino das almas após a morte. Ele mostra que, se entre essas crenças há erros evidentes, não obstante, esses erros repousam todos na esperança de uma outra vida. O culto dos mortos não contém, com efeito, implicitamente uma profissão de fé espiritualista? A última vitória do materialismo seria de suprimi-lo, e seus adeptos deveriam logicamente chegar a isso; do contrário, para que serviria levantar a pedra do túmulo? Para que, sobretudo, cercar o túmulo de respeito, se nada há lá dentro? Assim fala o Sr. Chassang!”

OCTAVE SACHOT.

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[1] l vol. in-12, 8,50 francos. Didier e Cia. Quai des Augustins, 35.

[2] Vide a Revista de dezembro de 1860 e janeiro de 1861: A arte pagã, a arte cristã e a arte espírita.






Instruções dos Espíritos

Regeneração dos povos do Oriente

Recebemos da Síria uma carta muito interessante sobre o estado moral dos povos do Oriente e os meios de cooperar em sua regeneração. A especialidade da carta impede que a publiquemos em nossa Revista; diremos apenas que nosso honrado correspondente, iniciado no conhecimento dos povos da Europa, encara a questão como profundo filósofo, homem desprendido de qualquer preconceito de seita, que conhece o terreno e não tem nenhuma ilusão sobre as dificuldades apresentadas por semelhante assunto.

Ele vê no Espiritismo, que estudou seriamente, uma poderosa alavanca para combater os preconceitos que se opõem à emancipação moral e intelectual de seus compatriotas, em razão das ideias que constituem o fundo de suas crenças e às quais seria preciso dar uma direção mais racional. Visando concorrer a essa obra, ou pelo menos assentando as primeiras bases, ele concebeu um projeto que teve a gentileza de nos submeter, pedindo que solicitássemos também a opinião dos bons Espíritos.

A comunicação que nos foi dada a esse respeito é instrutiva para todo mundo, sobretudo nas circunstâncias atuais, razão pela qual consideramos conveniente publicá-la. Ela contém uma sábia apreciação das coisas e conselhos que outros poderão aproveitar na ocasião e que, especializando-os, também encontram aplicação na maneira mais favorável de propagar o Espiritismo.

(Paris, 18 de setembro de 1868)

Não é só o Oriente, é a Europa, é o mundo inteiro que uma surda fermentação agita, que a menor causa pode transformar em conflagração universal, quando chegar o momento. Como diz com razão o Sr. X..., é sobre ruínas que se edificaram coisas novas, e antes que a grande renovação seja um fato realizado, os trabalhos humanos e a intervenção dos elementos devem acabar de varrer o solo do pensamento dos erros do passado. Tudo concorre para essa obra imensa; a hora da ação aproxima-se rapidamente e todas as inteligências devem ser encorajadas a se preparar para a luta. A Humanidade sai de seus cueiros para vestir a roupa viril; ela sacode o jugo secular; o momento não poderia ser mais propício. Mas não se pode dissimular que a tarefa é rude e que mais de um artesão será esmagado pela máquina que ele tiver posto em movimento, por não ter sabido descobrir o freio capaz de dominar o entusiasmo da Humanidade muito bruscamente emancipada.

Ter a razão, a verdade por si, trabalhar visando o bem geral, sacrificar seu bemestar particular ao interesse de todos é bom, mas não é suficiente. Não se pode dar de uma só vez todas as liberdades a um escravo habituado pelos séculos a um jugo severo. É só gradualmente e compatibilizando a extensão das margens aos progressos da inteligência e sobretudo da moral da Humanidade, que a regeneração poderá realizar-se. A tempestade que dissipa os miasmas deletérios de que uma região está infectada é um cataclismo benéfico, mas aquela que rompe todos os diques e que, não obedecendo a nenhum freio, tudo derruba à sua passagem, é deplorável e sem qualquer consequência útil. Ela aumenta as dificuldades, em vez de contribuir para o seu desaparecimento.

Todos quantos desejam utilmente concorrer ao trabalho regenerador devem, pois, antes de tudo, preocupar-se com a natureza dos elementos sobre os quais lhes é possível agir, e combinar suas ações em razão do caráter, dos costumes, das crenças daqueles a quem querem transformar. Assim, para atingir, no Oriente, o objetivo que todos os Espíritos de escol perseguem na América e na Europa Ocidental, é necessário seguir uma marcha idêntica quanto ao conjunto, mas essencialmente diferente nos detalhes. Semeando a instrução, desenvolvendo a moralidade, combatendo os abusos consagrados pelo tempo, chegar-se-á a um mesmo resultado, em qualquer parte onde se aja, mas a escolha dos meios, sobretudo, deverá ser determinada pelo gênio particular daqueles a quem se dirigirem.

O espírito de reforma sopra em toda a Ásia; ele deixou na Síria, na Pérsia e em todas as regiões circunvizinhas, heranças sangrentas; a ideia nova aí germinou, regada pelo sangue dos mártires; é preciso aproveitar o impulso dado às inteligências, mas evitar a recaída nos erros que provocaram essas perseguições. Não se instrui o homem batendo de frente os seus preconceitos, mas contornandoos, modificando o mobiliário de seu espírito de maneira de tal modo graduada que ele chegue, por si mesmo, a renunciar os erros pelos quais antes teria sacrificado sua vida. Não se lhe deve dizer: “Isto é mau, aquilo é bom”, mas levá-lo, pelo ensino literário e pelo exemplo, a apreciar cada coisa sob seu verdadeiro aspecto. Não se impõem ideias novas a um povo; para que ele as aceite sem perturbação lamentável, é preciso habituá-lo pouco a pouco, fazendo-o reconhecer suas vantagens, e não estabelecê-las como princípios senão quando se está certo de que elas terão por si mesmas uma considerável maioria.

Há muito a fazer no Oriente, mas a ação apenas do homem seria impotente para operar uma transformação radical. Os acontecimentos em que tocamos contribuirão parcialmente nessa transformação. Eles habituarão os orientais a um novo gênero de existência; eles saparão pela base os preconceitos que presidem à legislação da família. Somente depois disto é que o ensinamento lhes virá dar o último golpe.

Nós aplaudimos com todas as forças a obra do Sr. X..., o espírito no qual ela é concebida; nós lhe prometemos, além disso, nossa assistência, e o aconselhamos a recorrer a nós, todas as vezes que se defrontar com dificuldades embaraçosas. Que ele se apresse a pôr-se à obra. Os acontecimentos vão depressa e é difícil que o trabalho esteja terminado quando chegar o momento propício! Que ele não perca tempo e conte com o nosso concurso, que lhe é concedido como a todos os que perseguem com desinteresse a realização dos desígnios providenciais.

CLÉLIE DUPLANTIER.


À melhor propaganda

(Sociedade de Paris, 23 de outubro de 1868 - Médium: Sr. Nivard.)

Se há poucos médiuns esta noite, não significa que faltem Espíritos. Ao contrário, eles são muito numerosos. Alguns são habituais, que vêm instruir-vos ou instruir-se; outros, em grande número, são recém-vindos para vós. Eles vieram sem carta de apresentação, é certo, mas com o consentimento e a convite dos Espíritos habituais. Muitos desses Espíritos sentem-se felizes por assistir à sessão, e sobretudo por ver aqui vários Espíritos amigos que eles amam e dirigem, e que tiveram o pensamento de vir entre vós.

Há muitos Espíritos no mundo, mas seu grau de instrução sobre a Doutrina está longe de ser suficiente para que se classifiquem entre os Espíritos esclarecidos. Sem dúvida eles têm luzes, mas lhes falta a prática; ou, se praticam, necessitam ser assistidos, a fim de trazer, nos esforços que tentam, mais persuasão e menos entusiasmo. Quando falo de prática do Espiritismo, quero dizer a parte que concerne à propaganda. Ora! Para exercer com eficácia essa parte, mais difícil do que se pensa, é preciso estar bem penetrado da filosofia do Espiritismo e também de sua parte moral. A parte moral é fácil de conhecer; para isto ela exige pouco esforço; em compensação, é a mais difícil de praticar, porque só o exemplo pode fazê-la bem compreendida. Fareis compreender melhor a virtude dando o exemplo do que a definindo. Ser virtuoso é fazer compreender e amar a virtude. Nada há a contestar àquele que faz o que aconselha os outros a fazerem. Assim, para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria, muita na prática.

A parte filosófica apresenta mais dificuldades para ser compreendida e, por consequência, requer mais esforços. Os adeptos que buscam ser militantes, devem pôr-se à obra para bem conhecê-la, pois é a arma com a qual combaterão com mais sucesso. É útil que não se extasiem com os fenômenos materiais, e que deem a sua explicação sem muito desenvolvimento. Eles devem reservar esse desenvolvimento para a análise dos fatos de ordem inteligente, sem contudo dizer muito, pois não se deve fatigar o espírito das pessoas noviças no Espiritismo. Explicações concisas, exemplos bem escolhidos, adaptando-se bem à questão que se discute, eis tudo o que é preciso. Mas, repito, para ser conciso, não se deve saber menos; para dar exemplos ou explicações bem adequadas ao assunto, é necessário conhecer a fundo a filosofia do Espiritismo. Essa filosofia está resumida em O Livro dos Espíritos e o lado prático em O Livro dos Médiuns. Se conhecerdes bem a substância destas duas obras, que são obra dos Espíritos, certamente tereis a felicidade de trazer muitos dos vossos irmãos a essa crença tão consoladora, e muitos dos que creem serão postos no verdadeiro terreno: o do amor e da caridade.

Assim, pois, meus amigos, aqueles dentre vós que desejarem, e todos devem desejar, partilhar de suas crenças com seus irmãos, que querem chamá-los ao banquete de consolação que o Espiritismo oferece a todos os seus filhos, devem moralmente pregar o Espiritismo praticando a moral, e intelectualmente espalhando em seu redor as luzes que colheram ou que colherão nas comunicações dos

Espíritos.

Tudo isto é fácil: basta querer. Então, meus caros amigos, em nome de vossa felicidade, de vossa tranquilidade, em nome da união e da caridade, aconselho-vos a querer.

Um Espírito.


O verdadeiro recolhimento

(Sociedade de Paris, 16 de outubro de 1868 - Médium: Sr. Bertrand.)

Se pudésseis ver o recolhimento dos Espíritos de todas as ordens que assistem às vossas sessões, e isto durante a leitura de vossas preces, não só ficaríeis tocados, mas ficaríeis envergonhados de ver que o vosso recolhimento, que apenas qualifico de silêncio, está muito longe de aproximar-se do dos Espíritos, um bom número dos quais vos são inferiores. O que chamais de recolhimento durante a leitura de vossas belas preces, é observar um silêncio que ninguém perturba, entretanto, se vossos lábios não se mexem, se vosso corpo está imóvel, vosso Espírito vaga e deixa de lado as sublimes palavras que deveríeis pronunciar do mais profundo do vosso coração, a elas vos assemelhando pelo pensamento.

Vossa matéria observa o silêncio; certamente dizer o contrário seria vos injuriar; mas o vosso Espírito tagarela não o observa, e perturba, nesse instante, por vossos pensamentos diversos, o recolhimento dos Espíritos que vos rodeiam. Ah! Se os vísseis prosternados ante o Eterno, pedindo a realização de cada uma das palavras que ledes, vossa alma ficaria comovida e lamentando sua pouca atenção passada, faria uma volta sobre si mesma e pediria a Deus, de todo coração, a realização dessas mesmas palavras que ela apenas pronunciava com os lábios. Pediríeis aos Espíritos que vos tornásseis dóceis aos seus conselhos. E eu, o Espírito que vos fala, após a leitura de vossas preces, e das palavras que acabo de repetir, poderia assinalar mais de um que daqui sairá muito pouco dócil aos conselhos que acabo de dar e com sentimentos muito pouco caridosos para com seu próximo.

Sem dúvida sou um pouco duro, mas creio não o ser senão para com aqueles que o merecem e cujos pensamentos mais secretos não podem ser escondidos aos Espíritos. Não me dirijo, pois, senão aos que aqui vêm pensando em qualquer outra coisa, menos nas lições que aqui devem buscar e nos sentimentos que aqui devem trazer. Mas os que oram do fundo de sua alma orarão também, após a leitura de minha comunicação, por aqueles que vêm aqui e daqui partem sem haver orado.

Seja como for, peço aos que tiveram a bondade de me escutar com ouvidos atentos, que continuem a pôr em prática os ensinamentos e os conselhos dos Espíritos; a isto os convido no seu interesse, pois eles não sabem tudo quanto podem perder não o fazendo.

DE COURSON.





Bibliografia

O Espiritismo na bíblia


Sabe-se que a Bíblia contém uma porção de passagens em relação com os princípios do Espiritismo. Mas como encontrá-las nesse labirinto? Seria necessário fazer desse livro uma leitura atenta, o que pouca gente tem tempo e paciência para fazer. Nalgumas mesmo, sobretudo em razão da linguagem o mais das vezes figurada, a ideia espírita só aparece de maneira clara após reflexão.

O autor desse livro fez da Bíblia um estudo aprofundado, e só o conhecimento que ele tem do Espiritismo lhe deu a chave de coisas que lhe pareciam antes inexplicáveis ou ininteligíveis. Foi assim que ele pôde informar-se com certeza sobre as ideias psicológicas dos antigos hebreus, ponto sobre o qual os comentadores não estavam de acordo. Devemos, pois, ser-lhe gratos por ter trazido essas passagens à luz, num resumo sucinto, e também por ter poupado ao leitor pesquisas longas e fastidiosas. Às citações ele acrescenta comentários necessários à compreensão do texto, e que revelam nele o espírita esclarecido, mas não fanático por suas ideias, e que vê Espiritismo em tudo.

O nome do autor indica que ele não é francês. Ele diz, no prefácio, que é polonês, e explica em que circunstâncias foi levado ao Espiritismo e os socorros morais que colheu nesta doutrina. Embora estrangeiro, ele escreve o francês, como aliás a maioria dos povos do Norte, principalmente os poloneses e os russos, com perfeita pureza. Seu livro é escrito com clareza, o que é um grande mérito em matérias filosóficas, porque nada é menos próprio à vulgarização das ideias que um autor quer propagar, do que esses livros cuja leitura fatiga a ponto de dar dor de cabeça, e cujas proposições são uma série de enigmas indecifráveis para o comum dos leitores.

Em resumo, o Sr. Stecki fez um livro útil, e todos os espíritas lhe serão agradecidos.

Agradecemos pessoalmente a epístola dedicatória que ele teve a bondade de colocar no topo de sua obra.

________________________________________________________
[1] Pequeno volume in-12; preço l franco; pelo correio, l,25 franco. Lacroix & Cie e Livraria Internacional, Boulevard Montmartre, 15 - Paris; e no escritório da Revista Espírita.



O Espiritismo em Lyon

Esse jornal, que está sendo editado desde 15 de fevereiro, e do qual falamos várias vezes, prossegue a sua rota com sucesso, graças ao zelo e ao devotamento de seus diretores. Sua obra é tanto mais meritória porque, sendo noviços no que concerne à manutenção de um jornal, eles tiveram que lutar contra as dificuldades da inexperiência. Mas é forjando que se faz o ferreiro. Assim, seguimos com um vivo interesse os progressos desse jornal, que ganhou consideravelmente, desde a sua origem, pela forma e pelo fundo. Nós o felicitaríamos pelo espírito de tolerância e de moderação do qual ele fez lei, se esta não fosse uma das qualidades sem as quais não se poderia dizer verdadeiramente espírita, e uma consequência da máxima que ele toma como divisa: Fora da caridade não há salvação. Assim, fazemos votos sinceros por sua prosperidade.

O último número, de 15 de outubro, contém vários artigos muito interessantes, sobre os quais chamamos a atenção dos nossos leitores.


Os destinos da alma

Com considerações proféticas para reconhecer o tempo presente e os sinais da aproximação dos últimos dias; nova edição, precedida de um apelo aos católicos de boa-fé e ao futuro concílio.

POR A. D’ORIENT[1].

Nessa obra de importância capital, o autor se apoia na pluralidade das existências, como a teoria mais racional sobre o progresso indefinido da alma pelo trabalho realizado nas existências sucessivas; a responsabilidade de cada um conforme as suas obras; a não-eternidade absoluta das penas; o corpo fluídico, etc., numa palavra, sobre os princípios que formam a base do Espiritismo. Entretanto, ela foi publicada em 1845, nova prova do movimento que já se operava nesse sentido, mesmo antes do aparecimento da Doutrina Espírita, que veio sancionar pelos fatos e coordenar estas ideias esparsas. O autor se lisonjeava de a isto ligar o clero, respeitando os dogmas católicos, mas interpretando-os de maneira mais lógica. Sua esperança foi ilusória, porque o seu livro foi posto no índex. Limitamo-nos a anunciá-lo, comprometendo-nos a consagrar-lhe um artigo especial, quando tivermos tido tempo de examiná-lo a fundo.

Enquanto isto, citaremos o parágrafo seguinte, da introdução, que especifica o objetivo a que se propôs o autor:

“Ressurreição dos corpos, presciência de Deus, vidas sucessivas ou purgatório das almas, tais são as três questões nas quais tudo o que se liga aos destinos de nossa alma se articula, que nos propomos apresentar, sob nova prisma, à meditação dos católicos e de todos os homens que gostam de refletir sobre si mesmos. O que temos a dizer não toca nas verdades essenciais que a todo o gênero humano importa conhecer e crer com inteira certeza: essas verdades, que são do domínio da fé, são tão completas e asseguradas quanto é necessário que o sejam, e não temos a pretensão de nada ajuntar de nós mesmo. Não queremos senão propor humanamente, sobre essas matérias, teorias humanas, que é permitido ignorar ou não crer sem prejuízo para a sua alma. Todos os nossos esforços não têm outro fim senão aclarar o facho da ciência dos fatos obscuros, onde as luzes da revelação faltam, e que a fé não definiu completamente.”



[1] Grosso volume grande in-8. Preço: 7,50 francos. Didier & Cie., Quai des Augustins, 35 e Ad. Lainé, Rua des Saints-Pères, 19.




Aviso

Aos senhores assinantes que não quiserem sofrer atraso no recebimento da Revista, rogamos renovar suas assinaturas antes de 31 de dezembro.

ALLAN KARDEC.

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